CORDEIRO, C. C. M.; BRANDÃO, R. P.; BRANDÃO, D. Q.; DURANTE, L. C.; CALLEJAS, I. J. A.; GUARDA, E. L. A. Taipa de mão em Barra do Bugres, Brasil: aspectos culturais e construtivos em habitação remanescente de quilombo. In: Seminário Iberoamericano de Arquitectura y Construcción con Tierra, 18, 2018, La Antigua Guatemala, Guatemala. Anais... La Antigua Guatemala: USAC-CII / PROTERRA, 2018, p. 488 – 496.
Eixos de análise abordados:
Saberes tradicionais e espaço arquitetônico
Tecnologia tradicional no território e na edificação: vigências e usos contemporãneos
Território e etnicidade
Dados sobre o autor(es) e obra:
Carol Cardoso Moura Cordeiro graduou-se em Engenharia Civil pela Universidade do Estado da Bahia e fez especialização em Engenharia de Segurança do Trabalho pela Universidade Federal do Mato Grosso. É Mestra em Engenharia de Edificações e Ambiental pela UFMT e integrante do Grupo Multidisciplinar de Estudos de Habitação. Atualmente realiza pesquisa voltada para construções vernáculas, meio ambiente e empreendimentos de interesse social.
Informações disponíveis: https://www.escavador.com/sobre/277741753/carol-cardoso-moura-cordeiro
Raphael Pinto Brandão é graduando em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal do Mato Grosso. Atualmente é pesquisador voluntário (VIC) do Laboratório de Tecnologia e Conforto Ambiental (LATECA) da UFMT.
Informações disponíveis: https://www.escavador.com/sobre/8532067/raphael-pinto-brandao
Douglas Queiroz Brandão graduou-se em Engenharia Civil pela Universidade Federal do Mato Grosso em 1986. Possui mestrado em Engenharia Civil (1997) e doutorado em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina (2003). Atualmente é Professor Associado da Universidade Federal de Mato Grosso, ministrando disciplinas da área de Construção Civil para os cursos de Engenharia Civil (Graduação) e Engenharia de Edificações e Ambiental (Mestrado).
Informações disponíveis: https://www.escavador.com/sobre/393193/douglas-queiroz-brandao
Luciane Cleonice Durante possui graduação em Engenharia Civil pela Universidade Federal do Mato Grosso, em 1993, especialização em Engenharia de Segurança do Trabalho (1994), mestrado em Educação pelo Instituto de Educação (2000) e doutorado em Física Ambiental pela UFMT (2012). Atualmente é Professora Adjunta IV do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Faculdade de Arquitetura, Engenharia e Tecnologia da UFMT, docente do Programa de Pós-Graduação em Propriedade Intelectual e Transferência de Tecnologia para Inovação (PROFNIT), Coordenadora do Laboratório de Tecnologia e Conforto Ambiental (LATECA) do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da FAET/UFMT, Vice Coordenadora do Grupo de Pesquisa em Tecnologia e Arquitetura Ambiental (GPTAA) e membro do Grupo de Pesquisa em Dinâmica Ambiental e Tecnologia (GPDAT).
Informações disponíveis: http://lattes.cnpq.br/3288386869580332
Ivan Júlio Apolônio Callejas é graduado em Engenharia Civil pela Universidade Federal do Mato Grosso, em 1995. É mestre em Engenharia Civil pela Universidade Estadual de Campinas (1998) e doutor pelo programa de pós-graduação em Física Ambiental na área de conforto ambiental da UFMT (2012). Atualmente é professor Associado I da UFMT, atuando no Departamento de Arquitetura e Urbanismo e no Curso de Pós-Graduação em Engenharia de Edificações e Ambiental (PPGEEA). Atua também como colaborador do curso de Mestrado Profissional em Propriedade Intelectual e Transferência de Tecnologia para Inovação (PROFNIT).
Informações disponíveis: https://www.escavador.com/sobre/3955988/ivan-julio-apolonio-callejas
Emeli Lalesca Aparecida da Guarda é graduada em Arquitetura e Urbanismo, em 2017, na Universidade de Cuiabá, mestre em Engenharia de Edificações e Ambiental (2019) na Universidade Federal de Mato Grosso e doutoranda em Arquitetura e Urbanismo na Universidade Federal de Santa Catarina. Atualmente, participa de pesquisas do Laboratório de Tecnologia e Conforto Ambiental (LATECA) da UFMT e da Universidade de Brasília. Além de atuar como pesquisadora de doutorado no Laboratório de Conforto Ambiental (Labcon/UFSC).
