RAMOS, Maria Estela R. Território afrodescendente: Leitura de cidade através do bairro da Liberdade, Salvador (Bahia), 2007. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo). Programa de Pós Graduação em Arquitetura e Urbanismo. Universidade Federal da Bahia, Salvador.
Eixos de análise abordados:
Construção autogerida em meio urbano: espaços e técnicas
Território e etnicidade
Dados sobre o autor(es) e obra:
Maria Estela Ramos possui Graduação em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal do Espírito Santo, em 1995, Mestrado e Doutorado em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal da Bahia [PP-GAU FAU-UFBA], em 2007 e em 2013, respectivamente. Dispõe de experiência profissional na área de projetos de arquitetura, projetos comunitários com técnicas construtivas tradicionais, tecnologias sociais e assistência técnica em autoconstrução. É pesquisadora na temática de espacialidades e patrimônios culturais de comunidades negras urbanas e rurais, atuando principalmente nos seguintes temas: arquitetura, culturas negras e bairros negros. Atua como arquiteta e professora nos cursos de Arquitetura e Urbanismo e Design de Interiores na Unime-Lauro de Freitas, orientadora de iniciação científica e coordenadora do Escritório Modelo de Arquitetura e Interesse Social EMAIS [E+]. Informações obtidas em: http://lattes.cnpq.br/3100513551876982
Sumário obra:
INTRODUÇÃO
Contextualização da Pesquisa
A Identificação do Problema e Objetivos da Pesquisa
Delimitação da Pesquisa e Organização do texto
CAP. 1 - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICO-METODOLÓGICA
Referencial Teórico e Metodologia
Fontes Documentais
CAP. 2 - UMA CRÍTICA À PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO
As representações sociais
Exposição dos conceitos utilizados
CAP. 3 - BREVES REFLEXÕES SOBRE A ARQUITETURA E URBANISMO NO BRASIL
A identidade étnica como componente das relações sociais e espaciais
Contornos da exclusão urbanística
Espaço urbano e habitação: outras formas
CAP. 4 - O BAIRRO DA LIBERDADE COMO TERRITÓRIO AFRODESCENDENTE
Breve histórico do bairro da Liberdade
As representações sociais do bairro da Liberdade
A percepção do bairro
A percepção da cultura
Leitura de cidade através do bairro da Liberdade
Resumo :
A dissertação tem como objetivo analisar como a cultura afrodescendente influenciou no processo de autoconstrução urbanística e segregação socioespacial em localidades denominadas como “bairros negros”. A autora focaliza os estudos em um bairro hegemonicamente negro da cidade de Salvador, a Liberdade, sob a ótica das histórias de moradores e representantes sociais, buscando compreender como os aspectos estéticos e os hábitos da cultura de matriz africana deste local influenciaram na produção dos espaços urbanos. Buscam-se relatos de vivências que remontam às décadas de 1920 e 1930, período em que ainda não haviam ocorrido as invasões de terrenos que elevaram exponencialmente o índice populacional do bairro. O primeiro capítulo discorre sobre o método utilizado na pesquisa, apontando os principais referenciais teóricos e as fontes documentais consultadas e apresentando material cartográfico do bairro. No segundo capítulo a autora apresenta os princípios sociais de raiz africana que podem ser associados à afro descendência brasileira. Sendo estes princípios apontados não eurocêntricos, a autora, neste capítulo, também argumenta sobre a produção de conhecimento não-hegemônica no campo da pesquisa urbana. O terceiro capítulo aponta como a etnicidade pode ser fator influenciador das relações sociais e espaciais, colaborando para o processo de segregação espacial no meio urbano . Por fim, o quarto capítulo discorre sobre o bairro da Liberdade, principal espaço de investigação, buscando compreender a formação deste bairro, a espacialidade construída a partir dos referenciais afro descendentes e o modo como o bairro é compreendido pela cidade. Nota-se que, para além da discussão teórica apresentada inicialmente, o foco de interesse deste Guia de Fontes encontra-se a partir do terceiro tópico do Capítulo 3 e no Capítulo, já que estes delineiam o histórico da formação do bairro, com foco na construção autogerida e destacam pontos de influência da cultura de matriz africana no processo de formação espacial e urbana. Deste modo, a autora inicia esta parte descrevendo algumas características comuns nas tipologias de ocupação e construção de aldeias africanas tradicionais, destacando sua autoconstrução e organização espacial. O Kraal (exemplo de aldeia apresentado no texto, ilustrado com imagens, mas localizado regionalmente no continente africano) contém casas próximas entre si, normalmente pertencentes a pessoas com laços de parentesco, que criam áreas externas onde costuma-se passar a maior parte do tempo desenvolvendo atividades rotineiras e de lazer. A área interna da casa serve também como espaço de armazenamento de alimentos e ferramentas, assim como abrigo para descanso. Os materiais utilizados na construção das casas são o barro, a madeira e a palha, com técnica semelhante ao que se conhece na Bahia como taipa de sopapo. Em seguida, o Capítulo 4 inicia com a contextualização do Bairro da Liberdade, apresentando seu histórico de ocupações ao longo do tempo. O bairro surge no século XVIII, a partir da antiga “Estrada das Boiadas” (hoje Avenida Lima e Silva). Moradores também apontam a existência de