TAKAMATSU, Patrícia Helena Turola. Arquitetura vernacular: estudo de caso Vila do Elesbão/ Santana- AP. Belo Horizonte (Minas Gerais), 2013. (Dissertação de mestrado). Escola de Arquitetura. Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte.
Eixos de análise abordados:
Conceitos e métodos
Saberes tradicionais e espaço arquitetônico
Construção autogerida em meio urbano: espaços e técnicas
Dados sobre o autor(es) e obra:
Patrícia Takamatsu possui graduação em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal de Minas Gerais (2009) e Mestrado Interdisciplinar em Ambiente Construído e Patrimônio Sustentável, pela Universidade Federal de Minas Gerais (2013). Atualmente cursa o doutorado em Urbanismo, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, e é professora assistente da Universidade Federal do Amapá. Atua nas áreas de ambiente construído, urbanismo e tecnologias da arquitetura e urbanismo, dentre outras áreas afins.
Informações obtidas em: https://www.escavador.com/sobre/5536958/patricia-helena-turola-takamatsu
Sumário obra:
1. INTRODUÇÃO
2 ARQUITETURA VERNACULAR E PATRIMONIO CULTURAL
2.2 O CASO BRASILEIRO: WEIMER (2005)
2.2.1 Os tipos brasileiros de Weimer
2.3 CARTA DO PATRIMÔNIO VERNÁCULO
2.5 O DEVER CONSTITUCIONAL DE “PRESERVAR/CONSERVAR”
2.6 O PAPEL DO POPULAR NO PRESERVAR/CONSERVAR
2.7 MOTIVAÇÕES DE PRESERVAR/CONSERVAR
2.8 PRESERVAR/CONSERVAR E SEUS ENTRELAÇAMENTOS COM O VERNACULAR
2.9 CRÍTICAS A PATRIMONIALIZAÇÃO CONSIDERADA NECESSÁRIA A PRESERVAÇÃO/CONSERVAÇÃO
3 CONTEXTUALIZAÇÃO DA VILA DO ELESBÃO.
3.1. ÁREA DE ESTUDO
3.2 CARACTERIZAÇÃO GEOGRÁFICA
3.3 ESTRUTURA URBANA
3.4 CARACTERIZAÇÃO HISTÓRICA
3.5 CARACTERIZAÇÃO SOCIOECONÔMICA
3.6 CARACTERIZAÇÃO SOCIOAMBIENTAL
4 ANÁLISE METODOLOGICA DA VILA DO ELESBÃO
4.1 RESULTADOS
5 DISCUSSÕES FINAIS
Resumo :
Esta dissertação busca definir, a partir da identificação de padrões homogêneos, características que definam a arquitetura vernacular como algo singular, tendo como pano de fundo o debate acerca da preservação patrimonial/cultural e seus parâmetros limitados. Para isto, a autora focalizou seus estudos na Vila Elesbão, assentamento parcialmente em palafitas, localizado na zona metropolitana de Macapá (AP), onde observa-se processo de expansão e segregações espaciais que se confrontam com a conservação do patrimônio existente. No segundo capítulo, a autora trata da essência da arquitetura vernacular e dos significados da preservação cultural, descrevendo, no terceiro capítulo, a metodologia utilizada no estudo da Vila Elesbão. No quarto capítulo, analisa os resultados encontrados e, por fim, no quinto capítulo, apresenta suas conclusões. A dissertação tem argumentações baseadas em Carter e Crowley, Günter Weimer e na Carta sobre o Patrimônio Vernáculo Construído aprovada na 12ª Assembleia Geral do ICOMOS. Em “Convite à arquitetura vernacular”, Carter e Cromley, alicerçam-se na cultura para defender que a arquitetura vernacular é uma manifestação das ações humanas e seus comportamentos, e sua investigação deve pautar-se na história oral, em documentos escritos e no edifício, analisando-o da escala urbana à escala local, a partir da escolha de um objeto modelo. Em “Arquitetura Popular brasileira”, Weimer destaca como características relevantes dessa arquitetura a simplicidade, adaptabilidade, criatividade e a plástica dos materiais utilizados, sendo estas resultado da tradição cultural de quem a produz. As tipologias ribeirinhas em palafitas, definidas por Weimer como casas de mangue e casas de pântano, são caracterizadas mediante croquis e plantas relativas ao assentamento estudado. Em consonância com esses autores, a Carta sobre o Patrimônio Construído Vernáculo enfatiza os valores estéticos atribuídos à arquitetura vernacular e sua relevância enquanto instrumento de registro da história da sociedade. A autora defende que a preservação do patrimônio vernáculo deve levar em consideração o contexto urbano e não somente avaliá-lo a partir dos parâmetros arquitetônicos em si. A ocupação da Vila do Elesbão (AP) inicia-se em 1950 com famílias vindas do Pará, atraídas pela oportunidade de emprego devido à expansão da zona portuária e à exploração de minérios. Depoimentos de moradores afirmam que os primeiros habitantes dividiram suas glebas de terra para morar e produzir, mas que, após serem vendidas, deram lugar às casas e passarelas de comunicação em palafitas construídas artesanalmente. Na vila, destaca-se como produção cultural a carpintaria naval indígena, o que, por si só, demandaria uma atuação pública de preservação por tratar-se de uma atividade referencial para a região que envolve boa parte da população local, conforme levantamento feito pelo IPHAN, já que o transporte fluvial foi, por muito tempo, a única forma de acesso a esta comunidade. Deste modo, a autora analisa os estaleiros, embarcações, passarelas e residências que foram construídas mediante este saber. Em seu levantamento de campo, durante um ano, a autora também coletou dados socioeconômicos de moradores e carpinteiros por meio de ficha elaborada a partir dos critérios de Carter e Cromley, bem como de inventários de conhecimento do IPHAN. A autora procurou apreender as características básicas das edificações, objetivando criar uma relação entre os fenômenos de ocupação e a arquitetura desenvolvida na Vila, e relacioná-la com as ipologias ribeirinhas definidas por Weimer. Para isto, analisa os seguintes aspectos: tempo da construção, tipo de vedação, caimento do telhado, o sentido das ripas, existência de alpendre, composição da fachada, tipologias de portas e janelas, divisão interna, quantidade de quartos, presença de palafitas e tipo de acesso. Após a análise desse conjunto de aspectos, a autora concluiu que o tempo de construção e a localização são as principais variáveis que organizam as tipologias encontradas. As edificações mais próximas dos estaleiros, por não serem nem tão antigas, nem tão novas, possuem adaptações individuais da tradição construtiva ribeirinha. Já as edificações mais próximas da terra, que também são as mais recentes, ignoram totalmente essa tradição, são verticalizadas e podem ser de uso misto (residencial e comercial). Analisando morfologicamente as edificações estudadas, a autora definiu quatro tipologias típicas de planta baixa. São estas: a tipologia 0 corresponde a edificações sem divisão interna; a tipologia RET a plantas com cômodos simétricos e retangulares; a tipologia IRR também possui divisões retangulares, mas estas não têm relações harmoniosas entre si; e, por fim, a tipologia Z corresponde a uma planta retangular com detalhes em chanfros ou curvas em algumas quinas de paredes formando corredores. Os dados analisados são ilustrados com fotografias, gráficos e plantas. A autora destaca, a partir dos resultados obtidos, que a arquitetura vernacular da Vila Elesbão possui valor individual e cria sentido a partir de um contexto urbano, possuindo uma dimensão histórica que a torna transcendente. No que diz respeito à preservação, compreende-se esta arquitetura vernacular como um patrimônio, devendo-se dar a ela importância e a devida atenção à sua manutenção, além de medidas de segurança que garantam sua conservação futura.
