Biblioteca da Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
Referência bibliográfica:
MACEDO, Francisco Riopardense de. “Azorean: Immigrant (Brasil, S)” In: OLIVER, Paul (edit). Encyclopedia of Vernacular Architecture of the World. Cambridge - UK: Cambridge University Press, 1997, p. 1.683-1.684.
Eixos de análise abordados:
Conceitos e métodos
Saberes tradicionais e espaço arquitetônico
Território e etnicidade
Dados sobre o autor(es) e obra:
Francisco Riopardense de Macedo (1921-2007) foi um historiador, paisagista, poeta, urbanista, artista plástico, arquiteto e engenheiro gaúcho. Formado em Engenharia e Urbanismo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, lecionou História da Arte, História das Ciências e História dos Espaços Abertos nesta universidade. Trabalhou na Secretaria Estadual de Obras, foi diretor do Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul, membro da Sociedade de Engenharia do Rio Grande do Sul, membro do Instituto de Arquitetos do Brasil, membro do Instituto Riograndense de Artes Plásticas Francisco Lisboa e membro do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul. Suas principais pesquisas ocorreram no campo da arquitetura e artes plásticas.
Neste verbete o autor informa que os açorianos chegaram ao Brasil em 1792, como parte da política de consolidação do território português no sul do Brasil, para construir vilas nas proximidades do canal do Rio Grande, da boca do rio Jacuí até a atual cidade de Rio Pardo. Trouxeram métodos construtivos e planos para casas e moinhos de trigo. A casa do camponês açoriano é funcional e organizada em três áreas: à esquerda a cozinha, com a prancha do pão, o forno e o fogão; no centro, um cômodo denominado “casa do meio”, com um tablado onde as mulheres jovens sentam e costuram, e à direita o quarto de dormir. Um nicho é construído nas paredes grossas do cômodo do meio para guardar o material de costura das mulheres e, no lado oposto, é posta a cristaleira com os tesouros da família, retratos e lembranças. Transferido para a cidade, esse plano foi modificado. O cômodo do meio foi deslocado para trás e os da frente foram separados por um corredor lhe dá acesso. O cômodo da esquerda, ou cozinha, passou a abrigar o “nicho das agulhas” e o da direita deu lugar à sala de estar que era desnecessária no campo. Por fim, o quarto de dormir foi para cima, no sótão. Esse esquema geral se desenvolveu em habitações maiores como a que existe na Travessa Joaquim Lisboa, em Rio Pardo. São edifícios de grossas paredes de pedra, umbrais maciços e beirais curtos. Os cunhais e umbrais são de pedra lavrada e o resto da alvenaria é feita com pedras irregulares. As paredes internas são de taipa de mão, ou pau a pique, armadas com bambus, galhos e cipós. Nas casas urbanas de dois andares, a planta da casa camponesa original é reproduzida no piso superior, ficando o térreo para comércio ou alojamento de escravos. Os camponeses açorianos logo passaram a se dedicar à criação de gado, estabelecendo um negócio doméstico composto por: moinho, para a produção de farinha de mandioca; celeiro para estocagem de vegetais e grãos; “casa da carne seca”; alojamentos dos escravos; pomar; jardim e área da carruagem. O centro desse espaço produtivo é a casa de dois pisos onde, no térreo, fica também o depósito geral. No Rio Grande do Sul, a herança açoriana é reconhecida no forno oval, na trempe, na grelha, na arca, no banco de madeira com encosto, cujo assento é uma tampa, na cristaleira, nas danças e músicas. Nas áreas urbanas pode-se encontrar também a tipologia do “correr de casas”, que são construídas sob uma única cobertura e têm plantas simétricas que, segundo o autor, decorreriam da simplificação da casa camponesa açoriana. Conhecidas como casas de porta e janela, teriam agora planta de três cômodos organizada ao longo de um corredor lateral. Os moinhos de água e de vento açorianos foram muito usados e documentados no século XIX, sendo lembrados na toponímia de cidades do Rio Grande do Sul. O verbete é ilustrado com plantas e fotografia.
REIS, Nestor Goulart. Quadro da Arquitetura no Brasil. São Paulo: Editora Perspectiva, 1978, 4ª Ed.
SAIA, Luís. “Notas sobre Arquitetura Rural do Segundo Século”. In: Revista do SPHAN, n. 08. Rio de Janeiro: MES, 1944.
Autor(es):
Carlos Lemos
Onde encontrar:
Acervo da Biblioteca da Faculdade de Arquitetura da UFBA.
Referência bibliográfica:
LEMOS, Carlos A. C. Cozinhas, etc. São Paulo: Editora Perspectiva. 1978.
Eixos de análise abordados:
Conceitos e métodos
Saberes tradicionais e espaço arquitetônico
Dados sobre o autor(es) e obra:
Carlos Lemos é arquiteto e artista plástico. Considerado um dos principais historiadores da arquitetura brasileiros, fez parte da primeira turma de estudantes de arquitetura da Universidade Mackenzie, em 1946, em fase anterior à criação da FAUUSP, graduando-se em 1950. Nos primeiros anos de sua atuação profissional, foi membro da equipe de desenvolvimento do projeto do Parque do Ibirapuera e, de 1952 a 1957, dirigiu o escritório de Oscar Niemeyer em São Paulo, tendo sido o responsável pela conclusão de uma das principais obras deste arquiteto nesta cidade: o edifício Copan. Atuando como professor e pesquisador do Departamento de História da Arquitetura e Estética do Projeto da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAUUSP), também desempenhou papel de aguerrido defensor do patrimônio cultural brasileiro. Dentre suas outras obras publicadas, destacam-se os seguintes títulos: Arquitetura Brasileira (Editora Melhoramentos / EDUSP, 1987), História da Casa Brasileira (Editora Contexto, 1989), Alvenaria Burguesa(Editora Studio Nobel, 1989) e Casa paulista (Editora EDUSP, 1999). A obra em exame já teve várias edições, sendo a primeira de 1976 pela Editora Perspectiva.