alguns quilombos, no final do século XIX, espalhados pelo perímetro do bairro, que, ao longo do tempo, tornaram-se assentamentos informais. A partir da década de 1940, a área recebe muitos migrantes da própria cidade quanto do interior que encontravam facilidade de assentarem-se nesse local. As representações sociais, movimentos culturais e os próprios moradores figuram como agentes importantes na estruturação do bairro, tendo em vista o grande descaso do governo com relação a investimentos básicos nas áreas periféricas. Os moradores informam que, por vezes, realizaram as obras necessárias para garantir o desenvolvimento local. A historicidade apresentada no processo ocupacional da Liberdade, demonstra a sobreposição de tipologias, residenciais e urbanas, que produziram área distintas entre si, tanto fisicamente quanto social e simbolicamente. Fotos apresentadas no texto ilustram esta sobreposição, demonstrando que em áreas tradicionais existem desde igrejas do século XVIII e sobrados coloniais, a prédios contemporâneos comerciais e/ou multifamiliares. No âmbito das residências, notam-se construções do fim do século XIX, que a autora aponta como sendo pertencentes a uma tipologia que denomina de “estilística popular”, além de identificar diversas tipologias do século XX, como o chalé, as “casas de Platibanda” e a autoconstrução. Esta normalmente ocorre nas invasões localizadas em “brongos” ou “quebradas”, ou seja, em áreas íngremes de difícil acesso. A técnica construtiva mais antiga encontrada nas edificações foi a taipa de sopapo, que depoimentos descrevem como um método popular, mas também como um festejo onde vizinhos se uniam para colaborar com as construções uns dos outros. Logo após ser colocada a taipa, a casa era coberta com palha até que o morador conseguisse recursos para cobri-la com telha cerâmica. Outro material utilizado era o adobe, comum nas construções africanas, técnica passada por gerações conforme afirmam os depoimentos. Porém, ao longo do tempo, tanto taipa quanto adobe foram sendo substituídos pelo tijolo cerâmico na construção das “casas de platibanda”, que substituíram os chalés, e que, aos poucos, foram sendo verticalizadas, tipologia que, atualmente, é a mais encontrada no bairro. O parcelamento informal das terras caracteriza as primeiras formas de expansão do bairro, acontecendo normalmente entre grupos familiares. Moradores relatam que devido a este tipo de desmembramento, os lotes, por vezes, eram apenas limitados por cercas-vivas ou não havia nenhuma delimitação, o que criava ambientes permeáveis que estimulavam à socialização entre vizinhança. Uma tipologia urbana comum do bairro são as “Avenidas”, fileiras de casas que normalmente pertenceram a um único lote desmembrado, possuindo acessos tanto por “becos” (passagem lateral) quanto diretos a partir da rua. Esta agregação social familiar nesta forma de auto-organização urbana, assemelha-se, segundo a autora, à modulação espacial do Kraal, onde a rua é extensão da casa, sendo utilizada tanto como espaço de lazer e socialização quanto de trabalho (exemplo disto, são as feiras). A ocupação informal e de perfil familiar é consequência da pouca ação estatal sobre o bairro, onde a socialização é fator determinante no desenvolvimento desta população negra, considerada ponto crucial tanto na evolução ocupacional física e estrutural do bairro, quanto no “fazer urbano” sócio cultural. Desta forma, para além dos pontos físicos em comum da construção e organização urbana africana, a autora define a Liberdade como um bairro Afrodescendente, por ter sido um espaço construído paralelamente ao tecido urbano formal, por uma população majoritariamente negra que encontra neste “local seguro” uma possibilidade de se abrigar e se desenvolver. Assim estes moradores carregaram consigo uma forma de sociabilidade e resistência muito característica de sua descendência, fator que facilita o processo de criação destes territórios negros nas cidades.
OLIVIERI, Alberto F. de Carvalho. O desenho da mudança social na arquitetura de invasão. Salvador: EDUFBA, 1994 (pré-textos).
Eixos de análise abordados:
Saberes tradicionais e espaço arquitetônico
Construção autogerida em meio urbano: espaços e técnicas
Dados sobre o autor(es) e obra:
Alberto Freire de Carvalho Olivieri possui graduação em Licenciatura e Urbanismo - Université de Paris VIII (1977), graduação em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal da Bahia (1974), mestrado em DEA - Urbanismo e Planejamento - Université de Toulouse Le Mirail (1976), mestrado em Artes no Diplôme D'Etudes Approfondies em Artes das Imagens - Université de Paris VIII (2003) e doutorado em Urbanismo e Planejamento - Université de Toulouse Le Mirail (1979). Pós-Doutorado na Faculdade de Arquitetura de Toulouse - Laboratório de Computação Gráfica. Pós-Doutorado na Universite de Paris VIII - Arte das Imagens. Realizou dezenas de conferências no Brasil e no exterior, França, Portugal, Bulgária, Espanha, Turquia e faz parte do corpo editorial da editora l'Harmattan, Paris. Tem experiência na área de Arquitetura e Urbanismo e Desenho Técnico, com ênfase em História da Arte, da Imagem e do Desenho, e em Crítica e História da Arquitetura e do Urbanismo, atuando principalmente nos seguintes temas: arte contemporânea, corpo, arquitetura, desenho e linguagem.
TRAUMAS EM RELAÇÃO À ARQUITETURA NAS IMAGENS DA CIDADE E DA HABITAÇÃO.
