Biblioteca da Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
Referência bibliográfica:
BERTUSSI, Paulo Iroquez. “Italian (Brazil s)”. In: OLIVER, Paul (edit). Encyclopedia of Vernacular Architecture of the World.Cambridge - UK: Cambridge University Press,1997, p. 1693-1694.
Eixos de análise abordados:
Saberes tradicionais e espaço arquitetônico
Tecnologia tradicional no território e na edificação: vigências e usos contemporãneos
Território e etnicidade
Dados sobre o autor(es) e obra:
Paulo Iroquez Bertussi é, atualmente, profissional liberal e diretor da empresa Bertussi Design Industrial Ltda.
O verbete informa que, durante o último quartel do século XIX, grande número de italianos imigrou do norte da Itália para o Brasil, Argentina e EUA. No Brasil, a maioria teria se localizado no nordeste do Rio Grande do Sul, buscando reproduzir suas tradições construtivas e modo de vida. As primeiras construções eram feitas de alvenaria, com a pedra basáltica abundante na região ou com tijolos artesanais. De início, as casas isoladas no campo eram construções imponentes e grandes para abrigar numerosos filhos. Com o tempo, contudo, o uso da madeira foi o que permitiu a criar a arquitetura que de fato expressa esse momento histórico da imigração. Seu surgimento e desenvolvimento estão ligados à cultura de vinhedos e à preparação doméstica do vinho. A abundância de araucárias foi decisiva nessa mudança. As primeiras casas eram compostas de apenas dois cômodos: cozinha com lareira e sala de jantar onde também se poderia dormir. Os dormitórios eram construídos noutra casa afastada cerca de 20 m, devido ao medo de incêndios. Com o surgimento dos fogões modernos, as cozinhas foram construídas mais próximas dos dormitórios e ligadas a esta edificação por passagem coberta. Em seguida, a cozinha tornou-se um anexo e, por fim, foi incorporada à edificação que contém os quartos de dormir. A casa rural típica tem três andares. O primeiro é parcialmente enterrado e abriga a adega, sendo feito de alvenaria de pedras ou de tijolos e com poucas janelas para manutenção da temperatura. Aí são estocados queijos, salsichas e grãos, além de ferramentas. O segundo pavimento é feito de madeira e tem um cômodo central utilizado como sala de jantar nos domingos e feriados, e outros alinhados em duas alas à esquerda e à direita da entrada principal. No sótão há mais quartos, destinados aos filhos e à estocagem de grãos e outros alimentos que necessitam de ambiente seco. A latrina é sempre construída bem afastada da casa. Os primeiros telhados eram bem inclinados e cobertos com tabuinhas de madeira, denominadas scandole no dialeto local. Depois foram usadas telhas cerâmicas e, por fim, telhas corrugadas de zinco. Portas e janelas eram totalmente em madeira e somente a partir dos anos de 1930 foram dotadas de caixilhos e vidro. A expansão da indústria madeireira foi responsável pela difusão das casas de madeira no meio rural e também urbano. Como as tintas não eram acessíveis, as casas eram sempre na cor natural da madeira. Depois a cal foi usada como tinta. Como não havia conhecimento sobre técnicas e produtos para conservação da madeira, as casas se deterioravam e acabaram sendo substituídas por casas de alvenaria. Ao lado disso, devido à falta de políticas de reflorestamento, as araucárias logo se esgotaram, tornando essas casas testemunhos do passado. O verbete finaliza mencionando o tombamento das casas de madeira de Antônio Prado, um dos últimos conjuntos remanescentes desse período. O verbete é ilustrado com foto de uma casa antiga de alvenaria de pedra.
BERTUSSI, Paulo Iroquez. “Elementos de Arquitetura da Imigração Italiana”. In: Arquitetura no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Editora Mercado Aberto, 1983.
BERTUSSI, Paulo Iroquez. “Arquitetura Aqui (1875-1950)”. In: Nós os Ítalos Gaúchos. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 1996.
POSENATO, Júlio. Arquitetura do Imigrante Italiano no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: EDUCS, 1988
ISBN ou ISSN:
052156422 0
Autor(es):
Lucia Mascaró
Onde encontrar:
Biblioteca da Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
Referência bibliográfica:
MASCARO, Lucia. “Guarani: house”. In: OLIVER, Paul (edit). Encyclopedia of Vernacular Architecture of the World. Cambridge - UK: Cambridge University Press, 1997, p. 1693.