ANDRADE, Francisco de Carvalho Dias. Uma poética da técnica: A produção da arquitetura vernacular no Brasil. Campinas (São Paulo), 2016. Tese (doutorado em História). Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. Universidade Estadual de Campinas, Campinas.ANDRADE, Francisco de Carvalho Dias. Uma poética da técnica: A produção da arquitetura vernacular no Brasil. Campinas (São Paulo), 2016. Tese (doutorado em História). Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. Universidade Estadual de Campinas, Campinas.
Eixos de análise abordados:
Conceitos e métodos
Saberes tradicionais e espaço arquitetônico
Tecnologia tradicional no território e na edificação: vigências e usos contemporãneos
Dados sobre o autor(es) e obra:
Francisco de Carvalho Dias Andrade possui graduação em História pela Universidade Estadual de Campinas (2007). É Mestre em História pela Universidade Estadual de Campinas, na área de Política, Memória e Cidade (2011) e Doutor em História pela mesma universidade, na área de História da Arte (2016). Tem se dedicado à preservação do patrimônio cultural brasileiro, realizando pesquisas sobre a história das técnicas, história da arquitetura e do urbanismo no Brasil. Informações obtidas em: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4463267T7
Sumário obra:
Introdução
PARTE I: A história da arquitetura como morfologia da nação brasileira
1. O chão que continua: a imagem da arquitetura vernacular brasileira
2. As formas do visível: o lugar das técnicas na arquitetura brasileira
PARTE II: As metáforas do corpo e os sentidos da construção vernacular
3. O valor da metáfora: as pesquisas de Carlos Borges Schmidt e a técnica como linguagem
3.1 Carlos Borges Schmidt: o estudo da técnica como disciplina fronteiriça
3.2 A técnica como linguagem da arquitetura vernacular
4. A produção da arquitetura vernacular brasileira
4.1. O abrigo do corpo: implantação e repartição interna em moradias vernaculares
4.2. Os materiais e seus regimentos: técnica e economia na base dos ofícios da madeira no Brasil
4.3 As medidas do corpo e a arquitetura vernacular como jogo construtivo
4.4 “Esta casa está bem feita”: o habitar vernacular e os ritos domésticos
Considerações finais
Referências bibliográficas
Caderno de Pranchas
Resumo :
A tese descreve cronologicamente a produção vernacular em diferentes contextos históricos do Brasil. O autor opta denominar este “fazer arquitetônico” como vernacular pois entende que este é o que menos gera ambiguidade e carrega em sua definição maior peso simbólico. Exclui termos como “arquitetura primitiva”, por ter relação com concepções evolutivas da cultura humana, ou “arquitetura popular”, por ainda ter uma vinculação contrária ao termo “arquitetura erudita”, ou, ainda, “arquitetura sem arquitetos”, que cria uma idealização do profissional. A investigação apresentada diz respeito à técnica empregada e ao tratamento dos materiais no canteiro de obras, buscando-se identificar padrões em seu manuseio e construir parâmetros que definam a linguagem vernacular da arquitetura brasileira. Para isto, a tese foi dividida em duas partes. A primeira analisa e discute como a noção de arquitetura vernacular foi registrada e estabelecida nos desenhos técnicos e naqueles de caráter ilustrativo, etnográfico ou artístico, durante o século XIX. O primeiro capítulo apresenta os desenhos, imagens e pinturas de importantes historiadores e artistas, como Debret, Francisco Freire e John Ruskin, ressaltando como comunicaram uma imagem da arquitetura brasileira por meio de suas obras. Já o segundo capítulo discute o uso do desenho como ferramenta de investigação histórica da produção arquitetônica no Brasil, e como esta ferramenta foi sendo apropriada ao longo do tempo por estudiosos na área de preservação do patrimônio. Na segunda parte, a linguagem técnica utilizada no fazer construtivo vernacular é o foco de investigação do autor, demonstrando seu protagonismo na arquitetura brasileira. O terceiro capítulo debate o negligenciamento do estudo dessa linguagem técnica e sobre como era definida a partir de metáforas para descrever técnicas e elementos arquitetônicos. Toda a base argumentativa da tese é contextualizada pelo acervo de Carlos Schmidt, autor que dedicou-se à produção literária utilizando a fotografia como principal documento ilustrativo da vida rural das populações caiçaras e caipiras em sua obra “Documento da vida rural”. Este acervo, por sua vez, apresenta exemplos práticos e descritivos da cultura destas populações e é organizado pelo autor no Caderno de Pranchas ao final da tese. Por fim, o quarto capítulo focaliza a produção construtiva, investigando os artífices e seu papel de executores e definidores da arquitetura, bem como o modo como utilizavam o corpo no processo construtivo, no gerenciamento do canteiro de obras, e na solução das plantas. Focaliza também, no modo como valorizavam a construção por meio de festejos e ritos. Devido ao caráter mais teórico e menos descritivo do texto com relação às técnicas construtivas e à própria arquitetura, esta ficha focaliza a obra a partir do tópico 3.2 do terceiro capítulo. Este tópico, usa como principal subsídio argumentativo os registros de Schmidt acerca de São Luís de Paraitinga, em 1943, na sua obra “O Inquérito sobre a Habitação Rural”, que se baseia nos princípios de implantação da obra, na divisão interna da casa e na divisão do trabalho, explicitados por carpinteiros e construtores. Esta obra de Schmidt também registra o contexto social que envolve o processo construtivo. Além disso, esses registros também chamam a atenção para a utilização dos materiais e do corpo como referência métrica para auxiliar a racionalização da obra. A partir desses dados, o autor estuda como referenciais flexíveis e sensoriais, a exemplo da utilização do peso de um homem ou da circunferência de seu braço, são estabelecidos como parâmetros para quantificar os materiais necessários à construção. Mas, para além do processo construtivo, o autor aponta que as partes do corpo, utilizadas de maneira figurativa, são também parâmetros para definição de terminologias técnicas na arquitetura vernacular. Porém, apesar de ser um recurso linguístico intuitivo, denominado pelo autor de “antropomorfismo” e que propicia maior facilidade de comunicação no meio popular, tal recurso linguístico tem sido pouco estudado, o que leva o autor a sugerir possibilidades de investigação. Ele defende que a investigação desta linguagem seria essencial para a compreensão da técnica vernacular, já que esta é concebida e guiada mediante relações entre linguagem, corpo, utensílio e matéria. A partir daí, no Capítulo 4, o autor busca definir a arquitetura vernacular, compreendendo-a como uma linguagem que é singular e autônoma, um modo de compreender a construção desvinculada dos valores inerentes à arquitetura “erudita” ou da “arquitetura dos arquitetos”. Os poucos estudos que já foram produzidos acerca desse fazer construtivo são generalistas e podem aplicar-se a qualquer outra tipologia, seja ela popular ou erudita, afirma o autor. Desta