IDENTIFICAÇÃO DE ASPIRAÇÕES ATRAVÉS DA APRESENTAÇÃO ICONOGRÁFICA
BIBLIOGRAFIA
Resumo :
Neste livro, Olivieri apresenta os resultados de um projeto realizado com uma população em situação de invasão localizada no Jardim da Armação, em Salvador, no ano de 1996. Inicialmente, o trabalho explorou os fatores que levam ao processo de mudança social. Através de enquetes e questionamentos foram definidas as variáveis determinantes para essa mudança, além de indicadores de desenvolvimento social, apresentados como variáveis condicionantes. As variáveis determinantes foram definidas como elementos definidores do desenvolvimento social da família, como por exemplo: renda familiar, o tempo de residência em salvador, o controle da natalidade ou o planejamento familiar, a escolaridade e o grau de especialização. As variáveis condicionantes foram obtidas através do somatório de questões referentes à habitação, aos níveis de higiene e alimentação, aos cuidados infantis, à qualidade da vida conjugal, à relação com familiares e com a vizinhança. Através da superposição dessas variáveis condicionantes e determinantes, foi possível identificar que variáveis determinantes seriam mais responsáveis pelo processo de mudança social. Uma vez obtidos esses dados, foi definido um grupo de famílias potencialmente mais aptas à mudança social para ser comparado com outras que apresentaram maiores índices de desenvolvimento, identificando-se, dessa forma, os fatores que levaram a essa mudança. Dentre as dez famílias com maior potencial em relação às variáveis determinantes, apenas quatro obtiveram os melhores níveis com relação às variáveis condicionantes, demonstrando-se que os fatores de mudança social são muito subjetivos, e que se o grupo social não está inserido na cultura e na produção global, não se pode estudá-lo com os métodos usuais. Partindo dessas observações, o autor adentra em uma análise mais detalhada das variáveis determinantes, e conclui que algumas são mais definidoras que outras em relação à situação de mudança. Alguns entrevistados que obtiveram maior pontuação nas variáveis condicionantes não possuíram as melhores rendas e essa situação aparentemente paradoxal denota que o rendimento não é um fator fundamental e isolado dos outros que influem na qualidade de vida da população de baixa renda. A renda familiar tem peso fundamental se atrelada a um emprego estável, a uma profissão definida e ao nível de escolaridade. Este último fator mostrou um grande poder de mudança, pois as cinco famílias melhor classificadas possuíam os melhores níveis de escolaridade, apesar de uma média salarial abaixo daquela do grupo total de entrevistados. Outro indicador de bons resultados foi o tempo de residência em Salvador, o que reflete a importância do grau de integração com a cultura urbana. Em seguida, o autor explora os processos de marginalização e segmentação do território segundo os interesses do capital e as condições habitacionais da invasão. Ele pontua que a falta de propriedade do solo restringe a melhoria da qualidade habitacional, pois, diante da possibilidade de ser removida a qualquer hora, a população faz uso de materiais com pouca durabilidade. A totalidade das habitações analisadas foi construída com a utilização de barrotes de madeira, de folhas de compensado provenientes, em sua maioria, de restos de outras construções e com cobertura em telha de cimento amianto. Também foi observada durante a aplicação dos questionários, a utilização de objetos decorativos, o que denota uma preocupação com o habitat característica de um grupo nível educacional mais elevado e com maior perspectiva de mudança. As pessoas que tinham os melhores padrões habitacionais com relação ao desenho e à representação espacial da casa também detinham bons níveis de escolaridade. Olivieri aborda também o grau de satisfação em relação ao espaço e às necessidades de realização e aspiração no nível da habitação e em relação ao bairro. Em nenhum caso os entrevistados expressaram vontade de morar em outro lugar, apesar de almejarem melhorias com relação à casa, à insalubridade, à segurança e a serviços como luz elétrica. A boa vizinhança, a facilidade do transporte e a proximidade do trabalho foram identificados como os principais motivos para esse sentimento de permanência. No capítulo, “Traumas em relação à arquitetura nas imagens da cidade e da habitação”, buscou-se a relação dos elementos simbólicos transmitidos pelos diversos tipos de arquitetura com relação ao espaço urbano. Para isso, foram apresentadas aos entrevistados algumas fotografias e, em seguida, questões relativas ao espaço da cidade. Com base nisso, eles deveriam contar uma estória a fim de que fossem detectadas as emoções e reações do indivíduo, tornando possível, assim, se determinar o significado da arquitetura para o habitante da invasão. Ao final do livro o autor compila essas estórias.
MARICATO, Ermínia. Autoconstrução, a arquitetura possível. In: MARICATO, Ermínia (org). A produção capitalista da casa (e da cidade) no Brasil industrial. São Paulo. Editora Alfa-Ômega, 2ª ed., 1982, p. 71-93.
Eixos de análise abordados:
Conceitos e métodos
Construção autogerida em meio urbano: espaços e técnicas
Dados sobre o autor(es) e obra:
Ermínia Terezinha Menon Maricato possui graduação (1971), mestrado (1977), doutorado (1984), livre docência (1997) pela Universidade de São Paulo, onde é também professora titular (1998) de Arquitetura e Urbanismo. Foi professora visitante do Center of Human Settlements da Universidade da British Columbia e da Witswaterand University de Johannesburg. Foi coordenadora do curso de Pós-Graduação e Presidente da Comissão de Pesquisa da FAUUSP, além de membro do Conselho de Pesquisa da USP e fundadora do LASB-HAB - Laboratório de Habitação e Assentamentos Humanos da FAUUSP. Foi Secretária de Habitação e Desenvolvimento Urbano do Município de São Paulo (1989-1992) e formulou a proposta de criação do Ministério das Cidades onde foi Ministra Adjunta (2003-2005). Recebeu vários prêmios e publicou vários livros sobre habitação e desenvolvimento urbano. O artigo em exame foi originalmente apresentado na 28ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em 1976, revisto parcialmente em 1978.
O artigo trata da produção da habitação e do assentamento popular no Brasil dos anos de 1970/80. O texto estabelece uma distinção importante entre os processos tradicionais de mutirão e ajuda mútua, reconhecidos como solidários, cooperativos e de base rural, e a “autoconstrução” habitacional nos grandes centros industriais. Se no campo, esses processos tenderam a desaparecer com a modernização, nas áreas metropolitanas adquirem cada vez mais importância como modo de produção da habitação da classe trabalhadora. Grande parte do artigo é dedicada à explicação das causas estruturais desse fenômeno, com base na análise marxista de articulação necessária entre exploração da força de trabalho e acumulação de capital. O conceito de autoconstrução proposto por Maricato designa o “processo de construção da casa (própria ou não)” por seus moradores que podem ser auxiliados por parentes, amigos, vizinhos ou por profissional remunerado (p. 74). Este processo se verificaria também na construção de igrejas, escolas primárias, creches e centros comunitários, estendendo-se ainda para o espaço urbano na forma de melhoria de ruas, calçadas, pontes, etc. Esta forma de produção habitacional ocorreria por falta de alternativa, correspondendo a “trabalho não pago” ou “supertrabalho” (apud Oliveira) e favorecendo a expansão capitalista. O tratamento da casa e do equipamento urbano como mercadorias, o salário baixo e os investimentos públicos ligados à dinamização econômica e à reprodução do capital estariam na raiz do problema e viabilizariam o desvio do orçamento público para outras finalidades e setores economicamente mais dinâmicos. A política do antigo Banco Nacional da Habitação (BNH) é evocada como exemplos desses desvios, mostrando-se que os agentes intermediários que recebem recursos do banco, retiram-se após produzir a habitação, e deixam a dívida e os problemas da construção para o trabalhador que conseguiu se inserir no sistema. A maioria, contudo, não consegue arcar com os custos dessa produção. A autoconstrução surge então como alternativa ou arquitetura possível, fomentando ainda o aparecimento das periferias urbanas. A casa autoconstruída é definida como um abrigo de alto valor de uso que contém o necessário para acolher a família e leva muitos anos para ser completada, o que impacta o seu estado de conservação. Como modo de produção, seria caracterizada pela articulação rígida de seus componentes, o que inviabilizaria qualquer manifestação inovadora no nível da técnica construtiva, dos materiais de construção ou das soluções formais. Identifica-se a preferência pelo bloco de concreto e pela laje pré-fabricada, devido ao seu baixo custo, mas as condições estritas do investimento popular tampouco permitiriam voos criadores, impulsionando uma padronização. O lote seria ainda um fator determinante do resultado, especialmente quando localizado em loteamentos clandestinos. Maricato conclui que a criação arquitetônica popular nesse contexto é uma ideia ingênua. Embora a análise se baseie em dados da Grande São Paulo, acredita que as conclusões desse estudo podem ser generalizadas para outras cidades, guardadas as especificidades vinculadas ao grau de industrialização.
