COSTA, Ana Lúcia R. M. F. e AMORIM, Luiz Manoel do Eirado. “Acre: história e arquitetura: tradição vernácula e moderna num ambiente de floresta”. Arquitextos, São Paulo, 083.06, Vitruvius, abr. 2007.
Eixos de análise abordados:
Saberes tradicionais e espaço arquitetônico
Construção autogerida em meio urbano: espaços e técnicas
Território e etnicidade
Dados sobre o autor(es) e obra:
Ana Lúcia Reis Melo Fernandes da Costa é graduada em Arquitetura e Urbanismo (UGF), mestre em História (UFPE) e doutoranda em Desenvolvimento Urbano (MDU / UFPE). Foi arquiteta/pesquisadora da Fundação de Tecnologia do Acre de 1992 até 2011. Tem experiência na área de História, com ênfase em arquitetura e urbanismo, como também na pesquisa de técnicas alternativas construtivas para a região Amazônica - arquitetura popular, espontânea e vernácula.
Luiz Manoel do Eirado Amorim é arquiteto (UFPE), PhD UCL/University London e orientador do texto.
Sumário obra:
Não se aplica.
Resumo :
O artigo realiza um pequeno inventário da arquitetura no Estado do Acre, de modo a tratar das contradições existentes entre as formas tradicionais de construir e de ocupar o espaço e as formas modernas. Ele é composto de dois momentos: uma introdução que conta de forma breve a história das primeiras ocupações e cidades daquela região e o inventário arquitetônico. A gênesis das cidades acreanas é assunto que diverge entre os historiadores, pois uma parte acredita que elas se desenvolveram a partir dos seringais, e outra defende que nasceram paralelamente à essas atividades. Os autores consideram as duas possibilidades, e para isso alegam que as cidades estavam sempre próximas aos seringais e que, de uma forma ou de outra, elas estabeleceram relações de dependência e de desenvolvimento com essas áreas. Eles contam que os primeiros aglomerados surgiram de forma espontânea, seguindo o curso da navegação ribeirinha, e tiveram como marca para fixação a quantidade de seringais. Posteriormente, esses aglomerados foram recebendo planos de organização espacial projetados por engenheiros militares, passando à condição de vila, e, como os principais exemplos, cita-se Rio Branco, Cruzeiro do Sul, Xapuri e Sena Madureira, sendo feitos breves comentários acerca dos diferentes tipos de colonização que essas cidades receberam. Em 1912/1913, esses núcleos passaram à condição de municípios, mas a urbanização no Estado se torna algo mais evidente somente a partir de 1970, período marcado pela ideologia desenvolvimentista e pela agropecuária, que resultou na exploração dos recursos regionais e na degradação das atividades econômicas e tradicionais. Ao tratar da arquitetura acreana, os autores pontuam a forte presença vernácula que nela existe, a qual utiliza materiais locais como a madeira, a palha e a terra, e cuja linguagem ‘cabocla’ vem da interação do primitivo saber dos nativos com as maneiras inovadoras trazidas pelos migrantes. Como retrato disso, o texto traz a sede, o núcleo administrativo e o núcleo principal do Seringal Bom Destino. Primeiramente, eles foram construídos de forma improvisada, utilizando o taperi para o abrigo e o paperi para a defumação do látex da borracha. Depois, em virtude da ampliação das atividades extrativistas, foram trazidos modelos pré-fabricados em madeira, cuja cobertura era de telha cerâmica, na linguagem moderna do ecletismo. Junto a esses modelos, também foi trazida para o seringal uma capela toda em ferro, e, segundo os autores, a composição vernácula e erudita é possível de ser vista no modelo urbano até os dias de hoje. A princípio, o padrão construtivo tradicional das edificações ligadas ao Patrimônio Histórico do Acre era em madeira, assim como o padrão das demais construções, entretanto, o processo de urbanização trouxe consigo outras técnicas, como a construção em alvenaria de tijolos cozidos, incentivada pela corrente sanitarista a partir de 1920. Para os autores, a construção do Palácio do Governo marcou esse período, pois o edifício substituiu um antigo prédio todo em madeira, sendo a primeira obra monumental do Estado construída em alvenaria. Apesar dos incentivos administrativos que foram empregados para disseminação das novas técnicas, a cultura regional resistiu por um longo tempo às mudanças, mas hoje, contudo, a situação é diferente, uma vez que a alvenaria alcançou a supremacia na maioria das cidades, estando a madeira presente apenas nas moradias dos seringueiros ou nas periferias urbanas. Por fim, são citadas algumas intervenções realizadas nos últimos tempos na região, em que se comenta acerca da opção técnica utilizada e do impacto gerado pelo empreendimento. O texto apresenta imagens.
AGUIAR, Douglas. Revisitando Turner. Habitação Social e os Desafios da Cidade Contemporânea. Arquitextos, São Paulo, ano 11, n. 127.07, Vitruvius, dez. 2010.
Eixos de análise abordados:
Conceitos e métodos
Construção autogerida em meio urbano: espaços e técnicas
Dados sobre o autor(es) e obra:
Douglas Vieira de Aguiar possui graduação em Arquitetura pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), especialização em Planejamento Urbano (DPU / University College London, 1977/8), Mestrado (MSc / Bartlett School, University College London, 1987) e Doutorado (PhD by Research / University College London, 1991). Foi Secretário do Planejamento Municipal de Porto Alegre (1978-1988) e, desde 1988, é professor associado ao Departamento de Arquitetura da UFRGS.