Sumário obra:
Abreviaturas
Introdução
A Chaminé e a Fonte
O Pote, o Jirau e a Farinha
O Clima
Os Velhos Quintais e a Cozinha Antiga
A Varanda e o Açúcar
O Café e as Cidades
A Vida Urbana entre os dois Armistícios ou um Depoimento Pessoal
O Apartamento
A Habitação Popular, ou Melhor, a Casa Operária
Resumo Conclusivo
Bibliografia
Tabelas
Resumo :
Embora intitulado “Cozinhas, etc.”, Carlos Lemos deixa claro na Introdução a sua preocupação prioritária com a questão das moradias populares. Ou seja, a grande importância dada a um possível estudo da evolução histórica da moradia no Brasil, aqui, tem como objetivo a compreensão da “casa popular autêntica”, dentro do panorama da sociedade brasileira atual. Neste sentido, o autor vai buscar, inicialmente, definir o que seria efetivamente uma “casa popular ou operária”, entendo-a como aquela em que, diferentemente das habitações de outras classes sociais, encontra-se uma “superposição de quase todas as funções habitacionais”. Comentando acerca das dificuldades em desenvolver o estudo de modo aprofundado, abarcando toda a complexidade da realidade brasileira, o autor faz opção por apenas buscar entender “o que há de paulista na casa paulistana”. Ainda levando em conta a grande complexidade do campo da pesquisa, o autor também defende, como uma estratégia para o seu desenvolvimento, a opção de restringir ainda mais o seu campo de estudos, limitando-o à “análise das zonas de serviço de nossas casas e de suas funções principais, com respectivas superposições no espaço e consequentes implicações arquitetônicas”. No primeiro capitulo, intitulado “A Chaminé e a Fonte”, Lemos dedica-se a tecer considerações acerca das influências ibéricas e do seu processo de adaptação à realidade dos trópicos, particularizando no segundo capítulo – “O Pote, o Jirau e a Farinha” – as contribuições indígenas ao mesmo processo. Após abordar, no terceiro capítulo (O Clima), alguns aspectos relacionados às influências do clima nas lógicas de apropriação dos espaços da habitação tradicional, o autor, nos cinco capítulos subsequentes, toma como referências aspectos mais particulares da história e da realidade paulistas, dedicando-se a analisá-los quase que de modo cronológico: “Os Velhos Quintais e a Cozinha Antiga” (cap. 4), “A Varanda e o Açúcar” (cap. 5), “O Café e as Cidades” (cap. 6), “A Vida Urbana entre os dois Armistícios ou um Depoimento Pessoal” (cap.7) e “O Apartamento” (cap. 8). No capítulo 9 – “A Habitação Popular, ou Melhor, a Casa Operária” – Lemos volta a refletir acerca do conceito de “casa popular”, alertando para quão vago é o significado do adjetivo, propondo então a retomada da definição defendida por ele na Introdução. Agrega à característica que fundamenta a sua definição inicial de “casa popular” (superposição de funções), outras relacionadas à sua localização nas zonas urbanas e à sua distribuição no território, como também às técnicas e materiais construtivos utilizados. Registra o início da produção em grande escala de casas destinadas às camadas populares, à moradia dos trabalhadores urbanos, especialmente daqueles ligados à indústria. Faz algumas considerações acerca das mudanças implementadas no partido das pequenas casas dos arredores urbanos, ao longo da transição entre os séculos XIX e XX, registrando que algumas delas decorreram também da incorporação de influências da imigração italiana. Lemos diz que o advento do século XX chegou apresentando “duas soluções de casas operárias ou populares: a nacional, ou tradicional, e a nova do imigrante”. No capítulo 10 (Resumo Conclusivo), Lemos registra que – embora tenham sido várias as soluções de agenciamento das zonas de serviço nas habitações – em decorrência de aspectos tais como as variações climáticas, a diversidade de cenários e de poder aquisitivo, estas apresentavam soluções díspares: “ora a cozinha dentro de casa, outras vezes no quintal ou, então, a meio caminho, em puxado encostado à casa”. A partir daí busca explicar tal situação usando múltiplas justificativas de caráter histórico e cultural. Ao concluir faz considerações acerca da persistência da superposição de usos nas “casas modestas”, que o leva a questionar a validade do emprego do vocábulo “cozinha”, ironicamente admitindo o uso da expressão anglicizante “family room dos americanos para designar os locais de estar caseiro de nosso proletariado”. Finalizando, ao tratar da habitação burguesa, chama a atenção que, apesar da identificação das “determinantes da evolução formal por que passou a casa paulistana e a sua planta”, existe uma dinâmica que aponta lentamente para o desaparecimento de duas características ainda comuns: a questão da preocupação com as circulações, internas e externas e a segregação dos empregados nas dependências situadas nos fundos. “Fatalmente, um dia, a morada burguesa irá superpondo funções, até eliminar a cozinha, trocando o fogão pela mesa-quente aquecedora de comidas congeladas vindas dos supermercados”.
Biblioteca da Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
Referência bibliográfica:
LEMOS, Celina Borges. “Timbira (Goiás, Mato Grosso)”. In: OLIVER, Paul (edit). Encyclopedia of Vernacular Architecture of the World. Cambridge - UK: Cambridge University Press, 1997, p. 1.635-1.636.
Eixos de análise abordados:
Saberes tradicionais e espaço arquitetônico
Território e etnicidade
Dados sobre o autor(es) e obra:
Celina Borges Lemos possui graduação em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal de Minas Gerais, mestrado em Sociologia pela Universidade Federal de Minas Gerais e doutorado em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Campinas. É professora associada da Universidade Federal de Minas Gerais. Concluiu em 2008 o pós doutorado na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. Tem experiência na área de Antropologia Urbana, com ênfases em Fundamentos de Arquitetura e Urbanismo, Cultura Urbana, Conservação e Revitalização do Patrimônio. Tem realizado estudos voltados principalmente para os seguintes temas: arquitetura, artes, museologia, estilo, cultura, estética, centralidades, espaços públicos, serviços na contemporaneidade. Pesquisa atualmente a contribuição e o significado da Arquitetura Mineira entre os séculos XVIII e XXI, tendo por referencias principais as cidades históricas e Belo Horizonte.