LEMOS, Carlos e SAMPAIO, Maria Ruth Amaral de. “Evolução formal da casa popular paulistana”. São Paulo: FAUUSP, 1976.
_____________________. “A casa popular, mobiliário e aparelhos domésticos”. São Paulo: FAUUSP, Departamento de Projeto, Grupo de Disciplinas de Desenho Industrial, 1975.
ISBN ou ISSN:
978-85-7559-087-4
Autor(es):
Mike Davis
Onde encontrar:
Biblioteca da Faculdade de Arquitetura da UFBA
Referência bibliográfica:
DAVIS, Mike. Planeta Favela. Tradução de Beatriz Medina – São Paulo: Boitempo, 2006.
Eixos de análise abordados:
Conceitos e métodos
Construção autogerida em meio urbano: espaços e técnicas
Dados sobre o autor(es) e obra:
Mike Davis (1946), urbanista americano, é professor no Departamento de História da Universidade da Califórnia (UCI), em Irvine, e especialista nas relações entre urbanismo e meio ambiente. Ex-caminhoneiro, ex-açogueiro e ex-militante estudantil, Davis é colaborador das revistas New Left Review e The Nation, e autor de vários livros, entre eles Ecologia do Medo, Holocaustos coloniais, O monstro bate a nossa porta (pela Editora Record), e Cidade de quartzo: escavando o futuro em Los Angeles. A obra em exame foi publicada pela primeira vez em 2006, pela editora Verso de Londres, sob o título Planet of slums. A edição brasileira possui posfácio de Ermínia Maricato e ensaio fotográfico de André Cypriano.
A obra denuncia a favelização e a precarização das condições de trabalho e vida nas cidades do chamado Terceiro Mundo como consequência, entre outros fatores, dos Planos de Ajuste Econômico impostos pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e Banco Mundial para solucionar as crises das dívidas externas dos países em desenvolvimento. Davis não se debruça especificamente sobre a arquitetura desses assentamentos, mas aporta informações importantes sobre sua espacialização, demografia e tendências de desenvolvimento contemporâneo, além de sobre a história do conceito de favela. No primeiro capítulo, informa sobre o processo de urbanização contemporâneo, caracterizado por mega e hipercidades e crescente urbanização do campo. Na Ásia haveria uma relação quase clássica entre crescimento industrial e migração urbana, mas na Índia, América Latina e África, o crescimento urbano se daria em situações de desindustrialização, falta de desenvolvimento e aumento da produção agrícola como resultado das políticas de ajuste macroeconômico e desregulamentação agrícola desenvolvidas pelo FMI e do Banco Mundial, que sufocaram toda atividade rural fora do agronegócio e empurraram essa população para as cidades nos anos 1980 e 1990, fazendo-as funcionar como “lugares de reprodução da pobreza” que têm a favelização como principal modo de urbanização. Davis baseia-se no relatório, de 2003, do Programa de Assentamentos Humanos da ONU, denominado The Challenge of Slums, que é analisado no capítulo 2, onde também se apresenta a evolução histórica do termo slum. O sentido de “lugar de degradação humana” surge em meados do século XIX e caracterizará a “favela clássica” como lugar restrito e de práticas imorais, habitações dilapidadas, excesso de população, doença, pobreza e vício. O relatório da ONU mantém essa definição, mas sem o julgamento moral, acrescentando o acesso inadequado a agua potável e a condições sanitárias, além da insegurança da posse da moradia. Davis apresenta uma classificação das favelas conforme sua localização no núcleo metropolitano ou na periferia, distinguindo, nessas localizações, favelas formais e informais. As favelas “formais” das áreas centrais são cortiços, moradias públicas para aluguel, pensões, hospedarias, abrigos. As informais provêm de invasões e de ocupações de moradores de rua. Na periferia, as favelas “formais” resultam de aluguel particular ou de moradias públicas e as informais dos loteamentos clandestinos e invasões. Além dessas, acrescenta os “campos de refugiados”. Nesses contextos, os “locatários invisíveis”, isto é, aqueles submetidos ao processo de transformação da habitação informal em mercadoria são os mais frágeis. Sobre a pobreza dentro da cidade, além dos cortiços, Davis menciona a transformação de bairros burgueses em favelas e a ocupação residencial de cemitérios, telhados, barcos e poços de ventilação, entre outras. Nas periferias, ressalta o custo prévio das invasões, em termos de propinas pagas pelo “direito” de invadir, e a ocupação de terras de baixo custo e lugares de risco, questionando as “vantagens” da invasão em termos da diluição do custo de construção. Davis não é, de fato, um entusiasta da favela como solução. O terceiro capítulo apresenta uma periodização histórica das tendências principais da urbanização da pobreza mundial e o capítulo 4 aponta a diminuição do papel do Estado e a abdicação do seu papel na luta contra as favelas como consequência dos ajustes econômicos capitaneados pelo FMI e Banco Mundial. O crescimento da influência dessas organizações nos rumos da urbanização mundial seria também consequência, segundo Davis, do programa habitacional de baixo custo defendido por John Turner nos anos 1970, o qual teria ido ao encontro da sua postura neoliberal e criado um paradigma “anarquista-liberal” que afastou os governos do Terceiro Mundo do fornecimento habitacional. O elogio da favela é então definido como uma “cortina de fumaça” que autorizou a revogação de compromissos estatais. Davis critica violentamente os programas de melhoria de favelas por aceita-las como realidades eternas, traduzirem a injustiça de 1/4 da população urbana viver em 5% dos terrenos e encobrirem as causas da desigualdade, além a ausência de macroestratégias para resolver o problema. Critica ainda a concessão de títulos de propriedade como submissão dos favelados aos impostos, enfraquecimento da solidariedade e da luta por mudanças estruturais e como promoção da divisão de classes dentro da favela. Davis conclui que a mercadorização da moradia e da terra urbana em metrópoles demograficamente dinâmicas, mas sem empregos, reproduziria os ciclos viciosos de superpopulação e