O artigo trata da defasagem que existe no campo da arquitetura a respeito das habitações de interesse social. Segundo o autor, nos últimos tempos, pouco se avançou na compreensão dos espaços gerados em meio urbano pelos segmentos populares, visto que a tipologia concebida atualmente assemelha-se muito ao modelo habitação-dormitório que foi planejado para as casas operárias do século XIX. Diante de uma produção arquitetônica que segue distinguindo as funções trabalhar e habitar, o autor busca fundamentação nas ideias-chave trazidas pelo arquiteto John Turner para tentar compreender como no contexto pós-industrial os modos de vida populares se acomodam aos espaços. Assim, o artigo se estrutura através da análise de ocupações de surgimento espontâneo e planejado situadas em uma determinada zona da cidade de Porto Alegre, de modo que, ao tratar dessas localidades, os pensamentos de Turner são revisitados. Ao todo são estudados três casos: um loteamento irregular, a Vila do Tio Zeca, e dois conjuntos de habitações de interesse social produzidos pelos órgãos municipais, o Núcleo Progresso e o Núcleo Mário Quintana. A Vila do Tio Zeca é uma favela precária, com muitos barracos de chapa metálica e lata, que tem uma população marcada por catadores e separadores de lixo. O autor ressalta a boa localização que essas moradias apresentam na cidade, como também a conveniência das locações no terreno, correlacionando esses aspectos ao que Turner chamou de “supportive shack”. O autor também traz a expressão “comunal household” ao comentar a constância com que se viam lotes ocupados de forma comunitária nesse assentamento informal. O Núcleo Progresso apresenta uma mistura de sobrados geminados e casas térreas. Nesse caso, o texto assinala as imposições colocadas pelos órgãos municipais quanto às modificações nas moradias, especialmente aquelas que venham a alterar a estética das fachadas, como também as restrições relativas ao uso, proibindo os proprietários de realizarem atividades econômicas. O autor relaciona ambas as situações com o que Turner denominou de “the oppressive house”. O Núcleo Mario Quintana era, inicialmente, composto por um conjunto de lotes estreitos que continham pequenas casas térreas geminadas, que apresentavam possibilidade de expansão na parte frontal e na parte dos fundos da edificação. Atualmente, o local se encontra completamente transformado, o que fez o autor correlacionar a situação com a ideia de “progressive development house”, proposta por Turner, segundo a qual as habitações populares apresentam processos contínuos de desenvolvimento. Após o relato de cada caso, o autor pontua que quanto mais livre é o espaço de qualquer pré-concepção, mais ele se encontra apto a atender as necessidades atuais das moradias populares. A pesquisa também levou o autor a reafirma o pensamento de Turner sobre a produção espontânea da moradia. Segundo Turner, ela apresenta, naturalmente, uma variedade de técnicas e de configurações espaciais, que, em geral, são de baixo custo e com alto valor de uso. O autor finaliza destacando a importância desse arquiteto para o desenvolvimento do estudo da habitação social, alertando para o seu pensamento de que “a vida da habitação tem mais a ver com as instituições humanas do que com as tecnologias de construção”. O artigo conta com plantas e fotografias.
OLIVEIRA, Adriana Mara de Vaz; MONIOS, Mathias Joseph. Transgressão na arquitetura popular. In: Vitruvius. Arquitextos, fev. 2016.
Eixos de análise abordados:
Conceitos e métodos
Tecnologia tradicional no território e na edificação: vigências e usos contemporãneos
Construção autogerida em meio urbano: espaços e técnicas
Dados sobre o autor(es) e obra:
Adriana Mara Vaz de Oliveira possui graduação em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Católica de Goiás (1985), mestrado em História das Sociedades Agrárias pela Universidade Federal de Goiás (1999) e doutorado em História pela Universidade Estadual de Campinas (2004). Atualmente é professora adjunta II da Faculdade de Artes Visuais da Universidade Federal de Goiás, ministrando o curso de Arquitetura e Urbanismo. É integrante do corpo docente do Programa de Pós Graduação em Arquitetura e Urbanismo - Mestrado Projeto e Cidade da mesma instituição. Tem experiência na área de Arquitetura e Urbanismo, com ênfase em Teoria, História e Crítica da Arquitetura e do Urbanismo, atuando principalmente nos seguintes temas: arquitetura, cidade, cidade contemporânea, projeto de arquitetura, história da arquitetura e da cidade, patrimônio e memória, teoria e crítica da arquitetura, cultura arquitetônica, memória e cidade, urbanismo.
O artigo trata da arquitetura popular e do envolvimento dos autores com o assunto. O texto expõe a escassez de informação que existe no campo da arquitetura brasileira em relação a essa vertente, uma vez que os interesses de estudo se concentram nas manifestações eruditas. Essa constatação, segundo o artigo, particulariza-se em Goiás e é fruto da dificuldade de compreensão da legitimidade dessas manifestações como objeto arquitetônico. Antes de relatar sua experiência, os autores distinguem o popular do vernacular na arquitetura brasileira. Para eles, o que distingue essas manifestações entre si são os aspectos ligados à contemporaneidade que estariam presentes na arquitetura popular, tais como a industrialização dos materiais de construção e a interferência da globalização nas ações do morar. Segundo os autores, no âmbito dessa arquitetura, identificam-se aspectos tradicionais que se imbricam com outros advindos da modernidade, especialmente os relativos ao desejo de personalização ou individualização da morada, afastando-se da tradição. Inicialmente, seus estudos se voltavam para a arquitetura vernacular goiana realizada sem o auxílio de arquiteto, mas, com o passar do tempo, sua abordagem foi sofrendo ampliações, acrescentando-se à análise aspectos ligados ao popular. Neste âmbito, onde há junção e sobreposição entre tradição e modernidade, ou seja, o das chamadas culturas híbridas, os autores deram início a nova pesquisa, a qual, até a feitura deste artigo, estava em andamento. Intitulada “Arquitetura dos sentidos: entre o vernáculo e o popular”, essa pesquisa volta o olhar para o conhecimento e o registro dessas expressões arquitetônicas em Goiânia. O artigo aborda alguns aspectos dessa pesquisa, principalmente no que se refere à arquitetura goianiense e à sua relação com o gosto. Essa arquitetura foi analisada como objeto kitsch, tomando-se o livro Arquitetura kitsch suburbana e rural, de Dinah Guimaraens e Lauro Cavalcanti, como referência em tal problematização. O texto apresenta essa obra e analisa o termo “kitsch”, discorrendo sobre o fenômeno de um modo geral e sobre como Guimaraens e Cavalcanti o adaptaram à realidade brasileira. Ao final, são tecidos breves comentários acerca das moradias catalogadas na pesquisa. Essa identificação priorizou casas populares mais antigas, nas quais foram averiguadas as permanências e as alterações da tradição vernácula goiana, mas tais informações não são apresentadas ao longo do texto. Foram também identificadas as moradias populares originadas de ocupações mais recentes e que se sobressaem pelo apego às tradições construtivas, pela representatividade dentro do conjunto e pela originalidade. Este segundo conjunto de moradias tem, no texto, uma abordagem maior, sendo discutidos os seus aspectos externos, principalmente aqueles relativos aos fechamentos frontais dos lotes, em termos de formas, materiais, cores, revestimentos e objetos decorativos.
GOMES, Marco Aurélio A. de Filgueiras. Escravismo e Cidade: notas sobre a ocupação da periferia de Salvador no século XIX. RUA. Revista de Arquitetura e Urbanismo, Salvador, v. 3, n.4/5, p. 7-17, 1990.
