ALEXANDER, Christopher. El Modo Intemporal de Construir. Barcelona: Ed. Gustavo Gili, 1981.
Eixos de análise abordados:
Conceitos e métodos
Dados sobre o autor(es) e obra:
Christopher Wolfgang Alexander (1936) nasceu em Viena, Áustria. Arquiteto, é mestre em Matemática e doutor em Arquitetura pela Universidade Harvard. É professor emérito da Universidade de Berkeley, Califórnia, e mundialmente conhecido por seus estudos da linguagem dos padrões em arquitetura e também por ter sido um dos primeiros a afirmar que os usuários sabem mais sobre as construções que necessitam do que os arquitetos. Alexander projetou e construiu mais de 200 edifícios em todos os continentes. A obra resenhada nesta ficha foi originalmente publicada como The Timeless Way of Building. New York: Oxford University Press, 1979.
Christopher Alexander parte do que chama de “qualidade sem nome” de lugares e situações – um sentimento preciso de congruência de todas as coisas e do sujeito que percebe o espaço. Essa qualidade seria mais frequente na arquitetura tradicional e ausente em muitos dos lugares da vida moderna. A estrutura responsável pela compreensão e proposição de ambientes com tal qualidade seriam os padrões, unidades congruentes de espaço e atividades. Os padrões são relações entre coisas, e existem em todas as escalas. Um “contexto” específico, onde se apresenta um dado “sistema de forças”, que se aloja em uma dada “configuração”. Tais padrões podem estar “vivos”, permitindo que as forças reunidas nele se equilibrem e que o homem dê vazão, assim, a suas forças criativas. Aqui aparece a qualidade sem nome. Nos padrões “mortos”, as forças desequilibradas levariam o homem ao conflito interior. Os padrões, em número finito, apresentam-se como uma “linguagem”. Subjazem a todos os espaços, os quais são responsáveis pelo seu desenvolvimento por meio de geratrizes e não por um desenho total. Esta é a forma como a própria Natureza opera, repetindo-se com sutis variações ad hoc. O desenvolvimento se dá por “diferenciação” das unidades e pela “agregação” que absorve o erro e o enriquece. Os padrões em suas variadas escalas evoluem independentemente, rearticulando-se com flexibilidade, de modo gradual, e não de uma só vez. Com esse fundamento, o autor entende a arquitetura tradicional, que seria repleta de padrões vivos como retratos fiéis de um modo de vida. Enquanto estiverem ancorados na experiência vivida, tais padrões serão vivos. Na era moderna, a especialização do profissional arquiteto e a pressão pela produção em massa o distanciaram das forças realmente atuantes em cada ambiente. Além disso, sua formação auto-referente uma produção que não aceita adaptações locais. No entanto, a única inovação possível se daria não pela contribuição individual do arquiteto, mas pelo manuseio dos padrões. Em uma dada sociedade, cada indivíduo possui sua forma particular de padrões. A média geral compõe o padrão compartilhado e corresponde à unidade global. A individualidade permite a variedade e o cruzamento de propostas, consolidando-se as melhores por meio da sua exploração por múltiplos agentes. Daí a diversidade e a coerência dos ambientes pré-modernos nos quais cada edifício apresenta mais diferenças entre si do que atualmente quando o conjunto global aparenta ter um único autor, apesar da infinidade de construtores e das gerações sucessivas. A identificação de um padrão vivo ou morto se dá, segundo Alexander, pelo “sentimento”, ou seja, se o indivíduo sente-se bem naquele padrão. Não é opinião ou gosto, mas o reconhecimento da própria sensação. A importância desse processo empático se manifesta outra vez na aplicação da linguagem de padrões como método projetual. Pensando-se nos padrões e não em formas estabelecidas, consegue-se projetar em equipe e dar coerência ao projeto ao longo do tempo. O projetista, então, não reivindicaria sua individualidade. Projetando a partir desse vazio, e não de uma imagem, seria um intérprete das forças em atuação, identificadas no reconhecimento dos padrões necessários para cada projeto.
DELAROLE, Renato. "A casa tupi-assurini: significado e construção". In: Projeto - revista brasileira de arquitetura, planejamento, desenho industrial e construção, n.57, novembro 1983. São Paulo: Projeto Editores Associados Ltda.
Eixos de análise abordados:
Saberes tradicionais e espaço arquitetônico
Tecnologia tradicional no território e na edificação: vigências e usos contemporãneos
Território e etnicidade
Dados sobre o autor(es) e obra:
Renato Delarole é fotógrafo e jornalista. Foi colaborador do Centro Ecumênico de Documentação e Informação (CEDI), na documentação fotográfica dos povos indígenas. Viveu quase três anos entre os assurinis do Xingu, documentando sua vida social e cultural. Trabalha na Universidade de Campinas.
As informações foram obtidas no próprio texto fichado.
Resumo :
Artigo breve, com bom número de fotos mostrando o processo construtivo da casa tupi-assurini. Tais casas têm forma abobadada, a partir de planta retangular. São, contudo, casas de grandes dimensões – algumas de 60 metros de comprimento, com 12 metros de largura e 10 metros de altura. Antes do contato com os homens brancos, cada casa abrigava famílias extensas ou grupos locais, e constituía uma aldeia, unidade quase autônoma, que se relacionava com as demais em trocas econômicas, rituais e matrimoniais. Agricultores e sedentários, os assurinis dão muita importância à arquitetura, que é mais resistente e elaborada do que a da maioria das demais tribos, e constitui atividade da qual participam todos os membros do grupo. Após o contato com o homem branco, essa situação mudou. Os assurinis concentraram-se todos em uma só aldeia, com várias casas, cada uma abrigando uma família ou grupo local. No entanto, uma delas, a maior, é a tawiwe ou aketé, símbolo da unidade social e da reorganização sócio-política. Ela possui função de espaço cerimonial e de sepultura dos mortos. Dessa construção todos os assurinis participam. Segundo o autor, existe entre os assurini uma forte correspondência entre o edifício e o corpo humano. As varas de madeira curvadas, que vão do chão à cumeeira, são chamadas de dzerokynga, termo também usado para as “costelas” humanas. Outras partes da construção recebem outras correspondências analógicas, como os esteios em pares, base da estrutura da casa, chamados de azorá, nome dado também ao outro cônjuge no casamento poligâmico. Cada uma das partes da estrutura possui regras precisas de colocação, posição e encaixe, e se faz com tipos determinados de madeira. As partes são presas por dois tipos de cipós. A cobertura é feita de folhas do broto de babaçu. As etapas da construção são ritualizadas, reforçando a tese do autor sobre a correspondência com o corpo humano. O primeiro maço de folhas a cobrir a casa é levado e posto por pajés e arrumado de modo a representar pinymbaia, a cobra. Como símbolo do ato sexual, ela gera a edificação que abrigará em suas entranhas a tribo, sendo também o seu túmulo.
