GALLOIS, Catherine Jacqueline Suzanne. Arquitetura indígena, territorialidade e patrimônio cultural: por um inventário da arquitetura indígena brasileira. In: Anais do ArquiMemória 3 - Encontro Nacional de Arquitetos sobre Preservação do Patrimônio Edificado. Salvador: Centro de Convenções da Bahia, 2008.
Eixos de análise abordados:
Conceitos e métodos
Saberes tradicionais e espaço arquitetônico
Território e etnicidade
Dados sobre o autor(es) e obra:
A autora possui graduação em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de São Paulo (2001), mestrado em Planejamento Urbano e Regional pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2004) e aperfeiçoamento em conservação-restauração da pedra no patrimônio histórico pelo ICCROM (16th Stone Conservation Course, 2009). Tem experiência em desenho artístico, design gráfico, pesquisa, ensino, projetos de intervenção e de conservação-restauração com ênfase em conservação de pedras/cantaria no patrimônio arquitetônico. Foi docente do Curso de Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Estácio de Sá e hoje é doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal Fluminense.
O artigo objetiva contribuir para o estudo da arquitetura indígena no Brasil, uma vez que o tema ainda é muito pouco abordado. Posto isso, são discutidos os critérios de análise acerca das culturas indígenas e os mecanismos para salvaguardar esse patrimônio, sendo citadas ao longo do texto as contribuições bibliográficas relevantes para essa análise. Vale dizer que essa reflexão parte de trabalhos já realizados pela autora, referentes aos Wajãpi do Amapá, os quais são: Wajãpi rena: roças, pátios e casas e Sentidos e formas de habitar indígena: entre mobilidade e sedentarização. O artigo propõe que o conceito de habitar seja tomado de maneira mais ampla para dar conta das diversas escalas espaciais e sociais dos povos indígenas, afim de que os aspectos materiais e imateriais das arquiteturas, espacialidades e territorialidades sejam contemplados e, assim, se faça possível uma análise integral do objeto em estudo, revelando sua riqueza e diversidade. Segundo a autora, ao explorar a arquitetura indígena, é necessário afastar os critérios de avaliação de qualquer visão etnocêntrica. E, para se conseguir compreender esse patrimônio, é preciso ressignificar os parâmetros, sendo imprescindível o uso de uma abordagem interdisciplinar, em que abranja a antropologia, a arquitetura-urbanismo e as geografias humanista e cultural. Outro ponto importante do artigo diz respeito às mudanças sócio espaciais vividas pelos grupos indígenas nessas últimas décadas. Segundo a autora, a habitação indígena não pode ser pensada dissociada desse conjunto de mudanças, já que esta questão está intimamente ligada à ocupação de terras, devendo-se levar em conta tanto contextos históricos e geográficos (processos demarcatórios, migratórios, conflitos...), quanto culturais (se há grupo multiétnicos numa mesma unidade territorial ou não, dentre outros fatores). Com base em seus aspectos culturais, caracterizados pela mobilidade territorial, processualidade, transformação, efemeridade e particularidade, a autora alerta para o cuidado que deve ser tomado em relação à noção de patrimônio arquitetônico indígena, e afirma que o instituto jurídico do tombamento (Decreto-Lei 25/1937) não se aplica a essa arquitetura. Como uma saída viável para se salvaguardar essas técnicas e saberes, ela aponta o INRC (Inventário Nacional de Referências Culturais), uma vez que o mesmo aborda o contexto a partir de uma visão dos componentes materiais e imateriais presentes e, assim, possibilita a identificação, conhecimento e valorização da arquitetura indígena brasileira com toda sua diversidade, podendo ser efetuado em diversos recortes espaciais e em diversas escalas. Após uma breve explicação da metodologia proposta pelo INRC, caracterizada pelo entrelaçamento de aspectos culturais, sociais e territoriais, e de sugerir que tais inventários possam contar com a participação dos grupos envolvidos, o artigo finaliza citando que essa metodologia poderia se estender também para o estudo das arquiteturas populares ou vernaculares.
SILVA, Aracy Lopes da. Xavante: casa – aldeia – chão – terra – vida. In: NOVAES, Sylvia Caiuby (org). Habitações Indígenas. São Paulo: Nobel/ Ed. da Universidade de São Paulo, 1983.
Eixos de análise abordados:
Saberes tradicionais e espaço arquitetônico
Território e etnicidade
Tecnologia tradicional no território e na edificação: vigências e usos contemporãneos
Dados sobre o autor(es) e obra:
Aracy Lopes da Silva (1949-2000) graduou-se em Ciências Sociais na USP em 1973. Em 1980 obteve o título de Doutor em Antropologia Social com a tese Nomes e amigos: da prática Xavante a uma reflexão sobre os Jê. Formou o Grupo de Estudos sobre Educação Indígena, do Departamento de Antropologia da USP - o MARI. Especializou-se em Mitologia e Cosmologia Amazônicas, assim como desenvolveu o projeto de pesquisa Nomes pessoais no mundo lusófono. O caso brasileiro. Participou durante vários anos da luta pela causa indígena, tendo sido presidente da Comissão Pró-Índio de São Paulo, nos anos 80. Época em que iniciou seu trabalho com Educação Indígena, conduzindo ao projeto Antropologia, História e Educação. Professora da USP, ensinou Antropologia na Universidade Estadual de Campinas, assim como foi professor visitante no Departamento de Antropologia da Universidade de Harvard, em Cambridge, além de coordenadora Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social na USP, de 1995 a 1997. Ao todo, publicou 8 livros.
