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Simpósio sobre Arquitetura Popular no V ENANPARQ 2018
Simpósio sobre Arquitetura Popular no V ENANPARQ 2018
Igatu / Chapada Diamantina-Ba, 2016.
Espigueiros. Portugal, 2017.
Espigueiros. Portugal, 2017.

autoconstrução

ISBN ou ISSN: 

ISSN: 0264-2751/84/060575-05

Autor(es): 

Alberto Arecchi

Referência bibliográfica: 

ARECCHI, Alberto. Auto-construction in Africa: Prospects and ambiguities. In: Cities. Londres: Butterworth & Co (Publishers) Ltd, Nov. 1984, p.575-579.
 

Eixos de análise abordados: 
Construção autogerida em meio urbano: espaços e técnicas
Tecnologia tradicional no território e na edificação: vigências e usos contemporãneos
Dados sobre o autor(es) e obra: 

Alberto Arecchi é um arquiteto italiano nascido em 1947. Atua como arquiteto, professor e é perito na Cooperação para o Desenvolvimento.
Informações obtidas em: https://www.correiodoporto.pt/dooutromundo/porto-visto-por-alberto-arecchi
 

Sumário obra: 

Não se aplica.

Resumo : 

Neste artigo, Arecchi aborda as perspectivas e ambiguidades que tangem o processo de autoconstrução em países em desenvolvimento no continente africano, focalizando a Argélia. O autor avalia a forma com a qual este processo construtivo têm sido organizado, sendo uma alternativa eficiente e viável na busca pela independência econômica e social de países em desenvolvimento, mas que precisa ser implementado de forma cuidadosa no que diz respeito às políticas públicas, à participação de empresas e organismos internacionais e de técnicos, de modo que a autoconstrução não gere um ciclo de dependência econômica e tecnológica destas comunidades em relação a outrem. Em sociedades ocidentais hiperindustrializadas, a autoconstrução e a bricolagem representam uma alternativa em direção à autossuficiência que permite ao homem controlar seu próprio ambiente construído. Contudo, em países como a Algéria, que ainda não se encontram em um estágio avançado de industrialização, a autoconstrução é muitas vezes vista como um sintoma tradicional de pobreza e a sua proposta como processo construtivo pode soar neocolonialista e antagonista da modernização. Arecchi defende que a autoconstrução é uma maneira de desenvolver consciência e ajuda mútua em uma comunidade, embora, muitas vezes, no continente africano seja difícil de se obter coesão popular devido às diferenças étnicas, religiosas e culturais existentes entre a população. A ajuda mútua, contudo, pode ser observada a partir de três origens distintas descritas pelo autor: a coesão popular atingida mediante oposição comum à opressão de um poder já estabelecido; a participação popular guiada e organizada por empresas e organismos internacionais ou cooperações bilaterais; a proposta governamental de regimes progressistas que veem na autoconstrução e na autossuficiência produtiva uma forma de se atingir o desenvolvimento nacional. Este último, contudo, pode fazer a população se sentir forçada a aceder à autoconstrução ao invés de haver de fato uma mobilização popular em prol de um interesse comum, o que é danoso para a sua implementação enquanto programa governamental. Arecchi defende que a autoconstrução enquanto política deve ser avaliada no que tange seus benefícios sociais e econômicos a partir da consideração da vida do camponês (e sua capacidade de dedicar tempo e força produtiva para trabalhar também em sua própria casa), e a possibilidade de gerar emprego especializado e fonte de renda. Desta maneira, a ampla mobilização social em projetos de autoconstrução promove benefícios sociais e econômicos, com formas de envolvimento e cooperação variadas, sem constituir de mais um fator de exploração das capacidades produtivas da população através de trabalho gratuito e não especializado. O autor também coloca em pauta a relação entre o uso de materiais locais e a autoconstrução, suas conotações e possibilidades tecnológicas. Arecchi defende que o estudo das tecnologias tradicionais permite que a autoconstrução assistida obtenha resultados eficientes que não poderiam ser atingidos pelo que foi chamado de autoconstrução de subsistência. Além disso, o aperfeiçoamento de técnicas tradicionais e materiais que podem ser obtidos no local evita o gasto com a importação de materiais e equipamentos de construção civil de outros países. Contudo, a crença coletiva de que o progresso advém da industrialização (e o consequente status econômico e social desta escolha) impulsiona a preferência pela importação de materiais e técnicas em detrimento das soluções tradicionais. No processo de autoconstrução assistida, uma das maiores dificuldades existentes está na mudança da relação entre técnico e usuário e na adoção de uma linguagem pelos primeiros que possa ser facilmente compreendida e internalizada pelos últimos. Além disso, os projetos devem ser adaptados às condições locais de modo que seja possível a sua administração e manutenção com o mínimo de importações possível, através da capacitação de artesãos e técnicos que saibam aplicar e difundir melhorias tecnológicas. Este sistema de produção local que abrange a elaboração do projeto, o uso de equipamentos, materiais e mão de obra local faz com que o país tenha certa independência dos demais em níveis tecnológicos, sociais e econômicos, além de permitir que as comunidades dominem o processo de produção de seus próprios habitats, o que potencializa o desenvolvimento social do país.

 

Data do Preeenchimento: 
sábado, 20 Julho, 2019 - 15:00
Pesquisador Responsável: 

Natália Bessa

Data da revisão: 
segunda-feira, 5 Agosto, 2019 - 15:00
Responsável pela Revisão: 

Márcia Sant'Anna

Autor(es): 

Ermínia Maricato

Onde encontrar: 
Biblioteca da Faculdade de Arquitetura da UFBA 
Referência bibliográfica: 
MARICATO, Ermínia. Autoconstrução, a arquitetura possível. In: MARICATO, Ermínia (org). A produção capitalista da casa (e da cidade) no Brasil industrial. São Paulo. Editora Alfa-Ômega, 2ª ed., 1982, p. 71-93. 
Eixos de análise abordados: 
Conceitos e métodos
Construção autogerida em meio urbano: espaços e técnicas
Dados sobre o autor(es) e obra: 
Ermínia Terezinha Menon Maricato possui graduação (1971), mestrado (1977), doutorado (1984), livre docência (1997) pela Universidade de São Paulo, onde é também professora titular (1998) de Arquitetura e Urbanismo. Foi professora visitante do Center of Human Settlements da Universidade da British Columbia e da Witswaterand University de Johannesburg. Foi coordenadora do curso de Pós-Graduação e Presidente da Comissão de Pesquisa da FAUUSP, além de membro do Conselho de Pesquisa da USP e fundadora do LASB-HAB - Laboratório de Habitação e Assentamentos Humanos da FAUUSP. Foi Secretária de Habitação e Desenvolvimento Urbano do Município de São Paulo (1989-1992) e formulou a proposta de criação do Ministério das Cidades onde foi Ministra Adjunta (2003-2005). Recebeu vários prêmios e publicou vários livros sobre habitação e desenvolvimento urbano. O artigo em exame foi originalmente apresentado na 28ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em 1976, revisto parcialmente em 1978. 
Informações obtidas em: http://lattes.cnpq.br/6441434783136628
Resumo : 
O artigo trata da produção da habitação e do assentamento popular no Brasil dos anos de 1970/80. O texto estabelece uma distinção importante entre os processos tradicionais de mutirão e ajuda mútua, reconhecidos como solidários, cooperativos e de base rural, e a “autoconstrução” habitacional nos grandes centros industriais. Se no campo, esses processos tenderam a desaparecer com a modernização, nas áreas metropolitanas adquirem cada vez mais importância como modo de produção da habitação da classe trabalhadora. Grande parte do artigo é dedicada à explicação das causas estruturais desse fenômeno, com base na análise marxista de articulação necessária entre exploração da força de trabalho e acumulação de capital. O conceito de autoconstrução proposto por Maricato designa o “processo de construção da casa (própria ou não)” por seus moradores que podem ser auxiliados por parentes, amigos, vizinhos ou por profissional remunerado (p. 74). Este processo se verificaria também na construção de igrejas, escolas primárias, creches e centros comunitários, estendendo-se ainda para o espaço urbano na forma de melhoria de ruas, calçadas, pontes, etc. Esta forma de produção habitacional ocorreria por falta de alternativa, correspondendo a “trabalho não pago” ou “supertrabalho” (apud Oliveira) e favorecendo a expansão capitalista. O tratamento da casa e do equipamento urbano como mercadorias, o salário baixo e os investimentos públicos ligados à dinamização econômica e à reprodução do capital estariam na raiz do problema e viabilizariam o desvio do orçamento público para outras finalidades e setores economicamente mais dinâmicos. A política do antigo Banco Nacional da Habitação (BNH) é evocada como exemplos desses desvios, mostrando-se que os agentes intermediários que recebem recursos do banco, retiram-se após produzir a habitação, e deixam a dívida e os problemas da construção para o trabalhador que conseguiu se inserir no sistema. A maioria, contudo, não consegue arcar com os custos dessa produção. A autoconstrução surge então como alternativa ou arquitetura possível, fomentando ainda o aparecimento das periferias urbanas. A casa autoconstruída é definida como um abrigo de alto valor de uso que contém o necessário para acolher a família e leva muitos anos para ser completada, o que impacta o seu estado de conservação. Como modo de produção, seria caracterizada pela articulação rígida de seus componentes, o que inviabilizaria qualquer manifestação inovadora no nível da técnica construtiva, dos materiais de construção ou das soluções formais. Identifica-se a preferência pelo bloco de concreto e pela laje pré-fabricada, devido ao seu baixo custo, mas as condições estritas do investimento popular tampouco permitiriam voos criadores, impulsionando uma padronização. O lote seria ainda um fator determinante do resultado, especialmente quando localizado em loteamentos clandestinos. Maricato conclui que a criação arquitetônica popular nesse contexto é uma ideia ingênua. Embora a análise se baseie em dados da Grande São Paulo, acredita que as conclusões desse estudo podem ser generalizadas para outras cidades, guardadas as especificidades vinculadas ao grau de industrialização. 
Data do Preeenchimento: 
quarta-feira, 1 Outubro, 2014 - 10:00
Pesquisador Responsável: 