Biblioteca da Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
Referência bibliográfica:
CAVALCANTI, Maria Betânia Uchoa. “Pernambuco: Zona da Mata”. In: OLIVER, Paul (edit). Encyclopedia of Vernacular Architecture of the World. Cambridge - UK: Cambridge University Press, 1997, p. 1.631-1.632.
Eixos de análise abordados:
Saberes tradicionais e espaço arquitetônico
Construção autogerida em meio urbano: espaços e técnicas
Dados sobre o autor(es) e obra:
Maria Betânia Uchôa Cavalcanti Brendle é PhD em Desenho Urbano pelo Joint Centre for Urban Design, Oxford Brookes University (1994), com especialização em Restauração de Monumentos Históricos e Revitalização de Centros Históricos pelo PNUD-Unesco/Peru (1980) e em Architectural Conservation pelo ICCROM-Roma (1987), além de graduada em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal de Pernambuco (1976). Atualmente é Professora Adjunta do Núcleo de Arquitetura e Urbanismo e do Programa de Pós-Graduação em Arqueologia da Universidade Federal de Sergipe, Coordenadora do INRC-Laranjeiras (Inventário Nacional de Referências Culturais) e Representante da Universidade Federal de Sergipe no Conselho Municipal de Cultura de Laranjeiras. É membro do ICOMOS/BRASIL, Conselho Internacional de Monumentos e Sítios.
O verbete trata da arquitetura, existente em cidades da zona da mata de Pernambuco, construída pelos próprios habitantes. Autora define esta produção arquitetônica como “distinta e específica”. Materiais locais como madeira, barro e tijolos são utilizados e os conhecimentos necessários para a construção, passados de geração para geração. Afirma-se que os pobres de Pernambuco teriam desenvolvido a partir dos anos 1930 um “estilo arquitetônico próprio”, inspirado nos prédios públicos que começaram então a ser construídos em estilo art déco ou moderno. As cores e decorações das fachadas das casas mostrariam que são vistas como mais do que simples abrigos, traduzindo o espírito e as aspirações de seus construtores e, conforme observado por Ariano Suassuna, os “protestos contra a feiura, a secura e a monotonia de suas vidas”. Modestas em escala, essas casas se harmoniza com a paisagem e expressam a criatividade e a capacidade interpretativa de estilos recentes por parte dos arquitetos populares que criam, assim, um vocabulário arquitetônico. As casas são construídas pelo próprio dono ou por pedreiros capacitados. As fachadas costumam ter platibandas, sendo esta uma das principais características dessa arquitetura, que a autora reconhece ser também encontrada em outras partes do Nordeste. Apesar disso, mas sem apresentar argumentos ou provas concretas, a autora afirma que sua criação ou surgimento ocorreu em Pernambuco. O verbete é ilustrado com fotografias de casas da região pesquisada.
Referência bibliográfica citada: MARIANI, Anna. Pinturas e Platibandas. São Paulo: Cultural Editora, 1987.
ISBN ou ISSN:
052156422 0
Autor(es):
Cristiane Rose de Siqueira Duarte
Onde encontrar:
Biblioteca da Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
Referência bibliográfica:
DUARTE, Cristiane R. S. Favelados (Rio de Janeiro). In: OLIVER, Paul (edit). Encyclopedia of Vernacular Architecture of the World. Cambridge - UK: Cambridge University Press, 1997, p. 1689.
Eixos de análise abordados:
Construção autogerida em meio urbano: espaços e técnicas
Dados sobre o autor(es) e obra:
Cristiane Rose de Siqueira Duarte possui graduação em Arquitetura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1981), graduação em Architecture - École d’Architecture de Paris-La Villette (1983), mestrado pela Université de Paris XII (Paris-Val-de-Marne) (1985) e doutorado pela Université de Paris I (Pantheon-Sorbonne) (1993). Atualmente é professora Titular da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Tem experiência na área de Arquitetura e Urbanismo, com ênfase em Projeto do Espaço Urbano, atuando principalmente nos seguintes temas: aspectos culturais da construção do espaço, acessibilidade e etnografia da cidade. Recebeu prêmios internacionais e possui diversos trabalhos publicados em Arquitetura e Urbanismo.