Conclusão – ou onde a mulher tem poder: a casa xavante
Resumo :
A forma circular entre os Xavante é aquela tida como ideal: das danças e dos jogos, da aldeia e da própria casa. Esta é construída com um pau no centro, em cujo topo convergem vários outros galhos amarrados, travados horizontalmente por taquaras em anéis circulares, e recobertos por folhas de palmeira. O conjunto, ao todo, tem, em geral, diâmetro de 6 a 7 m e altura de 4,5 m, com a porta voltada para o centro da aldeia. No centro da casa, uma fogueira para preparo dos alimentos, durante o dia, e para aquecer os moradores à noite. A entrada é um pequeno corredor de estacas e folhas. Dentro, há cestas penduradas em estacas para alimentos que serão preparados e bens pessoais. Alguns artefatos são guardados entre a palha da cobertura. Cada família tem seu espaço próprio e cada casa abriga até quatro famílias. Passado este número, constroem-se casas adjacentes. Além das moradias, existe hö, a casa dos solteiros, vedada às mulheres. Para trabalhar, o xavante põe a esteira fora de casa. Com o sol alto, descansa ou trabalha dentro da casa, afastando a palha para abrir uma “janela”. Os Xavante passaram do nomadismo para o sedentarismo agrícola. Antes do contato com o homem branco, permaneciam nas aldeias, renovadas a cada dois anos, por poucos meses. Passavam a maior parte do ano em grandes expedições de caça e coleta, o daö mori, andando de dia e acampando à noite, quando se recriava a aldeia no que toca à sua distribuição. Neste caso, os abrigos eram menores, feitos de galhos curvos e trançados, e cobertos por folhas. Como neles cabia somente uma família nuclear, seu arranjo exterior reproduzia a distribuição das famílias dentro das casas maiores da aldeia. As aldeias apresentam-se como círculos concêntricos que vão do social ao natural. O centro é o warã, lugar de encontro do conselho dos homens maduros e dos grandes rituais. É circundado por um caminho circular, defronte às casas, que é espaço das mulheres e local do repouso, do aconchego e da intimidade, bem como do parto e também onde se enterra o seu sangue e placenta. De cada casa parte um caminho ao warã, ao rio e às roças. Atrás das casas, outro caminho circular delimita a aldeia. Uma única casa foge ao alinhamento: o hö, com porta voltada para o rio. As roças familiares são clareiras na mata de galeria, extensões da aldeia e local para a intimidade dos casais. Por último, vêm as áreas de caça e de coleta da aldeia. O fim da vida seminômade levou à diminuição das atividades econômicas coletivas e ao aumento das atividades exclusivamente familiares, com aumento da importância da agricultura e o subsequente aumento das roças e a diversificação do cultivado. As casas vêm sendo substituídas por modelos retangulares, de pau-a-pique ou em madeira e palha. Dentro, os artefatos reconstituem o espaço circular e, na aldeia, mesmo com o fim de sua forma semicircular, a casa dos solteiros permanece tradicional, embora com alterações. Ainda é circular, porém com parede cilíndrica, janelas fixas e tetos cônicos em palha. Outra mudança está no surgimento de novos tipos edilícios e funções, como escolas e enfermarias.
LADEIRA, Maria Elisa. “Uma Aldeia Timbira”. In: NOVAES, Sylvia Caiuby (Org.). Habitações indígenas. São Paulo: Nobel; Edusp, 1983, p. 11-32.
Eixos de análise abordados:
Saberes tradicionais e espaço arquitetônico
Território e etnicidade
Dados sobre o autor(es) e obra:
Maria Elisa Ladeira é graduada em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo(1973), Desde 1974, dedica-se à pesquisa entre os grupos Timbira do Maranhão e Goiás. Em 1982 defendeu dissertação de mestrado em Antropologia Social na Universidade de São Paulo, possui doutorado em Lingüística pela Universidade de São Paulo(2001). Desde 1975, trabalha na área de educação indígena. É assessora do Centro de Trabalho Indigenista e trabalha na coordenação do Projeto Kraho, vinculado a esta entidade. Atua na Universidade de São Paulo.