Eixos de análise abordados:
Território e etnicidade
Dados sobre o autor(es) e obra:
Marco Aurélio A. de Filgueiras Gomes possui graduação em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de Brasília, doutorado em Ciências Sociais pela Université de Tours e pós-doutorado pela New York University. É Professor Titular da Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal da Bahia, onde leciona desde 1986 nos cursos de graduação e pós-graduação. Atua nas linhas de pesquisa História da Cidade e do Urbanismo e Processos Urbanos Contemporâneos. Criou a Revista RUA (FAUFBA); foi editor da Revista Brasileira de Estudos Urbanos e Regionais (publicada pela ANPUR), entre 2001 e 2004. Foi membro da diretoria da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Planejamento Urbano e Regional- ANPUR nos biênios 2005/2007 e 1991/1993. Seus principais temas de pesquisa são história do urbanismo no Brasil e América Latina; circulação de ideias no meio profissional; história e cultura na cidade contemporânea; e relação entre megaeventos e reestruturação urbana.
O trabalho trata da relação entre as transformações da escravidão urbana e sua relação com a ocupação da periferia de Salvador, antes cercada por quilombos e roças de libertos, e, a partir do final do século XIX, por terreiros de candomblé. No começo do séculoc XIX, a cidade dependia dos escravos para transporte de pessoas, transporte de mercadorias, abastecimento de água, retirada de dejetos, abastecimento alimentar, limpeza urbana, iluminação pública e operação interna das moradias. A cidade apresentava formas específicas de trabalho do escravo - o ganho e o aluguel - distintas do trabalho escravo no campo. Para o escravo urbano, a senzala desaparece como forma de moradia. Serão barracos na periferia, cortiços, porões e “lojas”, andares térreos ou subsolos de antigos sobrados, os espaços usados como alojamento de escravos e moradias para os mais pobres. A cidade aparecia como lugar propício para sua fuga, para maior liberdade nas relações interpessoais, incluindo as afetivas, e para sua alforria. A partir da metade do século XIX, haverá mudanças profundas no sistema escravagista, com o recuo do escravagismo na cidade. O resultado foi a ocupação intensiva de brechas na área central da cidade, com subdivisão de antigos casarões, ocupação de lojas e de quartos nos fundos dos imóveis nas freguesias centrais – Santana, São Pedro, Pilar e Conceição. Para estes moradores, estar no centro era importante, ligados que estavam ao pequeno comércio e à prestação de serviços, o que foi facilitado pela saída de famílias ricas dessas áreas e pelos seus primeiros sinais da decadência. Outro resultado foi a ocupação da periferia com uma “dinâmica negra”, em torno de roças, quilombos e candomblés. As freguesias com características rurais (Santo Antônio, Brotas e Vitória) formavam um “cinturão rural” em volta da cidade, com população dispersa em pequenas roças, muitas vezes, dotadas de pequenas casas cobertas de palha. Há poucos registros dos quilombos, porém ali estavam as colinas, matas, rios e lagoas que serviam como suporte para uma coletividade clandestina. Os quilombos eram heterogêneos quanto ao porte: de cinco escravos fugidos até o do Buraco do Tatu – com menos de 100 habitantes - na freguesia suburbana de Santo Amaro de Ipitanga, ou o do Urubu, no Cabula. Eram comunidades móveis, nem sempre em relação harmônica com seus vizinhos, alimentadas pelo fluxo de escravos que encontravam na periferia, facilidade para a fuga e refúgio, e, na cidade, postos de trabalho. Várias áreas periféricas atuais teriam surgido daqueles quilombos e, segundo o autor, sua toponímia seria reveladora: Cabula, Beiru, Bogum, Bonocô. Também seriam propícias aos terreiros de candomblé, concedendo a privacidade para uma religião nem sempre bem-vista, que dependia das árvores sagradas, das fontes, de certas pedras. Os terreiros também cercavam a cidade e, por sua vez, serviam como núcleo de ocupação, rodeados de moradias daqueles que lhes estavam relacionados.
ZANI, Antônio Carlos. Arquitetura em madeira. Londrina: Eduel, 2013. 397p.
Eixos de análise abordados:
Saberes tradicionais e espaço arquitetônico
Dados sobre o autor(es) e obra:
Antonio Carlos Zani possui Doutorado em Arquitetura e Urbanismo pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (1998), Mestrado em Tecnologia do Ambiente Construído pela Escola de Engenharia da Universidade de São Paulo (São Carlos) (1989) e Graduação em Arquitetura e Urbanismo pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Farias Brito (1979). Professor Adjunto A (concursado em 2007), no curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Estadual de Londrina e Professor do curso de Especialização em Projeto Arquitetônico, Composição e Tecnologia do Ambiente Construído, tem experiência profissional em Arquitetura e Urbanismo, com ênfase em Projeto de Edificações. Pesquisador da arquitetura regional em madeira com quatro livros publicados e sete capítulos de livros. Recebeu 9 prêmios e/ou homenagens.
