JORGE, Pedro Fonseca. A Arquitetura Popular como Transição entre o Vernáculo e o Erudito – uma tentativa de definição dos diferentes contextos arquitetônicos de raiz não-erudita. In: Actas do 1º Colóquio Internacional de Arquitectura Popular. Arcos de Valdevez: Casa das Artes de Arcos de Valdevez – Município de Arcos de Valdevez, 2013.
Eixos de análise abordados:
Conceitos e métodos
Saberes tradicionais e espaço arquitetônico
Território e etnicidade
Dados sobre o autor(es) e obra:
Pedro Fonseca Jorge é arquiteto, com graduação em 2001 e doutorado em 2012 pela Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto. Foi professor da Escola Superior Gallaecia, de 2012 a 2014, e é atualmente pesquisador da área de Arquitetura e Urbanismo Populares/Rurais no CES – Centro de Estudos Sociais, laboratório associado à Universidade de Coimbra, com o tema “Fenômenos de transformação da arquitetura popular”. O texto analisado foi apresentado no colóquio que consta da referência bibliográfica.
O autor menciona a idealização da arquitetura real a partir do Inquérito à Arquitectura Regional, publicado em 1961 com título Arquitectura Popular em Portugal. Em especial, quanto à arquitetura “não contaminada” por influências externas. A arquitetura contaminada não pertenceria nem à Arquitetura Erudita, nem à Arquitetura Sem Arquitetos. Muitos dos tipos caracterizados no Inquérito não se encontram mais na paisagem edificada portuguesa. O pressuposto se cumpriu – era um legado arquitetônico em extinção. O autor confronta os dados do Inquérito em Alcobaça, em 1961, período daquela investigação. Na região estudada, encontrou-se um tipo específico de habitação unifamiliar rural, constituído por caixa retangular, com cobertura de duas águas, orientada para a estrada, com uma entrada axial ladeada por duas janelas simétricas. No licenciamento feito nesta área à mesma época, porém, apareceram dois tipos: a casa simétrica e outro diametralmente oposto, implantado perpendicularmente à estrada, com o plano de uma das janelas mais avançado, cobertura orientada para os lados e um corredor longitudinal distribuindo cômodos de dimensões diferentes. A área e a posição dos cômodos revelam o que era quarto, sala, cozinha, etc. Estas obras licenciadas não são eruditas, pois não nascem da reflexão sobre o habitar e a forma em um “contexto acadêmico e prático”. São a apropriação e adaptação de outros modelos, talvez de origem erudita, a hábitos e modos de vida rurais. A ausência deles no Inquérito se deu por dois motivos. Um, relaciona-se ao fato de que a investigação objetivara registrar o que estava em desaparição, o que não era o caso dos tipos identificados no licenciamento. Dois, que eram consideradas malfeitorias, importação de uma arquitetura citadina, não adequadas ao local, que não se coadunavam com a imagem pretendida pelos arquitetos modernistas. A sua existência exige categorias conceituais que as definam, visto não se encaixar com facilidade nem na definição de erudito, nem na de popular. Se a arquitetura moderna (erudita) buscou se alimentar da popular, caberia o percurso contrário de uma arquitetura popular que se alimente da erudita. O autor acredita encontrar uma saída com o conceito de vernacular – relativo a construções identificadas com um local específico – e na investigação sobre como funciona a tradição na arquitetura. O tipo arquitetônico é de evolução ou sucessão lenta. As atualizações são diminutas, porém inexoráveis, fruto da experiência e da prática. A restrição da circulação de informação em uma zona específica, contribui para a quase permanência do tipo. A tradição não é a imutabilidade, mas a mudança sem radicalismo. O espaço físico e intelectual onde é produzida é limitado, sem uma cisão evidente. Os novos tipos que surgem são, assim, incorporados aos valores vigentes, e os valores do tipo anterior que permanecem são aqueles que ainda são pertinentes.