Marcia Sant’Anna

Data da revisão: 
sábado, 4 Outubro, 2014 - 10:00
Responsável pela Revisão: 

Daniel Juracy Mellado Paz

Observação: 
Referências recomendadas: 
LEMOS, Carlos e SAMPAIO, Maria Ruth Amaral de. “Evolução formal da casa popular paulistana”. São Paulo: FAUUSP, 1976. 
_____________________. “A casa popular, mobiliário e aparelhos domésticos”. São Paulo: FAUUSP, Departamento de Projeto, Grupo de Disciplinas de Desenho Industrial, 1975. 
ISBN ou ISSN: 

ISBN-13: 978-0-7506- 6657-2 ISBN-10: 0-7506-6657-9

Autor(es): 

Paul Hereford Oliver

Onde encontrar: 

Disponível em pdf na Internet, em inglês.

Referência bibliográfica: 

OLIVER, Paul. “Kaluderica: High-grade housing in an illegal settlement”. In: OLIVER, P. Built to meet needs: cultural issues in vernacular architecture. Oxford: Architectural Press, 2006, pp. 365-379.

Eixos de análise abordados: 
Saberes tradicionais e espaço arquitetônico
Construção autogerida em meio urbano: espaços e técnicas
Dados sobre o autor(es) e obra: 
Paul Hereford Oliver nasceu em Nottingham, Inglaterra, em 1927. É historiador da arquitetura e escreve também sobre blues e outras formas de música afro-americana. Foi pesquisador do Oxford Institute for Sustainable Development da Oxford Brooks University, de 1978 a 1988, e Associated Head of the School of Architecture. É conhecido internacionalmente pelos seus estudos sobre arquitetura vernacular, em especial, como editor da Encyclopedia of Vernacular Architecture of the World (1997) e pelo World Atlas of Vernacular Architecture (2005). A enciclopédia reúne pesquisas e estudos sobre arquitetura vernacular em todas as regiões do mundo, sendo a principal referência sobre o tema com esta abrangência até o momento. O texto em exame data de 2002 e está publicado na coletânea em referência na parte final que trata do papel da arquitetura vernacular em face dos desafios do século XXI. 
Resumo : 

O texto trata da autoconstrução e da construção autogerida em assentamentos ilegais e do processo de urbanização no antigo bloco dos países socialistas da Europa Central. Especificamente, o autor descreve o processo de formação de assentamentos ilegais na antiga Iugoslávia, a partir da venda de glebas rurais no entorno das cidades maiores. Comenta o crescimento dos assentamentos ilegais, especialmente no terceiro mundo, e a abundância da literatura sobre eles, a qual defende a ideia de que são produto do sistema capitalista. Mas observa que também nos países socialistas essa questão não está resolvida, apesar das suas economias planificadas e centralizadas. Na antiga Iugoslávia, apesar de uma rara administração descentralizada, da autonomia das províncias e de um sistema de planejamento urbano bastante sofisticado, não se conseguia equilibrar a demanda por habitação. Por causa desse déficit habitacional, pessoas menos qualificadas moram em habitações abaixo do padrão em assentamentos ilegais, situação que foi agravada pelo declínio da atividade rural e a conseqüente migração de famílias para a capital, Belgrado, o que provocou a ocupação de periferias rurais ou semi-rurais. Um desses assentamentos “selvagens”, Kaluderica, é o objeto deste artigo. O assentamento se desenvolveu a partir de uma vila já existente e foi tomando a forma das faixas de terra vendidas pelos camponeses. Apesar de a vila ser servida por transporte e haver comércio local, faltavam serviços como limpeza pública, deposição de dejetos, abastecimento d’água, pavimentação e esgotamento sanitário adequado. As casas, contudo, são sofisticadas em grande parte e com todas as instalações prontas, aguardando apenas a legalização do assentamento. Em algumas ruas, se relacionam bem umas com as outras, sendo a maioria em tijolo aparente. O acabamento final foi, em geral, entregue a um profissional e ocorreu depois de a casa já estar totalmente habitada. Muitas indicam a influência de modelos alemães, suíços ou austríacos e a influência vernacular aparece nas técnicas de alvenaria de tijolos, nos beirais, nas calhas e goteiras, no uso de entradas laterais e nos largos balcões. O agenciamento do espaço é, frequentemente, tradicional e camponês, com cama na cozinha, quarto de hóspedes, cômodo separado para guardar comida e espaço para a grande mesa usada em festividades. Embora o tijolo aparente dê certa uniformidade ao assentamento, a variedade de tipos de edificações é muito grande, bem como o nível e a qualidade da construção. A maioria, contudo, é de boa qualidade, com algumas que revelam a habilidade de um mestre pedreiro. Essa qualidade, inclusive no uso do concreto, é explicada pelo expressivo contingente de pessoas que se vinculou à construção civil com o boom de industrialização de Belgrado nos anos 1960. A construção e a conclusão da casa pode ser um processo longo, com o imóvel crescendo e sendo completado a partir das condições da família e das suas necessidades. Traços de consumismo e de desejo de ostentação aparecem em aspectos construtivos, especialmente nos gradis e portões de ferro que surgem como uma florescente manifestação de arte popular. Kaluderica é, para Oliver, um exemplo de autoconstrução de alto nível que mostra a possibilidade de se construir contemporaneamente com qualidade e com base na tradição vernacular.

Data do Preeenchimento: 
sábado, 11 Agosto, 2012 - 11:30
Pesquisador Responsável: 

Marcia Sant’Anna

Data da revisão: 
domingo, 31 Agosto, 2014 - 14:00
Responsável pela Revisão: 

Daniel Juracy Mellado Paz

ISBN ou ISSN: 

Não há essa informação

Autor(es): 

John Turner

Referência bibliográfica: 

TURNER, John F. C & FICHTER, Robert. Freedom to Build. New York: Collier Macmillan, 1972.