forma, busca compreender os critérios de implantação e organização espacial da casa. No tópico 4.1, o autor associa a medicina à necessidade do abrigo do corpo. O Tratado Hipocrático é fonte de reflexão primária acerca da influência que a habitação e a cidade geram sobre a saúde servindo então como base para estudos aprofundados de arquitetos, que ajudaram a transmitir esses preceitos ao longo de 1500 anos. Tratando-se da arquitetura brasileira, o autor menciona “O tratado único da constituição pestilencial de Pernambuco” (1694), de João Ferreira da Rosa, que trata da epidemia de febre amarela em Recife, descrevendo as soluções arquitetônicas para prevenir a doença. Desta forma, Rosa menciona o “cubículo” como o principal meio de resguardar o corpo contra os ventos e a têmpera dos ares, o que é reconhecido por Andrade como as alcovas das casas populares. Outros elementos assumem, segundo o autor, esta função de proteção contra os ventos na arquitetura vernacular brasileira, como o seu volume pesado, com poucas aberturas, as janelas escuras sem aberturas e os oitões revestidos com telhas. No tópico 4.2 o autor busca explorar os diversos preconceitos relacionados à arquitetura vernacular, reconhecendo que estas são suposições infundadas, devido à baixa produção científica acerca deste universo. Discorre, sobre o modo como artesãos, carpinteiros e marceneiros conseguiram criar métodos abstratos para conseguir manejar a matéria-prima natural, utilizando os sentidos e a prática, assim definem classificações que orientam a correta aplicabilidade do material. O autor baseia-se no estudo in loco, associado a publicações referenciais. No tópico 4.3, o autor ainda discorre sobre os materiais, mas agora focaliza a análise no uso das medidas do corpo para a racionalização de sistemas de medidas e de cálculos de quantitativos dos materiais, com relações proporcionais entre eles. Na técnica de olaria, por exemplo, o barro é modelado para produção de telhas com tamanho definido pelo palmo do artesão, sendo o processo de montagem do telhado totalmente associado à forma desta telha. O último tópico da tese centraliza o olhar no cotidiano da construção na zona rural brasileira, buscando compreender como se dão os rituais da produção arquitetônica e os valores culturais que a envolvem. Os mutirões, por exemplo, simbolizam a validação dos laços de solidariedade, ajuda mútua entre a comunidade, já que por vezes o caráter cultural se sobrepõe à real necessidade deste auxílio. O autor conclui que a ascensão da industrialização afetou negativamente a arquitetura vernacular e seu universo cultural, associando-a a uma técnica primitiva sem definições racionais, portanto, não científica. Contudo, este estudo mostra que com o uso de parâmetros sensíveis e corporais existe uma racionalidade incorporada ao processo construtivo vernacular.
OLIVEIRA, Adriana Mara de Vaz; MONIOS, Mathias Joseph. Transgressão na arquitetura popular. In: Vitruvius. Arquitextos, fev. 2016.
Eixos de análise abordados:
Conceitos e métodos
Tecnologia tradicional no território e na edificação: vigências e usos contemporãneos
Construção autogerida em meio urbano: espaços e técnicas
Dados sobre o autor(es) e obra:
Adriana Mara Vaz de Oliveira possui graduação em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Católica de Goiás (1985), mestrado em História das Sociedades Agrárias pela Universidade Federal de Goiás (1999) e doutorado em História pela Universidade Estadual de Campinas (2004). Atualmente é professora adjunta II da Faculdade de Artes Visuais da Universidade Federal de Goiás, ministrando o curso de Arquitetura e Urbanismo. É integrante do corpo docente do Programa de Pós Graduação em Arquitetura e Urbanismo - Mestrado Projeto e Cidade da mesma instituição. Tem experiência na área de Arquitetura e Urbanismo, com ênfase em Teoria, História e Crítica da Arquitetura e do Urbanismo, atuando principalmente nos seguintes temas: arquitetura, cidade, cidade contemporânea, projeto de arquitetura, história da arquitetura e da cidade, patrimônio e memória, teoria e crítica da arquitetura, cultura arquitetônica, memória e cidade, urbanismo.
O artigo trata da arquitetura popular e do envolvimento dos autores com o assunto. O texto expõe a escassez de informação que existe no campo da arquitetura brasileira em relação a essa vertente, uma vez que os interesses de estudo se concentram nas manifestações eruditas. Essa constatação, segundo o artigo, particulariza-se em Goiás e é fruto da dificuldade de compreensão da legitimidade dessas manifestações como objeto arquitetônico. Antes de relatar sua experiência, os autores distinguem o popular do vernacular na arquitetura brasileira. Para eles, o que distingue essas manifestações entre si são os aspectos ligados à contemporaneidade que estariam presentes na arquitetura popular, tais como a industrialização dos materiais de construção e a interferência da globalização nas ações do morar. Segundo os autores, no âmbito dessa arquitetura, identificam-se aspectos tradicionais que se imbricam com outros advindos da modernidade, especialmente os relativos ao desejo de personalização ou individualização da morada, afastando-se da tradição. Inicialmente, seus estudos se voltavam para a arquitetura vernacular goiana realizada sem o auxílio de arquiteto, mas, com o passar do tempo, sua abordagem foi sofrendo ampliações, acrescentando-se à análise aspectos ligados ao popular. Neste âmbito, onde há junção e sobreposição entre tradição e modernidade, ou seja, o das chamadas culturas híbridas, os autores deram início a nova pesquisa, a qual, até a feitura deste artigo, estava em andamento. Intitulada “Arquitetura dos sentidos: entre o vernáculo e o popular”, essa pesquisa volta o olhar para o conhecimento e o registro dessas expressões arquitetônicas em Goiânia. O artigo aborda alguns aspectos dessa pesquisa, principalmente no que se refere à arquitetura goianiense e à sua relação com o gosto. Essa arquitetura foi analisada como objeto kitsch, tomando-se o livro Arquitetura kitsch suburbana e rural, de Dinah Guimaraens e Lauro Cavalcanti, como referência em tal problematização. O texto apresenta essa obra e analisa o termo “kitsch”, discorrendo sobre o fenômeno de um modo geral e sobre como Guimaraens e Cavalcanti o adaptaram à realidade brasileira. Ao final, são tecidos breves comentários acerca das moradias catalogadas na pesquisa. Essa identificação priorizou casas populares mais antigas, nas quais foram averiguadas as permanências e as alterações da tradição vernácula goiana, mas tais informações não são apresentadas ao longo do texto. Foram também identificadas as moradias populares originadas de ocupações mais recentes e que se sobressaem pelo apego às tradições construtivas, pela representatividade dentro do conjunto e pela originalidade. Este segundo conjunto de moradias tem, no texto, uma abordagem maior, sendo discutidos os seus aspectos externos, principalmente aqueles relativos aos fechamentos frontais dos lotes, em termos de formas, materiais, cores, revestimentos e objetos decorativos.
