JORGE, Pedro Fonseca. A arquitetura popular como transição entre o vernâculo e o erudito: uma tentativa de definição dos diferentes contextos arquitetónicos de raiz não-erudita. Actas do 1º Colóquio Internacional Arquitectura Popular, Arcos de Valdevez Portugal, 2016.
Eixos de análise abordados:
Conceitos e métodos
Saberes tradicionais e espaço arquitetônico
Dados sobre o autor(es) e obra:
Pedro Fonseca Jorge é formado em Arquitetura pela FAUP, (Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto), onde concluiu igualmente o Mestrado em Intervenção em Patrimônio e o Doutoramento em Habitação. Colaborou no Gabinete do Arquiteto Francisco Barata Fernandes e participou na execução dos projetos urbanos para o Porto 2001. Possui atelier desde 2001, por meio do qual realizou diversos projetos de habitação, serviços e recuperações. Escreve e publica regularmente sobre os temas do habitar e da recuperação arquitetônica.
Informações obtidas em: http://www.pedrofonsecajorge.com/bio/
Sumário obra:
Não se aplica
Resumo :
O artigo propõe uma definição dos termos arquitetura vernacular e arquitetura popular, de modo a lhes atribuir significado e desmitificar a ideia de verossimilhança entre eles. A arquitetura vernacular, segundo o autor, seria aquela que se limita a um local específico, não seria contaminada por influências externas e, claramente, se compatibilizaria com os fatores geográficos e físicos locais, e com o seu contexto sociológico. Logo, fica claro que a arquitetura vernacular possuiria um tipo arquitetônico único para cada ambiente e que proviria da tradição e da cultura de um grupo restrito. Esta arquitetura implicaria o uso de materiais de construção disponíveis no local e passíveis de adequar-se a agentes físicos atuantes na região. A arquitetura vernacular apresentaria, ainda, a característica de permanência do seu tipo arquitetônico, possuindo uma evolução tardia ou uma lenta sucessão do seu tipo, o que, praticamente, excluiria a expansão de suas técnicas e conhecimentos para além de suas fronteiras, bem como, a possibilidade de importação de novas técnicas. O tipo arquitetônico vernacular seria sempre estabelecido a partir de tradições ligadas a memórias romantizadas de um passado, próximo ou longíquo. Este tipo pode, segundo o autor, admitir mudanças, geralmente associadas a uma necessidade da população, mas essas mudanças não ocorreriam de maneira brusca, pois se trata de um ambiente de espaço físico e intelectual delimitado. Por vezes são atribuídos à arquitetura vernacular alguns falsos parâmetros, segundo o autor, sendo o primeiro a noção de primitivo e o segundo é a de ruralidade. Criar-se-ia, assim, a imagem de que a Arquitetura Vernacular é primitiva, em virtude da sua associação à tradição, contudo, a tradição admite evolução, ainda que lenta, porém que não equivaleria a uma estagnação. A ruralidade também seria, segundo Jorge, frequentemente associada à arquitetura vernacular, e isto se deveria à maior facilidade de se identificar um tipo arquitetônico bem definido no meio rural, no qual a sua evolução é gradual e sutil. Já na cidade, local de intensas trocas e de uma intensa comunicação, tornar-se-ia difícil o estabelecimento de um tipo arquitetônico dessa natureza. A arquitetura popular, por sua vez, seria aquela construída pelo povo, para o povo, construída, democraticamente, segundo o gosto do povo, dependente de uma escolha e realizada sem que haja a oposição de terceiros. Aquela, em suma, que herda sinais exteriores da cultura onde é gerada. Diferentemente, da arquitetura vernacular, a arquitetura popular não se baseia na tradição, não seria passível de ser identificada por uma fonte única ou por um período específico. Seria uma arquitetura que pode utilizar-se de “modas” ou tendências passageiras trazidas pela arquitetura erudita, ou seja, pela arquitetura moderna e contemporânea que se utiliza de características em vigor e de estrangeirismos, nascida de uma reflexão sobre o habitar e sobre a forma num contexto acadêmico e prático. A arquitetura popular, contrariamente à vernacular, se utilizaria de materiais novos, não propriamente locais e, ainda, de técnicas de trabalho mais elaboradas. Seria, portanto, uma arquitetura livre para adotar novas tipologias, lembrando o autor que não poderia ser classificada como erudita já que não importa signos dessa arquitetura, e sim lhe copiaria aspectos estéticos a fim de associar-se a um escalão social. O autor conclui que seria a diversidade tipológica a maior diferença existente entre as duas arquiteturas.