Eixos de análise abordados: 
Conceitos e métodos
Construção autogerida em meio urbano: espaços e técnicas
Dados sobre o autor(es) e obra: 
John Turner (1927) nasceu em Londres e estudou na Architectural Association School of Architecture, graduando-se em 1954. Viveu no Peru entre 1957 e 1965, trabalhando para o governo peruano na promoção e formatação de ações comunitárias para a implantação de programas habitacionais baseados na autogestão e na autodeterminação em assentamentos populares e invasões urbanas. Viveu de 1965 a 1973 nos EUA, quando se associou ao MIT, em Cambridge, Massachussetts, EUA. Foi também pesquisador associado da Universidade Harvard. De volta a Londres, foi conferencista da Architectural Association and the Development Planning Unit, University College of London, até 1983. Mudou-se de Londres para a cidade de Hastings, em 1989, localizada na costa sul da Inglaterra, quando tornou-se o administrador do Hastings Trust, uma organização não-governamental dedicada ao desenvolvimento sustentável dessa cidade. Escreveu vários livros e artigos sobre habitação e assentamentos populares na América Latina, EUA, Ásia, África e Oriente Médio. Turner é uma das principais referências mundiais sobre o tema da habitação popular. A obra fichada é, segundo o próprio autor, precursora de outro livro de sua autoria, publicado em 1977, denominado Housing by People. Trata-se de coletânea de textos de vários autores e um trabalho pioneiro que mostra que, quando os moradores estão no controle, suas casas são melhores e mais baratas do as produzidas por programas governamentais ou grandes corporações. 
 
Não foram encontradas informação biográficas sobre Robert Fichter na internet. 
Sumário obra: 

Sem acesso por meio do John Turner Archive.

Resumo : 
Esta ficha corresponde à síntese dos capítulos 6 e 7 da obra Freedom to Build, ambos escritos por Turner e intitulados “The Reeducation of a Professional” e “Housing as a Verb”. No primeiro, o autor defende a tese de que embora as construções mudem de lugar para lugar, a “atividade básica de produção habitacional” não mudaria. Sua estrutura básica seria, portanto, universal, invariável e constante e, a fim de demonstrar esta tese, Turner descreve três projetos no Peru, de cujo desenvolvimento participou entre 1957 e 1962: um conjunto escolar construído em Tiabaya; um projeto de autoconstrução assistida (ou mutirão) em Arequipa e uma experiência de crédito habitacional na barriada de Huascarán, em Lima. No primeiro caso, um projeto convencional do Ministério da Educação foi substituindo por outro a ser realizado com técnicas construtivas e materiais locais, o que permitiria obter mais espaço com custo menor. Embora o conselho local tenha concordado com esta proposta, iniciou a construção em concreto e tijolos, o que inviabilizou sua execução devido ao alto custo final. Turner conclui que este malogro resultou de uma imposição, já que, para os locais, a técnica tradicional significava a pobreza e o atraso do qual queriam sair, devendo a escola ser um símbolo do progresso. O projeto de mutirão, por sua vez, gerou uma administração pesada por parte da agência pública encarregada e a necessidade de envolvimento de muitos atores públicos e privados com pouco resultado. A experiência, contudo, levava em conta as necessidades da população e o modo progressivo de construir nas invasões peruanas. O objetivo era diminuir o tempo de conclusão das habitações de 10 para 2 anos. Turner avalia que, neste caso, o erro foi a crença de que o staff profissional sabia produzir casas melhor do que as pessoas, o que tirou o controle da operação e as decisões cruciais das mãos dos “clientes”. Defende então o incentivo às “formas autônomas de organização” e observa que essas duas experiências lhe ensinaram que se deve trabalhar “com” as pessoas e não “para” elas. A experiência de Huascarán, por fim, demonstra as vantagens das ideias de autogestão e autonomia na produção habitacional, por meio da provisão de assistência técnica, da supervisão e da concessão de empréstimos a juros subsidiados. Os custos de operação para a agência pública, neste caso, caíram para 4%, contra os 8 ou 7 % das contratações diretas e os 15 a 25 % dos mutirões. Turner conclui que este método e aquele no qual o poder público fornece o material são mais produtivos do que a construção de conjuntos habitacionais e projetos em mutirão. Conclui também que, diante do crescimento demográfico dos países em desenvolvimento, suas migrações e pequenos orçamentos governamentais, seria impossível para a autoridade pública assumir a responsabilidade da provisão em massa de habitações, pois, nesse sistema, as decisões são verticais e a operação é inflexível. Por fim, Turner avalia que a “autoridade profissional” pode reduzir a capacidade de ouvir e de aprender com quem de fato sabe. No capítulo 7, Turner contrapõe a ideia de habitação como um produto pronto, à noção de habitar como um processo. Advoga o abandono dos padrões de completude da habitabilidade, em favor da avaliação do valor que as habitações têm para as pessoas. Na produção habitacional os problemas seriam definidos em termos de padrões materiais e os valores julgados pela qualidade do produzido. Turner entende que esses padrões poderiam ser, no máximo, indicadores do que se pode fazer pelas pessoas, cabendo a elas a verdadeira avaliação dos produtos. Como os principais atores econômicos, sociais e psicológicos da atividade habitacional, os usuários deveriam ter o poder de decisão. Demonstra então, ao longo do texto, as desvantagens das decisões centralizadas e padronizadas e as vantagens das locais, mais adaptadas e flexíveis. Considerando os componentes básicos da produção habitacional - terreno, ferramentas e materiais, trabalho especializado, administração e sistema de troca que permita se obter o necessário - a pessoa poderia, no sistema local, combinar esses componentes acordo com suas posses e o que for permitido. Os sistemas governamentais ou privados hierarquizados não permitiriam essa variedade de combinação, induzindo a decisões limitadas. Para Turner, a produção habitacional deve ser um “sistema aberto” no qual o usuário controla o projeto, a construção e a administração, pois isso reduz em até 50% o custo das construções. Ademais, a casa autoproduzida geraria mais satisfação e desenvolvimento pessoal e social, pois seu valor estaria não em suas propriedades físicas, mas na capacidade de suprir as necessidades do usuário. Definir “habitar” como ação deve então incluir os atores, suas ações, conquistas, motivações e expectativas, além de um número significativo de variáveis que podem afetar seus resultados. Uma delas seria a demanda, que depende dos meios que os atores possuem e desejam investir. Quanto mais baixo o nível de renda, melhor deve ser a relação entre demanda e processo habitacional. A localização seria também uma variável, tão importante quanto o padrão material da casa. Além disso, o tipo de posse e a segurança material, financeira e emocional. A variedade de escolhas então é grande e para entende-las e antecipa-las seria preciso identificar as funções humanas e existenciais não quantificáveis que o processo de habitar pode ter. Se localização, posse e abrigo são funções essenciais da casa, elas podem adquirir formas específicas de acordo com a ordem de prioridades de cada segmento social e conforme o contexto. Assim, para uma ação habitacional viável seria preciso identificar essas necessidades básicas e específicas, ter informações sobre os recursos habitacionais disponíveis nos setores comerciais, privados e públicos, bem como sobre os possuídos pelos usuários. Esse conjunto de fatores e sua variabilidade leva Turner a concluir pela impossibilidade de uma ação habitacional consistente por parte de estruturas centralizadas públicas ou privadas. Nas economias de escassez, as pessoas mais pobres possuem o núcleo dos recursos para a ação habitacional por meio de suas pequenas poupanças e capacidades coletivas empresariais e artesanais, que ultrapassariam muito a capacidade dos grandes sistemas. Entende que diante dessas circunstâncias, o curso correto da ação pública seria garantir o suprimento de terrenos, materiais, ferramentas e capacidades para os usuários, juntamente com o crédito para que possam compra-los, num sistema aberto cujo resultado seria produto do diálogo entre os que regulam e os que fazem. O correto seria então trabalhar de modo não autoritário, separando funções legislativas e reguladoras daquelas de provisão de serviços econômicos e sociais, do seu uso e da função executiva. Assim, cada combinação pode ser única e adaptada à cada contexto e capacidade.Esta ficha corresponde à síntese dos capítulos 6 e 7 da obra Freedom to Build, ambos escritos por Turner e intitulados “The Reeducation of a Professional” e “Housing as a Verb”. No primeiro, o autor defende a tese de que embora as construções mudem de lugar para lugar, a “atividade básica de produção habitacional” não mudaria. Sua estrutura básica seria, portanto, universal, invariável e constante e, a fim de demonstrar esta tese, Turner descreve três projetos no Peru, de cujo desenvolvimento participou entre 1957 e 1962: um conjunto escolar construído em Tiabaya; um projeto de autoconstrução assistida (ou mutirão) em Arequipa e uma experiência de crédito habitacional na barriada de Huascarán, em Lima. No primeiro caso, um projeto convencional do Ministério da Educação foi substituindo por outro a ser realizado com técnicas construtivas e materiais locais, o que permitiria obter mais espaço com custo menor. Embora o conselho local tenha concordado com esta proposta, iniciou a construção em concreto e tijolos, o que inviabilizou sua execução devido ao alto custo final. Turner conclui que este malogro resultou de uma imposição, já que, para os locais, a técnica tradicional significava a pobreza e o atraso do qual queriam sair, devendo a escola ser um símbolo do progresso. O projeto de mutirão, por sua vez, gerou uma administração pesada por parte da agência pública encarregada e a necessidade de envolvimento de muitos atores públicos e privados com pouco resultado. A experiência, contudo, levava em conta as necessidades da população e o modo progressivo de construir nas invasões peruanas. O objetivo era diminuir o tempo de conclusão das habitações de 10 para 2 anos. Turner avalia que, neste caso, o erro foi a crença de que o staff profissional sabia produzir casas melhor do que as pessoas, o que tirou o controle da operação e as decisões cruciais das mãos dos “clientes”. Defende então o incentivo às “formas autônomas de organização” e observa que essas duas experiências lhe ensinaram que se deve trabalhar “com” as pessoas e não “para” elas. A experiência de Huascarán, por fim, demonstra as vantagens das ideias de autogestão e autonomia na produção habitacional, por meio da provisão de assistência técnica, da supervisão e da concessão de empréstimos a juros subsidiados. Os custos de operação para a agência pública, neste caso, caíram para 4%, contra os 8 ou 7 % das contratações diretas e os 15 a 25 % dos mutirões. Turner conclui que este método e aquele no qual o poder público fornece o material são mais produtivos do que a construção de conjuntos habitacionais e projetos em mutirão. Conclui também que, diante do crescimento demográfico dos países em desenvolvimento, suas migrações e pequenos orçamentos governamentais, seria impossível para a autoridade pública assumir a responsabilidade da provisão em massa de habitações, pois, nesse sistema, as decisões são verticais e a operação é inflexível. Por fim, Turner avalia que a “autoridade profissional” pode reduzir a capacidade de ouvir e de aprender com quem de fato sabe. No capítulo 7, Turner contrapõe a ideia de habitação como um produto pronto, à noção de habitar como um processo. Advoga o abandono dos padrões de completude da habitabilidade, em favor da avaliação do valor que as habitações têm para as pessoas. Na produção habitacional os problemas seriam definidos em termos de padrões materiais e os valores julgados pela qualidade do produzido. Turner entende que esses padrões poderiam ser, no máximo, indicadores do que se pode fazer pelas pessoas, cabendo a elas a verdadeira avaliação dos produtos. Como os principais atores econômicos, sociais e psicológicos da atividade habitacional, os usuários deveriam ter o poder de decisão. Demonstra então, ao longo do texto, as desvantagens das decisões centralizadas e padronizadas e as vantagens das locais, mais adaptadas e flexíveis. Considerando os componentes básicos da produção habitacional - terreno, ferramentas e materiais, trabalho especializado, administração e sistema de troca que permita se obter o necessário - a pessoa poderia, no sistema local, combinar esses componentes acordo com suas posses e o que for permitido. Os sistemas governamentais ou privados hierarquizados não permitiriam essa variedade de combinação, induzindo a decisões limitadas. Para Turner, a produção habitacional deve ser um “sistema aberto” no qual o usuário controla o projeto, a construção e a administração, pois isso reduz em até 50% o custo das construções. Ademais, a casa autoproduzida geraria mais satisfação e desenvolvimento pessoal e social, pois seu valor estaria não em suas propriedades físicas, mas na capacidade de suprir as necessidades do usuário. Definir “habitar” como ação deve então incluir os atores, suas ações, conquistas, motivações e expectativas, além de um número significativo de variáveis que podem afetar seus resultados. Uma delas seria a demanda, que depende dos meios que os atores possuem e desejam investir. Quanto mais baixo o nível de renda, melhor deve ser a relação entre demanda e processo habitacional. A localização seria também uma variável, tão importante quanto o padrão material da casa. Além disso, o tipo de posse e a segurança material, financeira e emocional. A variedade de escolhas então é grande e para entende-las e antecipa-las seria preciso identificar as funções humanas e existenciais não quantificáveis que o processo de habitar pode ter. Se localização, posse e abrigo são funções essenciais da casa, elas podem adquirir formas específicas de acordo com a ordem de prioridades de cada segmento social e conforme o contexto. Assim, para uma ação habitacional viável seria preciso identificar essas necessidades básicas e específicas, ter informações sobre os recursos habitacionais disponíveis nos setores comerciais, privados e públicos, bem como sobre os possuídos pelos usuários. Esse conjunto de fatores e sua variabilidade leva Turner a concluir pela impossibilidade de uma ação habitacional consistente por parte de estruturas centralizadas públicas ou privadas. Nas economias de escassez, as pessoas mais pobres possuem o núcleo dos recursos para a ação habitacional por meio de suas pequenas poupanças e capacidades coletivas empresariais e artesanais, que ultrapassariam muito a capacidade dos grandes sistemas. Entende que diante dessas circunstâncias, o curso correto da ação pública seria garantir o suprimento de terrenos, materiais, ferramentas e capacidades para os usuários, juntamente com o crédito para que possam compra-los, num sistema aberto cujo resultado seria produto do diálogo entre os que regulam e os que fazem. O correto seria então trabalhar de modo não autoritário, separando funções legislativas e reguladoras daquelas de provisão de serviços econômicos e sociais, do seu uso e da função executiva. Assim, cada combinação pode ser única e adaptada à cada contexto e capacidade.
Data do Preeenchimento: 
sexta-feira, 18 Abril, 2014 - 12:30
Pesquisador Responsável: 