A arquitetura tradicional dos Timbira, cujos grupos se localizam em Goiás e Mato Grosso, não difere muito daquelas de outras etnias indígenas. A habitação tem planta retangular e telhado com quatro inclinações, com duas portas nos lados maiores do retângulo, sendo a entrada principal voltada para o pátio central da aldeia. A casa tem estrutura de madeira, é coberta com palha e não há divisões internas. Alguns grupos Timbira também constroem outros tipos de habitação, influenciadas pela arquitetura vernacular rural, em adobe ou “barro”, cobertas com palha, sem divisões internas, mas com uma varanda na frente que é utilizada para cozinhar. Dentro há um jirau que serve de apoio, estante, mesa e outros usos, e o chão é coberto com esteiras. As habitações Timbiras são destinadas a famílias nucleares, que constituem a unidade social produtiva e de consumo, mas podem abrigar as famílias de filhas casadas. O assentamento ou aldeia Timbira é circular, com pátio central ligado às habitações por caminhos privativos. As casas formam o círculo mais externo e, atrás delas, há um outro caminho circular. O centro do círculo é um espaço público, político e simbólico, além de destinado a rituais e cerimônias. A expansão do assentamento somente é possível com a ampliação do círculo, pois representa a estrutura social desse povo e somente através da sua localização, seres humanos e objetos podem ser classificados. O controle da cosmologia também se dá por meio de um centro universal que está simbolizado pelo centro da aldeia. O verbete não contém fotos ou ilustrações.
Biblioteca da Universidade Federal do Espírito Santo
Referência bibliográfica:
KANAN, Isabel. “Argamassas e revestimentos tradicionais da arquitetura luso-brasileira em Santa Catarina – processos e características construtivas”. In: RIBEIRO, Nelson Pôrto (org). Subsídios para uma história da construção luso-brasileira. Rio de Janeiro: Pod Editora, 2013, p. 161-175.
Eixos de análise abordados:
Conceitos e métodos
Tecnologia tradicional no território e na edificação: vigências e usos contemporãneos
Dados sobre o autor(es) e obra:
Maria Isabel Kanan é arquiteta formada pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1976), com especialização pelo ICCROM e mestrado em conservação arquitetônica pelo Institute of Architectural Advanced Studies/University of York/ Inglaterra (1992), doutorado em ciência da conservação pela Bournemouth University, Inglaterra (1995). É arquiteta do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional desde 1984 e professora do Mestrado Profissional em Conservação e Restauração de Monumento e Núcleos Históricos da UFBA (MP-CECRE) desde 1996. Tem experiência na área de conservação e restauração arquitetônica, com ênfase na pesquisa das tecnologias de cal e terra e na capacitação de profissionais e equipes de obras. É membro do ICOMOS atuando no comitê de patrimônio arquitetônico de terra e moderadora do grupo de paisagem.
O artigo é uma revisão dos estudos realizados pela autora relativos às argamassas e rebocos de cal e terra. Embora de cunho mais abrangente, o estudo interessa ao campo da arquitetura popular porque, conforme assinala Kanan, a cal, a partir de várias matérias primas, foi talvez o mais comum dos aglomerantes utilizados na construção, abrangendo todas as tipologias. Neste estudo, a autora descreve mais detidamente a produção da cal de conchas, o tipo mais antigo utilizado no Brasil. Informa que esta cal, obtida a partir da queima de conchas diversas retiradas de sambaquis, era produzida em caieiras por meio de dois processos: em “medas” ou em fornos simples de alvenaria. As medas utilizadas em Santa Catarina correspondem a camadas circulares e alternadas de conchas e turfa dos manguezais, com aproximadamente 4 metros de altura, cuja superfície pode ser coberta com argila para melhor desempenho. A queima desse conjunto produz então a cal. A autora registra que, além desse tipo, em Santa Catarina, a cal de pedras de calcário foi também produzida com métodos tradicionais no final do século XIX por imigrantes italianos. As fábricas de cal hidráulica e cimento somente surgiram no Brasil entre o final do século XIX e o começo do XX, o que modificou a prática tradicional. Nesta revisão de estudos, a autora descreve o uso da cal como material de revestimento e acabamento em Santa Catarina, inclusive com a adição de pigmentos, compondo a técnica conhecida como argamassa pigmentada. Informa também sobre as técnicas, como a microscopia ótica e eletrônica, que permitem a identificação dos aglomerantes, agregados, aditivos e pigmentos que compõem as argamassas e os revestimentos feitos com cal. Explica ainda o método para a realização de análises estratigráficas dos revestimentos feitos com cal e as informações que esse tipo de análise pode produzir sobre o tipo de cal e seu processo de calcinação; sobre o processo de hidratação e produção de argamassas; sobre a microestrutura das argamassas e sobre seus possíveis componentes orgânicos. A autora conclui informando que os vestígios da produção de cal de conchas estão praticamente desaparecidos, sendo os revestimentos antigos a grande fonte de informação sobre este material e suas formas de produção e emprego. Lamenta, por fim, que esta documentação física esteja também em processo de desaparecimento devido à falta de sensibilidade de arquitetos e construtores que substituem indiscriminadamente esses revestimentos.
KANAN, Maria Isabel. An Analytical Study of Earth and Lime Based Building Materials in Blumenau region southern Brazil. PHD thesis, School of Conservaition Science, Bournemouth University, England, 1995.
MUELLER, U. “La Microtextura de Revoques de Cal Históricos Fabricados con Conchas Marinas, un caso práctico aplicado en el Edificio de Aduanas de Florianópolis, Brasil”. In: Cal: Técnicas Avanzadas para la Conservación y Casos de Estudio. Santiago: Consejo de Monumentos Nacionales, 2005, pp. 117-121.
ISBN ou ISSN:
85-87220-43-8
Autor(es):
Paola Berenstein Jacques
Onde encontrar:
Biblioteca da Faculdade de Arquitetura da UFBA
Referência bibliográfica:
JACQUES, Paola Berenstein. Estética da ginga: a arquitetura das favelas através da obra de Hélio Oiticica. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2003, 2ª edição.