Informações extraídas de: http://lattes.cnpq.br/6202079701421498
Sumário obra:
Introdução:
Arquitetura em Madeira no Paraná
As Construções de araucária no Sul e Centro Sul do Paraná no final do século XIX e início do século XX
A Predominância da Arquitetura em Madeira do Norte do Paraná nas décadas de 1930 a 1950
Cultura Arquitetônica Norte-Paranaense
Repertório Arquitetônico
Técnica e Sistema Construtivo
A Arquitetura dos Edifícios em Madeira
Casas Urbanas de Londrina
Capelas
A marca dos imigrantes Japoneses
A marca dos imigrantes Alemães em Rolândia
Tulhas de Café
Serraria Curotto
Resumo :
A obra trata da arquitetura em madeira produzida por migrantes e imigrantes no norte do Estado do Paraná, mais especificamente, do período que vai dos anos 1930 aos anos 1970. A colonização dessa região começou em 1920, com um projeto de cidades planejadas, composto de pequenas e médias propriedades rurais distantes até 20 km dos núcleos urbanos. Os imigrantes - em sua maioria italianos, alemães e japoneses - e os migrantes paulistas, mineiros e nordestinos, aproveitando a disponibilidade de madeira na região, a quantidade de carpinteiros no local e buscando satisfazer as suas necessidades, principalmente de moradia, mas também ligadas ao lazer e à religião, acabam por construir edifícios em madeira com soluções simples e com base nos princípios construtivos que cada indivíduo trazia de sua terra natal. As primeiras edificações erigidas foram provisórias, já que um desconto no valor do lote foi oferecido para aqueles que construíssem imediatamente as suas casas. Destacam-se três importantes momentos da ocupação dos imigrantes. O primeiro se inicia em 1930 e dura até meados de 1940. Ligado à representação da região como “Terra da Promissão”, tinha seus edifícios da zona rural e urbana em madeira, geralmente a peroba rosa, apresentando um caráter provisório e volumetria simplificada com pouco rigor estético. As exceções arquitetônicas estavam nos edifícios de imigrantes alemães e japoneses que possuíam tratamento plástico. O segundo momento, que vai dos anos 1940 ao final dos anos 60, se dá quando a região é caracterizada como “Eldorado”. A fusão dos saberes de migrantes e imigrantes unifica as técnicas e sistemas construtivos, gerando construções de caráter permanente e de alta qualidade plástica e construtiva. O terceiro momento, denominado “Fim do Eldorado”, corresponde aos anos 1970 e sinaliza a decadência da produção em madeira com qualidade e rigor, devido à escassez da matéria-prima na região. Analisando outras regiões do estado, como a sul e centro sul, nota-se que a ocupação data do século XIX, e que o material predominante era a madeira de pinho. No norte novo e na região noroeste (expansões da colonização do Norte) a ocupação se dá em 1960 e 1970 com predominância dos mesmos materiais e tipologia arquitetônica usada nas construções do norte. Já no oeste e no sudoeste, a arquitetura em madeira apresenta dois momentos: o primeiro, de 1930 a 1950, caracterizado pela expansão das serrarias do centro sul para exploração das matas de pinho, e, o segundo, nas décadas de 1960 e 1970, caracterizado pela exploração das terras para a agricultura. O autor considera importante analisar os aspectos compositivos das construções em madeira, ou seja, o volume e a superfície. O volume é determinado pelo conjunto arquitetônico: planta, telhado, varanda, porão (que usualmente servia de base) e a estrutura. No que concerne à superfície, há um destaque para o sistema vertical de tábua e mata-junta fixados com pregos, usado para vedação externa e interna e também destaque para os ornamentos rendilhados nos frontões, nas empenas e esquadrias. No último capítulo do livro, o autor destaca as casas urbanas de Londrina, construídas em madeira. Essas habitações possuíam quatro zonas básicas: estar, repouso, serviços e higiene. Na zona de estar, tem-se a varanda, o local de descanso, o hall de entrada, (espaços destacados pela rica presença de ornamentos), a sala, local de recepção e o local de acesso aos demais aposentos. A zona de repouso engloba dois ou três quartos, conectados entre si ou não, que se ligam à sala ou cozinha. A zona de serviço é o conjunto cozinha/área de serviço, podendo apresentar despensa. Essas áreas originalmente tinham mobília básica de materiais rústicos e, com a evolução dos equipamentos, sofreram alterações que reorganizaram os espaços e substituíram a madeira por alvenaria. A zona de higiene aparece como uma construção simples, de uma água, localizada no fundo do quintal com chuveiro, vaso e fossa. As casas possuem um programa simples de quatro plantas básicas, que podem sofrer variações e, assim, gerar variados tipos volumétricos. A ocupação do norte do Paraná foi pensada para que as cidades maiores funcionassem como suporte para as cidades rurais. Logo, pela grande distância e infraestrutura precária, foram construídos bairros rurais que atendessem às lavouras cafeeiras. Nesses bairros, as capelas, construídas em madeira, tinham um programa simples, com nave coberta por telhado de duas águas, altar e sacristia com telhados mais baixos. Mas, além disso, podiam apresentar mezanino, usado como coro e salão de festas e estruturas esportivas. A qualidade plástica dessas construções é dada a partir do programa, do partido e da composição das fachadas, com vedação de tábuas e mata-juntas, e pelo uso das cores. O sistema construtivo das capelas possui pórticos atirantados por cabos de aço e, ainda, uma viga horizontal chamada “estronca”, que fixa as tábuas de vedação. Os imigrantes japoneses construíram casas, kaikan (sede da associação), escolas e templos budistas. Nessas construções aplicaram elementos como o telhado irimoya, o guenkan (varanda ou hall de entrada elevado), e ornamentos como onigarawa (telha de ponta) e ranma (rendilhado). As casas urbanas adaptaram-se à planta padrão, volumetria e materiais usados, porém, o espaço interno e os ornamentos eram bem característicos, com um compartimento para banhos de imersão (ofurô) e símbolos no conjunto sala de estar/guenkan. Os imigrantes alemães se instalaram na região que é hoje o município de Rolândia, construindo escolas, clubes, hotéis e casas de comércio na zona urbana, além de sedes de fazendas cafeeiras na zona rural. A produção desses imigrantes marca o auge da arquitetura em madeira na região, destacando-se pelo tamanho e qualidades plásticas e construtivas já adaptadas ao modo de vida local. As residências se caracterizavam pelo uso do telhado em quatro águas, das tesouras atirantadas, do sótão, das janelas de canto, do peitoril com aparador, do revestimento interno formando parede dupla e pelo uso do mobiliário artesanal. As fazendas alemãs foram as mais representativas do período cafeeiro. A casa era implantada no espigão, permitindo o domínio da paisagem, e a colônia no fundo do vale, próxima a córregos. As tulhas e terreirões de café ficavam entre a sede e a colônia. O programa das sedes possui setor social, com salas e varandas, setor privado, com alas para os quartos, e setor de serviços. A técnica e o sistema construtivo são os mesmos das casas urbanas, com a diferença do emprego de tesouras atirantadas para viabilizar o sótão. A casa, monumental, divide as atividades em blocos distintos, com coberturas em águas inclinadas, conectados por varandas ou circulações e fachadas em tábuas de mata-junta. O programa das tulhas de café, segundo o tamanho e produção da propriedade rural, possuía espaços para estocagem, secagem, sistema de aeração natural e artificial. “O sistema estrutural é reforçado por uma trama de peças prismáticas, travadas externamente, através de sambladuras” (p. 357), podendo ser atirantadas por agulhas metálicas e vedação de tábuas e mata-junta na vertical, ou de tábuas macho e fêmea na horizontal. Desde o fim do século XIX até os anos 1970 houve grande ocorrência de construções em madeira em todo território paranaense, revelando uma cultura arquitetônica que aos poucos desaparece devido às demolições. Esse tipo de arquitetura sempre sofreu preconceitos, pois se acreditava que construções em madeira representavam atraso por ser um material barato e acessível. Leis restringiram esse tipo de construção desde 1905, como, por exemplo, em Curitiba, onde a construção de casas de madeira foi proibida nas ruas principais e, em seguida, em toda a região central da cidade.