A aldeia é elemento fundamental da identidade dos grupos Timbira. De formato circular, está intimamente ligada à sua organização social e seu espaço é determinado pelo modo como as pessoas se movimentam e se relacionam. As categorias espaciais permitem analisar as posições, os deslocamentos e perceber como estes orientam as relações sociais e como essa sociedade se articula. Localizados no cerrado do Maranhão e de Goiás, os Timbira geralmente constroem suas aldeias em lugares planos, em solo não pedregoso e perto da água, onde pode haver roçado. Quando o solo se esgota, a aldeia é reconstruída, próxima a alguma mata ciliar. Isso começou a mudar quando a FUNAI, ao construir escolas, enfermarias etc., obrigou as aldeias a se fixarem num mesmo lugar. As casas Timbira geralmente possuem planta retangular, com um dos lados maiores formando a sua frente e telhado de quatro águas, feito com folhas de babaçu ou inajá. Este mesmo material, com as folhas aplicadas em posição horizontal, constitui as paredes e toda a amarração é feita com cipó. A casa é fechada nos quatro lados, com a porta sempre no lado maior e voltada para o pátio. Na parede do fundo uma porta paralela à principal dá acesso ao “quintal”. Em algumas aldeias, as casas têm coberturas de duas águas, em folhas de piaçava, e porta ao lado do esteio da cumeeira. Atualmente, os Timbira erguem suas edificações em taipa ou até mesmo em adobe. Algumas possuem paredes internas, mas, geralmente, não têm divisões. Um “puxadinho” coberto de palha atrás dessas casas também serve de cozinha, sendo aí onde se passa a maior parte do tempo. No interior, encontram-se jiraus forrados com esteiras de embira ou buriti ou mesmo com cobertas nas noites frias. O jirau não serve somente para dormir, é também banco, mesa ou prateleira. Compõem ainda o interior, cabaças, potes de barro, bancos e toras de buriti para sentar. O círculo das aldeais é formado pelas casas que formam também o pátio denominado de centro da aldeia – local masculino onde se resolvem os conflitos e problemas. Cada casa tem o seu caminho radial para o pátio, o que significa que todas têm o mesmo peso social e que estão relacionadas da mesma maneira com as decisões políticas e religiosas. No círculo externo às casas – a “periferia” – são executadas as tarefas de produção, sendo esta a zona feminina por excelência. Cada casa é uma unidade demarcada que abriga a família elementar e o grupo doméstico, com cada um possuindo seu local de dormir e comer. Sua equidistância em relação ao pátio, assinala sua igualdade nas relações de produção, sendo o gênero o único tipo de distinção. Há duas maneiras de se deslocar na aldeia: atravessando o centro ou percorrendo o seu perímetro. As relações sociais são divididas em parentes e não parentes, e uma família levanta sua casa apenas quando se torna uma unidade produtiva independente. O termo em português que designa o segmento residencial é “rua” ou lugar onde se pode circular livremente. As aldeias Timbira não manifestam nenhuma hierarquia espacial e o seu “concentrismo” revela uma estrutura social em que os homens (pátio) e mulheres (periferia) se complementam e formam a aldeia.
LEMOS, Celina Borges. “Timbira (Goiás, Mato Grosso)”. In: OLIVER, Paul (edit). Encyclopedia of Vernacular Architecture of the World. Cambridge - UK: Cambridge University Press, 1997, p. 1.635-1.636.
RAMÍREZ PONCE, Alfonso. Arquitetura regional e sustentável.Arquitextos, São Paulo, 08.095, Vitruvius, abr 2008.
Eixos de análise abordados:
Conceitos e métodos
Dados sobre o autor(es) e obra:
Alfonso Ramírez Ponce é arquiteto e professor mexicano, especializado em construções de baixo custo com materiais tradicionais como o adobe, o bambu, mas, em especial, o tijolo cerâmico comum. Possui diversas obras construídas em toda a América Latina, assim como premiações. É professor de Teoria da Arquitetura e do Ateliê de Projeto e Construção na Facultad de Arquitectura da UNAM – Universidad Nacional Autónoma de Mexico e do Seminário Ateliê de Arquitetura e Tecnologia na Unidad de Posgrado. É professor visitante em Universidades em todo o mundo, como a Politécnica de Cataluña, Espanha; a Universidad Nacional de Tucumán, na Argentina, e a Universidade de Cambridge, entre outras. Autor dos livros Habitar... Uma Quimera e Un pensamiento que se habita, e co-autor de vários outros.
Neste texto o autor discute o termo “sustentável” e se seria coerente utilizá-lo para a arquitetura ao lado ou no lugar dos termos “regional”, “indígena” e “vernacular”. Começa equiparando “arquitetura regional” e “arquitetura indígena”, definindo-as como arquiteturas que pertencem ao seu lugar, ou seja, que são originárias, próprias ou pertencentes a um lugar - inde (dali) e genus eris (origem, nascimento, raça). Segundo Ramirez Ponce, para que uma arquitetura possa ser assim considerada três aspectos devem ser observados: (1) o respeito à regionalidade cultural e social; (2) a adaptação das obras ao meio e (3) a forma e os materiais utilizados. Esta arquitetura estaria ainda dividida em dois tipos: uma autônoma ou vernacular e outra que o autor definie como “apropriada”. Esta última estaria sendo hoje também denominada de “arquitetura sustentável”, pois ao utilizar matérias primas locais e se aptar ao meio, cumpriria o requisito de utilizar materiais com baixo consumo de energia. O autor não considera, contudo, que o termo “arquitetura sustentável” seja o melhor, pois se articularia mais à idéia de firmeza e solidez do que à conservação do ambiente natural e ao uso racional e responsável dos seus recursos. Avalia, por fim, que o conceito de “arquitetura regional” ou “indígena” é mais amplo e contém tanto a idéia de arquitetura sustentável quanto a de arquitetura vernacular (ou a da arquitetura sem arquitetos). O termo regional ou indígena seria mais amplo e adequado porque implicaria a inclusão do fator econômico, da adaptação ao clima, à topografia e aos elementos existentes, naturais e artificiais, e à relação entre os espaços exteriores e interiores, com a conseqüente redução dos custos de construção, operação e manutenção.