Neste verbete, as favelas cariocas são sumariamente descritas em termos de sua formação e arquitetura, ressaltando-se, no primeiro caso, a relação fundamental desses assentamentos com a proximidade das áreas de trabalho. Quanto à casa da favela, explica-se a progressiva transformação do barraco de madeira, ou de materiais disponíveis e reciclados, em casa, de caráter mais permanente, feita de alvenaria de tijolos e estrutura de concreto. Em termos de espaço, a transformação do barraco de um só cômodo (com área total entre 10 e 18 m2) em casa com várias divisões internas e até mais de um andar é rapidamente descrita. A apropriação do espaço ao redor é também ressaltada e descrita como resultado de estratégias de uso imediato do entorno com atividades de lazer ou domésticas como lavar roupa, dentre outras. Ainda em termos de arquitetura, se dá destaque à estrutura eficiente dessas construções, especialmente no que diz respeito à sua ancoragem nas rochas existentes por meio de apoios inicialmente de madeira e depois feitos em concreto. Com isso, as construções são elevadas do solo e permitiriam, sem problemas, a passagem das águas e enxurradas das fortes chuvas da cidade do Rio de Janeiro. O favelado é genericamente definido como alguém de origem rural, em geral do sertão, que encontra esta forma de sobreviver na cidade grande, trazendo, assim, para as favelas, as suas tradições. A autora assinala ainda a existência nesses assentamentos de um forte senso de comunidade.
DUARTE, Cristiane R. S. “Adaptation and Change: Low Cost Housing in Rio de Janeiro”. In: BOURDIEU, J.P. and ALSAYYAD, First World: Third World: Duality and Coincidence in Traditional Dwellings and Settlements. Berkeley: University of California Press, 1990.
DUARTE, Cristiane R. S. Intervention publique et Dynamique Sociale dans la Production d’un Nouvel Espace de Pauvreté Urbaine – Vila Pinheiros à Rio de Janeiro. Paris: Université de Paris I – Sorbonne, 1993 (doctoral thesis)
DA MATTA, Roberto. A casa e a rua. Rio de Janeiro: Zahar, 1985.
VALLADARES, Licia. Propostas Alternativas de Intervenção em Favela: o caso do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: IUPERJ, 1985
ISBN ou ISSN:
052156422 0
Autor(es):
Carlos Zibel Costa
Onde encontrar:
Biblioteca da Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
Referência bibliográfica:
COSTA, Carlos Zibel & LADEIRA, Maria Inês. “Guarani (Argentina, Bolivia, Brazil s; Paraguay, Uruguay)”. In: OLIVER, Paul (edit). Encyclopedia of Vernacular Architecture of the World. Cambridge - UK: Cambridge University Press, 1997, p. 1692-1693.
Eixos de análise abordados:
Saberes tradicionais e espaço arquitetônico
Território e etnicidade
Dados sobre o autor(es) e obra:
Carlos Roberto Zibel Costa é arquiteto, designer, artista e professor. Graduou-se na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (1973), e obteve mestrado em Arquitetura e Construção na EESCUSP (1983) e doutorado em Estruturas Ambientais Urbanas na FAUUSP (1989). É professor no Curso de Design e no Curso de Arquitetura e Urbanismo da USP (Graduação e Pós Graduação e Professor Doutor Livre Docente - MS5, em dedicação integral na Universidade de São Paulo. É pesquisador sênior e vice-coordenador científico do Núcleo de Pesquisa em Tecnologia da Arquitetura e Urbanismo da USP (NUTAU). É autor de inúmeras publicações nacionais e estrangeiras, entre as quais Além da Formas: uma introdução ao pensamento contemporâneo no design, nas artes e na arquitetura (Editora Annablume/ FAUUSP). Participou do livro Kairos - A Bird Orbiting Planet Earth de Emanuel Pimenta ( Charleston, SC: EDMP, 2011) e da Encyclopedia of Vernacular Architecture of the World, editada por Paul Olivier (Cambridge, UK: Cambridge University Press, 1997).
Maria Inês Ladeira é Doutora em Geografia Humana pela Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo - FFLCH / USP -, mestre em Antropologia Social pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PPGCS / PUC -, graduada em Artes pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo - ECA/USP. Coordenadora do Programa Guarani do Centro de Trabalho Indigenista - CTI -, organização não governamental, onde atua na área de Antropologia desde a sua fundação em 1979, com projetos e ações voltados ao reconhecimento de direitos territoriais indígenas e à conservação ambiental de Terras Guarani nas regiões sul e sudeste do Brasil, bem como em pesquisas e incentivos a ações de referências culturais.
Os Guaranis que vivem no Brasil são divididos em três subgrupos: Nhandeva, Kayova e Mbya. Esta divisão decorre de diferenças dialetais e de práticas ritualísticas. Os Nhandeva e Mbya vivem no sul e sudeste do Brasil e suas aldeias se espalham do Rio Grande do Sul ao Espírito Santo. Os assentamentos se localizam ao longo da costa, devido ao mito da Terra sem Males, localizada no leste. O território Guarani se estende até Mato Grosso e à Argentina, Paraguai e Bolívia. Apesar das dificuldades de encontrar materiais tradicionais, os Guaranis buscam preservar suas tradições construtivas. Contudo, usam materiais plásticos para divisórias e telhas cerâmicas, dentre outros materiais, adaptados à solução arquitetônica tradicional. A relação com o sagrado tem sido fundamental para a preservação do modo de ocupação do território, do agenciamento das aldeias e da construção da casa da reza (opy). A casa Nhandeva se caracteriza pelo espaço interno generoso. Já os Mbya são econômicos, pois suas constantes mudanças fazem com que suas casas sejam temporárias e durem apenas o tempo de plantar e colher o milho. As aldeias Guarani são organizadas em famílias extensas, tendo o centro marcado pela casa da reza. Esta pode estar perto ou coincidir com a casa do chefe. Nas aldeias costeiras, a encosta é ocupada e as casas se voltam longitudinalmente para o leste. A casa da reza fica, em geral, no ponto mais alto. Dessa forma, toda a aldeia pode avistar o mar. A atual casa Guarani abriga apenas uma família e se relaciona com outras do grupo familiar por proximidade. A cozinha fica no fundo da casa e a união das áreas externas forma uma espécie de praça vinculada a este grupo. A praça principal da aldeia está localizada a leste ou ao norte da opy. Esta tem planta retangular, eventualmente, com um semicírculo em uma das extremidades, cobertura de palha com duas águas e duas portas alinhadas segundo os eixos leste/oeste ou leste/norte. A estrutura é de madeira com apoios articulados às vigas da cobertura por cipós. O barro para vedação pode ser aplicado diretamente sobre a estrutura vertical de madeira ou sobre uma trama de paus delgados [taipa]. Nas cerimônias importantes, toda a aldeia se reúne nesta casa. Devido a seus vínculos mitológicos e ritualísticos, as madeiras mais utilizadas são o cedro e a palmeira, cuja folha fornece a palha dos telhados e também os troncos para a estrutura vertical. A planta retangular das casas permite o seu crescimento ao longo do eixo principal e muitas adições podem ser realizadas. As aberturas para o leste, oeste e norte nem sempre são portas, podendo ser aberturas parciais ou totais. Não há divisões internas e quando estas ocorrem são feitas com tecido ou esteiras. Nas casas de reza nunca há divisões internas e as paredes externas existem para abrigar os rituais das intempéries. O espaço Guarani depende de sua relação com a floresta e corresponde a uma reconstrução cultural dela.