Estudantes: Gabriela Souza Cardoso Pinheiro, Larissa Maia e Zara Souza.
Data da revisão:
quarta-feira, 28 Dezembro, 2016 - 12:45
Responsável pela Revisão:
Denis Matos, Lais Souto Novaes, Daniel J. Mellado Paz
ISBN ou ISSN:
978-85-7636-093-3
Autor(es):
Marcia Ferreira Neto
Onde encontrar:
Acervo da Professora Márcia Sant’Anna.
Referência bibliográfica:
FERREIRA NETO, Marcia. Terreiros de Candomblé do Rio de Janeiro. São Paulo: Via Lettera. Rio de Janeiro. IPHAN, 2009.
Eixos de análise abordados:
Território e etnicidade
Dados sobre o autor(es) e obra:
Marcia Ferreira Neto é docente em Museologia, no curso de Arqueologia da UFPI/PI. Mestre em História Social pela Universidade Severino Sombra, com a Dissertação: "Os terreiros de candomblé como representação da identidade cultural afro-brasileira". Autora do livro: Terreiros de Candomblé do Rio de Janeiro/IPHAN (2009). Capítulo no livro Oficina de Estudos da Preservação III: Mapeamento dos terreiros de candomblé do estado do Rio de Janeiro/ IPHAN/RJ(2015). Coordenadora do projeto Mapeamento dos terreiros de candomblé do estado do Rio de Janeiro/ IPHAN/RJ (2006 a 2010). Possui graduação em museologia pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro- UNIRIO(1983).
Informações obtidas em: http://lattes.cnpq.br/8752649579558059
Sumário obra:
Apresentação
Introdução
O projeto
O Candomblé no Rio de Janeiro
Conhecendo o Candomblé
Participação do professor Antônio Olinto como iniciado no Ilê Asé Opó Afonjá
Oluwô Bamikolê Ojô Kowalé
Terreiros de Candomblé do Rio de Janeiro
Terreiro Abaçá do Ogun (pai Ronaldo de Oxalaguian)
Terreiro da Boa Viagem (Zezinho da Boa Viagem)
Terreiro de Ogunjá (Pai Gustavo)
Terreiro Ilê Ajagunã Asé Oyá Messan (Pai Reginaldo de Oxalá)
Terreiro Ilê Asé Babá Nile Ké - Casa de culto de Babaegun (Ojé Josiel)
Terreiro Ilê Asé Babá Olwô Omim (Pai Miguel)
Terreiro Ilê Asé Baru Lepê (Pai Valdomiro de Xangô)
Terreiro Ilê Asé Igbá Odé (Mãe Regina de Oxóssi)
Terreiro Ilê Asé Lissá Vodun (Mãe Sueni de Lissá)
Terreiro Ilê Asé Nidê (Pai Ninô)
Terreiro Ilê Asé Nilá Odé (Pai Ícaro de Oxóssi)
Terreiro Ilê Asé Obaluayê Azauany (Pai Ricardo)
Terreiro Ilê Asé Odé Lulê (Pai Alexandre de Oxóssi)
Terreiro Ilê Asé Ogbójù Firê Imo Ogun Oyá (Pai Gun Jobi)
Terreiro Ilê Asé Oju Oba Ogo Odo (Pai Bira de Xangô)
Terreiro Ilê Asé Omó Karê (Pai Aguiar de Oxóssi)
Terreiro Ilê Asé Omó Oya Legi (Mãe Palmira)
Terreiro Ilê Asé Opó Afonjá (Mãe Regina Lucia)
Terreiro Ilê Asé Oya Funké (Pai Alberto de Yansã)
Terreiro Ilê Asé Ti Oxum Omi Ia Ilê Oba Ti Odou Ti Ogun Ale (Pai Zezito de Oxum)
Terreiro Ilê Asé Yá Atara Magbá (Mãe Gisele Omindarewá)
Terreiro Ilé Asé Yá Nassó Oká Ilê Osun (Yá Nitinha de Oxum)
Terreiro Ié Asé Yátopé (Oyá Gindé)
Terreiro Ilê Obá Nilá (Mãe Edelzuita de Oxalá)
Terreiro Ilê Omi Ojuarô, Asé Alakêtu (Mãe Beata de Yemanjá)
Terreiro Ilê Omolu Oxum (Mãe Meninazinha de Oxum)
Terreiro Inzo Ia Nzambi - Ngana Kingongo - Tumba Junsara (Mameto Madozã)
Terreiro Kupapa Unsaba - Bate-Folha (Mameto Majebi)
Terreiro Kwé Olô Jomim (Mãe Zezé de Oxum)
Terreiro Kwé Omô Inã (Doté Luís de Yansã)
Terreiro Kwé Sinfá (Mejitó Helena de Dan)
Resumo :
A obra é fruto do Projeto de “Mapeamento dos terreiros de candomblé do Estado do Rio de Janeiro”, desenvolvido entre os anos de 2006 a 2008, cuja intenção era dar subsídios para processos de tombamento que vinham sendo solicitados ao IPHAN. Este órgão já havia conferido proteção a alguns terreiros da Bahia e do Maranhão e essa ação se revelou de grande importância para os adeptos. O projeto foi desenvolvido pelo IPHAN-RJ com o apoio do Departamento do Patrimônio Imaterial, tendo sido montada uma equipe interdisciplinar e utilizada a metodologia do Inventário Nacional de Referências Culturais (INRC). Dentro das categorias dessa metodologia, optou-se por trabalhar com a ficha relativa a “Lugares”, por se considerar o terreiro como um lugar onde são produzidas e reproduzidas as representações materiais e imateriais de matrizes religiosas de cultos afro-brasileiros. Não somente as construções físicas dos terreiros foram alvo de estudo: trabalhou-se com o entendimento de que os bens de natureza imaterial são complementares aos de natureza material. Segundo a autora, uma das questões que necessitavam melhor compreensão era o processo de apropriação das culturas religiosas africanas em solo brasileiro. O projeto contou com um breve levantamento bibliográfico, mas a ênfase do trabalho foi na pesquisa etnográfica de campo, tendo como principal foco a oralidade. A primeira fase durou seis meses e nela foram identificados vinte dos terreiros mais antigos e tradicionais, mas, no final, foi verificada a necessidade de aumentar esse quadro, que passou para a um total de trinta e dois terreiros pesquisados. Esses terreiros são das nações Kêtu, Jeje, Angola, Ijexá e Efon, e o critério para essa seleção seguiu a indicação de Babalorixás e Yalorixás de casas tradicionais. Após expor as motivações que levaram à execução do projeto e à adoção da sua metodologia, a obra traz informações gerais sobre os candomblés no Rio de Janeiro, traça uma breve introdução acerca da religião afro-brasileira e relata brevemente a experiência da autora como iniciada no Candomblé. Por fim, são apresentados os trinta e dois terreiros inventariados, sendo cada um tratado separadamente por meio de um pequeno texto e algumas fotografias. Essa abordagem inclui a identificação das casas que funcionam como centros irradiadores de todo esse sistema cultural e focaliza seus fundadores e os atuais dirigentes, a história das casas, o calendário de festas anuais e ritos. No livro, é quase nula a tentativa de entendimento do espaço arquitetônico e, quando ela ocorre, se dá de forma superficial e unicamente descritiva. Nesse sentido, destaca-se a conotação religiosa dada às cozinhas, que agregam parte do conhecimento inerente à religião, e aos quartos dos orixás, que são designados, pela a autora, como “pequenas Áfricas” dentro de um terreiro. Neste ponto, o texto explica que os terreiros de candomblé surgiram como uma “reinvenção” do macro universo cultural e religioso trazido por alguns representantes de variadas regiões do continente africano, que aqui foram adaptadas por não possuírem espaço adequado para reprodução exata dos cultos. A obra contém fotografias dos candomblés inventariados.
