Silvio Vilela Colin possui graduação em Arquitetura e Urbanismo pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo UFRJ (1970), mestrado em Teoria e História - Programa de Pós-graduação em Arquitetura (1999), e doutorado também em Teoria e História no mesmo programa da FAU-UFRJ (2010). Atualmente é professor assistente da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Tem experiência na área de Arquitetura e Urbanismo, com ênfase em História da Arquitetura e Urbanismo, atuando principalmente nos seguintes temas: projeto de arquitetura, arquitetura, instalação comercial, execução de obra e título.
O texto trata de algumas formas de construção vigentes no período colonial. Para tanto, divide a abordagem em duas partes: uma primeira de conteúdo técnico-construtivo e uma segunda, de análise morfológica. Na primeira parte detalha as técnicas construtivas do período colonial, que agrupa como: vedações e divisórias; coberturas e forros; esquadrias; outros elementos; pisos e pavimentos. Aborda esses temas separadamente, descrevendo as variações construtivas, a técnica empregada, as características, os materiais envolvidos e o dimensionamento das peças. Colin traça também um panorama da absorção social desses tipos construtivos e da dimensão temporal dos seus usos ao longo do período colonial, assim como os fatores antropológicos vinculados à sua utilização, fazendo uma espécie de catálogo da época, englobando sua relação com as várias camadas da sociedade. Para elucidação das tipologias construtivas retratadas, o autor lança mão de muitas ilustrações e de exemplos construídos. O texto é repleto de informação nesse sentido, trazendo plantas arquitetônicas esquemáticas, ilustrações de detalhes construtivos, fotografias e figuras, contemplando quase a totalidade dos itens abordados em cada eixo temático. Vale ressaltar que, nos demais itens expostos, ao retratar as estruturas em madeira, o autor cita quais eram os tipos de madeira mais utilizados para tais finalidades, chegando também, em alguns casos, a mencionar como se dava o feitio das peças. Na segunda parte do texto, é introduzida a informação de que os fatores mais importantes na determinação das formas arquitetônicas civis do período colonial são de ordem econômica e técnica, o que irá guiar a compreensão das informações subsequentes, que são relativas à volumetria e às tipologias arquitetônicas. Quanto a isso o autor informa que: a “meia-água” era geralmente utilizada em construções de menor importância, como o rancho e a cozinha; o telhado de duas águas era muito utilizado em construções urbanas, sobretudo em casas geminadas; o de quatro águas era a cobertura mais comum nos pavilhões, o tipo construtivo mais utilizado para construções de maior porte, como casas-grandes, equipamentos públicos menores e mansões; o claustro era a forma preferida para construções que aspiravam maior monumentalidade; e o pavilhão, composto em forma de “L”, era uma solução intermediária entre o pavilhão e o claustro. Segundo o autor, os padrões arquitetônicos civis mais definitivos desse período só começam a surgir a partir de aproximadamente 1630, que, segundo ele, seriam: a casa do sertanejo; a fazenda de engenho (composta pela senzala, usina e a casa grande); o sítio bandeirista e a casa urbana (que variava entre a casa térrea e o sobrado). Ao analisar essas tipologias faz uso de ilustrações e de exemplos, e aborda aspectos como: volumetria, distribuição no lote, configuração da planta, materiais, técnicas e eventuais exceções. Segundo o autor, a casa do sertanejo era a construção mais simples do período colonial. Toda de palha ou feita de pau-a-pique, essas casas possuíam apenas um compartimento interno, não apresentando banheiro ou latrina, porém sempre dotadas de alpendre ou varanda frontal. Também retrata que a varanda alpendrada, ou puxada, era solução comum em todos os partidos, desde a casa mais simples do sertanejo até as mais sofisticadas. Ainda no que se refere à casa do sertanejo, o rancho era sempre equipamento obrigatório, consistindo em um pequeno abrigo para servir de pouso ao viajante ou tropeiro, e que se localizava de modo a garantir a privacidade da casa. Diferentemente dos outros tipos construtivos presentes na fazenda de engenho (a senzala e a usina), a casa grande podia variar muito quanto à forma, mas sempre apresentando varanda, grande e larga, que ocupava, na maioria das vezes, toda a frente ou então contornava toda a edificação. Essas casas eram realizadas com a técnica construtiva disponível, podendo ser de alvenaria de pedra ou taipa de pilão, e com telhados de madeira e telhas de barro. O sítio bandeirista, segundo o autor, tem um desenho clássico dos mais rigorosos e é um caso especial na arquitetura colonial do segundo século. Ao falar dessa tipologia, se baseia nos estudos de Luís Saia e nos comentários de Michel Foucault acerca desse estudo. Colin faz referência aos doze exemplares estudados por Saia em São Paulo e municípios vizinhos, que guardam entre si características muito próprias e semelhantes e que autorizam a se falar de um tipo arquitetônico. Desses exemplares, elege três como sendo os melhores, constituindo parâmetros de abordagem. São eles: o Sítio do Pai Inácio, o Sítio do Mandu e o Sítio Querubim. Eles apresentam, salvo variações, varanda na parte frontal, capela, a sala ocupando lugar central na planta da casa e os quartos na lateral. Dentre esses quartos um corresponde ao de hóspedes, que difere dos restantes por abrir para exterior da residência. São onstruções sempre de taipa de pilão e telhados de barro, sendo que o espaço abaixo do telhado era aproveitado como depósito ou mesmo como abrigo de serviçais. Quanto à casa urbana térrea, elas eram alinhadas pela divisão frontal e geminadas nos dois lados. Segundo o autor, isso em parte se deve à precariedade das técnicas construtivas, pois feitas de taipa de pilão ou pau-a-pique eram vulneráveis à chuva. Essas casas variavam em área, sendo a mais simples, chamada de “casa de porta e janela”, composta apenas de sala, quarto, varanda e cozinha, sempre seguindo essa sequencia de disposição dos cômodos e com a sala voltada para a rua. O sobrado designava a construção urbana com mais de um pavimento, sem passar de um total de três, e que não pressupunha a existência de pisos intermediários. Para elucidar essa tipologia faz uso de dois exemplares: a casa nº 28 da Rua do Amparo e a casa nº 7 do Pátio de São Pedro, ambos em Olinda. Essas duas casas apresentam, de um modo geral, espaço destinado ao comércio no pavimento inferior e, no superior, destinado à moradia. A planta do pavimento superior se assemelha às das demais moradias urbanas, sendo composta de sala de estar, quartos, sala de jantar e cozinha, nessa ordem. Por fim, Colin informa que havia exceções na tipologia dos sobrados, no caso das moradias nobres. Nelas, os lotes apresentavam uma testada frontal maior e a planta organizada em torno do pátio interno.