Eixos de análise abordados:
Saberes tradicionais e espaço arquitetônico
Dados sobre o autor(es) e obra:
Lucia Elvira Alicia Raffo de Mascaró possui especialização em Low Cost Industrialized Housing pela Technical University of Denmark (1971), mestrado em Sociologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1982), doutorado em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de São Paulo (1990) e pós-doutorado pela Universidad Politécnica de Sevilla (1993). Atualmente é professora titular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, consultora ad hoc da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, Membro de corpo editorial da Cadernos do Laboratório Nacional de Engenharia Civil, Membro de corpo editorial da Cuadernos de Laboratorio de Investigaciones del Territorio y el Ambiente, membro de corpo editorial da Revista da Sociedade Brasileira de Arborização Urbana e membro de corpo editorial da Cadernos de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo (MACKENZIE. Impresso). Tem experiência na área de Arquitetura e Urbanismo, com ênfase em Tecnologia de Arquitetura e Urbanismo. Atuando principalmente nos seguintes temas: construção civil, arquitetura, tecnologia.
O verbete trata da área de ocupação Guarani no oeste do Rio Grande do Sul e nordeste da Argentina, área pouco habitada e com aldeias e assentamentos esparsos. É acompanhado de ilustrações detalhadas sobre a casa Guarani e seu sistema construtivo, embora as ilustrações não correspondam plenamente à descrição. Informa-se que a aldeia Guarani localiza-se na floresta numa clareira. Seu ponto central é a casa da reza do pajé ou um espaço aberto para encontros do grupo. As demais casas são isoladas e dispersas na floresta em torno deste centro político e religioso. São construídas com bambu, folhas de palmeira e tábuas, materiais que são completamente diferentes daquelas de quem constrói em áreas sem árvores, onde há somente acesso ao barro. As paredes são construídas com pilares de madeira inseridos na terra, com armações de madeira entre eles e o vão das portas, estrutura que apoia a cumeeira. Entre quatro e seis bambus são fincados verticalmente no chão e três peças são colocadas horizontalmente entre esses apoios. Os espaços restantes são fechados com a costela da folha de palmeira, cascas e galhos. Esteiras de capim ou de folhas de palmeira são aplicadas sobre esta estrutura e o mesmo sistema é usado para revestir a cobertura. Costelas de folha de palmeira e esteiras também compõem a porta voltada para o norte, bem como uma grande esteira posta no interior serve de cama comunal. Uma lareira circular fica no lado oposto e caixas são usadas como assentos. Segundo a autora, o simbolismo arquitetônico se expressa na organização espacial e no uso do espaço, mas esse simbolismo não é explicitado assim como o ritual que precede a construção das casas. Por fim, a autora ressalta a preocupação ecológica e ritual embutida na construção Guarani, o que seria responsável pelo seu número e tamanho.
Biblioteca da Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
Referência bibliográfica:
MACEDO, Francisco Riopardense de. “Azorean: Immigrant (Brasil, S)” In: OLIVER, Paul (edit). Encyclopedia of Vernacular Architecture of the World. Cambridge - UK: Cambridge University Press, 1997, p. 1.683-1.684.
Eixos de análise abordados:
Conceitos e métodos
Saberes tradicionais e espaço arquitetônico
Território e etnicidade
Dados sobre o autor(es) e obra:
Francisco Riopardense de Macedo (1921-2007) foi um historiador, paisagista, poeta, urbanista, artista plástico, arquiteto e engenheiro gaúcho. Formado em Engenharia e Urbanismo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, lecionou História da Arte, História das Ciências e História dos Espaços Abertos nesta universidade. Trabalhou na Secretaria Estadual de Obras, foi diretor do Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul, membro da Sociedade de Engenharia do Rio Grande do Sul, membro do Instituto de Arquitetos do Brasil, membro do Instituto Riograndense de Artes Plásticas Francisco Lisboa e membro do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul. Suas principais pesquisas ocorreram no campo da arquitetura e artes plásticas.