CARVALHO, Ronaldo Marques de; MIRANDA, Cybelle Salvador; SOUZA, José Antonio da Silva; MACÊDO, Alcebíades Negrão; BESSA, Brena Tavares. A preservação do “saber fazer”. A taipa-de-mão do “Canto do Sabiá”. In: Vitruvius, Arquitextos, maio de 2015.
Eixos de análise abordados:
Saberes tradicionais e espaço arquitetônico
Conceitos e métodos
Tecnologia tradicional no território e na edificação: vigências e usos contemporãneos
Dados sobre o autor(es) e obra:
Ronaldo Nonato Ferreira Marques de Carvalho é graduado em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal do Pará (1973) e Mestre em Arquitetura pelo PROARQ/Universidade Federal do Rio de Janeiro (2006). Doutor em Engenharia de Recursos Naturais pelo Programa de Pós-graduação em Engenharia de Recursos Naturais da Amazônia PRODERNA/UFPA (2014). Pós-doutorado em história da Arte pela Universidade de Lisboa.
Cybelle Salvador Miranda, possui graduação em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal do Pará (1997), Mestrado em Planejamento do Desenvolvimento pelo Núcleo de Altos Estudos Amazônicos da Universidade Federal do Pará (2000), Doutorado em Ciências Sociais (Antropologia) pela Universidade Federal do Pará (2006). Pós-doutorado em História da Arte pela Universidade de Lisboa. Atualmente é professor adjunto IV da Universidade Federal do Pará.
José Antonio da Silva Souza possui graduação em Engenharia Química - Departamento de Engenharia Química (1978) e mestrado em Engenharia de Materiais e Metalurgia PUC-RJ (1980). Doutor em Engenharia pela UFPA (PRODERNA - UFPA). Atualmente é professor Associado da Universidade Federal do Pará, experiência na área de Engenharia Química, com ênfase em Processos Inorgânicos, em Engenharia de Materiais e Metalurgia.
Alcebíades Negrão Macêdo possui graduação em Engenharia Civil pela Universidade Federal do Pará - UFPA (1994), mestrado em Engenharia de Estruturas pela Escola de Engenharia de São Carlos Universidade de São Paulo - EESC/USP (1996) e doutorado em Engenharia de Estruturas pela Escola de Engenharia de São Carlos Universidade de São Paulo - EESC/USP (2000). Atualmente é professor Associado nível 3 da Faculdade de Engenharia Civil do Instituto de Tecnologia da Universidade Federal do Pará FEC/ITEC/UFPA.
Brena Tavares Bessa possui graduação em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal do Pará (UFPA). Atualmente, é colaboradora do Laboratório de Conservação, Restauração e Reabilitação (LACORE), onde desempenha funções em projetos e pesquisas relacionadas à área de restauração e reabilitação de edificações, aliada ao estudo da tecnologia dos materiais, e mestranda do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Pará (UFPA).
No Estado do Pará, especificamente, na sua capital Belém, podem ser observadas diversas edificações que se utilizaram da técnica construtiva denominada taipa de mão. Para melhor contextualização, desta técnica vernacular que é tão fundamental, cita-se um exemplo de edificação construída aos seus moldes e que serve como estudo de caso para este trabalho, a residência, Canto do Sabiá. Esta propriedade foi adquirida em 1933 pelo alemão Carl Fetcher, a fim de servir como casa de veraneio para a sua família. A propriedade já possuía uma construção residencial com características coloniais e foi modificada segundo os interesses do dono. Fetcher veio para o Brasil trabalhar na empresa Berringer & Cia e, como ele, muitos estrangeiros se assentaram na região, em decorrência ao ápice da produção de borracha na Amazônia. Esses estrangeiros foram responsáveis por grandes transformações tecnológicas na região, que ainda era configurada por um cenário bastante colonial. A residência “Canto do Sabiá”, situada à Rua Nossa Senhora do Ó, no bairro da Vila, na Ilha de Mosqueiro, possui volumetria requintada, características de um chalé urbano, próprio do estilo eclético do século XX, e grande semelhança com edifícios que podem ser encontrados em regiões da Alemanha na Europa. Um traço marcante da arquitetura alemã apresentado no edifício, são as marcações em argamassa na sua fachada, semelhantes aos tramos usados no sistema enxaimel (sistema construtivo alemão), que foram incorporados à residência, em virtude da origem da família. Porém, é necessário entender que a técnica utilizada no “Canto do Sabiá” foi a taipa de mão proveniente de Portugal. O sistema enxaimel é apenas evocado pelos relevos em massa na fachada do edifício, empregado apenas como um recurso estético e identitário. A taipa é, genericamente, uma técnica construtiva vernacular, que se utiliza de terra molhada ou umedecida, sem que este material seja passado por nenhum processo de melhoramento de sua composição, ou seja, usado em sua forma natural. Existe mais de um tipo de taipa sendo que, a taipa de pilão e a taipa de mão, empregada no edifício em estudo, são as formas mais utilizadas no Brasil. A taipa de mão, ou também denominada no Estado do Pará como tabique, possui um sistema de amarração feito com cipó, no qual se cria um painel transfurado que é finalizado a partir do preenchimento desse com o barro. A taipa de mão está presente em muitas regiões do Brasil, e a divulgação do “saber fazer” esta técnica é um modo de preservá-la, já que se apresenta como patrimônio imaterial brasileiro e mundial. A casa de taipa tem valor histórico, principalmente para a história da técnica construtiva, e, mais uma vez, conservar essas tradições culturais populares é indispensável, perpetuando as suas práticas e também as suas transformações. Sendo assim, o estudo das técnicas tradicionais contribui para garantir a sua continuidade e o seu, aperfeiçoamento.