Eixos de análise abordados:
Conceitos e métodos
Construção autogerida em meio urbano: espaços e técnicas
Dados sobre o autor(es) e obra:
Paola Berenstein Jacques possui graduação em Arquitetura e Urbanismo pela UFRJ, especialização em Teoria e Projeto de Arquitetura e Urbanismo (CEAA) pela ENSA de Paris-Villemin com estágio na AA School (Londres), mestrado em Filosofia da Arte (DEA) e doutorado em História da Arte e da Arquitetura pela Université de Paris I (Pantheon-Sorbonne), estágio recém-doutor no PROURB/UFRJ, pós doutorado no LAIOS/IIAC/CNRS e estágio sênior no LAA/LAVUE/CNRS. É professora permanente da Faculdade de Arquitetura, do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo e colaboradora do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da UFBA. Atualmente coordena projeto de pesquisa PRONEM (FAPESB/CNPq), o grupo de pesquisa Laboratório Urbano e a linha de pesquisa Processos Urbanos Contemporâneos (PPG-AU/FAUFBA). É pesquisadora associada ao Laboratoire Architecture/Anthropologie (LAA/LAVUE/CNRS - ENSA Paris-La-Villette) e participa das redes internacionais de pesquisa LIEU e Ambiances (Ministério da Cultura/França). É autora dos livros: Les favelas de Rio (Paris, lHarmattan, 2001); Estética da Ginga (Rio de Janeiro, Casa da Palavra, 2001); Esthétique des favelas (Paris, lHarmattan, 2003); Elogio aos errantes (Salvador, Edufba, 2012); co-autora de Maré, vida na favela (Rio de Janeiro, Casa da Palavra, 2002) ; organizadora de Apologia da deriva (Rio de Janeiro, Casa da Palavra, 2003), Corps et décors urbains (Paris, lHarmattan, 2006), Corpos e cenários urbanos (Salvador, Edufba, 2006) e CORPOCIDADE: debates, ações e articulações (Salvador, Edufba, 2010).
O livro questiona o histórico desprezo acadêmico pelas manifestações arquitetônicas vernaculares e o status de não-arquitetura (e, portanto, de objeto fora dos interesses desse campo disciplinar) que é dado aos assentamentos populares das grandes cidades brasileiras – as favelas. O objeto da obra é então a própria ideia de arquitetura. A autora advoga a existência de um dispositivo arquitetônico e urbanístico específico e de uma estética própria das favelas, esta última abordada a partir do olhar do artista tropicalista Helio Oiticica. Analisa este dispositivo e o processo espaço-temporal de construção desses assentamentos com o apoio das noções de Fragmento, Labirinto e Rizoma, que toma emprestado do pensamento pós-estruturalista de Foucault, Deleuze e Derrida. O processo de formação das favelas é definido como um processo arquitetônico e urbanístico vernáculo singular com características próprias, que produz uma arquitetura composta de fragmentos (os barracos), uma aglomeração de arquiteturas que forma labirintos, os quais, por sua vez, se desenvolvem e ocupam a cidade como rizomas. A arquitetura das favelas é definida como “vernácula” a partir do Dictionnaire de l’urbanisme de Choay (Paris, P. U. F., 1988) que a conceitua como a “arquitetura característica de uma região ou como arte local”. Sua motivação inicial é abrigar o indivíduo ou a família numa peça única construída com materiais heterogêneos (restos e sobras de materiais de construção ou de produtos da indústria) que determinam a configuração do espaço. O processo de substituição de materiais é constante e decorrente do que o favelado vai encontrando. A casa de alvenaria que resulta dessa substituição já não é tão fragmentada, mas permanece fragmentária, pois nunca é totalmente concluída. Assim, a arquitetura da favela é uma arquitetura do acaso, sem projeto e produto de bricolagem. Sua poesia ou estética viria justamente desse resultado único e inesperado. Obedeceria, portanto, a uma lógica distinta daquela da arquitetura projetada e ligada, como a “arte ambiental” dos Parangolés de Hélio Oiticica, à improvisação, ao movimento, ao anonimato e ao coletivo. Como fragmento sua lógica é também ligada ao acaso, ao aleatório, ao efêmero, à incompletude e diversa, portanto, da que toma a arquitetura como algo fixo, durável, sólido e esteticamente atrelado à ideia de unidade e a uma noção espacial que abole o tempo e suas transformações. Com relação ao espaço da favela, a autora o analisa a partir da noção de labirinto não projetado. Aponta que o espaço da favela se forma de modo análogo aos barracos, sem projeto, mas somente é percebido como um labirinto, isto é, como um espaço desorientador por “estrangeiros”. Embora labiríntico no sentido da emoção que provoca, os favelados não se perdem no espaço da favela e o ato de percorrê-lo em seus meandros e “quebradas” promoveria a (ou derivaria da) ginga dos sambistas. Em outras palavras, o espaço da favela solicitaria e provocaria a ginga em seu percurso. O reconhecimento desse espaço como um labirinto espontâneo foi feito também por Oiticica ao criar instalações – os Penetráveis – cada vez mais abertas e provocadoras de situações criativas e experiências diversas. A autora opõe, assim, a ocupação espontânea das favelas, às cidades e espaços projetados, normalmente, limitadores e autoritários. O último capítulo trata do crescimento e da formação de territórios nesses assentamentos. A autora utiliza o conceito de Rizoma, desenvolvido por Deleuze e Derrida para descrever o processo de territorialização do que chama de “ocupações naturais e selvagens”. Explica que a ocupação das favelas se dá segundo a lógica do rizoma, ou do mato, que penetra e se desenvolve nos interstícios, nas frestas, com forte impulso de reprodução e sobrevivência em condições escassas. Mas a imagem do rizoma permitiria descrever um tipo de processo de crescimento e seu movimento, mas não corresponderia a um modelo formal ou sistema, sendo explicitado apenas a partir de certos princípios ou “características aproximativas” como: conexão e heterogeneidade (qualquer ponto do rizoma pode se conectar com qualquer outro); multiplicidade (um sistema aberto e voltado para o exterior); ruptura assignificante (pode ser rompido em qualquer lugar, mas retoma qualquer uma de suas linhas); cartografia e decalcomania (não se sujeita a qualquer modelo estrutural ou generativo). O rizoma descreve então o processo de aumento do território por meio de múltiplas e sucessivas desterritorializações, o que seria próprio das favelas que têm limites e horizontes sempre móveis. Por meio do movimento, propriedade que caracteriza os conceitos de Fragmento, Labirinto e Rizoma, a autora chega à noção de “espaço-movimento” para definir a formação, desenvolvimento e crescimento das favelas e de suas arquiteturas. Esta noção remete à ação dos que constroem, transformam e percorrem continuamente esses assentamentos e também à ideia de participação. Na conclusão, advoga que as favelas possam também ser vistas como patrimônio, mas preservadas não em sua arquitetura ou urbanismo. O seu caráter móvel e de criação coletiva seria o elemento a preservar, o que implicaria manter a participação dos habitantes na construção dos seus espaços arquitetônico e urbano. Para tanto, a autora advoga a formação de um novo tipo de arquiteto: o arquiteto-urbano, que se ocuparia desses espaços e cujo papel seria, além de organizar fluxos, suscitar, traduzir e catalisar os desejos dos habitantes.