Trata-se de pequeno texto com cerca de 2000 palavras disponível na internet.
ISBN ou ISSN:
052156422 0
Autor(es):
Lucia Mascaró
Onde encontrar:
Biblioteca da Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
Referência bibliográfica:
MASCARO, Lucia. “Guarani: house”. In: OLIVER, Paul (edit). Encyclopedia of Vernacular Architecture of the World. Cambridge - UK: Cambridge University Press, 1997, p. 1693.
Eixos de análise abordados:
Saberes tradicionais e espaço arquitetônico
Dados sobre o autor(es) e obra:
Lucia Elvira Alicia Raffo de Mascaró possui especialização em Low Cost Industrialized Housing pela Technical University of Denmark (1971), mestrado em Sociologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1982), doutorado em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de São Paulo (1990) e pós-doutorado pela Universidad Politécnica de Sevilla (1993). Atualmente é professora titular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, consultora ad hoc da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, Membro de corpo editorial da Cadernos do Laboratório Nacional de Engenharia Civil, Membro de corpo editorial da Cuadernos de Laboratorio de Investigaciones del Territorio y el Ambiente, membro de corpo editorial da Revista da Sociedade Brasileira de Arborização Urbana e membro de corpo editorial da Cadernos de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo (MACKENZIE. Impresso). Tem experiência na área de Arquitetura e Urbanismo, com ênfase em Tecnologia de Arquitetura e Urbanismo. Atuando principalmente nos seguintes temas: construção civil, arquitetura, tecnologia.
O verbete trata da área de ocupação Guarani no oeste do Rio Grande do Sul e nordeste da Argentina, área pouco habitada e com aldeias e assentamentos esparsos. É acompanhado de ilustrações detalhadas sobre a casa Guarani e seu sistema construtivo, embora as ilustrações não correspondam plenamente à descrição. Informa-se que a aldeia Guarani localiza-se na floresta numa clareira. Seu ponto central é a casa da reza do pajé ou um espaço aberto para encontros do grupo. As demais casas são isoladas e dispersas na floresta em torno deste centro político e religioso. São construídas com bambu, folhas de palmeira e tábuas, materiais que são completamente diferentes daquelas de quem constrói em áreas sem árvores, onde há somente acesso ao barro. As paredes são construídas com pilares de madeira inseridos na terra, com armações de madeira entre eles e o vão das portas, estrutura que apoia a cumeeira. Entre quatro e seis bambus são fincados verticalmente no chão e três peças são colocadas horizontalmente entre esses apoios. Os espaços restantes são fechados com a costela da folha de palmeira, cascas e galhos. Esteiras de capim ou de folhas de palmeira são aplicadas sobre esta estrutura e o mesmo sistema é usado para revestir a cobertura. Costelas de folha de palmeira e esteiras também compõem a porta voltada para o norte, bem como uma grande esteira posta no interior serve de cama comunal. Uma lareira circular fica no lado oposto e caixas são usadas como assentos. Segundo a autora, o simbolismo arquitetônico se expressa na organização espacial e no uso do espaço, mas esse simbolismo não é explicitado assim como o ritual que precede a construção das casas. Por fim, a autora ressalta a preocupação ecológica e ritual embutida na construção Guarani, o que seria responsável pelo seu número e tamanho.
Biblioteca da Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
Referência bibliográfica:
LEMOS, Celina Borges. “Kayapó (Pará)”. In: OLIVER, Paul (edit). Encyclopedia of Vernacular Architecture of the World. Cambridge - UK: Cambridge University Press, 1997, p. 1.629-1.630.
Eixos de análise abordados:
Saberes tradicionais e espaço arquitetônico
Território e etnicidade
Dados sobre o autor(es) e obra:
Celina Borges Lemos possui graduação em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal de Minas Gerais, mestrado em Sociologia pela Universidade Federal de Minas Gerais e doutorado em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Campinas. É professora associada da Universidade Federal de Minas Gerais. Concluiu em 2008 o pós doutorado na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. Tem experiência na área de Antropologia Urbana, com ênfases em Fundamentos de Arquitetura e Urbanismo, Cultura Urbana, Conservação e Revitalização do Patrimônio. Tem realizado estudos voltados principalmente para os seguintes temas: arquitetura, artes, museologia, estilo, cultura, estética, centralidades, espaços públicos, serviços na contemporaneidade. Pesquisa atualmente a contribuição e o significado da Arquitetura Mineira entre os séculos XVIII e XXI, tendo por referencias principais as cidades históricas e Belo Horizonte.