Marcia Sant’Anna

Data da revisão: 
sexta-feira, 29 Agosto, 2014 - 12:30
Responsável pela Revisão: 

Daniel Juracy Mellado Paz

ISBN ou ISSN: 

13: 978-0-7506-6657-2 ou 10: 0-7506-6657-9

Autor(es): 

Paul Hereford Oliver

Onde encontrar: 

Disponível em pdf na Internet, em inglês.

Referência bibliográfica: 

OLIVER, Paul. Built to meet needs: cultural issues in vernacular architecture. Oxford: Architectural Press, 2006. 475 pp.

Eixos de análise abordados: 
Conceitos e métodos
Saberes tradicionais e espaço arquitetônico
Tecnologia tradicional no território e na edificação: vigências e usos contemporãneos
Construção autogerida em meio urbano: espaços e técnicas
Território e etnicidade
Dados sobre o autor(es) e obra: 
Paul Hereford Oliver nasceu em Nottingham, Inglaterra, em 1927. É historiador da arquitetura e escreve também sobre blues e outras formas de música afro-americana. Foi pesquisador do Oxford Institute for Sustainable Development da Oxford Brooks University e de 1978-1988 e Associated Head of the School of Architecture. É conhecido internacionalmente pelos seus estudos sobre arquitetura vernacular, em especial, como coordenador da Encyclopedia of Vernacular Architecture of the World (1997) e pelo World Atlas of Vernacular Architecture (2005). O livro Built to Meet Needs é uma coletânea, editada pela primeira vez em 2006, que reúne textos, artigos e conferências do autor, elaborados entre os anos de 1980 e 2002. 