Biblioteca da Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
Referência bibliográfica:
HUGH-JONES, Stephen. “Tukano (Vaupés)” In: OLIVER, Paul (edit). Encyclopedia of Vernacular Architecture of the World. Cambridge - UK: Cambridge University Press, 1997, p. 1.636-1.637.
Eixos de análise abordados:
Saberes tradicionais e espaço arquitetônico
Tecnologia tradicional no território e na edificação: vigências e usos contemporãneos
Território e etnicidade
Dados sobre o autor(es) e obra:
Stephen Hugh-Jones é especialista em Antropologia Social com pesquisas em narrativas orais, rituais, xamanismo e religião, relações de parentesco, antropologia da arquitetura, políticas culturais e movimentos indígenas e estudos linguísticos com foco na América Latina e trabalhos de campo na Amazônia colombiana. É pesquisador do King’s College, do Reino Unido.
O verbete trata da arquitetura dos indígenas Tukanos que vivem na bacia do Vaupés entre Brasil e Colômbia. Sua casa tradicional, a maloca, abriga várias famílias de irmãos casados, mas é encontrada agora apenas em áreas remotas. É separada dos vizinhos por várias horas de caminhada e construída em clareira, perto de um rio e de uma roça de mandioca. É sempre retangular, mas há grupos do Sul que constroem uma extensão em uma das extremidades em forma de abside e outros que constroem casas circulares. As malocas são dotadas de apoios verticais duplos que suportam vigas paralelas. Sobre a peça que une os dois pilares, uma espécie de pontilhão vertical apoia a cumeeira. As malocas maiores podem ter até sete desses apoios e as menores quatro. O espaço central é mais público e os próximos às paredes, privados. O telhado de palha tem águas que vão quase até o chão e beirais que avançam nas empenas. As extremidades são vedadas com palha trançada ou tábuas de madeira pintadas com animais míticos. A porta principal está voltada para o leste, pertence aos homens e dela sai o caminho que leva ao rio. No interior, há área reservada para visitantes, rituais e preparo da coca, onde também dormem os homens solteiros. A área em torno dos quatro apoios centrais é sagrada e abriga as danças. Nela, suspenso por um cipó, fica o cesto dos ornamentos rituais, considerado o coração da maloca e do grupo. No lado oposto, fica o fogo noturno e, atrás, no chão de terra batida, o recipiente de madeira que guarda o caxiri ou “cerveja de mandioca”. A extremidade oeste, a da porta das mulheres, é usada para tarefas domésticas e abriga o grande prato de cerâmica para fazer beiju, além dos utensílios para cozinhar e processar mandioca. Durante certos rituais, uma esteira a divide da área masculina. As famílias ficam alojadas em compartimentos delimitados por esteiras ao longo das paredes maiores, com pequenas portas externas. Nesses espaços, as redes ficam em torno do centro que abriga jirau e arcas. O pátio fronteiro, coberto pelo beiral do telhado, é extensão do espaço da casa e também usado para dança. A casa Tukano é um mediador simbólico entre o corpo do indivíduo, o grupo e o cosmo. Representa um útero feminino ao qual se penetra pelo leste e também um ancestral masculino, cujo esqueleto é a estrutura da casa, cuja pele e cabelo é sua cobertura e cuja cara pintada volta-se para o leste. O céu, apoiado por montanhas, é representado pela cobertura e pelos pilares que, assim, abrigam o centro cósmico. Cada maloca corresponde a um clã e sua orientação leste/oeste e divisão hierárquica baseada no gênero provê o modelo das casas sobre palafitas ao longo dos rios da Amazônia. As casas circulares do Sul, como as do povo vizinho Yukuna, podem ser vistas como transformações da maloca retangular. O verbete é ilustrado com fotografias.
ALHO, Getúlio Geraldo R. Três Casas Indígenas: pesquisa arquitetônica sobre a casa em três grupos - Tukano, Tapirapé e Ramkokamekra. São Carlos: USP, 1985. 91 p. (Dissertação de Mestrado).
BEKSTA, Casimiro. A Maloca Tukano-Desana e seu simbolismo. Manaus: Univ. do Amazonas, 1984. 126 p. (Dissertação de Mestrado)
HUGH-JONES, Stephen. “The maloca: a world in a house”. In: CARMICHEAL, E. et al, The Hidden People of the Amazon. London: British Museum Publication, 1985.
HUGH-JONES, Stephen. “Clear descent or ambiguous houses? A re-examination of Tukanoan social organization”. L'Homme, Paris: École des Hautes Études en Sciences Soc., v. 33, n. 126/128, p. 95-120, abr./dez. 1993.
LAMUS, Luis Raul Rodriguez. “La arquitectura de los Tukano”. Rev. Colombiana de Antropología, Bogotá: Inst. Colombiano de Antropologia, v.7, n.17, p.251-69, 1958. SANTOS, Antônio Maria de Souza. Etnia e urbanização no Alto Rio Negro: São Gabriel da Cachoeira-AM. Porto Alegre: UFRS, 1983. 154 p. (Dissertação de Mestrado).
ISBN ou ISSN:
978-85-7334-218-5
Autor(es):
Andrea Zerbetto
Onde encontrar:
Bibliotecas do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN
Referência bibliográfica:
MESTRES e Artífices de Pernambuco/coordenação de Andrea Zerbetto e Rodrigo Torres. Brasília-DF: Iphan, 2012.
Eixos de análise abordados:
Tecnologia tradicional no território e na edificação: vigências e usos contemporãneos
Dados sobre o autor(es) e obra:
Andrea Zerbetto é arquiteta e urbanista formada pela Escola de Arquitetura e Urbanismo da UFMG, em 1997. É também especialista em História da Cultura e da Arte pela Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Rodrigo Torres é arquiteto e urbanista graduado pela UFMG em 1999. Os organizadores dessa obra são sócios da ARO Arquitetos Associados, empresa que venceu a licitação lançada pela UNESCO, a partir de financiamento do Programa Monumenta do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), para a realização da pesquisa que resultou na publicação deste livro. Esta pesquisa, se insere, se insere no Programa Mestres e Artífices, desenvolvido pelo Departamento do Patrimônio Imaterial do IPHAN.