Informações disponíveis: https://www.escavador.com/sobre/224538590/emeli-lalesca-aparecida-da-guarda
Sumário obra:
Não se aplica.
Resumo :
O artigo apresenta um estudo sobre o uso da taipa de mão em uma habitação remanescente de quilombo no município de Barra do Bugres, no Mato Grosso. Com o Movimento Bandeirista, os portugueses levaram as técnicas com terra para as construções no interior do Brasil. Em Barra do Bugres, segundo os autores, o uso da taipa de mão retrata um conhecimento empírico, passado entre as gerações, além de ser uma técnica que possibilita a autoconstrução, a integração entre as pessoas durante a execução e, principalmente, por ser realizada com materiais autóctones têm um baixo custo. Na zona rural do município em estudo localiza-se o Território Quilombola Vão Grande composto por cinco comunidades: Baixio, Camarinha, Morro Redondo, Vaca Morta e Retiro. A habitação em estudo, construída em 1970, encontra-se em Morro Redondo. A partir da observação in loco e entrevista com o morador mais velho da residência foram obtidas algumas análises sobre a edificação em taipa de mão e madeira. Um dos primeiros aspectos observados foi à presença de um altar católico na sala, que, segundo o morador, foi uma tradição apreendida dos antepassados e replicada por todos da comunidade como forma de proteção à família. Em relação à espacialidade, a casa é composta por três blocos separados, sendo que o primeiro abriga a sala e os quartos; o segundo a cozinha e a despensa e o terceiro, o banheiro construído recentemente e localizado mais distante dos outros blocos. A taipa de mão está presente nos dois primeiros que têm a estrutura feita com troncos de árvores nativas, apresentando os pilares enterrados, paredes de vedação formadas por entramados de madeira amarrados com cipó e recobertos com a terra local acrescida de casca de feijão para aumentar a resistência. Além da cobertura em palha, que, conforme a tradição foi retirada ainda verde durante a lua minguante pelo proprietário. O piso é feito da própria terra e está acima do nível do terreno para evitar entrada de água. Já o bloco do banheiro foi construído com tábuas de madeira e telhas de fibrocimento, porém é composto apenas pelo chuveiro. Esse aspecto afeta a sustentabilidade da habitação, pois, apesar de a construção não gerar resíduos e utilizar materiais autóctones, todos os dejetos produzidos pelos moradores são eliminados diretos na natureza, reflexo também da falta de saneamento básico na região. Em relação ao conforto ambiental, foi observado que a sensação térmica interna permaneceu menor que a externa, em função da terra das paredes que retém a umidade, dos grandes beirais que protegem as paredes do sol e da cobertura em palha que permite a passagem do ar e funciona como isolante térmico. Apesar das poucas esquadrias, outras técnicas para ventilação cruzada são utilizadas, como o entramado da parede não ser preenchido com terra até o topo e as aberturas serem em paredes opostas. Na cozinha, algumas paredes são compostas apenas de madeiras verticais, permitindo frestas para liberação da fumaça. Em relação à estética da casa, o morador tem interesse em colocar materiais de acabamento, pois prefere melhorá-la e ampliá-la do que morar em uma casa de alvenaria que afirma ser desconfortável. Os autores reafirmam que a taipa de mão tem um significado cultural nessa região. As construções têm um viés sustentável por conta dos materiais utilizados, mas a falta de saneamento básico é um fator crítico. Além disso, a taipa de mão foi considerada adequada ao clima da região, mas algumas adaptações, como acabamento interno e externo e a adequação aos critérios de habitabilidade poderiam contribuir para a manutenção da tradição local.
LADEIRA, Maria Elisa. “Uma Aldeia Timbira”. In: NOVAES, Sylvia Caiuby (Org.). Habitações indígenas. São Paulo: Nobel; Edusp, 1983, p. 11-32.
Eixos de análise abordados:
Saberes tradicionais e espaço arquitetônico
Território e etnicidade
Dados sobre o autor(es) e obra:
Maria Elisa Ladeira é graduada em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo(1973), Desde 1974, dedica-se à pesquisa entre os grupos Timbira do Maranhão e Goiás. Em 1982 defendeu dissertação de mestrado em Antropologia Social na Universidade de São Paulo, possui doutorado em Lingüística pela Universidade de São Paulo(2001). Desde 1975, trabalha na área de educação indígena. É assessora do Centro de Trabalho Indigenista e trabalha na coordenação do Projeto Kraho, vinculado a esta entidade. Atua na Universidade de São Paulo.