JORGE, Pedro Fonseca. A Arquitetura Popular como Transição entre o Vernáculo e o Erudito – uma tentativa de definição dos diferentes contextos arquitetônicos de raiz não-erudita. In: Actas do 1º Colóquio Internacional de Arquitectura Popular. Arcos de Valdevez: Casa das Artes de Arcos de Valdevez – Município de Arcos de Valdevez, 2013.
Eixos de análise abordados:
Conceitos e métodos
Saberes tradicionais e espaço arquitetônico
Território e etnicidade
Dados sobre o autor(es) e obra:
Pedro Fonseca Jorge é arquiteto, com graduação em 2001 e doutorado em 2012 pela Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto. Foi professor da Escola Superior Gallaecia, de 2012 a 2014, e é atualmente pesquisador da área de Arquitetura e Urbanismo Populares/Rurais no CES – Centro de Estudos Sociais, laboratório associado à Universidade de Coimbra, com o tema “Fenômenos de transformação da arquitetura popular”. O texto analisado foi apresentado no colóquio que consta da referência bibliográfica.
O autor menciona a idealização da arquitetura real a partir do Inquérito à Arquitectura Regional, publicado em 1961 com título Arquitectura Popular em Portugal. Em especial, quanto à arquitetura “não contaminada” por influências externas. A arquitetura contaminada não pertenceria nem à Arquitetura Erudita, nem à Arquitetura Sem Arquitetos. Muitos dos tipos caracterizados no Inquérito não se encontram mais na paisagem edificada portuguesa. O pressuposto se cumpriu – era um legado arquitetônico em extinção. O autor confronta os dados do Inquérito em Alcobaça, em 1961, período daquela investigação. Na região estudada, encontrou-se um tipo específico de habitação unifamiliar rural, constituído por caixa retangular, com cobertura de duas águas, orientada para a estrada, com uma entrada axial ladeada por duas janelas simétricas. No licenciamento feito nesta área à mesma época, porém, apareceram dois tipos: a casa simétrica e outro diametralmente oposto, implantado perpendicularmente à estrada, com o plano de uma das janelas mais avançado, cobertura orientada para os lados e um corredor longitudinal distribuindo cômodos de dimensões diferentes. A área e a posição dos cômodos revelam o que era quarto, sala, cozinha, etc. Estas obras licenciadas não são eruditas, pois não nascem da reflexão sobre o habitar e a forma em um “contexto acadêmico e prático”. São a apropriação e adaptação de outros modelos, talvez de origem erudita, a hábitos e modos de vida rurais. A ausência deles no Inquérito se deu por dois motivos. Um, relaciona-se ao fato de que a investigação objetivara registrar o que estava em desaparição, o que não era o caso dos tipos identificados no licenciamento. Dois, que eram consideradas malfeitorias, importação de uma arquitetura citadina, não adequadas ao local, que não se coadunavam com a imagem pretendida pelos arquitetos modernistas. A sua existência exige categorias conceituais que as definam, visto não se encaixar com facilidade nem na definição de erudito, nem na de popular. Se a arquitetura moderna (erudita) buscou se alimentar da popular, caberia o percurso contrário de uma arquitetura popular que se alimente da erudita. O autor acredita encontrar uma saída com o conceito de vernacular – relativo a construções identificadas com um local específico – e na investigação sobre como funciona a tradição na arquitetura. O tipo arquitetônico é de evolução ou sucessão lenta. As atualizações são diminutas, porém inexoráveis, fruto da experiência e da prática. A restrição da circulação de informação em uma zona específica, contribui para a quase permanência do tipo. A tradição não é a imutabilidade, mas a mudança sem radicalismo. O espaço físico e intelectual onde é produzida é limitado, sem uma cisão evidente. Os novos tipos que surgem são, assim, incorporados aos valores vigentes, e os valores do tipo anterior que permanecem são aqueles que ainda são pertinentes.
JORGE, Pedro Fonseca. A arquitetura popular como transição entre o vernâculo e o erudito: uma tentativa de definição dos diferentes contextos arquitetónicos de raiz não-erudita. Actas do 1º Colóquio Internacional Arquitectura Popular, Arcos de Valdevez Portugal, 2016.
Eixos de análise abordados:
Conceitos e métodos
Saberes tradicionais e espaço arquitetônico
Dados sobre o autor(es) e obra:
Pedro Fonseca Jorge é formado em Arquitetura pela FAUP, (Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto), onde concluiu igualmente o Mestrado em Intervenção em Patrimônio e o Doutoramento em Habitação. Colaborou no Gabinete do Arquiteto Francisco Barata Fernandes e participou na execução dos projetos urbanos para o Porto 2001. Possui atelier desde 2001, por meio do qual realizou diversos projetos de habitação, serviços e recuperações. Escreve e publica regularmente sobre os temas do habitar e da recuperação arquitetônica.
