Bibliotecas do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN
Referência bibliográfica:
MESTRES e Artífices de Pernambuco/coordenação de Andrea Zerbetto e Rodrigo Torres. Brasília-DF: Iphan, 2012.
Eixos de análise abordados:
Tecnologia tradicional no território e na edificação: vigências e usos contemporãneos
Dados sobre o autor(es) e obra:
Andrea Zerbetto é arquiteta e urbanista formada pela Escola de Arquitetura e Urbanismo da UFMG, em 1997. É também especialista em História da Cultura e da Arte pela Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Rodrigo Torres é arquiteto e urbanista graduado pela UFMG em 1999. Os organizadores dessa obra são sócios da ARO Arquitetos Associados, empresa que venceu a licitação lançada pela UNESCO, a partir de financiamento do Programa Monumenta do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), para a realização da pesquisa que resultou na publicação deste livro. Esta pesquisa, se insere, se insere no Programa Mestres e Artífices, desenvolvido pelo Departamento do Patrimônio Imaterial do IPHAN.
A obra corresponde à primeira publicação relacionada ao desenvolvimento do Projeto Mestres e Artífices, implantado pelo Departamento do Patrimônio Imaterial do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, em parceria com o Programa Monumenta e Unesco- Brasil. O objetivo desse projeto, de âmbito nacional, é o mapeamento, identificação e cadastramento dos mestres de ofícios ligados às técnicas construtivas tradicionais ainda em vigência no Brasil, bem como dos ofícios artísticos que integram construções realizadas com essas técnicas. A publicação em exame refere-se ao estado de Pernambuco, mas o foco principal da pesquisa ocorreu em Recife e em municípios de sua região metropolitana, notadamente Olinda e Igarassu, onde vivem os mestres e artífices mais experientes e conhecidos e onde se concentra o seu principal mercado de trabalho, o que é decorrência da concentração nesta área de edifícios antigos e obras de conservação e restauração. Essa concentração e essas atividades têm mantido em vigência essas técnicas e saberes em Pernambuco. Nesta publicação, as técnicas construtivas tradicionais são definidas como “processos e procedimento de utilização dos materiais de construção, transmitidos pelos costumes e práticas passados de geração em geração, de pai para filho”. Na Introdução resgata-se sua história e a dos materiais mais utilizados em Pernambuco a partir da colonização portuguesa, além da dos carpinas-marceneiros e ferreiros, que faziam parte da tripulação cativa das embarcações portuguesas, e dos mestres oleiros, alvanéis e canteiros que vieram com as primeiras levas de colonizadores. As técnicas desses mestres foram adaptadas ao solo argiloso, ao calcário e ao arenito e à grande abundância de madeiras da região. Com esses materiais e por meio dos sistemas construtivos da alvenaria de tijolos e de pedras, das estruturas e componentes de madeira e dos revestimentos e pinturas a base de cal desenvolveu-se uma arquitetura de base portuguesa que dominou os edifícios mais importantes e a arquitetura residencial. Nas edificações mais simples, o sistema utilizado era a taipa de mão, com estrutura e trama em madeira e telhados de palha. A cultura naval dos primeiros carpinas revelava-se nas tesouras das coberturas, em especial as denominadas de canga de burro, que lembram quilhas de barco invertidas. Foi no período colonial que se desenvolveu em Pernambuco a técnica da cantaria, bem como a arte dos marceneiros, dos entalhadores e dos pintores envolvidos na construção das grandes igrejas pernambucanas. A riqueza proporcionada pela produção do açúcar alimentou o desenvolvimento dessas técnicas que, afirma-se, não teriam sido produto de contatos com indígenas e africanos, mas sim oriundas da adaptação da tradição portuguesa. Observa-se que poucos mestres ainda sobrevivem, sendo a maioria dos profissionais em atividades, seus discípulos. Avalia-se, contudo, que essas técnicas estariam “adormecidas” em cidades do interior como Exu, Petrolina, Araripina, Salgueiro, Floresta e outras. Organizada a partir dos ofícios que lidam com determinado material, a obra registra a história de vida, as principais obras, o conhecimento, a técnica, o aprendizado e as formas de transmissão do conhecimento de 37 profissionais destacados, assim distribuídos: seis profissionais da pedra – os mestres canteiros ou cantéis –; sete pedreiros ou alvanéis – mestres das alvenarias e das argamassas de areia e da cal –; três mestres estucadores – pedreiros especializados que com formas, argamassas e gesso produzem e restauram ornamentos artísticos em baixo relevo –; seis profissionais do ferro – os mestres ferreiros ou forjadores –; sete profissionais da madeira – mestres carpinteiros, mestres marceneiros, mestres torneiros e mestres entalhadores –; dois mestres pintores de alvenarias; dois mestres restauradores, conservadores e confeccionadores de azulejos; e, por fim, sete mestres e uma mestra ligados à produção artesanal de telhas, lajotas e ladrilhos cerâmicos e hidráulicos na região rural de Bezerros, já fora da área foco da pesquisa. O estudo apresenta também oficiais e artesãos ligados aos ofícios tratados e a obra é fartamente ilustrada com fotografias dos mestres entrevistados, obras, peças e objetos, bem como de ferramentas e de alguns processos de trabalho. Embora a publicação tenha o mérito de identificar os principais mestres e artífices em atividade, cabem algumas ressalvas: as descrições das técnicas e dos modos de fazer são superficiais, informando-se mais sobre a história de vida dos entrevistados do que sobre os seus saberes. Além disso, foram incluídos alguns profissionais cujo aprendizado ou formação não se deu no âmbito do canteiro ou da transmissão oral ou informal, mas sim por meio de cursos, inclusive fora do Brasil, o que não permitiria inseri-los no universo da cultura tradicional e popular ligada à construção e, ainda, no próprio conceito de técnica construtiva tradicional expresso na Introdução da publicação.
Biblioteca da Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
Referência bibliográfica:
CAVALCANTI, Maria Betânia Uchoa. “Pernambuco: Zona da Mata”. In: OLIVER, Paul (edit). Encyclopedia of Vernacular Architecture of the World. Cambridge - UK: Cambridge University Press, 1997, p. 1.631-1.632.
Eixos de análise abordados:
Saberes tradicionais e espaço arquitetônico
Construção autogerida em meio urbano: espaços e técnicas
Dados sobre o autor(es) e obra:
Maria Betânia Uchôa Cavalcanti Brendle é PhD em Desenho Urbano pelo Joint Centre for Urban Design, Oxford Brookes University (1994), com especialização em Restauração de Monumentos Históricos e Revitalização de Centros Históricos pelo PNUD-Unesco/Peru (1980) e em Architectural Conservation pelo ICCROM-Roma (1987), além de graduada em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal de Pernambuco (1976). Atualmente é Professora Adjunta do Núcleo de Arquitetura e Urbanismo e do Programa de Pós-Graduação em Arqueologia da Universidade Federal de Sergipe, Coordenadora do INRC-Laranjeiras (Inventário Nacional de Referências Culturais) e Representante da Universidade Federal de Sergipe no Conselho Municipal de Cultura de Laranjeiras. É membro do ICOMOS/BRASIL, Conselho Internacional de Monumentos e Sítios.
O verbete trata da arquitetura, existente em cidades da zona da mata de Pernambuco, construída pelos próprios habitantes. Autora define esta produção arquitetônica como “distinta e específica”. Materiais locais como madeira, barro e tijolos são utilizados e os conhecimentos necessários para a construção, passados de geração para geração. Afirma-se que os pobres de Pernambuco teriam desenvolvido a partir dos anos 1930 um “estilo arquitetônico próprio”, inspirado nos prédios públicos que começaram então a ser construídos em estilo art déco ou moderno. As cores e decorações das fachadas das casas mostrariam que são vistas como mais do que simples abrigos, traduzindo o espírito e as aspirações de seus construtores e, conforme observado por Ariano Suassuna, os “protestos contra a feiura, a secura e a monotonia de suas vidas”. Modestas em escala, essas casas se harmoniza com a paisagem e expressam a criatividade e a capacidade interpretativa de estilos recentes por parte dos arquitetos populares que criam, assim, um vocabulário arquitetônico. As casas são construídas pelo próprio dono ou por pedreiros capacitados. As fachadas costumam ter platibandas, sendo esta uma das principais características dessa arquitetura, que a autora reconhece ser também encontrada em outras partes do Nordeste. Apesar disso, mas sem apresentar argumentos ou provas concretas, a autora afirma que sua criação ou surgimento ocorreu em Pernambuco. O verbete é ilustrado com fotografias de casas da região pesquisada.