Isa Helena Tibúrcio e Lourival Pacheco Castro Neto
Onde encontrar:
Acervo do Prof. Daniel J. Mellado Paz
Referência bibliográfica:
TIBÚRCIO, Isa Helena e CASTRO NETO, Lourival Pacheco. Terrraço-Varanda. In: CANÇADO, Wellington; MARQUEZ, Renata; CAMPOS, Alexandre e TEIXEIRA, Carlos M. (org). Espaços Colaterais. Belo Horizonte: Instituto Cidades Criativas/ ICC, 2008.
Eixos de análise abordados:
Construção autogerida em meio urbano: espaços e técnicas
Dados sobre o autor(es) e obra:
Isa Helena Tibúrcio é arquiteta e urbanista, formada pela EAU-UFMG, em 1992, e Mestre em Arquitetura pela EAU-UFMG em 2000. Trabalha como autônoma em projeto e obra de arquitetura. Ensinou na Unileste – Centro Universitário do Leste de Minas Gerais, em Coronel Fabriciano, entre 2000 e 2010, onde foi coordenadora do Curso de Arquitetura e Urbanismo. Ali trabalhou em Ensino, Pesquisa e Extensão nas áreas de arquitetura residencial, de interiores, tipologia “terraço-varanda”, dinâmicas urbanas no Vale do Aço e projetos de interesse social. Entre 2004 e 2005 foi docente no Curso de Especialização em Arquitetura de Interiores do IEC – Instituto de Educação Continuada da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Desde 2010 ensina no Curso de Arquitetura e Urbanismo do CUMIH – Centro Universitário Metodista Izabela Hendrix, em disciplinas relacionadas ao espaço público, mobilidade urbana e espaços verdes. Desde 2011 trabalha como arquiteta na Tecnometal Engenharia, em Vespasiano, Minas Gerais, com ênfase em arquitetura de interiores e design de produto.
Não foram encontrados dados sobre Lourival Pacheco de Castro Neto. Em 2004 era discente orientado pela Prof. Isa Helena Tibúrcio em pesquisa intitulada Tipologias Arquitetônicas do Vale do Aço.
Sumário obra:
Não se aplica.
Resumo :
Em breve texto dentro do livro Espaços Colaterais, os autores expõem o terraço-varanda, espaço que seria central no Vale do Aço, em Minas Gerais, e que apresentaria vantagens na proteção do edifício contra o calor, assim como da laje, controlando a variação térmica, prevenindo as fissuras decorrentes e criando uma área versátil para o uso. Constitui-se em um espaço coberto que coroa a edificação, sendo um misto de varanda e terraço, com pilares perimetrais – estrutura em madeira, concreto ou aço – e cobertura planar em telha cerâmica, de amianto ou metálica, contrastando com o conjunto. Está presente em bairros de diversos níveis sociais, em edifícios residenciais e comerciais, verticais e horizontais. Apesar do pé-direito baixo e da falta de tratamento térmico e acústico, o que inibiria o uso prolongado, abrigaria funções tão diversas como: lavanderia, depósito, oficina de arte, ginástica, descanso, festas, cozinha e mesmo a criação de pequenos animais.
WEIMER, Günter. Adaptação da Arquitetura Popular Portuguesa aos Trópicos Sul-Americanos. In: Actas do 1º Colóquio Internacional de Arquitectura Popular. Arcos de Valdevez: Casa das Artes de Arcos de Valdevez – Município de Arcos de Valdevez, 2013.
Construção autogerida em meio urbano: espaços e técnicas
Território e etnicidade
Dados sobre o autor(es) e obra:
Günter Weimer é arquiteto, graduado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1963), mestre em História da Cultura pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (1981) e doutor em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de São Paulo (1990). Atualmente é professor convidado do Programa de Pós-graduação em Urbanismo (PROPUR) da Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Tem experiência na área de Arquitetura e Urbanismo, com ênfase nos seguintes temas: arquitetura popular, história da arquitetura, imigração alemã, açorianos no Brasil e Rio Grande do Sul.