Informações obtidas em: http://www.pedrofonsecajorge.com/bio/
Sumário obra:
Não se aplica
Resumo :
O artigo propõe uma definição dos termos arquitetura vernacular e arquitetura popular, de modo a lhes atribuir significado e desmitificar a ideia de verossimilhança entre eles. A arquitetura vernacular, segundo o autor, seria aquela que se limita a um local específico, não seria contaminada por influências externas e, claramente, se compatibilizaria com os fatores geográficos e físicos locais, e com o seu contexto sociológico. Logo, fica claro que a arquitetura vernacular possuiria um tipo arquitetônico único para cada ambiente e que proviria da tradição e da cultura de um grupo restrito. Esta arquitetura implicaria o uso de materiais de construção disponíveis no local e passíveis de adequar-se a agentes físicos atuantes na região. A arquitetura vernacular apresentaria, ainda, a característica de permanência do seu tipo arquitetônico, possuindo uma evolução tardia ou uma lenta sucessão do seu tipo, o que, praticamente, excluiria a expansão de suas técnicas e conhecimentos para além de suas fronteiras, bem como, a possibilidade de importação de novas técnicas. O tipo arquitetônico vernacular seria sempre estabelecido a partir de tradições ligadas a memórias romantizadas de um passado, próximo ou longíquo. Este tipo pode, segundo o autor, admitir mudanças, geralmente associadas a uma necessidade da população, mas essas mudanças não ocorreriam de maneira brusca, pois se trata de um ambiente de espaço físico e intelectual delimitado. Por vezes são atribuídos à arquitetura vernacular alguns falsos parâmetros, segundo o autor, sendo o primeiro a noção de primitivo e o segundo é a de ruralidade. Criar-se-ia, assim, a imagem de que a Arquitetura Vernacular é primitiva, em virtude da sua associação à tradição, contudo, a tradição admite evolução, ainda que lenta, porém que não equivaleria a uma estagnação. A ruralidade também seria, segundo Jorge, frequentemente associada à arquitetura vernacular, e isto se deveria à maior facilidade de se identificar um tipo arquitetônico bem definido no meio rural, no qual a sua evolução é gradual e sutil. Já na cidade, local de intensas trocas e de uma intensa comunicação, tornar-se-ia difícil o estabelecimento de um tipo arquitetônico dessa natureza. A arquitetura popular, por sua vez, seria aquela construída pelo povo, para o povo, construída, democraticamente, segundo o gosto do povo, dependente de uma escolha e realizada sem que haja a oposição de terceiros. Aquela, em suma, que herda sinais exteriores da cultura onde é gerada. Diferentemente, da arquitetura vernacular, a arquitetura popular não se baseia na tradição, não seria passível de ser identificada por uma fonte única ou por um período específico. Seria uma arquitetura que pode utilizar-se de “modas” ou tendências passageiras trazidas pela arquitetura erudita, ou seja, pela arquitetura moderna e contemporânea que se utiliza de características em vigor e de estrangeirismos, nascida de uma reflexão sobre o habitar e sobre a forma num contexto acadêmico e prático. A arquitetura popular, contrariamente à vernacular, se utilizaria de materiais novos, não propriamente locais e, ainda, de técnicas de trabalho mais elaboradas. Seria, portanto, uma arquitetura livre para adotar novas tipologias, lembrando o autor que não poderia ser classificada como erudita já que não importa signos dessa arquitetura, e sim lhe copiaria aspectos estéticos a fim de associar-se a um escalão social. O autor conclui que seria a diversidade tipológica a maior diferença existente entre as duas arquiteturas.
JORQUERA, Natalia. Aprendiendo del Patrimonio Vernáculo: tradición e innovación en el uso de la quincha en la Arquitectura Chilena. In: Revista de Arquitectura N. 28/ 29, 2013-2014. Santiago de Chile: Facultad de Arquitectura y Urbanismo de la Universidad de Chile, 2014, p. 80-83.
Eixos de análise abordados:
Tecnologia tradicional no território e na edificação: vigências e usos contemporãneos
Território e etnicidade
Dados sobre o autor(es) e obra:
Arquiteta, doutora em Tecnologia da Arquitetura, professora do Departamento de Arquitetura, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidad de Chile.
Informação constante no próprio artigo.
Sumário obra:
Não se aplica.
Resumo :
O texto apresenta a quincha, armação estrutural de madeira ou bambu, preenchida com terra ou barro em estado plástico, incrementado às vezes com fibras vegetais, como referência para a arquitetura contemporânea. Primeiro faz-se um breve histórico sobre as preocupações com a arquitetura vernacular, culminando com a Carta do Patrimônio Vernáculo construído, ratificada pela 12.ª Assembleia Geral do ICOMOS, no México, em Outubro de 1999. Atualmente, um novo valor se adiciona a essa arquitetura: o de ser um modelo de desenvolvimento sustentável para o habitat, com soluções simples e econômicas e respeito ao território, aos recursos naturais e às estruturas sociais. O estudo da arquitetura vernacular forneceria então estratégias e parâmetros de projeto. Há uma variedade de expressões arquitetônicas chilenas, com uso de terra e pedra ao norte, técnicas mistas de madeira e terra na região central e de madeira ao sul, que estariam relegadas, hoje, a lugares isolados na zona rural e entre os povos originários. Dentre elas, há a quincha. A técnica é usada desde os tempos precolombianos nas regiões de clima temperado com presença de madeira e terra abundante no solo, entre as regiões de Atacama e O´Higgins, e vigente nos povoados rurais dos vales transversais das regiões de Atacama e Coquimbo, onde se usa para moradias, adegas e outras edículas com fins agrícolas. A técnica envolve três elementos: estrutura, estrutura secundária e preenchimento. A estrutura principal pode estar formada por troncos, elementos de madeira lavrada ou serrada. A estrutura secundária pode ser formada por ramos, canas, ripas de madeira ou arames, dispostos na vertical, horizontal ou diagonal. O preenchimento de terra pode levar ou não fibras vegetais. Os esforços estruturais recaem sobre a madeira, e as condições de habitabilidade, à terra. A técnica é rápida e econômica, eficiente em um país sísmico e com grandes oscilações térmicas. Porém não tem prestígio, sendo abandonada em muitas regiões, principalmente, em consequência da dissociação mecânica entre a madeira e a terra, com queda do material das paredes, e da invasão dos vazios por insetos, entre eles o barbeiro. Houve recuperação da técnica, contudo, com os danos causados pelos terremotos, assim como, o final dos anos 1980, com experimentos no Vale Central, como o da Comunidade Ecológica de Pañalolén, com uso de materiais industriais, tais como malhas metálicas e arames, formando a estrutura secundária, e mesmo com o uso de peças metálicas na estrutura principal. Marcelo Cortés denominou essa técnica de quincha metálica e tecnobarro, obtendo maior liberdade formal e de vãos, mantendo as vantagens térmicas e econômicas, com melhora na adesão dos estuques e menos peso nas vedações com o emprego de maior quantidade de palha. Outro que tem ensaiado essa mescla é Patrício Arias e o escritório Surtierra Arquitectura, com o Terrapanel, usando estrutura metálica e terra mais leve.