COSTA, Carlos Zibel. Habitação Guarani – Tradição Construtiva e Mitologia. São Paulo: FAU/USP, 1989.
LADEIRA, Maria Inês. O Caminhar sobre Luz – o Território Mbya à Beira do Oceano. São Paulo: Faculdade de Ciências Sociais/PUC-SP, 1992.
Autor(es):
Gilberto Freyre
Onde encontrar:
Biblioteca Amadeu Amaral do Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular, Rio de Janeiro.
Referência bibliográfica:
FREYRE, Gilberto. A Casa Brasileira. Rio de Janeiro: Grifo Edições, 1971.
Eixos de análise abordados:
Saberes tradicionais e espaço arquitetônico
Tecnologia tradicional no território e na edificação: vigências e usos contemporãneos
Construção autogerida em meio urbano: espaços e técnicas
Dados sobre o autor(es) e obra:
Gilberto Freyre (1900-1987), nasceu em Recife-PE, e foi sociólogo e ensaísta. Autor de "Casa Grande & Senzala”, obra vista como a mais representativa sobre a formação da sociedade brasileira, recebeu ao longo de sua vida diversos prêmios em reconhecimento da qualidade de sua obra sociológica. Na Universidade de Baylor, nos Estados Unidos, graduou-se artes liberais e especializou-se em política e sociologia. Fez pós-graduação na Universidade de Colúmbia, Nova Iorque, obtendo o grau de mestre com o trabalho "Vida Social no Brasil em Meados do século XIX", orientado pelo antropólogo Franz Boas, de quem recebeu grande influência intelectual. Entre 1933 e 1937 escreveu três livros voltados para o problema da formação da sociedade patriarcal no Brasil: Casa Grande & Senzala, Sobrados e Mucambos e Nordeste. Lecionou Sociologia na Universidade do Distrito Federal a convite de Anísio Teixeira e foi funcionário do antigo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN), hoje IPHAN, em cuja revista colaborou diversas vezes. O texto em exame foi publicado pela primeira vez em 1937, pelo Ministério da Educação e Saúde na série Publicações do SPHAN.
. Sobre uma singularidade brasileira no estudo de tipos regionais de casa
. A casa como centro da formação social do Brasil
. A propósito do sobrado brasileiro de origem açoriana: sua relação com outros sobrados de residência
. O mucambo do nordeste como expressão brasileira de arquitetura popular de residência
. Casas de residência no Brasil: patriarcal: em tôrno do testemunho de um arquiteto francês
Resumo :
A obra é uma tentativa de síntese de três abordagens preliminares do autor: a antropológica, a histórica e a sociológica. É também uma reunião e desenvolvimento de obras anteriores que versam sobre o tema. A tese central é que a casa – patriarcal e materna, ao mesmo tempo - governou a formação social do Brasil e é ainda atuante na formação do ethos brasileiro, donde a necessidade de incorporar a psicanálise, e até a autoanálise, nesse estudo. O processo de formação do Brasil, segundo Freyre, seria mais de auto-colonização do que de colonização por europeus. Nele, a família – a unidade patriarcal, cristã e escravocrata – teria agido em cooperação com governo e Igreja, em vez de ser subordinada. A casa seria, portanto, local de confluência e de influências culturais – européia, ameríndia, africana - nos valores, higiene, recreação, dança, música, caça, pesca e lavoura. Ao mesmo tempo, seria centro de irradiação da cultura europeia – por meio da catequese, educação e moralização – e laboratório de experimentos na cozinha e na farmacopéia. A casa seria, assim, o centro de uma europeização, em uma ecologia tropical e semitropical, e expressão coletiva e anônima, não de arquitetos eruditos e ou de talentos individuais. Seria ainda característica de uma civilização luso-tropical, estilisticamente à parte das outras grandes civilizações, com artes puras e aplicadas próprias, assim como com uma concepção de tempo específica e com alguma convergência com o mundo hispano-tropical. Singularidade evidente, ao se constatar a flexibilidade maior do português diante dos trópicos quando comparado com o holandês e o inglês. O ápice seria a casa-grande patriarcal: de engenho, fazenda, estância, sítio ou chácara, e sua versão urbana, o sobrado. Este, adaptando-se ao espaço social e geométrico da cidade, teria passando do “privatismo” ao civismo. A casa teria também versões mais simples como a casa do caboclo e o mucambo rural ou urbano. Se a casa-grande era símbolo e espelho da sociedade centrada na família patriarcal, “terratenente” e escravocrata, sua contraparte, o mucambo, era de confluência ameríndia e africana. Na conquista do território, duas espécies de auto-colonização teriam ocorrido: a da casa-grande senhorial, vertical, dominando sesmarias, engenhos, fazendas e estâncias; e a da casa do bandeirante, horizontal, de extrema mobilidade, correspondendo a choças