Neste verbete o autor informa que os açorianos chegaram ao Brasil em 1792, como parte da política de consolidação do território português no sul do Brasil, para construir vilas nas proximidades do canal do Rio Grande, da boca do rio Jacuí até a atual cidade de Rio Pardo. Trouxeram métodos construtivos e planos para casas e moinhos de trigo. A casa do camponês açoriano é funcional e organizada em três áreas: à esquerda a cozinha, com a prancha do pão, o forno e o fogão; no centro, um cômodo denominado “casa do meio”, com um tablado onde as mulheres jovens sentam e costuram, e à direita o quarto de dormir. Um nicho é construído nas paredes grossas do cômodo do meio para guardar o material de costura das mulheres e, no lado oposto, é posta a cristaleira com os tesouros da família, retratos e lembranças. Transferido para a cidade, esse plano foi modificado. O cômodo do meio foi deslocado para trás e os da frente foram separados por um corredor lhe dá acesso. O cômodo da esquerda, ou cozinha, passou a abrigar o “nicho das agulhas” e o da direita deu lugar à sala de estar que era desnecessária no campo. Por fim, o quarto de dormir foi para cima, no sótão. Esse esquema geral se desenvolveu em habitações maiores como a que existe na Travessa Joaquim Lisboa, em Rio Pardo. São edifícios de grossas paredes de pedra, umbrais maciços e beirais curtos. Os cunhais e umbrais são de pedra lavrada e o resto da alvenaria é feita com pedras irregulares. As paredes internas são de taipa de mão, ou pau a pique, armadas com bambus, galhos e cipós. Nas casas urbanas de dois andares, a planta da casa camponesa original é reproduzida no piso superior, ficando o térreo para comércio ou alojamento de escravos. Os camponeses açorianos logo passaram a se dedicar à criação de gado, estabelecendo um negócio doméstico composto por: moinho, para a produção de farinha de mandioca; celeiro para estocagem de vegetais e grãos; “casa da carne seca”; alojamentos dos escravos; pomar; jardim e área da carruagem. O centro desse espaço produtivo é a casa de dois pisos onde, no térreo, fica também o depósito geral. No Rio Grande do Sul, a herança açoriana é reconhecida no forno oval, na trempe, na grelha, na arca, no banco de madeira com encosto, cujo assento é uma tampa, na cristaleira, nas danças e músicas. Nas áreas urbanas pode-se encontrar também a tipologia do “correr de casas”, que são construídas sob uma única cobertura e têm plantas simétricas que, segundo o autor, decorreriam da simplificação da casa camponesa açoriana. Conhecidas como casas de porta e janela, teriam agora planta de três cômodos organizada ao longo de um corredor lateral. Os moinhos de água e de vento açorianos foram muito usados e documentados no século XIX, sendo lembrados na toponímia de cidades do Rio Grande do Sul. O verbete é ilustrado com plantas e fotografia.
REIS, Nestor Goulart. Quadro da Arquitetura no Brasil. São Paulo: Editora Perspectiva, 1978, 4ª Ed.
SAIA, Luís. “Notas sobre Arquitetura Rural do Segundo Século”. In: Revista do SPHAN, n. 08. Rio de Janeiro: MES, 1944.
ISBN ou ISSN:
8528000176
Autor(es):
Paulo Iroquez Bertussi
Onde encontrar:
Biblioteca da Faculdade de Arquitetura - UFBA
Instituto do Patrimônio Artístico Cultural da Bahia - IPAC
Referência bibliográfica:
BERTUSSI, Paulo Iroquez; WEIMER, Gunter(org.). A arquitetura no Rio Grande do Sul. 2. ed. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1987.
Eixos de análise abordados:
Saberes tradicionais e espaço arquitetônico
Tecnologia tradicional no território e na edificação: vigências e usos contemporãneos
Território e etnicidade
Dados sobre o autor(es) e obra:
Günter Weimer é arquiteto, graduado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1963), mestre em História da Cultura pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (1981) e doutor em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de São Paulo (1990). Atualmente é professor convidado do Programa de Pós-graduação em Urbanismo (PROPUR) da Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Tem experiência na área de Arquitetura e Urbanismo, com ênfase em Arquitetura e Urbanismo, atuando principalmente nos seguintes temas: arquitetura popular, história da arquitetura, imigração alemã, açorianos no Brasil e Rio Grande do Sul. A obra é uma coletânea de artigos de vários estudiosos gaúchos sobre a arquitetura produzida no Rio Grande do Sul, com foco em seus aspectos étnicos e vernaculares. A primeira edição é de 1983.
Não foram encontradas informações sobre Paulo Iroquez Bertussi.