LADEIRA, Maria Elisa. “Uma Aldeia Timbira”. In: NOVAES, Sylvia Caiuby (Org.). Habitações indígenas. São Paulo: Nobel; Edusp, 1983, p. 11-32.
Eixos de análise abordados:
Saberes tradicionais e espaço arquitetônico
Território e etnicidade
Dados sobre o autor(es) e obra:
Maria Elisa Ladeira é graduada em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo(1973), Desde 1974, dedica-se à pesquisa entre os grupos Timbira do Maranhão e Goiás. Em 1982 defendeu dissertação de mestrado em Antropologia Social na Universidade de São Paulo, possui doutorado em Lingüística pela Universidade de São Paulo(2001). Desde 1975, trabalha na área de educação indígena. É assessora do Centro de Trabalho Indigenista e trabalha na coordenação do Projeto Kraho, vinculado a esta entidade. Atua na Universidade de São Paulo.
A aldeia é elemento fundamental da identidade dos grupos Timbira. De formato circular, está intimamente ligada à sua organização social e seu espaço é determinado pelo modo como as pessoas se movimentam e se relacionam. As categorias espaciais permitem analisar as posições, os deslocamentos e perceber como estes orientam as relações sociais e como essa sociedade se articula. Localizados no cerrado do Maranhão e de Goiás, os Timbira geralmente constroem suas aldeias em lugares planos, em solo não pedregoso e perto da água, onde pode haver roçado. Quando o solo se esgota, a aldeia é reconstruída, próxima a alguma mata ciliar. Isso começou a mudar quando a FUNAI, ao construir escolas, enfermarias etc., obrigou as aldeias a se fixarem num mesmo lugar. As casas Timbira geralmente possuem planta retangular, com um dos lados maiores formando a sua frente e telhado de quatro águas, feito com folhas de babaçu ou inajá. Este mesmo material, com as folhas aplicadas em posição horizontal, constitui as paredes e toda a amarração é feita com cipó. A casa é fechada nos quatro lados, com a porta sempre no lado maior e voltada para o pátio. Na parede do fundo uma porta paralela à principal dá acesso ao “quintal”. Em algumas aldeias, as casas têm coberturas de duas águas, em folhas de piaçava, e porta ao lado do esteio da cumeeira. Atualmente, os Timbira erguem suas edificações em taipa ou até mesmo em adobe. Algumas possuem paredes internas, mas, geralmente, não têm divisões. Um “puxadinho” coberto de palha atrás dessas casas também serve de cozinha, sendo aí onde se passa a maior parte do tempo. No interior, encontram-se jiraus forrados com esteiras de embira ou buriti ou mesmo com cobertas nas noites frias. O jirau não serve somente para dormir, é também banco, mesa ou prateleira. Compõem ainda o interior, cabaças, potes de barro, bancos e toras de buriti para sentar. O círculo das aldeais é formado pelas casas que formam também o pátio denominado de centro da aldeia – local masculino onde se resolvem os conflitos e problemas. Cada casa tem o seu caminho radial para o pátio, o que significa que todas têm o mesmo peso social e que estão relacionadas da mesma maneira com as decisões políticas e religiosas. No círculo externo às casas – a “periferia” – são executadas as tarefas de produção, sendo esta a zona feminina por excelência. Cada casa é uma unidade demarcada que abriga a família elementar e o grupo doméstico, com cada um possuindo seu local de dormir e comer. Sua equidistância em relação ao pátio, assinala sua igualdade nas relações de produção, sendo o gênero o único tipo de distinção. Há duas maneiras de se deslocar na aldeia: atravessando o centro ou percorrendo o seu perímetro. As relações sociais são divididas em parentes e não parentes, e uma família levanta sua casa apenas quando se torna uma unidade produtiva independente. O termo em português que designa o segmento residencial é “rua” ou lugar onde se pode circular livremente. As aldeias Timbira não manifestam nenhuma hierarquia espacial e o seu “concentrismo” revela uma estrutura social em que os homens (pátio) e mulheres (periferia) se complementam e formam a aldeia.
LEMOS, Celina Borges. “Timbira (Goiás, Mato Grosso)”. In: OLIVER, Paul (edit). Encyclopedia of Vernacular Architecture of the World. Cambridge - UK: Cambridge University Press, 1997, p. 1.635-1.636.
ISBN ou ISSN:
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Autor(es):
Jean Gaspard Dollfus
Onde encontrar:
Biblioteca da Faculdade de Arquitetura da UFBA
Referência bibliográfica:
DOLLFUS, Jean. Aspectos de la Arquitectura Popular en el Mundo. Barcelona: Editorial Gustavo Gili, s/d.
Eixos de análise abordados:
Tecnologia tradicional no território e na edificação: vigências e usos contemporãneos
Dados sobre o autor(es) e obra:
A primeira edição no idioma original, Les Aspects de l'Architecture Populaire dans le Monde, foi feita pela editora Albert Morancé, Paris, em 1954. A obra é especialmente citada em estudos sobre os aspectos bioclimáticos na arquitetura popular. A primeira edição desta obra em espanhol, saiu pela Gustavo Gili, em 1955. Não foram encontradas informações precisas sobre o autor, Jean Gaspard Dollfus, na internet.