frágeis vividas por homens rijos. O tipo de família patriarcal, com algo de feudal, foi no Império a base da estabilidade social e econômica, fornecendo chefes políticos no interior, parlamentares, estadistas, ministros e diplomatas, que ainda mantinham vínculos com a terra, como o Barão de Penedo, o Barão de Cotegipe, o Visconde de Camaragipe. Tal “familismo” passaria ainda à República. Freyre acredita que haveria correlação entre os traços característicos das personalidades ou das figuras mais ilustres da época e os tipos sociais e regionais das casas em que cresceram, prolongando-se no estudo de Joaquim Nabuco, Eça de Queirós e Ramalho Ortigão. A seguir, estuda o sobrado brasileiro de origem açoriana, no Rio Grande do Sul, e assinala a necessidade de identificar a intensidade e extensão de tal origem e de sua adaptação ao Brasil. Como a eliminação da chaminé grande, simplificação que já vinha ocorrendo nas ilhas e em Portugal, e que poderia ser explicada sociologicamente, pelo fato de as casas serem habitadas por casais de hábitos de poupança e sobriedade, e psicologicamente, por serem pioneiros desdenhosos de conforto. Registra a presença da “pombinha”, como proteção contra forças sobrenaturais, e a necessidade de estudo, com compilação e comparação, da sobrevivência das práticas profiláticas. Quanto às similaridades entre Norte e Sul do país, aponta que o mobiliário doméstico dos fidalgos, da aristocracia da banha, é similar aos da casa-grande e sobrados nordestinos. Freyre estuda em seguida a casa popular, o “mucambo”, ressaltando os preconceitos contra os mesmos. Salienta os seus valores eminentemente funcionais, como a adaptação climática superior e a higiene, e mesmo os valores estéticos, por meio de sua sobriedade e da beleza dos trançados. Apesar de arcaísmo nas grandes metrópoles, o mucambo ainda teria, segundo ele, seu lugar no restante do país e, adaptado como vinha sendo a novas funções e mediante a absorção de materiais industriais, tornara-se pós-moderno. O mucambo estaria atrelado à vegetação, sendo, mais que matéria-prima, um verdadeiro complexo cultural, podendo-se identificar sua presença em quatro grandes zonas: da carnaúba, do buriti, da barriguda e do coqueiro da índia. Por último, Freyre fala do testemunho do engenheiro e arquiteto francês Louis Leger Vauthier, que esteve no Brasil de 1840 a 1846, sobre a arquitetura doméstica a partir de correspondências, diários, relatórios e artigos publicados. O seu testemunho confirmaria as teses do autor, como a influência moura, a relação das plantas das casas com a vida patriarcal e escravocrata e as semelhanças entre habitações nobres do Sul e do Norte, tais como a continuidade da varanda como comunicação perimetral protegida. Contemporâneo das mudanças técnicas e estéticas das habitações e das cidades, Vauthier teria estudado com simpatia a arquitetura tradicional e assimilado os seus valores.
Biblioteca Amadeu Amaral do Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular, Rio de Janeiro.
Referência bibliográfica:
FREYRE, Gilberto. Mucambos do Nordeste: algumas notas sobre o tipo de casa popular mais primitivo do nordeste do Brasil. 2.ed. rev. e pref. pelo autor. Recife: Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais, Imprensa Universitária, 1967.
Eixos de análise abordados:
Saberes tradicionais e espaço arquitetônico
Tecnologia tradicional no território e na edificação: vigências e usos contemporãneos
Construção autogerida em meio urbano: espaços e técnicas
Dados sobre o autor(es) e obra:
Gilberto Freyre (1900-1987), nasceu em Recife-PE, e foi sociólogo e ensaísta. Autor de "Casa Grande & Senzala”, obra vista como a mais representativa sobre a formação da sociedade brasileira, recebeu ao longo de sua vida diversos prêmios em reconhecimento da qualidade de sua obra sociológica. Na Universidade de Baylor, nos Estados Unidos, graduou-se artes liberais e especializou-se em política e sociologia. Fez pós-graduação na Universidade de Colúmbia, Nova Iorque, obtendo o grau de mestre com o trabalho "Vida Social no Brasil em Meados do século XIX", orientado pelo antropólogo Franz Boas, de quem recebeu grande influência intelectual. Entre 1933 e 1937 escreveu três livros voltados para o problema da formação da sociedade patriarcal no Brasil: Casa Grande & Senzala, Sobrados e Mucambos e Nordeste. Lecionou Sociologia na Universidade do Distrito Federal a convite de Anísio Teixeira e foi funcionário do antigo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN), hoje IPHAN, em cuja revista colaborou diversas vezes. O texto em exame foi publicado pela primeira vez em 1937, pelo Ministério da Educação e Saúde na série Publicações do SPHAN.