De língua Gê, os Kayapó (em português, Caiapó) vivem no sudeste do Pará, entre os rios Xingu e Araguaia. Sua habitação tradicional responde ao clima quente e úmido desta parte do Brasil. A planta é retangular, sem divisões internas e o tamanho varia conforme o número de pessoas da família. A cobertura, de folhas de babaçu, tem inclinação acentuada e três das paredes são fechadas com esteiras feitas com folhas dessa mesma palmeira, sendo a quarta aberta para o pátio por meio de uma grande varanda. A cumeeira da cobertura é amarrada nos apoios com embira e o interior é divido em setores correspondentes a cada família nuclear. Um catre rude é usado para dormir, para sentar e também como mesa. O fogo fica no centro e há muitos objetos pendurados nos esteios e paredes. Na varanda há jiraus para secagem de comida e nos fundos há um forno de terra para cocção. A aldeia Caiapó tem forma circular, cujo centro corresponde ao lugar das cerimônias e rituais. O instrumento musical denominado maracá, que simboliza o mundo, é tocado durante as cerimônias. Nelas, os homens se reúnem no centro da aldeia e as mulheres na varanda do chefe da família. A casa dos homens, onde estes trabalham, fica no lado oeste do assentamento e tem planta retangular e cobertura inclinada, sendo fechada e proibida às mulheres durante a cerimônia de Aruanã. A casa Caiapó é o lugar da mulher e o homem só vai lá para comer e dormir. Corresponde a uma família nuclear, mas abriga outras quando uma filha se casa, sendo a descendência matrilinear. Durante as celebrações, as casas são abandonadas e as pessoas dormem em esteiras no centro da aldeia. Na época seca e de caça são construídas habitações temporárias e os caiapós levam então uma vida nômade. O espaço não é uma referência simbólica fundamental, sendo o papel das cerimônias e rituais maior e mais importante para a manutenção das tradições.
BANNER, Horace. “O índio Kayapó em seu acampamento”. Boletim do MPEG: Série Antropologia, Belém: MPEG, n.13, n.s., 1961.
DREYFUS, Simone. Les Kayapo du Nord, état du Pará, Brésil : contribuition à l’étude des indiens Gê. Paris: Mouton & Co., 1963.
FISHER, William H. Dualism and its discontents: social process and village fissioning among the Xikrin-Kayapó of central Brazil. Cornell: Cornell University, 1991. 509 p. (Tese de Doutorado).
LEA, Vanessa Rosemary. “Casas e casas Mebengokre (Jê)”. In: VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo; CUNHA, Manuela Carneiro da (Orgs.). Amazônia: etnologia e história indígena. São Paulo: USP-NHII; Fapesp, 1993. p. 265-84.
LEA, Vanessa Rosemary. “The houses of the Mebengokre (Kayapó) of Central Brazil: a new door to their social organization”. In: CARSTEN, Janet; HUGH-JONES, Stephen (Orgs.). About the House: Levi-Strauss and beyond. Cambridge: Cambridge university Press, 1995. p. 206-25.
LEA, Vanessa Rosemary. “Mebengokre (Kayapó) onomastics : a facet of houses as total social facts in Central Brazil”. In: Man, Londres: Royal Anthr. Inst. of Great Britain Ireland, v. 27, n. 1, p. 129-53, 1992.
VIDAL, Lux B. “O espaço habitado entre os Kaiapó-Xikrin (Jê) e os Parakanã (Tupi), do Médio Tocantins, Pará”. In: NOVAES, Sylvia Caiuby (Org.). Habitações Indígenas. São Paulo: Nobel; Edusp, 1983. p. 77-102.
ISBN ou ISSN:
052156422 0
Autor(es):
Celina Borges Lemos
Onde encontrar:
Biblioteca da Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
Referência bibliográfica:
LEMOS, Celina Borges. “Arawete (Mato Grosso)”. In: OLIVER, Paul (edit). Encyclopedia of Vernacular Architecture of the World. Cambridge - UK: Cambridge University Press, 1997, p. 1.623-1.624.
Eixos de análise abordados:
Saberes tradicionais e espaço arquitetônico
Território e etnicidade
Dados sobre o autor(es) e obra:
Celina Borges Lemos possui graduação em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal de Minas Gerais, mestrado em Sociologia pela Universidade Federal de Minas Gerais e doutorado em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Campinas. É professora associada da Universidade Federal de Minas Gerais. Concluiu em 2008 o pós doutorado na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. Tem experiência na área de Antropologia Urbana, com ênfases em Fundamentos de Arquitetura e Urbanismo, Cultura Urbana, Conservação e Revitalização do Patrimônio. Tem realizado estudos voltados principalmente para os seguintes temas: arquitetura, artes, museologia, estilo, cultura, estética, centralidades, espaços públicos, serviços na contemporaneidade. Pesquisa atualmente a contribuição e o significado da Arquitetura Mineira entre os séculos XVIII e XXI, tendo por referencias principais as cidades históricas e Belo Horizonte.