Sumário obra:
Apresentação
A habitação subterrânea: Uma adaptação ecológica (Fernando La Salvia)
O espaço urbano a arquitetura e produzidos pelos Sete Povos das Missões (Júlio Nicolau Barros de Curtis)
Arquitetura luso brasileira (Francisco Riopardense de Macedo)
A arquitetura rural da imigração alemã (Gunter Wimer)
Elementos de arquitetura da imigração italiana (Paulo Iroquez Bertussi)
Estruturas sociais gaúchas e arquitetura (Gunter Weimer)
Arquitetura moderna (Nelson Souza)
Arquitetura espontânea no Rio Grande do Sul (Geraldo Mário Rohde)
Resumo :
O primeiro texto dessa coletânea, “A habitação subterrânea: Uma adaptação ecológica”, de Fernando La Salvia, discorre sobre as habitações subterrâneas e semi-subterrâneas produzidas na pré-história no Nordeste do planalto gaúcho, na região de colonização italiana. Analisa parâmetros como meio ambiente, histórico da ocupação humana, além de descrever os materiais utilizados, as técnicas construtivas e as tipologias, ilustrando com plantas e cortes. Júlio Nicolau Barros de Curtis analisa no segundo artigo desta obra, “O espaço urbano e arquitetura produzidos pelos Sete Povos das Missões”, o assentamento missioneiro e a produção arquitetônica no fim do século XVII e no decorrer do século XVIII, caracterizada pela utilização de materiais locais e pela escolha de regiões estratégicas para sobrevivência, com foco na análise das igrejas. O terceiro capítulo “Arquitetura luso brasileira”, de Francisco Riopardense de Macedo, aborda a produção arquitetônica desde o século XVIII e analisa as fortificações, quarteis, residências, igrejas, estâncias e charqueadas, apresentando plantas e ilustrações e descrevendo as tipologias, materiais e técnicas construtivas. O artigo “A arquitetura rural da imigração alemã”, de Günter Weimer, é um resumo da sua dissertação de mestrado. O autor faz, inicialmente, um breve histórico da vinda dos imigrantes alemães para o Brasil e tece considerações acerca da organização das cidades e condições climáticas. Analisa também as tipologias das aldeias gaúchas e dos seus edifícios e discorre sobre a evolução da arquitetura rural na Alemanha e seu partido arquitetônico; sobre a organização social da picada teuto-gaúcha e das propriedades rurais – fortemente influenciadas pelo contexto sócio econômico e geográfico. O autor ainda aborda os detalhes da arquitetura da casa do imigrante e das colônias isoladas, ilustrando essa abordagem com fotografias. Paulo Iroquez Bertussi é o autor do artigo “Elementos de arquitetura da imigração italiana” no qual resume um estudo mais amplo que abrange outros elementos culturais além da arquitetura. Aborda a arquitetura desenvolvida de 1875 a 1950, analisando o traçado estabelecido para as colônias, o modo de ocupação do lote rural, os materiais e técnicas construtivas como também a organização social dos assentamentos. Apresenta fotos e mapas ilustrativos. O sexto texto, “Estruturas sociais gaúchas e arquitetura”, de Günter Weimer, questiona a relação entre a luta de classes e materialização da obra arquitetônica, analisando o período imperial e o republicano até antes da II Guerra Mundial. Nelson Souza, em “Arquitetura moderna”, objetiva apontar alguns elementos teóricos para fundamentar a análise crítica da arquitetura moderna no Rio Grande do Sul. Por fim, o oitavo artigo, “Arquitetura espontânea no Rio Grande do Sul”, de Geraldo Mário Rohde, se dedica, inicialmente, a apresentar e comparar os conceitos de arquitetura erudita, espontânea e kitsch, analisando, em seguida, a distribuição histórica e geográfica da arquitetura “espontânea” – termo que utiliza para designar a arquitetura popular – no Rio Grande do Sul, ressaltando suas tipologias e defendendo a importância dessa arquitetura como patrimônio e base para a solução do problema de moradia no mundo. Apresenta fotos ilustrativas.
Biblioteca da Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
Referência bibliográfica:
WEIMER, Günter. “Westfalian”. In: OLIVER, Paul (edit). Encyclopedia of Vernacular Architecture of the World. Cambridge - UK: Cambridge University Press, 1997, p. 1691.