A obra corresponde à primeira publicação relacionada ao desenvolvimento do Projeto Mestres e Artífices, implantado pelo Departamento do Patrimônio Imaterial do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, em parceria com o Programa Monumenta e Unesco- Brasil. O objetivo desse projeto, de âmbito nacional, é o mapeamento, identificação e cadastramento dos mestres de ofícios ligados às técnicas construtivas tradicionais ainda em vigência no Brasil, bem como dos ofícios artísticos que integram construções realizadas com essas técnicas. A publicação em exame refere-se ao estado de Pernambuco, mas o foco principal da pesquisa ocorreu em Recife e em municípios de sua região metropolitana, notadamente Olinda e Igarassu, onde vivem os mestres e artífices mais experientes e conhecidos e onde se concentra o seu principal mercado de trabalho, o que é decorrência da concentração nesta área de edifícios antigos e obras de conservação e restauração. Essa concentração e essas atividades têm mantido em vigência essas técnicas e saberes em Pernambuco. Nesta publicação, as técnicas construtivas tradicionais são definidas como “processos e procedimento de utilização dos materiais de construção, transmitidos pelos costumes e práticas passados de geração em geração, de pai para filho”. Na Introdução resgata-se sua história e a dos materiais mais utilizados em Pernambuco a partir da colonização portuguesa, além da dos carpinas-marceneiros e ferreiros, que faziam parte da tripulação cativa das embarcações portuguesas, e dos mestres oleiros, alvanéis e canteiros que vieram com as primeiras levas de colonizadores. As técnicas desses mestres foram adaptadas ao solo argiloso, ao calcário e ao arenito e à grande abundância de madeiras da região. Com esses materiais e por meio dos sistemas construtivos da alvenaria de tijolos e de pedras, das estruturas e componentes de madeira e dos revestimentos e pinturas a base de cal desenvolveu-se uma arquitetura de base portuguesa que dominou os edifícios mais importantes e a arquitetura residencial. Nas edificações mais simples, o sistema utilizado era a taipa de mão, com estrutura e trama em madeira e telhados de palha. A cultura naval dos primeiros carpinas revelava-se nas tesouras das coberturas, em especial as denominadas de canga de burro, que lembram quilhas de barco invertidas. Foi no período colonial que se desenvolveu em Pernambuco a técnica da cantaria, bem como a arte dos marceneiros, dos entalhadores e dos pintores envolvidos na construção das grandes igrejas pernambucanas. A riqueza proporcionada pela produção do açúcar alimentou o desenvolvimento dessas técnicas que, afirma-se, não teriam sido produto de contatos com indígenas e africanos, mas sim oriundas da adaptação da tradição portuguesa. Observa-se que poucos mestres ainda sobrevivem, sendo a maioria dos profissionais em atividades, seus discípulos. Avalia-se, contudo, que essas técnicas estariam “adormecidas” em cidades do interior como Exu, Petrolina, Araripina, Salgueiro, Floresta e outras. Organizada a partir dos ofícios que lidam com determinado material, a obra registra a história de vida, as principais obras, o conhecimento, a técnica, o aprendizado e as formas de transmissão do conhecimento de 37 profissionais destacados, assim distribuídos: seis profissionais da pedra – os mestres canteiros ou cantéis –; sete pedreiros ou alvanéis – mestres das alvenarias e das argamassas de areia e da cal –; três mestres estucadores – pedreiros especializados que com formas, argamassas e gesso produzem e restauram ornamentos artísticos em baixo relevo –; seis profissionais do ferro – os mestres ferreiros ou forjadores –; sete profissionais da madeira – mestres carpinteiros, mestres marceneiros, mestres torneiros e mestres entalhadores –; dois mestres pintores de alvenarias; dois mestres restauradores, conservadores e confeccionadores de azulejos; e, por fim, sete mestres e uma mestra ligados à produção artesanal de telhas, lajotas e ladrilhos cerâmicos e hidráulicos na região rural de Bezerros, já fora da área foco da pesquisa. O estudo apresenta também oficiais e artesãos ligados aos ofícios tratados e a obra é fartamente ilustrada com fotografias dos mestres entrevistados, obras, peças e objetos, bem como de ferramentas e de alguns processos de trabalho. Embora a publicação tenha o mérito de identificar os principais mestres e artífices em atividade, cabem algumas ressalvas: as descrições das técnicas e dos modos de fazer são superficiais, informando-se mais sobre a história de vida dos entrevistados do que sobre os seus saberes. Além disso, foram incluídos alguns profissionais cujo aprendizado ou formação não se deu no âmbito do canteiro ou da transmissão oral ou informal, mas sim por meio de cursos, inclusive fora do Brasil, o que não permitiria inseri-los no universo da cultura tradicional e popular ligada à construção e, ainda, no próprio conceito de técnica construtiva tradicional expresso na Introdução da publicação.
COSTA, Ana de Lourdes Ribeiro da. Ekabó!:trabalho escravo, condições de moradia e reordenamento urbano em Salvador no século XIX. Dissertação de Mestrado. Mestrado em Arquitetura e Urbanismo - Universidade Federal da Bahia, Salvador, 1989.
Eixos de análise abordados:
Saberes tradicionais e espaço arquitetônico
Território e etnicidade
Dados sobre o autor(es) e obra:
Ana de Lourdes Ribeiro da Costa (1961-2009) graduou-se em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal da Paraíba (1983), fez mestrado em Arquitetura e Urbanismo (1989) e especialização em Conservação e Restauração de Monumentos e Conjuntos Históricos - CECRE (1984) pela Universidade Federal da Bahia e doutorado em Teoría e Historia de la Arquitectura pela Universitat Politècnica de Catalunya-Barcelona-Espanha (2003). Foi professora da Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal da Bahia e do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da mesma universidade. Sua experiência na área de Arquitetura e Urbanismo enfatizou a História e Teoria da Arquitetura e Urbanismo principalmente nos seguintes temas: cidade colonial brasileira; escravos urbanos; história urbana.
Informações obtidas em: Plataforma Lattes e Faculdade de Arquitetura e Urbanismo na UFBA.