DOLLFUS, Jean. Aspectos de la Arquitectura Popular en el Mundo. Barcelona: Editorial Gustavo Gili, s/d.
Eixos de análise abordados:
Tecnologia tradicional no território e na edificação: vigências e usos contemporãneos
Dados sobre o autor(es) e obra:
A primeira edição no idioma original, Les Aspects de l'Architecture Populaire dans le Monde, foi feita pela editora Albert Morancé, Paris, em 1954. A obra é especialmente citada em estudos sobre os aspectos bioclimáticos na arquitetura popular. A primeira edição desta obra em espanhol, saiu pela Gustavo Gili, em 1955. Não foram encontradas informações precisas sobre o autor, Jean Gaspard Dollfus, na internet.
Sumário obra:
Introdução
Tabla Explicativa de las Láminas
Láminas
Mapas
Resumo :
O livro apresenta uma seleção de moradias características de todo o mundo, tal como se apresentariam a um viajante. Sua maior parte é composta por uma grande quantidade de desenhos, acompanhados por mapas que indicam sua localização. Segundo o autor, foram escolhidas residências médias e populares, rurais e urbanas, isoladas e em grupos, deixando-se de lado a arquitetura monumental, tradicional, recente ou existente até as Grandes Guerras. Na obra, contudo, aparecem edifícios em altura e outras construções que dificilmente seriam definidas como populares. Os exemplos foram apresentados em série geográfica, com ênfase na Europa e, sobretudo, na França. Dollfus observa não haver correspondência dessa arquitetura com fronteiras nacionais ou limites definidos. No entanto, muitos grupos de moradias são organizados a partir de zonas climáticas e naturais. A madeira se emprega na estrutura, complementada com ramos, galhos trançados, tábuas, palhas ou folhas nas selvas equatoriais e savanas tropicais (África, Austrália, Polinésia, Índia) onde o essencial é a cobertura. Emprega-se também a madeira, na forma de estacas, coberta com placas do mesmo material nas florestas boreais (Escandinávia, América do Norte, Rússia) e alpinas (Alpes, Cárpatos, Anatólia, Cáucaso, Himalaia). No outro extremo climático, nas estepes e desertos do México (norte) e da Mauritânia ao Gobi, o fundamental são as paredes feitas de pedra, adobe ou tijolo, com teto plano. Nos lugares temperados, intermediários, se encontrariam as formas híbridas: casas de pedra ou tijolo e coberturas com telhas curvas, em telhados de baixa declividade, na região que vai até 45° ao Norte da Europa e 30° ao Norte da América, envolvendo Mediterrâneo, Iberoamérica e China. Na região acima de tais latitudes, surgiriam as casas com telhado acima de 45°, com coberturas de telhas planas, palha ou ardósia. As formas dessa arquitetura popular seriam basicamente circulares e retangulares. As primeiras seriam comuns na África Negra, freqüentes no Oriente e escassas na Europa. O autor crê que a circular seria a forma mais primitiva, instintiva e próxima à natureza. Já a forma retangular, se relacionaria com algum grau de abstração, permitindo a distribuição interna em recintos distintos e homogêneos. O autor ainda ensaia algumas reflexões sobre a presença e distribuição das residências quanto ao número de seus andares, materiais de construção, superfícies cheias e aberturas, entablamentos, janelas, presença de postigos, ressaltos de pisos, arcadas ou pórticos públicos, e quanto aos tipos de cobertura. A maior parte dos exemplos estaria em consonância com o lugar, com o emprego de materiais simples e com produtos diretos do solo. Essas formas seculares estariam em progressivo abandono, o que foi acelerado pelas grandes guerras e a conseqüente necessidade de construção veloz e em larga escala que, a despeito das conquistas em termos de higiene e conforto, se deram com perda do caráter local. O autor defende que este caráter deveria ser harmonizado com as demandas modernas.