Eixos de análise abordados:
Saberes tradicionais e espaço arquitetônico
Território e etnicidade
Dados sobre o autor(es) e obra:
Günter Weimer possui graduação em Arquitetura pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1963), mestrado em História da Cultura pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (1981) e doutorado em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de São Paulo (1990). Atualmente é professor convidado do Programa de Pós-graduação em Urbanismo (PROPUR) da Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Tem experiência na área de Arquitetura e Urbanismo, com ênfase em Arquitetura e Urbanismo, atuando principalmente nos seguintes temas: arquitetura popular, história da arquitetura, imigração alemã, açorianos no Brasil e Rio Grande do Sul.
Segundo Weimer, 20% dos imigrantes alemães vieram da Vestifália, uma região de cultura saxônica e onde se encontrariam os melhores exemplos de arquitetura vernacular germânica. Nesta região, os assentamentos urbanos são lineares abrindo-se, a uma certa distância, em uma praça. A habitação consiste em um grande celeiro que abriga os instrumentos e ferramentas da fazenda, cujo portão está voltado para a rua do assentamento. Este celeiro tem vários andares, os quais são utilizados para armazenamento de grãos e feno. Ao longo do térreo, há vários currais onde os animais são abrigados. Nos fundos desse conjunto vinculado ao trabalho há uma área dividida em cozinha, sala de jantar e latrina que, por sua vez, é separada de um salão por uma grossa parede de alvenaria de pedra. Este cômodo é restrito à família e pode estar conjugado a dois quartos, um de cada lado. Segundo Weimer, a casa da região do Reno é semelhante, sendo um dos quartos para os pais e o outro para as filhas, já que os filhos dormiam no sótão quando não se tornou mais necessário estocar feno. No Brasil, o salão se reduziu para que os quartos fossem ampliados e tornou-se uma área de convívio social ou invés de exclusiva da família. Weimer avalia que esta transformação deveu-se à falta das estruturas típicas das vilas da Vestifália, como bares e locais de encontro. A cozinha dos imigrantes vestifalianos restringiu-se aqui às áreas de cocção e de jantar, ficando a latrina do lado de fora, no centro do terreiro. Com a melhoria das condições de vida, um lavatório e depois um chuveiro foram acrescentados à área de jantar/cozinha, fazendo com que o partido original fosse, de certa forma, retomado.
WEIMER, Günter. Arquitetura da Imigração Alemã. São Paulo, Porto Alegre: Nobel e UFRGS, 1983.
WEIMER, Günter. Arquitetura no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1985.
ISBN ou ISSN:
052156422 0
Autor(es):
Günter Weimer
Onde encontrar:
Biblioteca da Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
Referência bibliográfica:
WEIMER, Günter. “Pomeranian”. In: OLIVER, Paul (edit). Encyclopedia of Vernacular Architecture of the World. Cambridge - UK: Cambridge University Press, 1997, p. 1690-1691.
Eixos de análise abordados:
Saberes tradicionais e espaço arquitetônico
Território e etnicidade
Dados sobre o autor(es) e obra:
Günter Weimer é arquiteto, graduado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1963), mestre em História da Cultura pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (1981) e doutor em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de São Paulo (1990). Atualmente é professor convidado do Programa de Pós-graduação em Urbanismo (PROPUR) da Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Tem experiência na área de Arquitetura e Urbanismo, com ênfase em Arquitetura e Urbanismo, atuando principalmente nos seguintes temas: arquitetura popular, história da arquitetura, imigração alemã, açorianos no Brasil e Rio Grande do Sul.
Segundo Günter Weimer, um quinto dos imigrantes alemães veio da região da antiga Pomerânia para o Brasil. Suas vilas ancestrais, como observado no verbete “German (Brazil Sul)”, são circulares e com as casas voltadas para um terreiro ou praça central. As habitações tradicionais, construídas na Europa, consistem de uma varanda que leva a um vestíbulo, o qual, por sua vez, dá acesso à cozinha e à sala de estar. Sendo a cozinha a fonte de calor, o estábulo fica ligado a ela e pode ter várias divisões conforme os tipos de animais criados. Em cima desse espaço fica o depósito de feno. A cozinha é sempre dividida em duas zonas: uma para preparo da comida e outra para o abrigo de uma sólida mesa de refeições. No Brasil, este arranjo da cozinha foi mantido, mas com uma abertura no meio. Além disso, houve, inicialmente, a separação da cozinha do resto da casa, ficando esta última agenciada do seguinte modo: um corredor central que atravessa toda a edificação, tendo o cômodo correspondente à sala de estar ou ao quarto de dormir de um lado e, do outro, um quarto que servia, eventualmente, como escola, depósito ou simplesmente como outro cômodo. À medida que os fogões foram sendo incorporados à cozinha e que o fogo aberto foi abandonado, esta voltou a ser incorporada à casa, retendo-se assim, em grande parte, o partido tradicional europeu.