aluguel que formaram os slumsda era vitoriana. O capítulo 5 focaliza as disputas de classe pelo espaço urbano e o papel do Estado na transformação da terra em mercadoria. Aponta o papel da segregação urbana na maximização do lucro particular por meio de intervenções de melhoria urbana, gentrificação, eventos internacionais, campanhas de embelezamento, erradicação do comércio informal e criminalização das favelas. Essa “haussmanização contemporânea” reivindica o centro urbano de volta para as classes superiores que, contudo, já estariam de “malas prontas” para partir para os condomínios fechados de subúrbios exclusivos. Estaria, assim, ocorrendo uma reorganização do espaço urbano metropolitano com diminuição drástica do contato entre ricos e pobres, distinta da segregação social e da fragmentação urbana tradicional. O capítulo 6 aborda a localização das favelas em áreas insalubres e de risco físico e seu papel na ampliação dos riscos geológicos e climáticos. Estas são apontadas também como as principais vítimas de desastres naturais e outros acidentes, e como promotoras da devastação de áreas verdes e da poluição de mananciais. No capítulo 7, aprofunda-se a crítica aos Planos de Ajuste Econômico do FMI e o último capítulo trata das atividades informais na cidade. Na América Latina, avalia-se que o setor envolve 57% da população economicamente ativa, com porcentagens crescentes nas pequenas e médias cidades. A visão do setor informal como protocapitalismo e trampolim para inserção da pobreza no mercado é criticada, mostrando-se sua heterogeneidade e divisão em “pequena burguesia” e “proletariado” informal, este último invisível e submetido a redes de exploração e abuso. No epílogo, Davis conclui que o capitalismo completou sua triagem da humanidade, definindo os que lhe servem e os que não servem para nada. Estes formariam uma “massa permanentemente supérflua” e sem esperança de inclusão. A favela surgiria então como única solução permitida para “armazenamento” dessa “humanidade excedente”. O livro apresenta dados sobre o Brasil e um ensaio fotográfico sobre as favelas do país.
TASCHNER, Suzana. Squatter Settlements and Slums in Brasil. In: ALDRICH, Brian; SANDHU, Ranvinder (orgs). Housing the Urban Poor. Policy and Practice in Developing Countries. Londres: Taschner, 1995.
VERNA, Gita. Sluming India: A Chronicle of Slums and their Saviors. Nova Délhi: Penguin, 2002.
Autor(es):
Jean Poul Monin Aka
Onde encontrar:
Biblioteca da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFBA
Referência bibliográfica:
AKA, Jean Poul Monin. Inventário das Tipologias, Morfologia, e do Processo de Produção do Espaço Concreto – O Caso de Novo Alagados em Salvador, Bahia - Brasil. Dissertação de Mestrado – Mestrado em Arquitetura e Urbanismo da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (UFBA - Salvador, 1997).
Eixos de análise abordados:
Construção autogerida em meio urbano: espaços e técnicas
Sumário obra:
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
1.1 Introdução
1.2 Objetivos
1.3 Justificativa
1.4 Delimitação da área de estudo
1.5 Metodologia
1.6 Revisão da literatura
2. PROCESSO DE CHEGADA À CIDADE
2.1 As causas rurais do movimento migratório
2.2 Análise de um período de 40 anos (1940 – 1980)
2.3 A chegada à cidade, as tipologias construtivas, surgimento de Novos Alagados
3. NOVOS ALAGADOS, O AVESSO DA CIDADE.
3.1 Causas urbanas da explosão dos Alagados
3.2 Quando o abrigo precário deve permanecer
4. AS PRÁTICAS COLETIVAS DO ESPAÇO
4.1 Evolução das formas urbanas
4.2 Práticas da vida coletiva. Vida cotidiana em Novos Alagados e mito da
marginalidade
4.3 Integração dos favelados
4.4 A questão fundiária
5. A LÓGICA DOS ASSENTAMENTOS POPULARES
5.1 Reconhecimento oficial dos assentamentos populares
5.2 Política nos assentamentos populares
5.3 Uma nova política urbana; recuperação dos assentamentos populares
CONSIDERAÇÕES FINAIS
ANEXOS
Resumo :
O autor fez uma análise das formas de apropriação organizacional no uso do espaço invadido. tendo como objeto a invasão denominada Novos Alagados, em Salvador, Bahia. Enfatiza a análise das tipologias, da morfologia e da produção de moradias, mostrando a evolução da favela, que foi surgindo devido à utilização de mão-de-obra temporária na agricultura, o que ocasionou a expulsão do campo de inúmeros trabalhadores agrícolas que migraram para a cidade em busca de novas opções de trabalho. Esses migrantes se instalaram em Novos Alagados, construindo abrigos com os materiais disponíveis. O autor descreve as etapas de desenvolvimento do assentamento, que começa com a construção pelo invasor de um barraco sobre palafitas, utilizando uma plataforma feita de tábuas apoiadas sobre estacas de madeira fincadas no mar. Na segunda etapa o construtor reproduz a sua antiga moradia utilizando bambu, fibras de palha, barro, piaçava e lona de plástico. Na terceira etapa, surgem as casas de alvenaria com telhado de duas águas, e, na quarta etapa, a casa ganha mais um segundo pavimento. Estas etapas são ilustradas com desenhos dos barracos, indicando-se o método construtivo, os materiais, as técnicas empregadas e a organização espacial dos componentes da moradia. Nos capítulos 2 e 3, o autor dá ênfase aos tipos de construções, à técnica que é utilizada na construção de abrigos provisórios, com observações construtivas e ilustrações sobre a organização do espaço que, com o tempo, será transformado pelo próprio morador, ampliando-o e reorganizando-o. O autor detalha por meio de croquis, com cotas, os tipos de barracos: aterrado, semi-aterrado, barraco de alvenaria, de pau-a-pique, de madeira/palafita. Descreve a evolução do assentamento e sua integração ao que chama de “modelo urbano”, ressaltando o seu caráter espontâneo e o fato de serem passíveis de “reabilitação” ou melhoria por parte dos próprios habitantes. A esse respeito, ressalta a importância da assistência técnica para a melhoria das construções e aprendizado de técnicas tradicionais que poderiam contribuir na produção de um habitat digno para os mais pobres.