A aldeia é elemento fundamental da identidade dos grupos Timbira. De formato circular, está intimamente ligada à sua organização social e seu espaço é determinado pelo modo como as pessoas se movimentam e se relacionam. As categorias espaciais permitem analisar as posições, os deslocamentos e perceber como estes orientam as relações sociais e como essa sociedade se articula. Localizados no cerrado do Maranhão e de Goiás, os Timbira geralmente constroem suas aldeias em lugares planos, em solo não pedregoso e perto da água, onde pode haver roçado. Quando o solo se esgota, a aldeia é reconstruída, próxima a alguma mata ciliar. Isso começou a mudar quando a FUNAI, ao construir escolas, enfermarias etc., obrigou as aldeias a se fixarem num mesmo lugar. As casas Timbira geralmente possuem planta retangular, com um dos lados maiores formando a sua frente e telhado de quatro águas, feito com folhas de babaçu ou inajá. Este mesmo material, com as folhas aplicadas em posição horizontal, constitui as paredes e toda a amarração é feita com cipó. A casa é fechada nos quatro lados, com a porta sempre no lado maior e voltada para o pátio. Na parede do fundo uma porta paralela à principal dá acesso ao “quintal”. Em algumas aldeias, as casas têm coberturas de duas águas, em folhas de piaçava, e porta ao lado do esteio da cumeeira. Atualmente, os Timbira erguem suas edificações em taipa ou até mesmo em adobe. Algumas possuem paredes internas, mas, geralmente, não têm divisões. Um “puxadinho” coberto de palha atrás dessas casas também serve de cozinha, sendo aí onde se passa a maior parte do tempo. No interior, encontram-se jiraus forrados com esteiras de embira ou buriti ou mesmo com cobertas nas noites frias. O jirau não serve somente para dormir, é também banco, mesa ou prateleira. Compõem ainda o interior, cabaças, potes de barro, bancos e toras de buriti para sentar. O círculo das aldeais é formado pelas casas que formam também o pátio denominado de centro da aldeia – local masculino onde se resolvem os conflitos e problemas. Cada casa tem o seu caminho radial para o pátio, o que significa que todas têm o mesmo peso social e que estão relacionadas da mesma maneira com as decisões políticas e religiosas. No círculo externo às casas – a “periferia” – são executadas as tarefas de produção, sendo esta a zona feminina por excelência. Cada casa é uma unidade demarcada que abriga a família elementar e o grupo doméstico, com cada um possuindo seu local de dormir e comer. Sua equidistância em relação ao pátio, assinala sua igualdade nas relações de produção, sendo o gênero o único tipo de distinção. Há duas maneiras de se deslocar na aldeia: atravessando o centro ou percorrendo o seu perímetro. As relações sociais são divididas em parentes e não parentes, e uma família levanta sua casa apenas quando se torna uma unidade produtiva independente. O termo em português que designa o segmento residencial é “rua” ou lugar onde se pode circular livremente. As aldeias Timbira não manifestam nenhuma hierarquia espacial e o seu “concentrismo” revela uma estrutura social em que os homens (pátio) e mulheres (periferia) se complementam e formam a aldeia.
LEMOS, Celina Borges. “Timbira (Goiás, Mato Grosso)”. In: OLIVER, Paul (edit). Encyclopedia of Vernacular Architecture of the World. Cambridge - UK: Cambridge University Press, 1997, p. 1.635-1.636.
ISBN ou ISSN:
052156422 0
Autor(es):
Hamilton Botelho Malhano
Onde encontrar:
Biblioteca da Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
Referência bibliográfica:
MALHANO, Hamilton Botelho. “Karibe- Aruak-Tupi (Mato Grosso)”. In: OLIVER, Paul (edit). Encyclopedia of Vernacular Architecture of the World. Cambridge - UK: Cambridge University Press, 1997, p. 1.628-1.629.