 

Sumário obra: 

Acknowledgements vii

List of illustrations xi

Introduction xxi

Part I: Defining the field

1 - Why study vernacular architecture? (1978) - 3

2 - The importance of the study of vernacular architecture (1993) - 17

3 - Problems of definition and praxis (1999) - 27

Part II: Cultures and contexts

4 - Learning from Asante (2000) - 47

5 - Cultural traits and environmental contexts: Problems of cultural specificity and cross-cultural comparability (1999) - 55

6 - Huizhou and Herefordshire: A comparative study (2001) - 69

7-  Tout confort: Culture and comfort (1986) - 87

Part III: Tradition and transmission

8 - Vernacular know-how (1982) - 109

9-  Earth as a building material today (1983) - 129

10 - Handed down architecture: Tradition and transmission (1989) - 143

11-  Technology transfer: A vernacular view (2003) - 163

Part IV: Cultures, disasters and dwellings

12 - The cultural context of shelter provision (1978) - 185

13 - Earthen housing and cultures in seismic areas (1984) - 197

14 - Factors affecting the acceptability of resettlement housing (1984) - 223

15 - Rebirth of a Rajput village (1992) - 247

Part V: Conservation and continuity

16 - Conserving the vernacular in developing countries (1986) - 267

17 - Re-presenting and representing the vernacular: The open-air museum (2001) - 287

18 - Perfect and plain: Shaker approaches to design (1990) - 315

Part VI: Suburbs and self-builders

19 - Individualizing Dunroamin (1992) - 333

20 - Round the houses (1983) - 349

21 - Kaluderica: High-grade housing in an illegal settlement (1989) - 365

Part VII: Meeting the challenge of the twenty-first century

22 - Tradition by itself (2000) - 383

23 - Ethics and vernacular architecture (2000) - 395

24 - Necessity and sustainability: The impending crisis (2002) - 411

Conferences and publications - 427

Index - 431

Resumo : 
Nesta obra o autor ressalta a grande variedade existente de formas construídas no campo da arquitetura vernacular, em decorrência da diversidade dos ambientes, economias, tecnologias, capacidades herdadas, estruturas familiares e sociais, sistemas simbólicos e de crenças das várias sociedades humanas. Essa variedade expressa também as diferentes demandas e valores inerentes a cada cultura. Este livro é uma reunião de artigos, conferências e estudos feitos por Oliver a partir dos anos de 1980, os quais organiza por temas. A obra, contudo, não é uma tentativa de classificar e descrever em detalhe as formas da arquitetura vernacular em todo o mundo como foi feito na Encyclopidia of Vernacular Architecture of the World, também coordenada pelo autor, ou no seu livro Dwellings: The Vernacular House World-Wide, ambos ainda não editados no Brasil. Alguns capítulos deste livro, contudo, são dedicados a certas idéias introduzidas nesses outros livros e que aqui são mais desenvolvidas. O autor declara na Introdução que o principal objetivo dessa publicação é considerar os fatores culturais que sustentam a arquitetura vernacular. O livro está organizado de acordo com os seguintes temas: 1) “Definindo o campo”, onde estão reunidos textos que tratam de questões conceituais como a definição e aplicação do termo “arquitetura vernacular”; 2) “Culturas e contextos”, onde se relacionam traços culturais e aspectos ambientais com as tradições construtivas; 3) “Tradição e transmissão” onde são trabalhadas questões relacionadas à transmissão e à continuidade das tradições construtivas; 4) “Culturas, desastres e moradias” que comenta as atitudes governamentais e da população sobre a questão da moradia diante e em conseqüência de desastres naturais; 5) “Conservação e continuidade”, que aborda as questões culturais relacionadas à continuidade e à conservação da arquitetura vernacular; 6) “Subúrbios e autoconstrutores” que trata das expressões da arquitetura vernacular constituídas pelas manifestações de individualidade que estão presentes na arquitetura dos subúrbios e nas experiências de autoconstrução; 7) “Enfrentando o desafio do século XXI” onde se identifica o lugar e o papel da arquitetura vernacular nas políticas de diminuição do déficit habitacional e se defende a participação das culturas afetadas por essas políticas. Cada uma dessas partes do livro é composta por textos elaborados em períodos distintos. Todos os textos dessa coletânea são fartamente ilustrados com desenhos e fotografias sobre arquitetura popular em todo o mundo, especialmente na África, Ásia e Europa, mas também na América Latina. Para efeito deste guia de fontes, 12 artigos considerados importantes para a abordagem de questões ligadas aos eixos de pesquisa aqui privilegiados foram fichados de modo independente. 

 

Data do Preeenchimento: 
segunda-feira, 6 Agosto, 2012 - 20:30
Pesquisador Responsável: 

Marcia Sant’Anna

Data da revisão: 
terça-feira, 1 Julho, 2014 - 12:00
Responsável pela Revisão: 

Daniel Juracy Mellado Paz

Observação: 
Considerando os eixos da pesquisa que orientam a seleção de obras para o Guia de Fontes sobre Arquitetura Popular foram fichados 13 textos, os quais comporão fichas específicas subordinadas e numeradas a partir desta. 
Autor(es): 

Carlos Nelson Ferreira dos Santos

Onde encontrar: 

Biblioteca da Faculdade de Arquitetura da UFBA

Referência bibliográfica: 

SANTOS, Carlos Nelson Ferreira dos. Movimentos Urbanos no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1981.