Este verbete trata dos indígenas Arawete (em português, Araueté), que vivem na região do Médio Xingu em um assentamento próximo do rio Ipixuna. Sua cosmologia está relacionada ao plantio sazonal de milho, cujas épocas de plantio e colheita, ensejam a construção de novo assentamento na floresta. A autora destaca dois tipos de habitação araueté: o tradicional ou vernacular e a casa de vila rural. O primeiro consiste numa estrutura de madeira com 3 pilares e uma grande viga central. A cobertura e paredes laterais formam uma abóbada, coberta com folhas de babaçu, com portas fechadas por meio de esteiras de palha. A casa tem planta retangular e não tem janelas, havendo variações desse modelo para habitações temporárias nas épocas de plantio e caça. Já a casa de vila rural é de taipa de sopapo, com planta retangular e cobertura de palha em duas águas. Seu interior tem as mesmas características das casas tradicionais: não há paredes internas e os espaços são divididos por meio de jiraus e redes de dormir. Às vezes, há um cômodo onde se guarda o jabuti sagrado. O fogo é sempre feito do lado de fora e há um pátio externo onde são guardados utensílios diversos e onde, na estação seca, se come, cozinha, trabalha, se recebe pessoas e se realiza alguns rituais. Embora cada casa tenha seu pátio, um conjunto de casas de parentes forma um grande pátio que reflete a estrutura social. O assentamento como um todo, portanto, é um “espaço fluido” dotado de vários centros. É resultado da falta de uma centralidade simbólica e de um espaço público efetivo, embora uma área mais ou menos central abrigue rituais coletivos. O verbete não contém ilustrações.
CASTRO, Eduardo Viveiros. Araweté os Deuses Canibais. Rio de Janeiro: Zahar: ANPOCS, 1986.
ISBN ou ISSN:
052156422 0
Autor(es):
Paul Hereford Oliver
Onde encontrar:
Biblioteca da Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
Referência bibliográfica:
OLIVER, Paul. “Yanoama, Amazonas” In: OLIVER, Paul (edit). Encyclopedia of Vernacular Architecture of the World. Cambridge - UK: Cambridge University Press, 1997, p. 1.639-1.640.
Eixos de análise abordados:
Saberes tradicionais e espaço arquitetônico
Tecnologia tradicional no território e na edificação: vigências e usos contemporãneos
Território e etnicidade
Dados sobre o autor(es) e obra:
Paul Hereford Oliver nasceu em Nottingham, Inglaterra, em 1927. É historiador da arquitetura e escreve também sobre blues e outras formas de música afro-americana. Foi pesquisador do Oxford Institute for Sustainable Development da Oxford Brooks University, de 1978 a 1988, e Associated Head of the School of Architecture. É conhecido internacionalmente pelos seus estudos sobre arquitetura vernacular, em especial, como editor da Encyclopedia of Vernacular Architecture of the World (1997) e pelo World Atlas of Vernacular Architecture (2005). A enciclopédia reúne pesquisas e estudos sobre arquitetura vernacular em todas as regiões do mundo, sendo a principal referência sobre o tema com esta abrangência até o momento. A primeira edição da obra em exame é de 1997.
Resumo :
O verbete informa que os indígenas “Yanoama”, também denominados “Yanomama” [Yanomami], “Waiko”, “Shirishana” e “Guaharibo”, vivem na Venezuela e na Amazônia brasileira. Assentam-se longe dos rios, são caçadores experientes e cultivam plantas, embora sejam conhecidos como “paleoindígenas”. A tecnologia “Yanoama” é simples e acessível a todos. O item mais significativo é o shabono, ou clareira habitada, que pode ser composto por uma única grande casa com telhado cônico e saída para fumaça, ou por uma construção bem maior com grande área no centro. Na forma mais extrema pode ser uma construção periférica contínua, com telhado único inclinado, formando uma grande praça central ou espaço comunal. Formas e tamanhos estão relacionados à quantidade de pessoas no grupo, a fissuras nas relações de parentesco e à estrutura social que estabelece novas linhas a partir de casamentos exogâmicos. O shanobo é construído em partes, cada uma pelo chefe da família que o vai habitar. Os segmentos são como os abrigos temporários usados na época seca quando há incursões na floresta. Pilares de madeira dura formam a estrutura do abrigo, com peças menores (cerca de 1,50 m) postas atrás e outras duas vezes maiores a 3,00 m de distância em direção ao espaço central. Peças horizontais são presas com cipó à guisa de terças e cumeeira entre os pares de pilares. Esta estrutura, cujos apoios têm disposição aproximadamente triangular entre si, é combinada com outras iguais feitas por outra família, formando um círculo. O número dessas unidades determina o tamanho do círculo. Galhos ou madeiras finas e compridas, com cerca de 9m, formam uma trama leve sobre cumeeira e terças, compondo uma cobertura em dossel com cerca de 30o de inclinação. Galhos ou cipós são entretecidos nesta trama para fixação das folhas de palmeira bisha, presas em camadas sucessivas, formando uma cobertura resistente às chuvas. Quando as unidades residenciais estão prontas, são dispostas a intervalos de 1,00 metro, os quais são depois fechados e cobertos, exceto onde são definidas as entradas. Uma paliçada defensiva é construída em volta deste conjunto. Nas unidades familiares, cujas aberturas são voltadas para o centro, as redes de dormir são presas nos pilares em arranjo triangular em torno da lareira. Cabaças e cestos pendem da cobertura e a lenha é estocada verticalmente no fundo formando uma parede. A área do beiral é semi-pública e as cerimônias principais ocorrem no espaço central. O shabono pode ter 15, 30 ou 60 m de diâmetro, acomodando até 160 pessoas. Dura geralmente dois anos e o processo de construção e destruição é parte da vida social dos “Yanoama”. Devido aos contatos com missionários, a partir dos anos 70, casas próximas dos rios passaram a ser construídas, por vezes com telhados de duas águas como as dos vizinhos Yukuna. O verbete é ilustrado com desenhos.