Eixos de análise abordados:
Saberes tradicionais e espaço arquitetônico
Tecnologia tradicional no território e na edificação: vigências e usos contemporãneos
Território e etnicidade
Dados sobre o autor(es) e obra:
Hamilton Botelho Malhano é arquiteto, etnólogo e museólogo, Mestre em História da Arte-Antropologia pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro e Doutor em História Social pelo Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da mesma Universidade. Foi Diretor Adjunto do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (1994-1998) e conselheiro do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN, como representante do Museu Nacional da UFRJ. Integra o quadro docente da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFRJ desde 1997. Atuou como colaborador e ilustrador em várias publicações etnológicas e possui obras publicadas sobre artesanato e arquitetura vernacular.
O verbete trata da arquitetura e dos assentamentos dos grupos indígenas do alto Xingu, os quais são classificados em termos linguísticos como Karibe (subgrupos Kalapalo, Kuikuro, Wagifitì-Matipu, Jaganmì-Nahukwá e Ikipeng-Tishkão), Aruak (subgrupos Yawalapíti, Mehináku e Waurá) e Tupi (subgrupos Kamayurá e Awetí). Suas aldeias são espaços articulados de acordo com relações sociais. A casa constitui o domínio mais privado e, por isso, é mantida fechada e protegida. Sua forma revela um sistema de expectativas e disposições codificadas, cujo código não se acessa geometricamente e sim conceitualmente. As partes dessas construções são relacionadas à anatomia do corpo humano, com elementos construtivos e partes do corpo denominadas pelo mesmo nome, o que sugere a identificação da casa com um ser biológico. Apesar de ter características masculinas, não há propriamente associação de gênero relativa à casa, pois é vista também como o lugar de gestação e preparação dos indivíduos para o exercício do seu papel social. Não há divisões internas, mas cada família tem o seu espaço privado de dormir e comer cujos limites não são definidos, mas reconhecidos por todos. O chefe da casa vive no setor frontal leste, tendo como referência o centro da aldeia. É ele quem toma a iniciativa de construir a casa e providencia os esteios centrais que são fixados no chão e são chamados de “pernas da casa”. A falsa elipse, que é a base da planta, é desenhada no chão, sendo aí fincados os esteios periféricos. O chefe da casa tem o privilégio de fincar os esteios das entradas, estabelecendo, assim, suas “bocas”. Um anel elíptico de madeira amarra os esteios periféricos pelo topo e constitui a costela principal da habitação. Extremidades de varas são fincadas no chão, contornando os esteios periféricos e colocadas em distância suficiente para que sejam amarradas na cumeeira que se apoio nos esteios centrais, denominada, por sua vez, de “peça de madeira que a casa carrega na cabeça”. Tiras de couro e ripas reforçam a estrutura abobadada da cobertura, formando as outras “costelas” da casa. O “cabelo” é a palha trançada nas ripas e seções da abóbada são denominadas de “nádegas, peitos, costas, pescoço e nuca” da casa. Uma construção especial é a casa das flautas ou “do meio”, que é um lugar sagrado, proibido para as mulheres e tem o objetivo de socializar os homens. Contém as flautas e demais objetos sagrados, sendo onde os homens se pintam para as celebrações. Esta casa fica no centro da aldeia que é definido como um lugar público. O centro geométrico da aldeia coincide também com o cemitério, pois os xinguanos também estabelecem uma gradação entre vivos e mortos que se reflete nos locais de sepultamento. A área da aldeia é determinada pelo modo como as pessoas nela se movem e revela como elas se relacionam umas com as outras. O verbete é fartamente ilustrado com desenhos sobre o processo de construção e sobre as várias partes da casa do alto Xingu.
MALHANO, Hamilton Botelho. “Repensando a técnica construtiva no alto Xingu”/MS. Inédito, curso Processos e Técnicas nas Artes Visuais, mestrado em História da Arte, P. G. em Artes Visuais (EBA/CLA/UFRJ), 1989.
MALHANO, Hamilton Botelho. “Poética Altoxiguana: A metáfora do abrigo: Uma Etnografia da Casa”, dissertação de mestrado em História da Arte, Pós-Graduação em Artes Visuais, Rio de Janeiro: UFRJ, 1993.
MALHANO, H. B e COSTA, M. H. F. “Habitação Indígena Brasileira”. In: RIBEIRO, Darcy et al. Suma Etnológica Brasileira, V. 2, Tecnologia Indígena. Petrópolis: Vozes/FINEP, 1986.
ISBN ou ISSN:
052156422 0
Autor(es):
Hamilton Botelho Malhano
Onde encontrar:
Biblioteca da Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
Referência bibliográfica:
MALHANO, Hamilton Botelho. “Judjá-Juruna (Mato Grosso)”. In: OLIVER, Paul (edit). Encyclopedia of Vernacular Architecture of the World. Cambridge - UK: Cambridge University Press, 1997, p. 1.627-1.628.