Sumário obra:
Introdução
1. O ESCRAVO NA ECONOMIA E SOCIEDADE DA CIDADE DO SALVADOR NO SÉCULO XIX
2. O MUNDO DO TRABALHO ESCRAVO
3. PRESENÇA ESCRAVA NAS FREGUESIAS
4. CONDIÇÕES DE MORADIA DO TRABALHADOR ESCRAVO
Conclusões
Fontes e bibliografia
Resumo :
O objetivo da dissertação é estudar as condições de moradia dos trabalhadores escravos em Salvador no século XIX a partir de suas relações de trabalho Pretende ainda compreender como a forma de habitar influi na organização espacial da cidade. O estudo prioriza, principalmente, o intervalo entre 1835 e 1872 devido à intensa atividade escrava urbana existente no período e à realização do censo de 1855 e do primeiro censo oficial abrangendo todo o país em 1872. A obra é dividida em quatro capítulos. O primeiro busca a compreensão do contexto socioeconômico no qual escravo está inserido e como influencia a vida deste. O segundo descreve a organização geral do trabalho escravo no meio urbano. O terceiro analisa dez freguesias urbanas, enfatizando sua ocupação negra e a predominância de escravos e libertos, buscando o entendimento de como as relações de trabalho influíram na configuração do espaço urbano. O quarto capítulo é a parte que mais interessa ao estudo da arquitetura popular, uma vez que apresenta as formas e condições de moradia dos escravos no meio urbano, relacionadas ao senhor ou não, descrevendo, por meio de relatos de viajantes, de plantas simplificadas e de informações dos censos realizados, as tipologias e, principalmente, os sobrados mais centrais nos quais os escravos geralmente residiam com seus senhores. A autora demonstra por que razões a maneira de habitar no meio urbano diferenciava-se da senzala rural, enfatizando o dinamismo gerado por nova realidade socioeconômica. Dentro da cidade, nas áreas mais periféricas, havia roças de subsistência, criação de animais e atividade de pesca, de onde muitos negros libertos tiravam o sustento, permitindo que alternassem suas atividades rurais com comerciais ligadas ao “ganho”. Relaciona-se também a forma de habitar dos escravos com as necessidades que a vida urbana impunha aos senhores, o que teria permitido que muitos escravos habitassem fora das suas propriedades, seja por serem “alugados” por terceiros, sejam por morarem por conta própria. A autora finaliza este capítulo abordando as condições de salubridade das habitações urbanas e dos arredores.
Estudante voluntária: Sarah Diana Frota de Albuquerque
Data da revisão:
sábado, 12 Julho, 2014 - 13:00
Responsável pela Revisão:
Daniel Juracy Mellado Paz e Marcia Sant’Anna
ISBN ou ISSN:
0101-1766
Autor(es):
Günter Weimer
Onde encontrar:
Acervo Prof. Daniel J. Mellado Paz
Referência bibliográfica:
WEIMER, Günter. Da Perenidade do Transitório. In: Projeto - revista brasileira de arquitetura, planejamento, desenho industrial e construção, n.75, maio 1985. São Paulo: Projeto Editores Associados Ltda, p.63-66.
Eixos de análise abordados:
Saberes tradicionais e espaço arquitetônico
Tecnologia tradicional no território e na edificação: vigências e usos contemporãneos
Dados sobre o autor(es) e obra:
Günter Weimer é arquiteto, graduado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1963), mestre em História da Cultura pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (1981) e doutor em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de São Paulo (1990). Atualmente é professor convidado do Programa de Pós-graduação em Urbanismo (PROPUR) da Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Tem experiência na área de Arquitetura e Urbanismo, com ênfase em Arquitetura e Urbanismo, atuando principalmente nos seguintes temas: arquitetura popular, história da arquitetura, imigração alemã, açorianos no Brasil e Rio Grande do Sul.
O artigo corresponde a reflexões do autor a partir de estadia de férias em vila de pescadores da Ilha de Itaparica, na Bahia. No texto, realiza um contraponto constante entre Itaparica e Salvador, que fica do outro lado da Baía de Todos os Santos, associando essas localidades, alternadamente, a diferentes tipos de permanência e transitoriedade. Se as construções modernas são feitas em aço e concreto, materiais que lhes confeririam perenidade, muitas são demolidas. Em contrapartida, muitos barracos de palha e barro revelam longevidade tipológica e construtiva. Weimer afirma que as moradias e o seu arranjo na vila visitada seriam similares às construções do litoral da Costa do Marfim, a partir da comparação de fotos de Itaparica com ilustrações da obra de Bardou e Arzoumanian, Arquiteturas de Adobe(Gustavo Gili, 1979). A vila se compõe de casas alinhadas em uma linha paralela ao mar, com uma rua principal, sem pavimentação, definida pelas casas dispostas irregularmente. A ligação da rua interna com o areal se dá por travessas estreitas ao longo da fileira de casas. Os espaços públicos são como “salas de estar” da vila, à maneira do espaço comunal das aldeias ancestrais. Tipologicamente, as casas são estreitas e longas, perpendiculares à praia, aproveitando, ao máximo, o vento marinho. Um corredor longitudinal se mantém sempre aberto, enquanto os demais cômodos, dispostos ao longo deste, são ventilados por cima já que as paredes não chegam até a cobertura, com exceção da central, e os cômodos não possuem forro. Este espaço superior serve de canal de ventilação. Construtivamente, as casas baianas são marcadas por cunhais roliços, fincados no chão, com esteios intermediários marcando portas e janelas, e paredes constituídas de uma trama ortogonal de galhos mais finos, suportando vedação em taipa de mão. O telhado de duas águas, cuja cumeeira é sustentada por uma parede central, tinha cobertura de folhas de palmeira, a qual foi substituída por telha canal e, mais recentemente, por telhas de fibrocimento. As casas são construídas coletivamente, em regime de adjutório (mutirão). Para Weimer, as construções estão perfeitamente adaptadas às condições climáticas e, por meio de adaptações paulatinas e localizadas às novas técnicas e condições, logram manter o fundamental, que é a vida comunitária aldeã.
KUNIYOSHI, Celina; SEGAWA, Hugo; PIRES, Walter. Arquitetura da Imigração Japonesa. In: Projeto – revista brasileira de arquitetura, planejamento, desenho industrial e construção, n.72, 1985. São Paulo: Projeto Editores Associados Ltda, p.99-104.