WEIMER, Günter. Arquitetura da Imigração Alemã. São Paulo, Porto Alegre: Nobel e UFRGS, 1983.
WEIMER, Günter. Arquitetura no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1985.
ISBN ou ISSN:
052156422 0
Autor(es):
Günter Weimer
Onde encontrar:
Biblioteca da Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
Referência bibliográfica:
WEIMER, Günter. “German (Brzsil-S)”. In: OLIVER, Paul (edit). Encyclopedia of Vernacular Architecture of the World. Cambridge - UK: Cambridge University Press, 1997, p. 1689-1690.
Eixos de análise abordados:
Saberes tradicionais e espaço arquitetônico
Território e etnicidade
Dados sobre o autor(es) e obra:
Günter Weimer é arquiteto, graduado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1963), mestre em História da Cultura pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (1981) e doutor em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de São Paulo (1990). Atualmente é professor convidado do Programa de Pós-graduação em Urbanismo (PROPUR) da Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Tem experiência na área de Arquitetura e Urbanismo, com ênfase em Arquitetura e Urbanismo, atuando principalmente nos seguintes temas: arquitetura popular, história da arquitetura, imigração alemã, açorianos no Brasil e Rio Grande do Sul.
O autor assinala neste verbete que a imigração de alemães para o Brasil começa nas últimas décadas do século XIX, em consequência da revolução industrial, envolvendo principalmente pessoas das regiões da Vestifália e da Pomerânia. Parte desse contingente teria vindo também da área do Reno e se alojado nas costas montanhosas do Rio Grande do Sul. Devido ao isolamento, esses grupos mantiveram grande parte de suas tradições arquitetônicas e de assentamento. Na região do Reno, as casas eram edificadas para cumprir três funções, dispostas linearmente e sob um único telhado: habitação, estábulo e celeiro. Várias
atividades, entretanto, podiam ser realizadas do lado de fora de acordo com o clima. Na Vestifália, a forma das vilas é linear e na Pomerânia, circular. Como cada casa tinha um quintal e um pomar nos fundos, as vilas possuíam um cinturão verde. O restante da terra disponível para agricultura era de uso e propriedade comum, dividida entre os moradores conforme suas necessidades. Havia sempre uma floresta contígua, de onde se retirava madeira e lenha para o enfrentamento dos invernos rigorosos. Esses colonos foram assentados no Brasil em glebas geométricas e rigorosamente definidas, de propriedade individual, o que não permitiu reconstituir aqui essas vilas ancestrais. Mas o clima mais ameno permitiu que os animais ficassem abrigados do lado de fora e a casa unitária foi então dividida em várias unidades funcionais. A habitação propriamente dita foi dividida em “cozinha” e espaço de convívio diurno, além da “casa” para visitantes e convívio social nos fins de semana. O autor assinala que os padrões dessa subdivisão são curiosos: no caso dos imigrantes vindos da região do Reno, o arranjo das construções no espaço é bastante livre; no caso daqueles da Vestifália, as edificações são dispostas em torno de um grande terreiro que serve de passagem entre a estrada e as plantações; já os da Pomerânia, organizam suas construções em torno de um terreiro circular. Uma vez que as vilas não puderam ser reproduzidas aqui, seus padrões de arranjo espacial foram retomados na organização do espaço da propriedade familiar. Por exemplo, os colonos encompridaram e estreitaram o pomar de modo que ele envolvesse o conjunto edificado e as hortas foram plantadas entre ou ao lado das edificações. Assim, formou-se um anel de vegetação em torno das construções, ainda que irregular. A floresta ancestral também foi mantida, deixando-se sempre uma área de mata nas propriedades. As lavouras, contudo, incorporaram novas plantas como a cana de açúcar e o milho, o que promoveu modificações no sítio. No primeiro caso, a adição de nova construção para o processamento do açúcar e do melaço, colocada na periferia do conjunto, segundo o autor, por não ter origem europeia. O milho, por sua vez, foi estocado em uma construção especial ou no estábulo. Dessa forma, os imigrantes alemães teriam tentado preservar suas tradições de morar e de organizar o assentamento.