Biblioteca da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo - UFBA
Referência bibliográfica:
CARVALHO, Eduardo Teixeira de. Os Alagados da Bahia: Intervenções Públicas e Apropriação Informal do Espaço Urbano. Dissertação de Mestrado – Universidade Federal da Bahia – FAUFBA (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo). Salvador, 2002.
Eixos de análise abordados:
Conceitos e métodos
Construção autogerida em meio urbano: espaços e técnicas
Dados sobre o autor(es) e obra:
Eduardo Teixeira de Carvalho é graduado em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal da Bahia (1972). Possui mestrado em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal da Bahia (2002) e doutorado em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal da Bahia (2010). Atualmente é Professor Adjunto 2 da Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal da Bahia e tem experiência em planejamento e projetos arquitetônicos, atuando principalmente nos seguintes temas: equipamentos urbanos, planejamento e projetos, projetos de arquitetura e urbanismo, desenvolvimento urbano e habitação de interesse social.
CAPÍTULO 2 - 1946 / 1986 - ALAGADOS –- O REAL E O IDEAL NO ESPAÇO CONCRETO
CAPÍTULO 3 - 1984 / 2002 - ALAGADOS, NOVOS ALAGADOS E O PROGRAMA RIBEIRA AZUL
CAPÍTULO 4 - MODOS DE INTERVENÇÃO E APROPRIAÇÃO DO ESPAÇO EM ALAGADOS - DIFERENÇAS E PERMANÊNCIAS
BIBLIOGRAFIA
Resumo :
O trabalho trata da ocupação, formação, desenvolvimento e consolidação do bairro popular de Alagados em Salvador, Bahia, abrangendo o período entre 1946 e 2002 e focalizando a interação entre as ocupações informais que ocorreram ao longo deste período e os resultados das intervenções realizadas pelo poder público. O autor realiza uma revisão teórica e conceitual das ideias de “favela” e “invasão”, discute o problema da habitação popular e suas causas estruturais, e analisa como e em que circunstâncias as invasões de Salvador se formaram e se desenvolveram ao longo da história da cidade. Embora de caráter mais amplo e diferentemente da maioria dos estudos dessa natureza, este trabalho não se restringe ao tratamento das dimensões socioeconômica, urbana e política dos Alagados, mas focaliza e analisa também a arquitetura popular aí produzida em vários períodos dessa ocupação. O autor identifica os vários estágios de ocupação do espaço dos Alagados, a partir do momento em que as famílias pioneiras erigiram casas de madeira sobre palafitas, acessíveis por meio de pontes construídas com tábuas e restos de construções. O segundo estágio correspondeu ao aterramento das ruas com lixo e material de entulho e o terceiro ao aterramento da área alagada sob as casas com material arenoso e entulho, deixando-se ainda os “quintais” alagados. O quarto estágio correspondeu ao asfaltamento das ruas e à chegada da água encanada e da eletricidade. Por fim, a substituição das moradias iniciais pelas casas de alvenaria. O trabalho também relata a mobilização dos moradores para conseguir lixo e material de entulho para aterrar as ruas do bairro. A técnica construtiva utilizada pelos moradores, a partir da construção de uma estrutura simples mas resistente de madeira agreste e vedações de materiais reciclados, também é estudada. A dissertação contém mapas que mostram os limites da área em estudo, fotos ilustrativas dos vários estágios da ocupação e desenhos esquemáticos com cotas que apresentam as tipologias e os esquemas construtivos dos barracos. Discute, por fim, o que denomina de “queda de braço” entre a ocupação informal dos Alagados e as intervenções realizadas pelo poder público na área, a eficácia das políticas públicas adotadas neste campo e conceitos como “ordem e desordem urbana”, “área degradada” e “qualidade de vida”.
Biblioteca da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo – UFBA
Referência bibliográfica:
CALDAS, Gessiane Oliveira. Espaços Urbanos – Uma Produção Popular – Qualificação e Requalificação do Bairro George Américo – Feira de Santana – Salvador – BA (1987 – 1998).Dissertação de Mestrado – Mestrado em Arquitetura e Urbanismo, na área de concentração em Desenho Urbano - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Bahia (UFBA - Salvador, 1998).
Eixos de análise abordados:
Construção autogerida em meio urbano: espaços e técnicas
Sumário obra:
Apresentação
Introdução
CAPÍTULO 1 – Conhecendo os pressupostos
CAPÍTULO 2 – Conhecendo a cidade de Feira de Santana
CAPÍTULO 3 – Conhecendo o bairro de George Américo
CAPÍTULO 4 – A ocupação hoje (1998) diagnose e proposição
Considerações finais e carta do George Américo 1988
Bibliografia
Anexos
Resumo :
A dissertação trata dos aspectos políticos, sociais e organizativos da construção do habitat popular e também da participação popular nas questões ligadas à produção do espaço urbano. A autora enfatiza a produção do espaço urbano pela iniciativa popular, focalizando o movimento social organizado em Feira de Santana/BA para construção do bairro George Américo, produzido em 1987 por ação popular planejada pelo movimento dos sem teto. O capítulo 3 focaliza as questões sociais, políticas e organizacionais da produção habitacional do bairro que, apesar das carências de infraestrutura e de não ter sido construído com a perspectiva de valorização do espaço, não é considerado pelos moradores uma favela devido à sua localização e organização espacial. A divisão equitativa do espaço gerou um ordenamento linear entre as quadras, o alinhamento das ruas e a regularidade dos lotes que justificam para os moradores esta visão. Esta regularidade teria ocorrido em decorrência da ação conjunta de um escritório de engenharia com a Associação dos Sem Teto, que ao interagirem, desencadearam uma ação “planejada” de produção do espaço urbano. Para a autora, esta ação teria evitado a precariedade do bairro quanto à configuração espacial, ao contrário de outros locais ocupados por iniciativa popular cuja configuração espacial resultaria “aleatória”. Segundo a autora, este trabalho tem também a intenção de ressaltar o engajamento e a responsabilidade social do profissional técnico em situações e movimentos dessa natureza, e demonstrar o potencial de transformação da realidade que tem a interação entre saber técnico e iniciativa popular.