Prefácio do Diretor do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional à 1ª Edição, de Rodrigo Melo Franco de Andrade
Prefácio do Autor à 2ª Edição, de Gilberto Freyre
Mucambos do Nordeste
Resumo :
A obra é bem ilustrada, por meio de pinturas. Ao abordar o mucambo, Gilberto Freyre observa que se a influência portuguesa, enriquecida pela moura, foi dominante na arquitetura doméstica mais nobre até o século XIX, na construção popular, a influência maior foi a africana ou a indígena, com algumas introduções européias, como portas e janelas de madeira. O mucambo, definido como o tipo de casa popular mais primitivo do nordeste, varia com a diversidade da vegetação e serviria como ilustração dos processos ecológicos do homem com o meio, tanto no sentido mais imediato, de obtenção de sua matéria-prima, como no sentido dado pela Escola Sociológica de Chicago, ou seja, em sua relação com fenômenos tais como competição, seleção, mobilidade e recesso. Identifica e delimita quatro grandes zonas – as da carnaúba, do buriti, da barriguda e do coqueiro da índia – onde o tipo de mucambo acompanharia a presença de tais espécies. Existem ainda mucambos feitos com coqueiro tucum e palha de cana na cobertura, mas sem área abrangente. Tal relação entre espécies e moradia corresponderia a verdadeiros complexos culturais. A carnaúba fornece não apenas o material da casa (armação, tapume, cobertura), como a esteira da vida cotidiana, a corda, a vassoura e chapéus. O buriti, por sua vez, também é empregado para a construção de balsas, verdadeiros mucambos flutuantes, usadas como habitação durante as longas viagens pelo rio Parnaíba. Nos mucambos feitos a partir do coqueiro da índia, pelo contrário, as paredes são de barro ou massapé, comparecendo o coqueiro na cobertura de palha e nos trançados de folhas das portas e janelas, que se repetem nos balaios, esteiras e chapéus. Nas construções mais primitivas, sem pregos, o cipó ou corda vegetal junta os componentes. O mucambo, segundo Freyre, teria várias qualidades. A iluminação e ventilação se davam por aberturas na empena, melhor do que por meio de janelas, o que, somado ao isolamento térmico da cobertura, lhe daria superioridade no desempenho climático. E, esteticamente, seria artisticamente honesto, com linhas simples e economia de ornamentos. Mesmo sua pequenez teria algo de encanto, além de favorecer a monogamia. Freyre observa estar havendo mudanças no material empregado nos mucambos. A cobertura vegetal, em vez de palha, cada vez mais emprega o capim-açu, mais barato e vendido já preparado para cobertura, nos mercados do Recife. Aponta também casos de troca da palha por telhas de zinco, como parte da absorção gradual de elementos da técnica europeia e do material industrial. No Prefácio do Autor à 2ª Edição, Freyre assinala o pioneirismo da obra e defende o mucambo contra o que chama de “mucambofobia”. Argumenta que os males que lhes são atribuídos têm outras causas, pois não só não seria anti-higiênico, como apresentaria melhor relação entre aeração e insolação do que as construções de alvenaria. Seus arquitetos anônimos seriam funcionais, mas sem desprezar a arte que estaria presente nos rebuscados trançados feitos com a palha. E se seria um arcaísmo nas paisagens urbanas do Nordeste, não seria no Nordeste como um todo. Ao contrário, seria a resposta ao problema da fixação do homem no espaço tropical, como construção vegetal que mescla tradições européias, ameríndias e africanas no âmbito do processo de destribalização e de ajustes à vida “civilizada”. Observa, por fim, a curiosa persistência das formas onde substâncias e funções se alteraram.
CUNHA, Marianno Carneiro da. Da Senzala ao Sobrado: arquitetura brasileira na Nigéria e na República Popular do Benim. São Paulo: Nobel: EDUSP, 1985.
Eixos de análise abordados:
Saberes tradicionais e espaço arquitetônico
Território e etnicidade
Dados sobre o autor(es) e obra:
Marianno Carneiro da Cunha (1926-1980) estudou filosofia na Universidade de São Paulo e realizou seu doutorado sobre o pensamento religioso da Babilônia na École des Hautes Études de Paris. No Museu de Arqueologia e Etnologia da USP desenvolveu seus estudos sobre a África, onde também lecionou na Universidade de Ifé, Nigéria. Este livro, editado pela primeira vez em 1985, é o resultados das pesquisas desenvolvidas por Marianno na Nigéria e na República Popular do Benim, entre 1975 e 76. Esta publicação bilíngue, em português e inglês, conta com uma Introdução de Manuela Carneiro da Cunha que, em vários aspectos, complementa o estudo de Marianno e com um importante ensaio fotográfico de Pierre Verger sobre a influência da arquitetura brasileira nessa região africana.
Informações obtidas na obra fichada.
Sumário obra:
INTRODUÇÃO: por Manuela Carneiro da Cunha
Trajetórias: africanos no Brasil e brasileiros na África
Os libertos em Lagos
Lagos, mosaico de comunidades
Uma territorialidade construída
Casas, um investimento
Arquitetura tradicional iorubá
Notas
DA SENZALA AO SOBRADO. ARQUITETURA BRASILEIRA NA NIGÉRIA E NA REPÚBLICA POPULAR
DO BENIM: por Marianno Carneiro da Cunha
A comunidade brasileira e sua influência
A difusão de uma nova arquitetura
A arquitetura ioruba tradicional: sua evolução interna
A casa colonial brasileira. A casa de planta simétrica
As casas novas e as concepções tradicionais do espaço
Notas
Bibliografia
ENSAIO FOTOGRÁFICO: por Pierre Verger
APÊNDICES
Resumo :