Eixos de análise abordados:
Saberes tradicionais e espaço arquitetônico
Território e etnicidade
Dados sobre o autor(es) e obra:
Hamilton Botelho Malhano é arquiteto, etnólogo e museólogo, Mestre em História da Arte-Antropologia pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro e Doutor em História Social pelo Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da mesma Universidade. Foi Diretor Adjunto do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (1994-1998) e conselheiro do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN, como representante do Museu Nacional da UFRJ. Integra o quadro docente da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFRJ desde 1997. Atuou como colaborador e ilustrador em várias publicações etnológicas e possui obras publicadas sobre artesanato e arquitetura vernacula.
O verbete informa que as aldeias do grupo tupi denominado no Brasil de Judjá-Juruna (ou Yudjá-Juruna) ficam perto do rio Manissauá-Missu, no baixo curso do rio Xingu, na parte nordeste do Parque Nacional do Xingu. Nelas, uma construção de caráter coletivo situa-se de modo proeminente: é a casa de farinha, alimento cuja cocção no formo é atividade masculina. Esta construção abriga também um fogo comum onde as mulheres preparam uma bebida fermentada a base de mandioca. Os adultos se reúnem aí no nascer ou no por do sol em dias festivos, exceto as meninas jovens que não podem ainda participar das comidas coletivas até seu casamento ou nascimento do primeiro filho. Os genros constroem suas casas próximas às dos sogros, formando pequenos grupos de residências familiares. Os Judjá-Juruna não têm um padrão formal de habitação. Constroem casas retangulares, quadradas, elípticas ou circulares. Podem ter divisões internas, mas a maior parte dos espaços íntimos é demarcada por jiraus e redes. Um espaço matrimonial novo é demarcado num canto segregado da casa para que o casal jovem possa ser monitorado pelos mais velhos. O fogo familiar para cozinhar fica no centro das habitações. Casas elípticas com paredes e coberturas independentes se tornaram comuns no médio e baixo Xingu, o que resultou da diminuição do número de vigas que formam as coberturas das construções do alto Xingu. Entre os Judjá-Juruna, a cobertura das casas forma pequenos beirais sobre as paredes, o que produz uma cobertura cônica e não em abóbada como no alto Xingu. As escoras periféricas podem estar ou não revestidas com palha. Assim, as casas do baixo e médio Xingu não possuem os detalhes arquitetônicos das construções da região do alto. Esta forma, contudo, é aceita pelo grupo Judjá-Juruna como transitória. O verbete é ilustrado com um corte esquemático da habitação.
ANDRADE, Lúcia M. M. de. "Os Juruna no Médio Xingu". In: SANTOS, Leinad Ayer O.; ANDRADE, Lúcia M. M. de. (Orgs.). As hidrelétricas do Xingu e os povos indígenas. São Paulo: CPI-SP, 1988. P. 147-52.
FRANCHETTO, Bruna. Laudo antropológico : a ocupação indígena da região dos formadores e do alto curso do Rio Xingu. Rio de Janeiro : s.ed., 1987, p. 159.
Biblioteca da Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
Referência bibliográfica:
MALHANO, Hamilton Botelho. “Bororo (Mato Grosso)”. In: OLIVER, Paul (edit). Encyclopedia of Vernacular Architecture of the World. Cambridge - UK: Cambridge University Press, 1997, p. 1.624-1.625.
Eixos de análise abordados:
Saberes tradicionais e espaço arquitetônico
Território e etnicidade
Dados sobre o autor(es) e obra:
Hamilton Botelho Malhano é arquiteto, etnólogo e museólogo, Mestre em História da Arte-Antropologia pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro e Doutor em História Social pelo Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da mesma Universidade. Foi Diretor Adjunto do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (1994-1998) e conselheiro do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN, como representante do Museu Nacional da UFRJ. Integra o quadro docente da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFRJ desde 1997. Atuou como colaborador e ilustrador em várias publicações etnológicas e possui obras publicadas sobre artesanato e arquitetura vernacular.