VALLADARES, Lícia do Prado. “Estudos Recentes sobre a Habitação no Brasil: Resenha da Literatura”. In: VALLADARES, Lícia do P. (org). Repensando a Habitação no Brasil. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1983, pp. 21-77.
Eixos de análise abordados:
Conceitos e métodos
Construção autogerida em meio urbano: espaços e técnicas
Dados sobre o autor(es) e obra:
Lícia do Prado Valladares é socióloga, graduada pela PUC-Rio de Janeiro em 1967. Realizou estudos de pós-graduação no University College de Londres e doutorou-se pela Universidade de Toulouse-Mirail em 1974. Fundadora do URBANDATA e Professora Emérita da Universidade de Lille, atua principalmente nos seguintes temas: favela, pobreza urbana, história da pesquisa urbana no Brasil, Rio de Janeiro e política habitacional no Brasil. Atualmente é pesquisadora visitante do PPCIS (Programa de Pós-graduação em Ciências Sociais) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). É uma das principais especialistas no tema da habitação popular no Brasil, com inúmeros livros e artigos publicados pelo tema. O artigo em análise é fruto de uma pesquisa financiada pela Fundação de Inovação e Pesquisa (FINEP), sendo o copyright de 1982 pertencente ao Instituto Universitário de Pesquisa do Rio de Janeiro (IUPERJ).
Neste artigo Valladares realiza uma resenha da literatura sobre habitação no Brasil produzida até o começo dos anos de 1980, descartando, contudo, a referente à tecnologia da habitação, ao desenho e ao projeto de arquitetura. O estudo foi realizado a partir de bibliotecas e centros de pesquisa localizados no Rio de Janeiro, embora com contatos com outros centros de pesquisa do país. A autora classifica a literatura resenhada em grandes temas como o da ação governamental no campo da habitação, o da relação entre moradia e trabalho e o da formação das periferias urbanas. Além desses, dois outros temas de particular interesse para os estudos sobre arquitetura popular: o da favela e o da autoconstrução na periferia de grandes cidades. O tema da favela tem sua literatura, segundo Valladares, subdivida nos seguintes tópicos: processo de ocupação; características e significados da moradia e alternativas de intervenção governamental, sendo os dois primeiros os que trazem informações mais importantes para o tema deste guia de fontes. A respeito do processo de ocupação, a autora informa que uma das questões principais tratadas na literatura diz respeito à origem desses assentamentos, enquanto ações coletivas planejadas ou não, concluindo-se que se dão segundo diferentes formatos. No Rio de Janeiro, as invasões ocorreriam de modo gradual, podendo ser promovidas, inclusive por políticos, ao passo que, em Salvador, as mais antigas seriam resultantes de movimentos coletivos importantes. Já em São Paulo conviveriam processos de invasão muito diversos. Parte dessa literatura discute também o mercado de terras e de habitações formado no interior das favelas. No que diz respeito às características e ao significado da moradia nas favelas, Valladares aponta a influência de autores como William Mangin e John Turner que, pioneiramente, apresentaram essas ocupações como “solução” e não como problema. Sobre a autoconstrução nas periferias, ressalta-se a influência da concepção de Francisco de Oliveira de que esse tipo de moradia seria resultado de trabalho não-pago, o que favoreceria o processo de expansão capitalista. Como seguidores dessa linha de abordagem cita-se Maricato, Rolnik, Bonduki, Cavalcanti, Costa e Lima, sendo de Maricato a primeira definição de autoconstrução como “o processo através do qual o proprietário constrói sua casa sozinho ou auxiliado por amigos e familiares (...) nos seus horários de folga do trabalho remunerado” (1976, p. 10). Em seguida, Valladares informa que a autoconstrução passou a ser definida como “auto-ajuda”, “ajuda mútua” ou “mutirão” – este último visto também como uma contraprestação de serviços, para além dos “trabalhos especializados” que eventualmente são contratados no processo de autoconstrução. Outro enfoque dessa literatura são as análises comparativas relativas ao processo construtivo no que toca a aspectos sociais, econômicos e técnicos. Materiais e técnicas construtivas são considerados aspectos marcantes da moradia autoconstruída, verificando-se a tendência de compra de materiais mais baratos e de uso das técnicas mais elementares, num processo realizado em etapas descontínuas. Uma última preocupação desses estudos seriam as interpretações sobre o valor de uso e o valor de troca da moradia autoconstruída e sobre sua comercialização como mercadoria para venda ou aluguel.
Bibliografia citada pela autora sobre os temas tratados na ficha:
BONDUKI, Nabil e ROLNIK, Raquel. Periferias: ocupação do espaço e reprodução da força de trabalho. S. Paulo: FAU-USP, Fundação para Pesquisa Ambiental, 1979.
LIMA, Maria Helena Beozzo de. “Em busca da casa própria: autoconstrução na periferia do Rio de Janeiro”. IN: VALLADARES, Lícia do P. (org). Habitação em questão. Rio de Janeiro: Zahar, 1980, pp. 69-88.
MARICATO, Ermínia. “Autoconstrução, a arquitetura possível”. In: MARICATO, E. (org) A produção capitalista da casa (e da cidade) no Brasil industrial. São Paulo: Alfa Ômega, 1979.
MATTEDI, Maria Raquel Mattoso. As invasões em Salvador: uma alternativa habitacional. Dissertação de mestrado submetida à UFBA, 1979.
PERLMAN, Janice. O mito da marginalidade: favelas e política no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977.