Eixos de análise abordados:
Saberes tradicionais e espaço arquitetônico
Tecnologia tradicional no território e na edificação: vigências e usos contemporãneos
Território e etnicidade
Dados sobre o autor(es) e obra:
Celina Kuniyoshi possui graduação em História pela Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas Universidade de São Paulo (1977), mestrado em Museologia pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (1980), doutorado em História pela Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas Universidade de São Paulo (1996) e pós-doutorado junto à Universidad Nacional Autonoma de Mexico (2005). Presidiu comissão responsável pela elaboração e implantação do Curso de Museologia da Universidade de Brasília (2007-2010). Atualmente é conselheira do Conselho Federal de Museologia e professor adjunto II da Universidade de Brasília. Tem experiência na área de Museologia, História e Arquitetura, atuando principalmente nos seguintes temas: museologia, história e patrimônio cultural.
Hugo Massaki Segawa é Professor Titular da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, do Departamento de História da Arquitetura e Estética do Projeto. Livre-docente pela Escola de Engenharia de São Carlos/USP, Doutor e Mestre pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo/USP. Membro do Advisory Board do DOCOMOMO International (2004-2008), é coordenador do DOCOMOMO Brasil (2002-2007), Editor Regional do The Journal of Architecture (Londres, RIBA). Autor, entre outros livros, de Architecture in Brazil 1900-1990 (New York, 2013), Arquitectura Contemporánea Latinoamericana (Barcelona, 2005), Prelúdio da Metrópole (São Paulo, 2000; 2. ed., 2004), Arquiteturas no Brasil 1900-1990 (São Paulo, 1998; 3. ed., 2010), Ao Amor do Público (São Paulo, 1996). Co-autor dos livros Complexo do Gasômetro (São Paulo, 2007), Ver Zanine (Rio de Janeiro, 2002), Oswaldo Arthur Bratke (São Paulo, 1997; 2. ed., 2012). Líder do Grupo de Pesquisa Arquitetura e Cidade Moderna e Contemporânea, pesquisador do Grupo Paisagem, Cidade e História. Dedica-se à docência, pesquisa e orientação de pós-graduação em temas de História da Arquitetura moderna e contemporânea brasileira e internacional, com ênfase no Brasil e América Latina, bem como à História da Paisagem, com ênfase ao estudo dos espaços
públicos e jardins públicos urbanos. Atualmente Diretor do Museu de Arte Contemporânea da
Walter Pires é arquiteto e dedica-se à preservação do patrimônio cultural há 30 anos. Foi diretor do Departamento do Patrimônio Histórico da Prefeitura Municipal de São Paulo, instituição junto à qual continua atuando como parte do corpo técnico. Possui artigos publicados sobre patrimônio cultural e, em particular, sobre a arquitetura produzida pela imigração japonesa.
Resumo :
Nos estudos sistemáticos sobre a imigração japonesa – processo imigratório, assimilação e integração cultural, estruturas de parentesco, etc. -, a análise do habitat do imigrante está ausente. São registradas três formas de fixação do imigrante: como mão-de-obra na lavoura cafeeira; como arrendatário ou meeiro e como proprietário, ascendendo das duas condições anteriores como colonizador e dono de terras. No primeiro caso, o imigrante vivia em galpões, moradias para colonos, tulhas e terreiros, entre outras estruturas pertencentes ao empregador. No segundo caso, seu relacionamento com a terra era precário e, somente no terceiro, por haver permanência, ocorria o desafio de trabalhar em áreas inexploradas e o surgimento de uma arquitetura específica. O estudo focaliza o município de Registro, no Vale do Ribeira, cuja colonização se deu pela Companhia Imperial de Imigração – empresa responsável pela introdução dos japoneses nos cafezais. Em 1912, contrato celebrado com o governo de São Paulo organizou a colonização de 50.000 hectares de terras devolutas. Definem-se dois momentos naquela colonização: de 1913 a meados dos anos 30, e daí até a década de 1960. Na primeira etapa, a população era escassa, com carência de infraestrutura básica. Iniciara-se com as culturas programadas de café, arroz, cana-de-açúcar e bicho-da-seda, concentrando na sede do município as instalações de administração (escritórios da companhia, sede da cooperativa de agricultores), beneficiamento e comercialização (armazéns e engenhos, mercado) e serviços (ambulatório médico, farmácia, hospedaria), tornando a base do núcleo atual. Os edifícios, obras da companhia nipônica Kaigai Kogyo Kabushiki Kaisha (KKKK), subsidiária da Companhia Imperial, não apresentam traços japoneses. Houve êxito das culturas implantadas, com exceção da do bicho-da-seda, garantindo a fixação do imigrante. Nas moradias, as madeiras duras foram usadas na estrutura independente. Tramas de ripas de jiçara, tipo de palmeira, amarradas com raízes de imbé, formavam a trama que recebia o bairro misturado com palha de arroz para a taipa de mão. O piso era assoalhado, afastado do chão por apoios de madeira ou de tijolos. A cobertura era de palha ou lascas de madeira, depois substituídas por telhas de barro. As particularidades orientais se apresentavam nas várias sambladuras – koshikake-kama-tsugi; mechigai- koshikake-kama-tsugi, kanawa-tsugi; sammai-gumi; hira-hozo; kone-hozo; komi-sem e wari-kasubi – e no emprego do kioro-gumi, estrutura japonesa, para sustentar o telhado, em estilo irimoya. O sistema de encaixes permitia a desmontagem e deslocamento eventual. Tais técnicas eram empregadas, além de moradias, em escolas, kaikans (associações japoneses), capelas e instalações produtivas, como galpões (mono-okis). Em, 1919, um particular, Torazo Okamoto, introduziu a cultura do chá que, com a crise do café em 1929, foi adotado como alternativa econômica. Em 1932, Okamoto traz uma variedade indiana de melhor qualidade e rendimento, que propiciou a autonomia do imigrante em relação à KKKK, abrindo o segundo momento da presença japonesa em Registro. Com a prosperidade advinda do chá, uma tipologia específica para as fábricas de chá, galpões com vão livre térreo para o maquinário, e no piso superior para murchamento do chá por ventilação natural. O texto apresenta ainda ligeiramente exemplos em outras cidades.