O verbete informa que os Bororo fazem parte do grupo linguístico Macro Gê e seus assentamentos se caracterizam por habitações em círculo formando uma grande praça central. A casa dos homens é construída no centro desse espaço em uma linha imaginária leste/oeste e que divide a aldeia em duas partes. Esta construção tem duas entradas localizadas no eixo norte/sul. As habitações das oito frações tribais, ou clãs, são arranjadas em pares de quatro em cada metade da aldeia. Cada clã é subdividido em sub-clãs ou famílias, e cada família em vários lares, rigorosamente localizados no espaço. Os Bororo perderam seu sistema construtivo tradicional e utilizam um de caráter “regional”. Sua habitação atual é um retângulo de 45 m², com fachadas fronteira e traseira na dimensão maior onde ficam localizadas as duas únicas entradas. A entrada voltada para o centro da aldeia é a social e a dos fundos a privativa. Tradicionalmente, não há divisões internas, mas atualmente já são observados alguns compartimentos. A estrutura da construção consiste em três linhas de pilares de madeira, sendo a do centro mais alta e onde repousa a cumeeira. A cobertura e paredes são de palha trançada. Os espaços internos são divididos por meio de jiraus e esteiras dos casais que habitam a casa. O centro da habitação é comunal, como o centro da aldeia, e lá é feito o fogo para cozinhar, aquecer e espantar insetos. Cada unidade social e o lugar onde sua casa é construída é parte da estrutura social e espacial. Para os Bororo, cada aldeia é o centro do território e do universo. O verbete é ilustrado com um diagrama da organização espacial dos Bororo.
VIERTLER, R. B. As aldeias Bororo, alguns aspectos de sua organização social. In: Revista do Museu Paulista, s. Etnologia, V 2, São Paulo, 1976.
ISBN ou ISSN:
052156422 0
Autor(es):
Celina Borges Lemos
Onde encontrar:
Biblioteca da Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
Referência bibliográfica:
LEMOS, Celina Borges. “Timbira (Goiás, Mato Grosso)”. In: OLIVER, Paul (edit). Encyclopedia of Vernacular Architecture of the World. Cambridge - UK: Cambridge University Press, 1997, p. 1.635-1.636.
Eixos de análise abordados:
Saberes tradicionais e espaço arquitetônico
Território e etnicidade
Dados sobre o autor(es) e obra:
Celina Borges Lemos possui graduação em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal de Minas Gerais, mestrado em Sociologia pela Universidade Federal de Minas Gerais e doutorado em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Campinas. É professora associada da Universidade Federal de Minas Gerais. Concluiu em 2008 o pós doutorado na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. Tem experiência na área de Antropologia Urbana, com ênfases em Fundamentos de Arquitetura e Urbanismo, Cultura Urbana, Conservação e Revitalização do Patrimônio. Tem realizado estudos voltados principalmente para os seguintes temas: arquitetura, artes, museologia, estilo, cultura, estética, centralidades, espaços públicos, serviços na contemporaneidade. Pesquisa atualmente a contribuição e o significado da Arquitetura Mineira entre os séculos XVIII e XXI, tendo por referencias principais as cidades históricas e Belo Horizonte.
A arquitetura tradicional dos Timbira, cujos grupos se localizam em Goiás e Mato Grosso, não difere muito daquelas de outras etnias indígenas. A habitação tem planta retangular e telhado com quatro inclinações, com duas portas nos lados maiores do retângulo, sendo a entrada principal voltada para o pátio central da aldeia. A casa tem estrutura de madeira, é coberta com palha e não há divisões internas. Alguns grupos Timbira também constroem outros tipos de habitação, influenciadas pela arquitetura vernacular rural, em adobe ou “barro”, cobertas com palha, sem divisões internas, mas com uma varanda na frente que é utilizada para cozinhar. Dentro há um jirau que serve de apoio, estante, mesa e outros usos, e o chão é coberto com esteiras. As habitações Timbiras são destinadas a famílias nucleares, que constituem a unidade social produtiva e de consumo, mas podem abrigar as famílias de filhas casadas. O assentamento ou aldeia Timbira é circular, com pátio central ligado às habitações por caminhos privativos. As casas formam o círculo mais externo e, atrás delas, há um outro caminho circular. O centro do círculo é um espaço público, político e simbólico, além de destinado a rituais e cerimônias. A expansão do assentamento somente é possível com a ampliação do círculo, pois representa a estrutura social desse povo e somente através da sua localização, seres humanos e objetos podem ser classificados. O controle da cosmologia também se dá por meio de um centro universal que está simbolizado pelo centro da aldeia. O verbete não contém fotos ou ilustrações.