Embora o estudo principal publicado nesta obra seja de Marianno Carneiro da Cunha, na Introdução, Manuela Carneiro da Cunha fornece importantes informações históricas sobre o processo de retorno de ex-escravos brasileiros à África e sobre como constroem na região da Nigéria e do Benim uma nova territorialidade. Nela criam uma nova arquitetura baseada na casa colonial brasileira de corredor central. A autora atribui este retorno às perseguições e leis discriminatórias promulgadas no Brasil contra os escravos a partir de 1830, às deportações freqüentes que ocorrem a partir desta época, bem como ao incremento do comércio entre África e Brasil, o que incentivou o movimento de retorno de libertos a esta região africana. Em Lagos, capital da atual Nigéria, os retornados formam uma primeira burguesia de cultura eminentemente ocidental, cuja referência principal era a Bahia, sediada no chamado “bairro brasileiro”. Neste bairro, que Manuela Carneiro da Cunha define como “a transposição do Brasil em terras d´África" (p.45), realizavam-se celebrações religiosas e folguedos populares, como a burrinha, típicos da Bahia. Os brasileiros encontraram na região de língua iorubá a arquitetura tradicional dos compounds à qual contrapuseram a arquitetura e as técnicas construtivas desenvolvidas no Brasil. Os compounds são conjuntos quadrados ou retangulares que abrigam famílias extensas, formados por unidades construtivas voltadas para um pátio interior que concentra a vida doméstica e social do grupo, tendo apenas, em geral, uma abertura para o exterior. Os compounds são formados de pequenas unidades residenciais mais ou menos retangulares, com aproximadamente 3,00 x 1,5 m, dispostas lado a lado, com uma porta de entrada voltada para a varanda que se desenvolve em torno do pátio central. O conjunto é construído com adobe e cobertura de palha ou de telhas cerâmicas nas construções de maior prestígio, materiais que, paulatinamente, foram sendo substituídos por telhas corrugadas. O estudo de Marianno Carneiro da Cunha demonstra como a arquitetura brasileira foi introduzida neste contexto e, principalmente, como e porque alcançou uma enorme difusão e prestígio, chegando mesmo a alterar o panorama da arquitetura secular autóctone dessa região africana. Marianno atribui esse fato à competência e ao conhecimento dos artesãos e construtores brasileiros que aportaram em Lagos no século XIX, mas, principalmente, ao modo como a organização espacial da arquitetura que trouxeram adequava-se à cultura iorubá e ao seu padrão espacial. Ao realizar esta análise, Marianno filia-se à abordagem de Rapoport sobre o substrato cultural da forma arquitetônica. Afirma que a modificação da arquitetura tradicional iorubá, a partir das construções brasileiras, teria se dado sem grandes rupturas porque não teria havido alteração da essência da sua concepção espacial. Para demonstrar essa tese, Marianno associa a organização espacial em torno de uma centralidade – o pátio - do compound iorubá, obtida progressivamente a partir da junção de unidades provenientes do modelo de casa rural isolada, à centralidade também presente na casa colonial brasileira de corredor central. O autor mostra exemplos dessa apropriação e traça paralelos entre a cultura patriarcal do Brasil colonial e a cultura também patriarcal e hierarquicamente marcada da região iorubá.
ZAMBUZZI, Mabel. O espaço material e imaterial do candomblé na Bahia: o que e como proteger?. 2010. 142 f. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal da Bahia, Faculdade de arquitetura, 2010.
Eixos de análise abordados:
Saberes tradicionais e espaço arquitetônico
Território e etnicidade
Dados sobre o autor(es) e obra:
Mabel Zambuzzi é graduada em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal da Bahia (2002), Mestre em Arquitetura e Urbanismo pela mesma universidade (2010). Trabalhou como consultora em conservação e restauro no Programa Monumenta (2003/2004), foi Chefe do Escritório Técnico da 7ª SR/IPHAN, em Rio de Contas/BA (2004/2007). Entre 2008 e 20010 foi professora substituta na disciplina Atelier IV na FAUFBA e Coordenadora do NEPAUR/UNIFACS. Atualmente é professora de projeto do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Salvador - UNIFACS, Coach da Coordenação do Curso e Supervisora de Atividades Complementares do mesmo curso.
3. COMENTÁRIOS CRÍTICOS ACERCA DA APLICABILIDADE DA LEGISLAÇÃO DE PROTEÇÃO
AOS TERREIROS DE CANDOMBLÉ
4. OS TERREIROS DE CANDOMBLÉ TOMBADOS
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Referências
Glossário
Anexos
Resumo :
A partir de questionamentos acerca do real objetivo do tombamento dos terreiros de candomblé, a autora se aprofunda na avaliação da aplicação desse instrumento de proteção a esse universo. No decorrer do estudo enfatiza a importância de se conhecer e de se documentar as práticas religiosas nos terreiros de candomblé para fundamentar a necessidade do tombamento. O primeiro capítulo analisa a visão de mundo do povo de santo e suas relações com o espaço do terreiro e da cidade, enfatizando a importância dessas duas escalas para os rituais. A relevância para o tema arquitetura popular é encontrada no quarto item deste capítulo, onde a autora aborda a capacidade de adaptação e transformação do espaço, uma vez que os terreiros tiveram que ser assentados em diferentes tipos de terreno, além da mudança da sua forma circular original para quadrangular e tipicamente brasileira, como também a substituição do barro e da palha pelo tijolo e pela telha cerâmica na técnica construtiva. A legislação sobre a proteção do patrimônio é abordada no segundo capitulo. No terceiro, autora critica o processo de aplicação da legislação vigente para proteção dos terreiros e, no quarto, analisa o processo de tombamento de vários terreiros em Salvador, Bahia. A autora conclui questionando o atual processo de proteção e sugerindo soluções para os problemas encontrados.
Estudante voluntária: Sarah Diana Frota de Albuquerque
Data da revisão:
sábado, 12 Julho, 2014 - 12:00
Responsável pela Revisão:
Marcia Sant’Anna
ISBN ou ISSN:
978-85-906837-3-5
Autor(es):
Olavo Pereira da Silva Filho
Onde encontrar:
Biblioteca da Faculdade de Arquitetura da UFBA
Referência bibliográfica:
SILVA FILHO, Olavo Pereira da. Carnaúba, pedra e barro na Capitania de São José do Piauhy. Belo Horizonte: Ed. do Autor, 2007. 3v.
Eixos de análise abordados:
Conceitos e métodos
Saberes tradicionais e espaço arquitetônico
Tecnologia tradicional no território e na edificação: vigências e usos contemporãneos
Construção autogerida em meio urbano: espaços e técnicas
Dados sobre o autor(es) e obra:
Olavo Pereira da Silva Filho possui graduação em Arquitetura (1972), especialização em Urbanismo (1975) e em Restauração e Conservação de Sítios e Monumentos Históricos (1979), todos pela Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais. Foi vencedor da 21ª edição (2008) do Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) na categoria Pesquisa e Inventário de Acervos com o livro “Carnaúba, pedra e barro na Capitania de São José do Piauhy”. Atualmente é responsável técnico na empresa OP ARQUITETURA LTDA. Tem experiência na área de Arquitetura e Urbanismo, com ênfase em Planejamento e Preservação de Sítios Históricos.