SANTOS, Carlos Nelson F. dos. “Volviendo a pensar em ‘favelas’ a causa de las periferias”. In: Nueva Sociedad, n. 30, maio/junho 1977, pp 22-38.
________________________. “Estarão as pranchetas mudando de rumo? ”. In: Revista Chão, n. 01, 1978, pp. 22-31.
________________________. “Como projetar de baixo para cima uma experiência em favela”. In: Revista Brasileira de Administração Municipal, ano XXVII, n. 156, jul/setembro, 1980, pp 6-27.
________________________. “Velhas novidades nos modos de urbanização brasileiros”. In: VALLADARES, Lícia do Prado. Habitação em questão. Rio de Janeiro: Zahar, 1980, pp. 17-41.
VALLADARES, Licia do Prado. “Favela, política e conjunto residencial”. In: Dados, n. 12, 1976, pp. 74-85.
_______________________. “A propósito da urbanização de favelas”. In: Espaço & Debates, ano 1, n. 2, maio de 1981, pp 5-18.
ISBN ou ISSN:
052156422 0
Autor(es):
Günter Weimer
Onde encontrar:
Biblioteca da Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
Referência bibliográfica:
WEIMER, Günter. “Westfalian”. In: OLIVER, Paul (edit). Encyclopedia of Vernacular Architecture of the World. Cambridge - UK: Cambridge University Press, 1997, p. 1691.
Eixos de análise abordados:
Saberes tradicionais e espaço arquitetônico
Território e etnicidade
Dados sobre o autor(es) e obra:
Günter Weimer possui graduação em Arquitetura pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1963), mestrado em História da Cultura pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (1981) e doutorado em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de São Paulo (1990). Atualmente é professor convidado do Programa de Pós-graduação em Urbanismo (PROPUR) da Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Tem experiência na área de Arquitetura e Urbanismo, com ênfase em Arquitetura e Urbanismo, atuando principalmente nos seguintes temas: arquitetura popular, história da arquitetura, imigração alemã, açorianos no Brasil e Rio Grande do Sul.
Segundo Weimer, 20% dos imigrantes alemães vieram da Vestifália, uma região de cultura saxônica e onde se encontrariam os melhores exemplos de arquitetura vernacular germânica. Nesta região, os assentamentos urbanos são lineares abrindo-se, a uma certa distância, em uma praça. A habitação consiste em um grande celeiro que abriga os instrumentos e ferramentas da fazenda, cujo portão está voltado para a rua do assentamento. Este celeiro tem vários andares, os quais são utilizados para armazenamento de grãos e feno. Ao longo do térreo, há vários currais onde os animais são abrigados. Nos fundos desse conjunto vinculado ao trabalho há uma área dividida em cozinha, sala de jantar e latrina que, por sua vez, é separada de um salão por uma grossa parede de alvenaria de pedra. Este cômodo é restrito à família e pode estar conjugado a dois quartos, um de cada lado. Segundo Weimer, a casa da região do Reno é semelhante, sendo um dos quartos para os pais e o outro para as filhas, já que os filhos dormiam no sótão quando não se tornou mais necessário estocar feno. No Brasil, o salão se reduziu para que os quartos fossem ampliados e tornou-se uma área de convívio social ou invés de exclusiva da família. Weimer avalia que esta transformação deveu-se à falta das estruturas típicas das vilas da Vestifália, como bares e locais de encontro. A cozinha dos imigrantes vestifalianos restringiu-se aqui às áreas de cocção e de jantar, ficando a latrina do lado de fora, no centro do terreiro. Com a melhoria das condições de vida, um lavatório e depois um chuveiro foram acrescentados à área de jantar/cozinha, fazendo com que o partido original fosse, de certa forma, retomado.
WEIMER, Günter. Arquitetura da Imigração Alemã. São Paulo, Porto Alegre: Nobel e UFRGS, 1983.
WEIMER, Günter. Arquitetura no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1985.
ISBN ou ISSN:
052156422 0
Autor(es):
Günter Weimer
Onde encontrar:
Biblioteca da Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
Referência bibliográfica:
WEIMER, Günter. “Pomeranian”. In: OLIVER, Paul (edit). Encyclopedia of Vernacular Architecture of the World. Cambridge - UK: Cambridge University Press, 1997, p. 1690-1691.
Eixos de análise abordados:
Saberes tradicionais e espaço arquitetônico
Território e etnicidade
Dados sobre o autor(es) e obra:
Günter Weimer é arquiteto, graduado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1963), mestre em História da Cultura pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (1981) e doutor em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de São Paulo (1990). Atualmente é professor convidado do Programa de Pós-graduação em Urbanismo (PROPUR) da Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Tem experiência na área de Arquitetura e Urbanismo, com ênfase em Arquitetura e Urbanismo, atuando principalmente nos seguintes temas: arquitetura popular, história da arquitetura, imigração alemã, açorianos no Brasil e Rio Grande do Sul.
Segundo Günter Weimer, um quinto dos imigrantes alemães veio da região da antiga Pomerânia para o Brasil. Suas vilas ancestrais, como observado no verbete “German (Brazil Sul)”, são circulares e com as casas voltadas para um terreiro ou praça central. As habitações tradicionais, construídas na Europa, consistem de uma varanda que leva a um vestíbulo, o qual, por sua vez, dá acesso à cozinha e à sala de estar. Sendo a cozinha a fonte de calor, o estábulo fica ligado a ela e pode ter várias divisões conforme os tipos de animais criados. Em cima desse espaço fica o depósito de feno. A cozinha é sempre dividida em duas zonas: uma para preparo da comida e outra para o abrigo de uma sólida mesa de refeições. No Brasil, este arranjo da cozinha foi mantido, mas com uma abertura no meio. Além disso, houve, inicialmente, a separação da cozinha do resto da casa, ficando esta última agenciada do seguinte modo: um corredor central que atravessa toda a edificação, tendo o cômodo correspondente à sala de estar ou ao quarto de dormir de um lado e, do outro, um quarto que servia, eventualmente, como escola, depósito ou simplesmente como outro cômodo. À medida que os fogões foram sendo incorporados à cozinha e que o fogo aberto foi abandonado, esta voltou a ser incorporada à casa, retendo-se assim, em grande parte, o partido tradicional europeu.