CHAGNON, Napoleon A. Yanomamõ: the Fierce People. New York, London: Holt, Rinehart & Winston, 1968.
CHAGNON, Napoleon A. Yanomamõ: the Last Days of Eden. San Diego: Harcourt Brace Jovanovich, 1992.
LIZOT, Jacques. “Contribution à l'étude de la technologie Yanomami”. Antropológica, Caracas : Fundación La Salle de Ciencias Naturales, n. 38, p. 15-33, 1974.
MILLIKEN, William; ALBERT, Bruce. “The construction of a new Yanomami round-house”. Journal of Ethnobiology, s.l. : s.ed., v. 17, n. 2, p. 215-33, 1997.
SMOLE, William J. The Yanoama Indians, a Cultural Geography. Austin: University of Texas Press, 1976.
ISBN ou ISSN:
052156422 0
Autor(es):
Hamilton Botelho Malhano
Onde encontrar:
Biblioteca da Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
Referência bibliográfica:
MALHANO, Hamilton Botelho. “Karibe- Aruak-Tupi (Mato Grosso)”. In: OLIVER, Paul (edit). Encyclopedia of Vernacular Architecture of the World. Cambridge - UK: Cambridge University Press, 1997, p. 1.628-1.629.
Eixos de análise abordados:
Saberes tradicionais e espaço arquitetônico
Tecnologia tradicional no território e na edificação: vigências e usos contemporãneos
Território e etnicidade
Dados sobre o autor(es) e obra:
Hamilton Botelho Malhano é arquiteto, etnólogo e museólogo, Mestre em História da Arte-Antropologia pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro e Doutor em História Social pelo Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da mesma Universidade. Foi Diretor Adjunto do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (1994-1998) e conselheiro do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN, como representante do Museu Nacional da UFRJ. Integra o quadro docente da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFRJ desde 1997. Atuou como colaborador e ilustrador em várias publicações etnológicas e possui obras publicadas sobre artesanato e arquitetura vernacular.
O verbete trata da arquitetura e dos assentamentos dos grupos indígenas do alto Xingu, os quais são classificados em termos linguísticos como Karibe (subgrupos Kalapalo, Kuikuro, Wagifitì-Matipu, Jaganmì-Nahukwá e Ikipeng-Tishkão), Aruak (subgrupos Yawalapíti, Mehináku e Waurá) e Tupi (subgrupos Kamayurá e Awetí). Suas aldeias são espaços articulados de acordo com relações sociais. A casa constitui o domínio mais privado e, por isso, é mantida fechada e protegida. Sua forma revela um sistema de expectativas e disposições codificadas, cujo código não se acessa geometricamente e sim conceitualmente. As partes dessas construções são relacionadas à anatomia do corpo humano, com elementos construtivos e partes do corpo denominadas pelo mesmo nome, o que sugere a identificação da casa com um ser biológico. Apesar de ter características masculinas, não há propriamente associação de gênero relativa à casa, pois é vista também como o lugar de gestação e preparação dos indivíduos para o exercício do seu papel social. Não há divisões internas, mas cada família tem o seu espaço privado de dormir e comer cujos limites não são definidos, mas reconhecidos por todos. O chefe da casa vive no setor frontal leste, tendo como referência o centro da aldeia. É ele quem toma a iniciativa de construir a casa e providencia os esteios centrais que são fixados no chão e são chamados de “pernas da casa”. A falsa elipse, que é a base da planta, é desenhada no chão, sendo aí fincados os esteios periféricos. O chefe da casa tem o privilégio de fincar os esteios das entradas, estabelecendo, assim, suas “bocas”. Um anel elíptico de madeira amarra os esteios periféricos pelo topo e constitui a costela principal da habitação. Extremidades de varas são fincadas no chão, contornando os esteios periféricos e colocadas em distância suficiente para que sejam amarradas na cumeeira que se apoio nos esteios centrais, denominada, por sua vez, de “peça de madeira que a casa carrega na cabeça”. Tiras de couro e ripas reforçam a estrutura abobadada da cobertura, formando as outras “costelas” da casa. O “cabelo” é a palha trançada nas ripas e seções da abóbada são denominadas de “nádegas, peitos, costas, pescoço e nuca” da casa. Uma construção especial é a casa das flautas ou “do meio”, que é um lugar sagrado, proibido para as mulheres e tem o objetivo de socializar os homens. Contém as flautas e demais objetos sagrados, sendo onde os homens se pintam para as celebrações. Esta casa fica no centro da aldeia que é definido como um lugar público. O centro geométrico da aldeia coincide também com o cemitério, pois os xinguanos também estabelecem uma gradação entre vivos e mortos que se reflete nos locais de sepultamento. A área da aldeia é determinada pelo modo como as pessoas nela se movem e revela como elas se relacionam umas com as outras. O verbete é fartamente ilustrado com desenhos sobre o processo de construção e sobre as várias partes da casa do alto Xingu.