Motivado pela falta de referências sobre o quase desconhecido acervo arquitetônico e urbanístico do Piauí, o autor promove um trabalho de levantamento de vários sítios históricos do estado, com atenção especial para os elementos construtivos mais largamente utilizados: carnaúba, pedra e barro. Dividida em três volumes (Estabelecimentos Rurais, Arquitetura Urbana e Urbanismo), a obra procura compreender a organização espacial e os sistemas construtivos, associando a pesquisa arquitetônica aos aspectos sociais, econômicos e culturais que permearam a origem e a evolução tanto dos estabelecimentos rurais, quanto das áreas urbanas piauienses, nos séculos XVIII, XIX e XX, além de abordar as condições de preservação desse acervo. No volume I, chama atenção para as primeiras povoações da região, que formaram uma sociedade rural onde as construções remetiam à retórica persuasiva do barroco, porém sem a rigidez do classicismo formalista e dogmático, dando espaço para significativos efeitos populares. Faz uma descrição do universo rural desta área da colônia, associando-o aos aspectos econômicos da região, baseados principalmente na pecuária, da qual se obtinha o couro para a produção dos mais variados objetos. Apesar dos poucos dados sobre a arquitetura produzida nessas terras durante o período da colonização, o autor afirma que se tratava de habitações feitas com técnica construtiva das mais precárias, levantadas quase sempre pelo trabalho escravo. Nesses primeiros currais, “as moradias não passavam então de arcabouços toscos e provisórios”. Ao tratar das casas de vaqueiros e roceiros, surge uma maior ênfase na arquitetura popular, visto que os próprios moradores constroem suas casas, utilizando carnaúba, pedra e barro. Tal situação ainda hoje referencia territórios do agreste. Em seguida, Silva Filho analisa as casas de fazendas, as quais já possuem esquemas de implantação e setorização que, apesar de não haver opulência nem sistemas inovadores, apresentam-se com melhor noção de harmonia e equilíbrio. Com um levantamento de várias fazendas espalhadas por todo o Piauí, o autor distingue tipologias para as casas, descreve seus espaços e discorre sobre as técnicas construtivas utilizadas. No volume II, dedicado à arquitetura urbana, o autor informa que as construções citadinas do Piauí não se distanciavam por completo dos léxicos renascentistas, sobretudo os edifícios religiosos e públicos construídos nas áreas das praças centralizadas. A acomodação das composições traduz a coerência do contexto social a que servia. Trata-se de uma arquitetura objetiva e transparente, despojada de aparato ornamental, com formas simples e sintéticas limitadas à base portuguesa e simetria apegada à caixa estrutural. Propagou-se, em linguagem característica por todo o estado, uma expressão vernacular oriunda de uma reconfiguração do engenho lusitano da costa leste reconfigurada através dos recursos materiais e cognações espirituais do agreste. “Não se sabe de projetistas”, os arquitetos foram seus proprietários e mestres de obras, embasados em programas típicos do litoral e do interior baiano. A falta de arquitetos e engenheiros fez dos mestres de obras os verdadeiros projetistas da Capitania e mesmo da Província. Eram comuns prédios com formas semelhantes servirem a funções diferenciadas, confundindo-se fachadas de cadeias, intendências e escolas, por exemplo, e, às vezes, até as casas de moradia, em algumas situações, também repetiam o esquema de plantas de prédios públicos. Já no final do século XIX, momento de transição dos costumes e das formas de produção, os centros urbanos assimilaram novos padrões. O intercâmbio comercial proporcionou a reprodução do ecletismo no começo do século XX, estilo que já estava disseminado por todo o Brasil. Novas soluções arquitetônicas e urbanísticas passaram então a ser praticadas nas cidades piauienses. Silva Filho descreve amplamente as casas de residência e de comércio, destacando programas, implantação, setorização, técnica construtiva, mobiliário e utensílios domésticos. Levantamentos de construções em várias cidades do estado enriquecem seu relato. O volume II examina ainda os prédios históricos de função pública (instalações militares, casas de câmara, cadeias, intendências e repartições, mercados, edifícios de recreação, estabelecimentos de ensino, estações ferroviárias e equipamentos urbanos), além de edificações religiosas, com exemplares de diversos núcleos urbanos do Piauí. Por fim, o volume III analisa o fenômeno da urbanização em solo piauiense,iniciado a partir da segunda metade do século XVII. De acordo com o autor, esse não foi diferente de outras tantas regiões interioranas, onde os caminhos do gado fizeram surgir nucleações lineares, estruturando espaços com funções sociais, econômicas e religiosas. Silva Filho chama atenção para as Cartas Régias, em especial a de 1761, que estabeleceu a criação de vilas nas povoações paroquiais e instaurou a primeira cidade piauiense ao elevar a tal categoria a vila da Mocha, primeiro centro urbano local. Estes documentos foram determinantes para o urbanismo da região já que ordenavam o processo de urbanização, com o objetivo de deixar as cidades com características portuguesas, como se vê, por exemplo, em seus traçados ortogonais. A maior parte das nucleações urbanas eram vilas durante o período colonial. Somente no Império, muitas foram elevadas à categoria de cidades. Em “Aspectos urbanos”, o autor analisa o processo de urbanização de várias cidades do estado e, considerando tudo o que foi exposto até então, discute os processos de “ruptura e perda” e reflete sobre as condições de preservação do acervo histórico de arquitetura e urbanismo do Piauí. A obra possui vasta documentação iconográfica, mapas, desenhos e ilustrações, elaboradas pelo próprio autor ou resultantes de suas pesquisas arquivísticas, que acompanham as informações contidas nos três volumes. Além disso, com a intenção de proporcionar melhor interpretação e clareza, Silva Filho acrescentou um glossário dos termos técnicos e expressões vernaculares que aparecem ao longo do texto e que necessitam explicações.