Eixos de análise abordados: 
Conceitos e métodos
Construção autogerida em meio urbano: espaços e técnicas
Dados sobre o autor(es) e obra: 
Carlos Nelson Ferreira dos Santos (1943-1989) foi arquiteto, antropólogo e urbanista. Carioca, graduou-se pela Faculdade Nacional de Arquitetura da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), realizou seu mestrado em Antropologia Social pelo Museu Nacional da UFRJ e o doutorado em arquitetura e urbanismo pela Universidade de São Paulo. Foi pesquisador visitante do Massachusetts Institut of Technology (MIT), Chefe do Centro de Pesquisas do IBAM e professor do Departamento Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal Fluminense. Muito atuante no campo do urbanismo no Rio de Janeiro, Carlos Nelson foi um dos pioneiros da ação em prol da urbanização de favelas. Escreveu diversos livros sobre este tema, sobre movimentos sociais urbanos, processo de urbanização e metropolização no Brasil. A obra fichada é vista por especialistas como uma das suas mais importantes e corresponde à publicação de sua pesquisa para a dissertação de mestrado que defendeu em 1979 junto ao Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social do Museu da Nacional da UFRJ, com o título de Três Movimentos Sociais Urbanos no Rio de Janeiro. A edição em foco é a primeira desta obra. 
Sumário obra: 
Introdução 
Brás de Pina 
Morro Azul 
Catumbi 
Conclusões 
Bibliografia 
Resumo : 
O autor dedica-se nesta obra a construir uma teoria sobre movimentos sociais urbanos com base na etnografia de três movimentos dessa natureza ocorridos no Rio de Janeiro, entre os anos 1960 e 1970, em consequência de programas de erradicação de favelas e de renovação urbana. Debate, ainda, e desconstrói, com base nessas experiências, o conceito apresentado por Manuel Castells, no livro Movimientos Sociales Urbanos (Madrid: Siglo Veintiuno Eds, 1974) e o “mito”, então corrente, da existência de “comunidades faveladas”. Aponta o caráter transitório e derivado de momentos de crise que fundamenta a ação coletiva dos favelados e sua integração, em nível individual e coletivo, à lógica capitalista que preside a produção do espaço urbano, inclusive no que toca à apropriação de seus símbolos arquitetônicos e urbanísticos de status, por ocasião da implementação de planos de reurbanização. Assim, o tema da arquitetura e do assentamento popular não são os focos principais dessa obra, embora informações interessantes a esse respeito surjam no bojo dos trabalhos de campo desenvolvimentos nas três localidades examinadas: a favela de Brás de Pina, próxima à Av. Brasil; a favela do Morro Azul, no Flamengo, e o bairro do Catumbi, próximo ao centro da cidade. Essas informações encontram-se principalmente nos capítulos relativos a Brás de Pina e Morro Azul e tratam da história dessas ocupações, sua formação inicial e desenvolvimento dos espaços dos “barracos” – que ainda predominavam nas favelas cariocas – e do surgimento de uma arquitetura popular em alvenaria no âmbito dos planos de urbanização implementados ou idealizados. Sobre Brás de Pina, o autor assinala o esforço dos moradores na construção do terreno do assentamento, a partir do aterramento progressivo de uma área pantanosa. Assinala que as melhores casas e os espaços com melhor infraestrutura localizavam-se nas áreas ocupadas a mais tempo, mas sem relação direta com a renda dos moradores. Composto basicamente de barracos de madeira, muitos dos quais sobre palafitas, o assentamento possuía algumas ruas retilíneas e largas como prolongamentos de outras do bairro vizinho, sendo as demais, becos tortuosos que, na maioria, constituíam vias sem saída. A experiência de Brás de Pina adquiriu notoriedade por ter sido a primeira a advogar e realizar um plano de reurbanização, em reação à então vigente política de remoção. Foi conduzida, apesar dos problemas e contradições surgidos, de modo a promover a participação dos moradores, admitindo-se “padrões não convencionais para os materiais e espaços de moradia”, o que permitiu que os habitantes desenhassem ou escolhessem o desenho de suas casas nos novos lotes delimitados. Contudo, não eram obrigados a construí-las por ocasião da transferência para os novos lotes,  mas apenas um banheiro ligado à rede de esgoto, podendo-se remontar os barracos no fundo, deixando-se a frente do lote livre para a nova construção. O autor aponta como traços principais das casas desenhadas ou escolhidas pelos moradores, a divisão em sala, cozinha, banheiro, área de serviço e dois quartos e a proposição de pequenas varandas e corredores – elementos, em geral, inexistentes nos barracos. Conclui que havia nas casas desenhadas pelos moradores uma tendência de “imitar” apartamentos cujas plantas são anunciadas nos jornais, incorporando-se também seus signos de status. O autor assinala ainda o surgimento, na implementação do plano de urbanização, de ações especulativas como a venda de “direitos” de permanência por parte de moradores que não tinham condições de construir, além da construção de espaços para aluguel. Com isso, ressalta a lógica capitalista de produção do espaço que também ocorre nesses casos, advogando que, ao invés de serem contidos ou ignorados, se busque aprender com eles. O assentamento de Morro Azul, por sua vez, é descrito como um “típico aglomerado irregular de moradia em encosta”, formado majoritariamente por barracos de madeira construídos em torno de becos íngremes. Embora numa escala muito menor do que em Brás de Pina, no Morro Azul a maioria dos moradores optou por construir suas casas segundo seus próprios desenhos, mas aí também não houve muita divergência entre estes e os resultantes de apoio técnico especializado. Devido à declividade do terreno, houve o aproveitamento do desnível para um porão ou cômodo de aluguel, mas o modelo de casa com sala, dois quartos, corredor, banheiro e cozinha foi o predominante. O autor classifica essas plantas como “racionalistas” e relacionadas às formas correntes de morar na cidade, o que também poderia ser dito sobre as casas de Brás de Pina. Estabelece uma comparação entre essas casas e os barracos existentes em Morro Azul, os quais tinham dimensões entre 4 e 35 m2 e divisões internas muito variadas, sendo o cômodo mais constante a cozinha. Nos casos em que existiam, os quartos eram mínimos e o corredor foi detectado em apenas um barraco. Os interiores desses barracos são descritos como atravancados, com móveis utilizados como divisórias, e circulação interna feita por cima deles ou a partir do recolhimento de camas e colchões durante o dia. Para o autor, a presença de sala e corredor constituiria um traço distintivo entre barraco e casa de alvenaria. No relato dessas experiências de urbanização, o autor questiona a prática do mutirão, observando que, sempre que possível, os moradores contrataram os serviços de construção, dedicando-se pessoalmente a ela apenas no fim de semana. O livro é ilustrado com desenhos e fotografias dos assentamentos comentados. 
Data do Preeenchimento: 
quinta-feira, 15 Maio, 2014 - 12:15
Pesquisador Responsável: 

Marcia Sant’Anna

Data da revisão: 
quarta-feira, 2 Julho, 2014 - 12:15
Responsável pela Revisão: 

Daniel Juracy Mellado Paz

Observação: 
Referências bibliográficas citadas e de interesse para o estudo da arquitetura e do assentamento popular:
 
MEDINA, Carlos Alberto. “A favela como uma estrutura atomística: elementos descritivos e construtivos”. In: América Latina, 12, n° 3, Rio de Janeiro, 1969.
SALMEN, Lawrence. “Housing alternatives for the carioca working class: a comparison between favelas and casas de cômodos”. In: América Latina. Rio de Janeiro, 1970.
SANTOSA, Carlos Nelson F. dos. “Some considerations about possibilities of squatter settlement development plans”. Cambridge, Massachusetts: MIT, documento xerox.
TURNER, John. «Habitação de baixa renda no Brasil: políticas atuais e oportunidades futuras”. In: Revista de Arquitetura. Rio de Janeiro, 1968.
ISBN ou ISSN: 

13: 978-0-7506-6657-2 ou 10: 0-7506-6657-9

Autor(es): 

Paul Hereford Oliver

Onde encontrar: 

Disponível em pdf na Internet, em inglês.

Referência bibliográfica: 

OLIVER, Paul. “Individualizing Dunroamin”. In: OLIVER, P. Built to meet needs: cultural issues in vernacular architecture. Oxford: Architectural Press, 2006, pp. 333-348.

Eixos de análise abordados: 
Construção autogerida em meio urbano: espaços e técnicas
Dados sobre o autor(es) e obra: 

Paul Hereford Oliver nasceu em Nottingham, Inglaterra, em 1927. É historiador da arquitetura e escreve também sobre blues e outras formas de música afro-americana. Foi pesquisador do Oxford Institute for Sustainable Development da Oxford Brooks University, de 1978 a 1988, e Associated Head of the School of Architecture. É conhecido internacionalmente pelos seus estudos sobre arquitetura vernacular, em especial, como editor da Encyclopedia of Vernacular Architecture of the World (1997) e pelo World Atlas of Vernacular Architecture (2005). A enciclopédia reúne pesquisas e estudos sobre arquitetura vernacular em todas as regiões do mundo, sendo a principal referência sobre o tema com esta abrangência até o momento. O texto em exame é datado de 1982 e está publicado na coletânea em referência na parte que trata da transmissão das técnicas construtivas tradicionais. 

Resumo : 
O artigo trata dos subúrbios ingleses, de sua arquitetura e de como os habitantes adaptaram e personalizaram suas habitações. Oliver recorda que os subúrbios ingleses sempre foram alvo de desprezo, preconceito e desqualificação por parte da crítica de arquitetura e do público, embora tenham surgido de uma notável política de solução do déficit habitacional, de provisão de moradias higiênicas e de erradicação dos cortiços vitorianos, realizada entre as duas grandes guerras. Ressalta que os CIAM condenaram os subúrbios como um dos grandes males do século XX. Odiadas por arquitetos e urbanistas, as edificações suburbanas eram vistas como mal desenhadas e planejadas, vulgares e de gosto individualista. Segundo Oliver, parte dessa propaganda buscava abrir caminho para os blocos modernistas que, a partir dos anos 1950, foram construídos por todo o país. Registra como a autoconstrução foi inibida na Inglaterra e explica o sucesso das casas semi-geminadas dos subúrbios pela quantidade de opções e de detalhes estilísticos que era oferecida pelos incorporadores e pela possibilidade de modificação que ofereciam, ainda que cosmética. Observa que a personalização é fruto de um desejo individual de enraizamento no espaço novo, que começa, em geral, no terceiro ano quando as casas precisam ser pintadas. Outro meio de personalização é dar nome às casas que evocam a região de origem dos moradores; pavimentar jardins; fazer canteiros e povoar o exterior com figuras de gnomos e outras. Essas pequenas figuras funcionariam, segundo Oliver, como pequenos falos para marcar território. Os vitrais também seriam formas de personalização e o estudo do seu simbolismo revelaria muito das aspirações e desejos dos seus donos, assim como os interiores e os objetos de decoração. Oliver avalia que no centro dos ataques às casas suburbanas estava seu suposto individualismo, visto então como anti-social pelo pensamento modernista. Nos blocos modernistas, por exemplo, qualquer meio de individualização estava excluído no interior e no exterior. Apesar disso, os subúrbios floresceram e sobreviveram e mesmo os construídos nos anos 1920 jamais se tornaram locais de criminalidade, ao contrário dos conjuntos habitacionais do governo e dos blocos modernistas. Oliver reconhece que o desemprego e falta de equipamentos comunitários pesaram nesse desfecho, mas a humanização e a transformação de alguns desses blocos, teria, na sua opinião, melhorado o quadro. Acha, por fim, que o sucesso das casas suburbanas tem a ver com a disponibilidade de terreno, a configuração dos assentamentos, sua proximidade com meios de transporte e serviços públicos. Essa defesa tem o objetivo de chamar a atenção dos arquitetos para a importância da escolha e do design que facilita a personalização. 
Data do Preeenchimento: 
sexta-feira, 10 Agosto, 2012 - 11:30
Pesquisador Responsável: 