Sumário obra:
Introdução
Tabla Explicativa de las Láminas
Láminas
Mapas
Resumo :
O livro apresenta uma seleção de moradias características de todo o mundo, tal como se apresentariam a um viajante. Sua maior parte é composta por uma grande quantidade de desenhos, acompanhados por mapas que indicam sua localização. Segundo o autor, foram escolhidas residências médias e populares, rurais e urbanas, isoladas e em grupos, deixando-se de lado a arquitetura monumental, tradicional, recente ou existente até as Grandes Guerras. Na obra, contudo, aparecem edifícios em altura e outras construções que dificilmente seriam definidas como populares. Os exemplos foram apresentados em série geográfica, com ênfase na Europa e, sobretudo, na França. Dollfus observa não haver correspondência dessa arquitetura com fronteiras nacionais ou limites definidos. No entanto, muitos grupos de moradias são organizados a partir de zonas climáticas e naturais. A madeira se emprega na estrutura, complementada com ramos, galhos trançados, tábuas, palhas ou folhas nas selvas equatoriais e savanas tropicais (África, Austrália, Polinésia, Índia) onde o essencial é a cobertura. Emprega-se também a madeira, na forma de estacas, coberta com placas do mesmo material nas florestas boreais (Escandinávia, América do Norte, Rússia) e alpinas (Alpes, Cárpatos, Anatólia, Cáucaso, Himalaia). No outro extremo climático, nas estepes e desertos do México (norte) e da Mauritânia ao Gobi, o fundamental são as paredes feitas de pedra, adobe ou tijolo, com teto plano. Nos lugares temperados, intermediários, se encontrariam as formas híbridas: casas de pedra ou tijolo e coberturas com telhas curvas, em telhados de baixa declividade, na região que vai até 45° ao Norte da Europa e 30° ao Norte da América, envolvendo Mediterrâneo, Iberoamérica e China. Na região acima de tais latitudes, surgiriam as casas com telhado acima de 45°, com coberturas de telhas planas, palha ou ardósia. As formas dessa arquitetura popular seriam basicamente circulares e retangulares. As primeiras seriam comuns na África Negra, freqüentes no Oriente e escassas na Europa. O autor crê que a circular seria a forma mais primitiva, instintiva e próxima à natureza. Já a forma retangular, se relacionaria com algum grau de abstração, permitindo a distribuição interna em recintos distintos e homogêneos. O autor ainda ensaia algumas reflexões sobre a presença e distribuição das residências quanto ao número de seus andares, materiais de construção, superfícies cheias e aberturas, entablamentos, janelas, presença de postigos, ressaltos de pisos, arcadas ou pórticos públicos, e quanto aos tipos de cobertura. A maior parte dos exemplos estaria em consonância com o lugar, com o emprego de materiais simples e com produtos diretos do solo. Essas formas seculares estariam em progressivo abandono, o que foi acelerado pelas grandes guerras e a conseqüente necessidade de construção veloz e em larga escala que, a despeito das conquistas em termos de higiene e conforto, se deram com perda do caráter local. O autor defende que este caráter deveria ser harmonizado com as demandas modernas.
HIJIOKA, Akemi ; JOAQUIM, Bianca.; INO, Akemi. Minka - The houses of Japanese imigrants in Ribeira valley, São Paulo, Brazil. In: Mariana Correia; Gilberto Carlos; Sandra Rocha (Orgs.). Vernacular Heritage and Earthen Architecture - Contributions for sustainable development. 1 ed. London: Taylor & Francis, 2013, v. 1, p. 99-104.
Eixos de análise abordados:
Saberes tradicionais e espaço arquitetônico
Território e etnicidade
Dados sobre o autor(es) e obra:
Akemi Ino é formada em Engenharia Civil pela USP (1979), com mestrado em Arquitetura e Urbanismo pela USP (1984), especialização na Osaka City University, Japão (1987) e doutorado em Engenharia Civil pela Escola Politécnica da USP (1992). É professora Livre Docente no Instituto de Arquitetura e Urbanismo – USP, coordenando o Grupo HABIS (Habitação e Sustentabilidade), criado em 1993.
Akemi Hijioka é formada em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Braz Cubas (1992), com mestrado em Urbanismo pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (2007) e Doutorado em andamento na Universidade de São Paulo/São Carlos sobre as moradias dos imigrantes japoneses no Vale do Ribeira. É ainda pesquisadora do Grupo Habis (Grupo de Pesquisa em Habitação e Sustentabilidade) pela USP/São Carlos e atua, entre outras coisas, na restauração do patrimônio histórico com ênfase na arquitetura de origem japonesa.
O artigo apresenta as moradias dos imigrantes japoneses no Vale do Ribeira, sul do estado de São Paulo, em frente de ocupação iniciada em 1913 e baseada em agricultura familiar numa área inóspita. As habitações repetiam as características da minka, a casa popular japonesa, com emprego do tsuchikabe – técnica desenvolvida gradualmente no Japão a partir do séc. VII. Trata-se de sistema construtivo que utiliza terra misturada à palha aplicada sobre entramado de madeira que possui função estrutural, além de vedação, já que seus sarrafos verticais e horizontais travam o vão. Sobre estes são postos bambus roliços. Depois, uma trama de bambus partidos e, por fim, a terra, preparada com antecedência, com mescla de palha e água. A minka constitui-se de uma planta retangular com divisórias, construída em dois níveis. A parte térrea, a doma, é pavimentada com terra misturada à cal, água de cinzas e outros elementos para dar maior consistência, recebendo as atividades que utilizam água e fogo, como preparo de alimentos e atividades produtivas. A parte elevada, a cerca de 40 cm acima do solo, é de madeira e a ela se deve aceder sem os calçados. A minka se divide em tipos conforme a atividade do proprietário (se pescador, agricultor, etc.). As casas do vale do Ribeira são quase todas em terra e madeira. Num primeiro momento, foram construídas com material extraído do local e por meio de mutirão. Depois, surgiram serrarias, diminuindo o trabalho individual. Encontrou-se também o emprego do sistema estrutural japonês em madeira, o kiyorogumi e o oriokigumi, com sambladuras de peças e o uso de cobertura em duas águas, chamada kiritsuma, simples e econômico. Mencionam-se os estudos de Teiji Itoh sobre a minka, até então não reconhecida como arquitetura. A técnica construtiva em terra e bambu era pouco difundida no Japão, sendo os saberes e ofícios a ela associados preservados em sistemas familiares análogos às guildas medievais. O uso do tsukichave, contudo, é milenar, tendo sido empregado em castelos e templos. O barro, mesclado com palha de arroz ou trigo, é fermentado por um período de até um ano, empregado em camadas sucessivas, até uma dezena, no acabamento. Nas misturas das camadas finais empregam-se aglomerantes e agregados como cal, areia, fibras vegetais e resinas a base de algas marinhas. O uso da terra foi recomendado em cartilhas aos imigrantes japoneses, durante a viagem, orientando-se a construção de casas salubres com uma técnica que já lhes era familiar. Houve adaptações no Brasil: em vez de bambus, foram usadas ripas de juçara; no lugar da corda shuronawa, o cipó local; para o preparo do barro, palha de arroz ou sapê; mais duas camadas de menor espessura após a consolidação da primeira camada e, por fim, a caiação. Nos primeiros exemplares estudados encontrou-se a unidade de medida shakkanhou, usada então no Japão e ainda empregada em sistemas tradicionais. Na ausência de desenhos, o desenvolvimento da planta dava-se num diálogo entre morador e carpinteiro, com as informações do projeto postas em ezuitga (pedaço de tábua) e com malha traçada a cada 3 shaku (30,3 cm), modulando o espaço. Em relatos, apareceram exemplos de casas desmontadas e remontadas.
LIMA JÚNIOR, Genival Costa de Barros. Arquitetura Vernacular Praieira. Recife, 2007.