O autor acredita que a arquitetura popular, tema digno de estudo em Portugal, era “tabu” no Brasil pela baixa-estima quanto às origens da nação: os índios seriam selvagens; os negros africanos, igualmente depreciados; e a herança portuguesa, malquista nas duas “descolonizações” referentes à Independência do Brasil e à República. Como a vida familiar era cuidada pelas mulheres – nativas ou africanas – se o exterior da arquitetura mostrava-se lusitano, a presença de outras etnias se revelaria nesse âmbito. O autor busca então as contribuições dos “párias da sociedade colonial”. Dada a ausência de bibliografia sobre as realizações dos africanos, realizou quatro viagens à África, encontrando vasta variedade de arquitetura. Iniciou pela costa atlântica, junto com Moçambique, encontrando uma arquitetura muito bem adaptada aos trópicos, com edificações monofuncionais, separadas entre si, com ampla ventilação cruzada pela elevação do teto acima do acabamento das paredes, dispensando janelas. O emprego de amplos beirais na proteção contra o sol o leva a sustentar que as varandas brasileiras não teriam vindo do Extremo Oriente como se diz, e sim da África. Nos engenhos de cana-de-açúcar, as senzalas seriam transposições das sanzalas, nome quimbundo para uma forma urbana comum entre o norte de Angola e o Gabão. Como o quilombo, nome quimbundo para vila ou povoado, havendo a adaptação no Brasil para uma moradia “polifuncional” inexistente na África. Também as formações urbanas teriam reminiscências africanas nas tipologias arquitetônicas e urbanísticas. NO que toca à contribuição indígena, o autor parte de uma polêmica sobre a origem das casas subterrâneas encontradas no Rio Grande do Sul, com cobertura de matéria orgânica e base escavada no solo. Por ocasião da elaboração da Enciclopédia da Arquitetura Vernácula do Mundo, sob coordenação de Paul Oliver, encontrou soluções similares nos ainus das ilhas de Hokkaido e Sakalina. Lembrando que os povos mongólicos tiveram domínio sobre mais da metade das terras do globo terrestre, cogitou o parentesco dos índios Caingangues com aqueles ainus. Propõe um estudo filológico identificando os rastros das tipologias arquitetônicas, de um tipo que migrou do norte da Ásia pelas ilhas Aleutas, passando pela América do Norte e Central, a partir da literatura científica de cada lugar: soviética, norte-americana e latino-americana. Explana sobre a evolução da forma e material empregado, defendendo que na América do Sul os tipos se desenvolveram em diversas linhas, formando tramas paralelas e redes complexas. Apresenta algo do estado da arte da Arquitetura Popular no Brasil, com trabalhos sobre as construções de enxaimel dos imigrantes alemães, a transição das casas de pedra para as de tábuas dos imigrantes italianos, a produção em blokhaus dos imigrantes poloneses, as igrejas ortodoxas ucranianas, a arquitetura baixo-saxã dos produtores de laticínios holandeses. Observa que Portugal é um país estabilizado, com população equivalente a 5,4% do total da brasileira, num território que é 1% do brasileiro e, portanto, com densidade 5 vezes maior. O Brasil apresenta, para o autor, os extremos da humanidade, com uma população mais estável, como a negra, e outra móvel, como a indígena, e etnias muito variadas, em processo veloz de transformação, animadas pela herança portuguesa de “relativa tolerância étnica”.
Biblioteca da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFBA.
Referência bibliográfica:
ROSSETTI, Eduardo Pierrotti. “Tensão Moderno/Popular em Lina Bo Bardi: nexos de arquitetura”. In: Cadernos PPG-AU/FAUFBA/Universidade Federal da Bahia. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. Ano 1 n.1. Salvador: EDUFBA, 2003, p. 11-26.
Eixos de análise abordados:
Conceitos e métodos
Tecnologia tradicional no território e na edificação: vigências e usos contemporãneos
Dados sobre o autor(es) e obra:
Arquiteto graduado pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (1999), Mestre em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal da Bahia (2002), Doutor em Arquitetura e Urbanismo pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (2007). Pós-Doutorado junto à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília (2008-2010), com Bolsa PDJ/CNPq. Destaca-se o interesse por história, teoria e projeto, investigando: arquitetura moderna, Brasília, patrimônio, arquitetura contemporânea, a varanda e o morar brasileiro.
Este artigo é baseado na sua dissertação de mestrado, defendida em 2002 no PPG-AU/FAUFBA, sob a orientação do prof. Pasqualino Romano Magnavita.
Essas informações foram retiradas do próprio artigo e do link (acesso: 15/02/2016 às 21:50): http://lattes.cnpq.br/1218180830143253
Sumário obra:
Não se aplica.
Resumo :
O artigo aborda a maneira pela qual a arquitetura de Lina Bo Bardi dialoga com a cultura popular ao pensar o espaço e a materialidade de um projeto moderno, manifestada através da tensão moderno/popular. Para isso, são estabelecidas três instâncias que qualificam essa tensão, que são: materialidade e invenção do projeto; espaço moderno e uso popular; e transformação das escalas de produção. Antecede essa análise uma breve introdução sobre o contexto vivenciado (o debate intelectual do final dos anos 50 e início dos anos 60 sobre a função política do povo, e o contato de Lina com a produção manufatureira do Nordeste), as bases que estruturavam sua abordagem acerca da cultura popular (situada entre as preocupações da esquerda brasileira e aspectos do discurso de Antonio Gramsci), e como a historiografia da arquitetura moderna brasileira organizou-se entorno do tema (aparentemente em torno de um só argumento, o de Lucio Costa). Nesse momento, também são apresentados os conceitos formulados por Lina, o “folclore”, o “artesanato”, e, posteriormente, o “pré-artesanato”, os quais visavam proteger a cultura popular, e, consequentemente, sua arquitetura das possíveis apropriações ilegítimas. Em “materialidade e invenção do projeto” busca-se explorar como o popular se apresenta nas expressividades plásticas dos seus projetos. Segundo o autor, a cultura popular é por ela entendida como exemplo de simplificação de processos, e essa referência se apresenta em sua arquitetura pelo procedimento de uso, fusão e justaposição dos materiais, por seu modo de cruzar referências locais e externas livremente. Também é citada a maneira como a arquiteta projetava. Ao usar tecnologias novas trabalhava as soluções diretamente no canteiro, pois entendia que apesar de a mão-de-obra não estar treinada adequadamente, ela possuía um conhecimento sobre a matéria, e esse era o meio de ajustar o descompasso técnico e social. Em “espaço moderno e uso popular”, a importância imaterial contida nas manifestações populares é vinculada ao uso popular dos espaços projetados por Lina, em que espaços e lugares com pouca significação eram transformados em referências urbanas. Por fim, em “transformação das escalas de produção” são expostas as iniciativas que foram desenvolvidas pela arquiteta a fim de debater a questão do desenho industrial. Segundo o autor, o projeto mais completo de Lina que estrutura essa preocupação é a Escola de Desenho Industrial e Artesanato, planejada em 1962 para funcionar no Solar do Unhão, sede do Museu de Arte Popular de Salvador. Essa Escola foi concebida como parte das atividades inerentes ao referido museu, o qual ainda contava com a proposta de criação do Centro de Documentação Artesanal do Nordeste, também planejado por Lina e encarregado de inventariar as diversas manifestações da manufatura popular da região. A iniciativa da Escola apresentava como objetivo eliminar a diferença entre os que projetavam e aqueles que executavam objetos manufaturados a fim de integrá-los ao processo industrial. Contudo, ela acabou permanecendo no plano das ideias. Ainda sobre a Escola, o autor analisa as relações existentes entre esse plano e as propostas de Walter Gropius para a Bauhaus. O texto finaliza questionando e alertando sobre a velocidade e a maneira como a cultura popular pode ser tomada hoje, e assim tornar-se somente mais uma referência massiva, programadamente descartável em meio a uma aparente cultura mundializada que instaura novas referências constantemente.