Marcia Sant’Anna

Data da revisão: 
terça-feira, 1 Julho, 2014 - 11:00
Responsável pela Revisão: 

Daniel Juracy Mellado Paz

ISBN ou ISSN: 

85-87220-43-8

Autor(es): 

Paola Berenstein Jacques

Onde encontrar: 

Biblioteca da Faculdade de Arquitetura da UFBA

Referência bibliográfica: 
JACQUES, Paola Berenstein. Estética da ginga: a arquitetura das favelas através da obra de Hélio Oiticica. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2003, 2ª edição. 
Eixos de análise abordados: 
Conceitos e métodos
Construção autogerida em meio urbano: espaços e técnicas
Dados sobre o autor(es) e obra: 
Paola Berenstein Jacques possui graduação em Arquitetura e Urbanismo pela UFRJ, especialização em Teoria e Projeto de Arquitetura e Urbanismo (CEAA) pela ENSA de Paris-Villemin com estágio na AA School (Londres), mestrado em Filosofia da Arte (DEA) e doutorado em História da Arte e da Arquitetura pela Université de Paris I (Pantheon-Sorbonne), estágio recém-doutor no PROURB/UFRJ, pós doutorado no LAIOS/IIAC/CNRS e estágio sênior no LAA/LAVUE/CNRS. É professora permanente da Faculdade de Arquitetura, do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo e colaboradora do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da UFBA. Atualmente coordena projeto de pesquisa PRONEM (FAPESB/CNPq), o grupo de pesquisa Laboratório Urbano e a linha de pesquisa Processos Urbanos Contemporâneos (PPG-AU/FAUFBA). É pesquisadora associada ao Laboratoire Architecture/Anthropologie (LAA/LAVUE/CNRS - ENSA Paris-La-Villette) e participa das redes internacionais de pesquisa LIEU e Ambiances (Ministério da Cultura/França). É autora dos livros: Les favelas de Rio (Paris, lHarmattan, 2001); Estética da Ginga (Rio de Janeiro, Casa da Palavra, 2001); Esthétique des favelas (Paris, lHarmattan, 2003); Elogio aos errantes (Salvador, Edufba, 2012); co-autora de Maré, vida na favela (Rio de Janeiro, Casa da Palavra, 2002) ; organizadora de Apologia da deriva (Rio de Janeiro, Casa da Palavra, 2003), Corps et décors urbains (Paris, lHarmattan, 2006), Corpos e cenários urbanos (Salvador, Edufba, 2006) e CORPOCIDADE: debates, ações e articulações (Salvador, Edufba, 2010). 
Sumário obra: 
APRESENTAÇÃO: O PERCURSO 
INTRODUÇÃO 
Arquitetura vernácula 
Estética das favelas 
Figuras conceituais 
Notas 
FRAGMENTO 
Os abrigos das favelas 
A experiência de Hélio Oiticica na Mangueira 
A noção de Fragmento 
Notas 
LABIRINTO
Os percursos das favelas 
Os labirintos de Hélio Oiticica 
A ideia de Labirinto Notas 
RIZOMA
O crescimento das favelas 
O desenvolvimento do pensamento de Hélio Oiticica 
O conceito de Rizoma 
Notas 
EPÍLOGO: ESPAÇO-MOVIMENTO
Notas 
Resumo : 
O livro questiona o histórico desprezo acadêmico pelas manifestações arquitetônicas vernaculares e o status de não-arquitetura (e, portanto, de objeto fora dos interesses desse campo disciplinar) que é dado aos assentamentos populares das grandes cidades brasileiras – as favelas. O objeto da obra é então a própria ideia de arquitetura. A autora advoga a existência de um dispositivo arquitetônico e urbanístico específico e de uma estética própria das favelas, esta última abordada a partir do olhar do artista tropicalista Helio Oiticica. Analisa este dispositivo e o processo espaço-temporal de construção desses assentamentos com o apoio das noções de Fragmento, Labirinto e Rizoma, que toma emprestado do pensamento pós-estruturalista de Foucault, Deleuze e Derrida. O processo de formação das favelas é definido como um processo arquitetônico e urbanístico vernáculo singular com características próprias, que produz uma arquitetura composta de fragmentos (os barracos), uma aglomeração de arquiteturas que forma labirintos, os quais, por sua vez, se desenvolvem e ocupam a cidade como rizomas. A arquitetura das favelas é definida como “vernácula” a partir do Dictionnaire de l’urbanisme de Choay (Paris, P. U. F., 1988) que a conceitua como a “arquitetura característica de uma região ou como arte local”. Sua motivação inicial é abrigar o indivíduo ou a família numa peça única construída com materiais heterogêneos (restos e sobras de materiais de construção ou de produtos da indústria) que determinam a configuração do espaço. O processo de substituição de materiais é constante e decorrente do que o favelado vai encontrando. A casa de alvenaria que resulta dessa substituição já não é tão fragmentada, mas permanece fragmentária, pois nunca é totalmente concluída. Assim, a arquitetura da favela é uma arquitetura do acaso, sem projeto e produto de bricolagem. Sua poesia ou estética viria justamente desse resultado único e inesperado. Obedeceria, portanto, a uma lógica distinta daquela da arquitetura projetada e ligada, como a “arte ambiental” dos Parangolés de Hélio Oiticica, à improvisação, ao movimento, ao anonimato e ao coletivo. Como fragmento sua lógica é também ligada ao acaso, ao aleatório, ao efêmero, à incompletude e diversa, portanto, da que toma a arquitetura como algo fixo, durável, sólido e esteticamente atrelado à ideia de unidade e a uma noção espacial que abole o tempo e suas transformações. Com relação ao espaço da favela, a autora o analisa a partir da noção de labirinto não projetado. Aponta que o espaço da favela se forma de modo análogo aos barracos, sem projeto, mas somente é percebido como um labirinto, isto é, como um espaço desorientador por “estrangeiros”. Embora labiríntico no sentido da emoção que provoca, os favelados não se perdem no espaço da favela e o ato de percorrê-lo em seus meandros e “quebradas” promoveria a (ou derivaria da) ginga dos sambistas. Em outras palavras, o espaço da favela solicitaria e provocaria a ginga em seu percurso. O reconhecimento desse espaço como um labirinto espontâneo foi feito também por Oiticica ao criar instalações – os Penetráveis – cada vez mais abertas e provocadoras de situações criativas e experiências diversas. A autora opõe, assim, a ocupação espontânea das favelas, às cidades e espaços projetados, normalmente, limitadores e autoritários. O último capítulo trata do crescimento e da formação de territórios nesses assentamentos. A autora utiliza o conceito de Rizoma, desenvolvido por Deleuze e Derrida para descrever o processo de territorialização do que chama de “ocupações naturais e selvagens”. Explica que a ocupação das favelas se dá segundo a lógica do rizoma, ou do mato, que penetra e se desenvolve nos interstícios, nas frestas, com forte impulso de reprodução e sobrevivência em condições escassas. Mas a imagem do rizoma permitiria descrever um tipo de processo de crescimento e seu movimento, mas não corresponderia a um modelo formal ou sistema, sendo explicitado apenas a partir de certos princípios ou “características aproximativas” como: conexão e heterogeneidade (qualquer ponto do rizoma pode se conectar com qualquer outro); multiplicidade (um sistema aberto e voltado para o exterior); ruptura assignificante (pode ser rompido em qualquer lugar, mas retoma qualquer uma de suas linhas); cartografia e decalcomania (não se sujeita a qualquer modelo estrutural ou generativo). O rizoma descreve então o processo de aumento do território por meio de múltiplas e sucessivas desterritorializações, o que seria próprio das favelas que têm limites e horizontes sempre móveis. Por meio do movimento, propriedade que caracteriza os conceitos de Fragmento, Labirinto e Rizoma, a autora chega à noção de “espaço-movimento” para definir a formação, desenvolvimento e crescimento das favelas e de suas arquiteturas. Esta noção remete à ação dos que constroem, transformam e percorrem continuamente esses assentamentos e também à ideia de participação. Na conclusão, advoga que as favelas possam também ser vistas como patrimônio, mas preservadas não em sua arquitetura ou urbanismo. O seu caráter móvel e de criação coletiva seria o elemento a preservar, o que implicaria manter a participação dos habitantes na construção dos seus espaços arquitetônico e urbano. Para tanto, a autora advoga a formação de um novo tipo de arquiteto: o arquiteto-urbano, que se ocuparia desses espaços e cujo papel seria, além de organizar fluxos, suscitar, traduzir e catalisar os desejos dos habitantes. 
Pesquisador Responsável: 