Eixos de análise abordados:
Saberes tradicionais e espaço arquitetônico
Tecnologia tradicional no território e na edificação: vigências e usos contemporãneos
Dados sobre o autor(es) e obra:
Genival da Costa de Barros Lima Júnior é arquiteto formado pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1996. É chefe da Barros Lima Arquitetura, com projetos de urbanização para ZEIS em Recife – PE e vários outros. O Projeto Arquitetura Vernacular Praieira, que consistiu em pesquisa, registro e análise arquitetônica e urbanística de vilas de pescadores no litoral nordestino, foi aprovado pelo Programa Petrobrás Cultural, dando origem ao livro resenhado.
Considerações Iniciais sobre Arquitetura Vernacular Praieira
Pesquisa de Campo
Arquitetura
A Casa
A Planta
Fachadas
Divisões Internas
Materiais
Taipa
Madeira aparelhada
Madeira roliça
Palha
Alvenaria
Outros materiais
O Relacionamento com o Meio
Considerações Finais
Resumo :
Obra com grande fartura de imagens, embora quase sem elaboração gráfica, obtidas a partir de jornada realizada pelo autor no litoral compreendido entre as divisas do Maranhão com o Pará e da Bahia com o Espírito Santo. Lima Jr. elaborou o livro a partir de observações, entrevistas, conversas e convívio, dispensando maiores referências bibliográficas e mesmo sem atenção para com o conceito de “vernacular”, empregando-o a partir de definições de dicionários e de citações de Paul Oliver. Enfoca as comunidades litorâneas – cerca de 40 vilas – mais isoladas, menos tocadas pelo turismo ou “corrompidas” pela cidade, partindo-se da constatação da desaparição da cultura pesqueira artesanal. Observa-se que nessas comunidades o meio ambiente é o fator determinante da arquitetura, dado os baixos recursos financeiros e construtivos, as difíceis formações geográficas (como falésias e restingas) e empecilhos como as grandes propriedades e as condições do meio, especialmente, a areia fina e móvel, o vento constante e erosivo, as chuvas e tempestades e o regime das marés. Além disso, as restrições postas pelo ciclo da fauna pescada e coletada, pelo acesso à água potável e ao mar e pela qualidade da madeira e do barro empregados como materiais de construção. Tais fatores levam à decisão de onde construir, como morar e ainda definem a duração dos edifícios. Existem os abrigos de trabalho, que o autor chama de “masculinos”. São os “ranchos” para a vigília dos currais ou, se situados no mar ou nos rios maranhenses, para descanso e proteção nas tempestades. Sendo de uso coletivo, cada usuário precisa deixar o abrigo em bom estado para o próximo. Essas moradas temporárias, dedicadas ao trabalho, são mais austeras, às vezes, apenas uma cobertura, geralmente, com vão único e mobiliário escasso. A pesca em jangada é atividade exclusivamente masculina, cabendo à mulher a mariscagem e a pesca de linha. As casas “femininas” são então aquelas em que a família reside. Com perenidade maior, são mais complexas e asseadas. Nelas, o trabalho mescla-se à vida familiar. Há aquelas de vão único, com o parco mobiliário definindo uso do espaço. A casa ganha divisões internas com o crescimento dos filhos e seu casamento. Nesse caso, é a varanda que concentra a convivência do trabalho, da família e da comunidade. O banheiro fica fora da casa e tem fossa simples, cavada no chão. A cozinha também fica fora, em uma construção mais simples e de material inferior. Explicam os pescadores que ela “empesteia” a casa, atraindo insetos e pequenos animais, além da fumaça e fuligem, e do odor do tratamento do peixe e do marisco. Em alguns lugares, a pia é um “jirau” que facilita o descarte. Quando incorporada à casa, a cozinha possui acesso para o exterior, para facilitar a exaustão, e é comum que possua uma varanda anexa para alimentação coletiva. Nem sempre há quintal. Quando surge, é voltado para o mar e entendido como local de trabalho, voltado para o trato do pescado, guarda da jangada e reparo do material da pesca. A formação dos assentamentos é marcada pelas distâncias pessoais e familiares, além de fatores como a existência de cursos d´água, linhas de maré e outros. Embora haja recém-chegados, o mais usual é que cresçam com o aumento das famílias, o que acarreta a partilha de espaços e instalações, como quintais e banheiros. De um modo geral, as casas estão sempre abertas, assim como os quintais, que só são fechados quando há criação de pequenos animais – galinhas, porcas, cachorros –, necessidade de guarda de material de trabalho ou nos casos de prosperidade econômica e ostentação. Elementos sutis, como móveis e apetrechos indicam o uso de cada área. As casas são retangulares, com cobertura em duas águas com 10 a 20° de inclinação. Em geral, inicia-se pela sala, seguida dos quartos e da cozinha ao fundo, todos acedidos por circulação lateral. Aspecto fundamental é a proteção contra o sol e, principalmente, o vento com areia fina. A orientação da sala e dos quartos evita então o mar. Há poucas portas e janelas, com divisões internas em meias-paredes que permitem a ventilação por cima. Além dos beirais nas varandas, não raro aparecem anteparos verticais e o cascalho no piso ao redor da casa auxilia a fixar a areia fina. As fachadas são simples e, em muitos casos, sem janelas. Estas aparecem com folhas duplas de madeira, com dobradiças, ou com vedações em palha trançada, içadas como persianas. As portas, com “saia e blusa”, em certos lugares, são elevadas para não entrarem os animais, ou rebaixadas, em decorrência do tamanho do telhado que assume, assim, proporções “indígenas”. Nas casas “masculinas”, as portas são do tamanho da embarcação e as divisões internas são do mesmo material das paredes exteriores. Em alguns casos, são suspensas do piso, permitindo aeração por baixo. A taipa de mão é empregada do Ceará à Bahia e, não raro, tendo a palha como revestimento e grandes beirais para proteger das chuvas e ventos. Encontrou-se o emprego, localizado, de lama do mangue na argamassa do pau a pique. A madeira pode ser roliça ou aparelhada com ripas vazadas ou com mata-juntas, por dentro ou por fora, pregadas, amarradas ou apoiadas com forquilhas. A palha, de coqueiro ou de buriti, é mais usada nos “ranchos”. Embora mais adaptada ao meio, degrada-se rapidamente. Nas construções em alvenaria e mesmo solo-cimento, vê-se já a assimilação de técnicas e tipos exógenos. Na entressafra, muitos pescadores vão trabalhar na pecuária e em pequenas plantações, absorvendo assim outros arranjos tipológicos. O autor finaliza destacando o mérito da relação dessa arquitetura com o meio. Por um lado, resignação, diante das dunas móveis, e respeito, ao evitar a derrubada de árvores e se inserir na paisagem. No entanto, o autor observa que os pescadores vêm sendo expulsos desse litoral pela invasão do turismo, pela competição com a pesca mecanizada e pela carência de serviços básicos.