MALHANO, Hamilton Botelho. “Repensando a técnica construtiva no alto Xingu”/MS. Inédito, curso Processos e Técnicas nas Artes Visuais, mestrado em História da Arte, P. G. em Artes Visuais (EBA/CLA/UFRJ), 1989.
MALHANO, Hamilton Botelho. “Poética Altoxiguana: A metáfora do abrigo: Uma Etnografia da Casa”, dissertação de mestrado em História da Arte, Pós-Graduação em Artes Visuais, Rio de Janeiro: UFRJ, 1993.
MALHANO, H. B e COSTA, M. H. F. “Habitação Indígena Brasileira”. In: RIBEIRO, Darcy et al. Suma Etnológica Brasileira, V. 2, Tecnologia Indígena. Petrópolis: Vozes/FINEP, 1986.
ISBN ou ISSN:
052156422 0
Autor(es):
Hamilton Botelho Malhano
Onde encontrar:
Biblioteca da Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
Referência bibliográfica:
MALHANO, Hamilton Botelho. “Judjá-Juruna (Mato Grosso)”. In: OLIVER, Paul (edit). Encyclopedia of Vernacular Architecture of the World. Cambridge - UK: Cambridge University Press, 1997, p. 1.627-1.628.
Eixos de análise abordados:
Saberes tradicionais e espaço arquitetônico
Território e etnicidade
Dados sobre o autor(es) e obra:
Hamilton Botelho Malhano é arquiteto, etnólogo e museólogo, Mestre em História da Arte-Antropologia pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro e Doutor em História Social pelo Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da mesma Universidade. Foi Diretor Adjunto do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (1994-1998) e conselheiro do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN, como representante do Museu Nacional da UFRJ. Integra o quadro docente da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFRJ desde 1997. Atuou como colaborador e ilustrador em várias publicações etnológicas e possui obras publicadas sobre artesanato e arquitetura vernacula.
O verbete informa que as aldeias do grupo tupi denominado no Brasil de Judjá-Juruna (ou Yudjá-Juruna) ficam perto do rio Manissauá-Missu, no baixo curso do rio Xingu, na parte nordeste do Parque Nacional do Xingu. Nelas, uma construção de caráter coletivo situa-se de modo proeminente: é a casa de farinha, alimento cuja cocção no formo é atividade masculina. Esta construção abriga também um fogo comum onde as mulheres preparam uma bebida fermentada a base de mandioca. Os adultos se reúnem aí no nascer ou no por do sol em dias festivos, exceto as meninas jovens que não podem ainda participar das comidas coletivas até seu casamento ou nascimento do primeiro filho. Os genros constroem suas casas próximas às dos sogros, formando pequenos grupos de residências familiares. Os Judjá-Juruna não têm um padrão formal de habitação. Constroem casas retangulares, quadradas, elípticas ou circulares. Podem ter divisões internas, mas a maior parte dos espaços íntimos é demarcada por jiraus e redes. Um espaço matrimonial novo é demarcado num canto segregado da casa para que o casal jovem possa ser monitorado pelos mais velhos. O fogo familiar para cozinhar fica no centro das habitações. Casas elípticas com paredes e coberturas independentes se tornaram comuns no médio e baixo Xingu, o que resultou da diminuição do número de vigas que formam as coberturas das construções do alto Xingu. Entre os Judjá-Juruna, a cobertura das casas forma pequenos beirais sobre as paredes, o que produz uma cobertura cônica e não em abóbada como no alto Xingu. As escoras periféricas podem estar ou não revestidas com palha. Assim, as casas do baixo e médio Xingu não possuem os detalhes arquitetônicos das construções da região do alto. Esta forma, contudo, é aceita pelo grupo Judjá-Juruna como transitória. O verbete é ilustrado com um corte esquemático da habitação.
ANDRADE, Lúcia M. M. de. "Os Juruna no Médio Xingu". In: SANTOS, Leinad Ayer O.; ANDRADE, Lúcia M. M. de. (Orgs.). As hidrelétricas do Xingu e os povos indígenas. São Paulo: CPI-SP, 1988. P. 147-52.
FRANCHETTO, Bruna. Laudo antropológico : a ocupação indígena da região dos formadores e do alto curso do Rio Xingu. Rio de Janeiro : s.ed., 1987, p. 159.