Marcia Sant’Anna

Data da revisão: 
quarta-feira, 2 Julho, 2014 - 14:00
Responsável pela Revisão: 

Daniel Juracy Mellado Paz

Autor(es): 

Gessiane Oliveira Caldas

Onde encontrar: 
Biblioteca da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo – UFBA
Referência bibliográfica: 

CALDAS, Gessiane Oliveira. Espaços Urbanos – Uma Produção Popular – Qualificação e Requalificação do Bairro George Américo – Feira de Santana – Salvador – BA (1987 – 1998). Dissertação de Mestrado – Mestrado em Arquitetura e Urbanismo, na área de concentração em Desenho Urbano - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Bahia (UFBA - Salvador, 1998).

Eixos de análise abordados: 
Construção autogerida em meio urbano: espaços e técnicas
Sumário obra: 
Apresentação 
Introdução 
CAPÍTULO 1 – Conhecendo os pressupostos 
CAPÍTULO 2 – Conhecendo a cidade de Feira de Santana 
CAPÍTULO 3 – Conhecendo o bairro de George Américo 
CAPÍTULO 4 – A ocupação hoje (1998) diagnose e proposição 
Considerações finais e carta do George Américo 1988
Bibliografia 
Anexos
Resumo : 
A dissertação trata dos aspectos políticos, sociais e organizativos da construção do habitat popular e também da participação popular nas questões ligadas à produção do espaço urbano. A autora enfatiza a produção do espaço urbano pela iniciativa popular, focalizando o movimento social organizado em Feira de Santana/BA para construção do bairro George Américo, produzido em 1987 por ação popular planejada pelo movimento dos sem teto. O capítulo 3 focaliza as questões sociais, políticas e organizacionais da produção habitacional do bairro que, apesar das carências de infraestrutura e de não ter sido construído com a perspectiva de valorização do espaço, não é considerado pelos moradores uma favela devido à sua localização e organização espacial. A divisão equitativa do espaço gerou um ordenamento linear entre as quadras, o alinhamento das ruas e a regularidade dos lotes que justificam para os moradores esta visão. Esta regularidade teria ocorrido em decorrência da ação conjunta de um escritório de engenharia com a Associação dos Sem Teto, que ao interagirem, desencadearam uma ação “planejada” de produção do espaço urbano. Para a autora, esta ação teria evitado a precariedade do bairro quanto à configuração espacial, ao contrário de outros locais ocupados por iniciativa popular cuja configuração espacial resultaria “aleatória”. Segundo a autora, este trabalho tem também a intenção de ressaltar o engajamento e a responsabilidade social do profissional técnico em situações e movimentos dessa natureza, e demonstrar o potencial de transformação da realidade que tem a interação entre saber técnico e iniciativa popular. 
Data do Preeenchimento: 
segunda-feira, 24 Março, 2014 - 11:15
Pesquisador Responsável: 

Estudante bolsista: Adaléia Freire

Data da revisão: 
quarta-feira, 9 Julho, 2014 - 12:00
Responsável pela Revisão: 

Márcia Sant’Anna

ISBN ou ISSN: 

052156422 0

Autor(es): 

Cristiane Rose de Siqueira Duarte

Onde encontrar: 

Biblioteca da Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)

Referência bibliográfica: 

DUARTE, Cristiane R. S. Favelados (Rio de Janeiro). In: OLIVER, Paul (edit). Encyclopedia of Vernacular Architecture of the World. Cambridge - UK: Cambridge University Press, 1997, p. 1689.

Eixos de análise abordados: 
Construção autogerida em meio urbano: espaços e técnicas
Dados sobre o autor(es) e obra: 
Cristiane Rose de Siqueira Duarte possui graduação em Arquitetura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1981), graduação em Architecture - École d’Architecture de Paris-La Villette (1983), mestrado pela Université de Paris XII (Paris-Val-de-Marne) (1985) e doutorado pela Université de Paris I (Pantheon-Sorbonne) (1993). Atualmente é professora Titular da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Tem experiência na área de Arquitetura e Urbanismo, com ênfase em Projeto do Espaço Urbano, atuando principalmente nos seguintes temas: aspectos culturais da construção do espaço, acessibilidade e etnografia da cidade. Recebeu prêmios internacionais e possui diversos trabalhos publicados em Arquitetura e Urbanismo. 
Informações obtidas em: http://lattes.cnpq.br/9648531284712237
 
Resumo : 
Neste verbete, as favelas cariocas são sumariamente descritas em termos de sua formação e arquitetura, ressaltando-se, no primeiro caso, a relação fundamental desses assentamentos com a proximidade das áreas de trabalho. Quanto à casa da favela, explica-se a progressiva transformação do barraco de madeira, ou de materiais disponíveis e reciclados, em casa, de caráter mais permanente, feita de alvenaria de tijolos e estrutura de concreto. Em termos de espaço, a transformação do barraco de um só cômodo (com área total entre 10 e 18 m2) em casa com várias divisões internas e até mais de um andar é rapidamente descrita. A apropriação do espaço ao redor é também ressaltada e descrita como resultado de estratégias de uso imediato do entorno com atividades de lazer ou domésticas como lavar roupa, dentre outras. Ainda em termos de arquitetura, se dá destaque à estrutura eficiente dessas construções, especialmente no que diz respeito à sua ancoragem nas rochas existentes por meio de apoios inicialmente de madeira e depois feitos em concreto. Com isso, as construções são elevadas do solo e permitiriam, sem problemas, a passagem das águas e enxurradas das fortes chuvas da cidade do Rio de Janeiro. O favelado é genericamente definido como alguém de origem rural, em geral do sertão, que encontra esta forma de sobreviver na cidade grande, trazendo, assim, para as favelas, as suas tradições. A autora assinala ainda a existência nesses assentamentos de um forte senso de comunidade. 
Data do Preeenchimento: 
quarta-feira, 23 Abril, 2014 - 11:15
Pesquisador Responsável: 

Marcia Sant’Anna

Data da revisão: 
terça-feira, 1 Julho, 2014 - 11:15
Responsável pela Revisão: 

Daniel Juracy Mellado Paz

Observação: 

Bibliografia citada e recomendada:

DUARTE, Cristiane R. S. “Adaptation and Change: Low Cost Housing in Rio de Janeiro”. In: BOURDIEU, J.P. and ALSAYYAD, First World: Third World: Duality and Coincidence in Traditional Dwellings and Settlements. Berkeley: University of California Press, 1990.

DUARTE, Cristiane R. S. Intervention publique et Dynamique Sociale dans la Production d’un Nouvel Espace de Pauvreté Urbaine – Vila Pinheiros à Rio de Janeiro. Paris: Université de Paris I – Sorbonne, 1993 (doctoral thesis)

DA MATTA, Roberto. A casa e a rua. Rio de Janeiro: Zahar, 1985.

VALLADARES, Licia. Propostas Alternativas de Intervenção em Favela: o caso do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: IUPERJ, 1985

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