Biblioteca da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFBA.
Referência bibliográfica:
ROSSETTI, Eduardo Pierrotti. “Tensão Moderno/Popular em Lina Bo Bardi: nexos de arquitetura”. In: Cadernos PPG-AU/FAUFBA/Universidade Federal da Bahia. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. Ano 1 n.1. Salvador: EDUFBA, 2003, p. 11-26.
Eixos de análise abordados:
Conceitos e métodos
Tecnologia tradicional no território e na edificação: vigências e usos contemporãneos
Dados sobre o autor(es) e obra:
Arquiteto graduado pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (1999), Mestre em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal da Bahia (2002), Doutor em Arquitetura e Urbanismo pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (2007). Pós-Doutorado junto à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília (2008-2010), com Bolsa PDJ/CNPq. Destaca-se o interesse por história, teoria e projeto, investigando: arquitetura moderna, Brasília, patrimônio, arquitetura contemporânea, a varanda e o morar brasileiro.
Este artigo é baseado na sua dissertação de mestrado, defendida em 2002 no PPG-AU/FAUFBA, sob a orientação do prof. Pasqualino Romano Magnavita.
Essas informações foram retiradas do próprio artigo e do link (acesso: 15/02/2016 às 21:50): http://lattes.cnpq.br/1218180830143253
Sumário obra:
Não se aplica.
Resumo :
O artigo aborda a maneira pela qual a arquitetura de Lina Bo Bardi dialoga com a cultura popular ao pensar o espaço e a materialidade de um projeto moderno, manifestada através da tensão moderno/popular. Para isso, são estabelecidas três instâncias que qualificam essa tensão, que são: materialidade e invenção do projeto; espaço moderno e uso popular; e transformação das escalas de produção. Antecede essa análise uma breve introdução sobre o contexto vivenciado (o debate intelectual do final dos anos 50 e início dos anos 60 sobre a função política do povo, e o contato de Lina com a produção manufatureira do Nordeste), as bases que estruturavam sua abordagem acerca da cultura popular (situada entre as preocupações da esquerda brasileira e aspectos do discurso de Antonio Gramsci), e como a historiografia da arquitetura moderna brasileira organizou-se entorno do tema (aparentemente em torno de um só argumento, o de Lucio Costa). Nesse momento, também são apresentados os conceitos formulados por Lina, o “folclore”, o “artesanato”, e, posteriormente, o “pré-artesanato”, os quais visavam proteger a cultura popular, e, consequentemente, sua arquitetura das possíveis apropriações ilegítimas. Em “materialidade e invenção do projeto” busca-se explorar como o popular se apresenta nas expressividades plásticas dos seus projetos. Segundo o autor, a cultura popular é por ela entendida como exemplo de simplificação de processos, e essa referência se apresenta em sua arquitetura pelo procedimento de uso, fusão e justaposição dos materiais, por seu modo de cruzar referências locais e externas livremente. Também é citada a maneira como a arquiteta projetava. Ao usar tecnologias novas trabalhava as soluções diretamente no canteiro, pois entendia que apesar de a mão-de-obra não estar treinada adequadamente, ela possuía um conhecimento sobre a matéria, e esse era o meio de ajustar o descompasso técnico e social. Em “espaço moderno e uso popular”, a importância imaterial contida nas manifestações populares é vinculada ao uso popular dos espaços projetados por Lina, em que espaços e lugares com pouca significação eram transformados em referências urbanas. Por fim, em “transformação das escalas de produção” são expostas as iniciativas que foram desenvolvidas pela arquiteta a fim de debater a questão do desenho industrial. Segundo o autor, o projeto mais completo de Lina que estrutura essa preocupação é a Escola de Desenho Industrial e Artesanato, planejada em 1962 para funcionar no Solar do Unhão, sede do Museu de Arte Popular de Salvador. Essa Escola foi concebida como parte das atividades inerentes ao referido museu, o qual ainda contava com a proposta de criação do Centro de Documentação Artesanal do Nordeste, também planejado por Lina e encarregado de inventariar as diversas manifestações da manufatura popular da região. A iniciativa da Escola apresentava como objetivo eliminar a diferença entre os que projetavam e aqueles que executavam objetos manufaturados a fim de integrá-los ao processo industrial. Contudo, ela acabou permanecendo no plano das ideias. Ainda sobre a Escola, o autor analisa as relações existentes entre esse plano e as propostas de Walter Gropius para a Bauhaus. O texto finaliza questionando e alertando sobre a velocidade e a maneira como a cultura popular pode ser tomada hoje, e assim tornar-se somente mais uma referência massiva, programadamente descartável em meio a uma aparente cultura mundializada que instaura novas referências constantemente.
Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro; Biblioteca Noronha Santos, IPHAN, Palácio Gustavo Capanema, Rio de Janeiro; Biblioteca Aloísio Magalhães, IPHAN, Brasília.
Acervo Profa. Marcia Sant’Anna.
Referência bibliográfica:
CAVALCANTI, Maria Laura. “Cultura e Saber do Povo: Uma Perspectiva Antropológica”. In: Revista Tempo Brasileiro, out.-dez. – n. 147 – 2001 – Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro Ed., p 69-78.
Eixos de análise abordados:
Conceitos e métodos
Dados sobre o autor(es) e obra:
Maria Laura Viveiros de Castro Cavalcanti é Antropóloga, professora do Departamento de Antropologia Cultural e do Programa de Pós Graduação em Sociologia e Antropologia no Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Graduada em História, pela Pontifícia Universidade Católica (1976), é mestre (1982) e doutora (1993) em antropologia pelo Museu Nacional/UFRJ. Como bolsista Fulbright, realizou Pós-doutoramento na Universidade de Columbia, Nova Iorque (1998/1999). Suas principais áreas de pesquisa são teoria antropológica, ritual e simbolismo, antropologia brasileira, cultura popular e estudos de folclore.
O artigo traz informações importantes do ponto de vista conceitual e metodológico sobre o universo da chamada “cultura popular”. Explicita uma perspectiva conceitual contemporânea para a abordagem desse universo, onde se destacam as seguintes idéias: 1) as noções de folclore e cultura popular fundamentam historicamente o sistema de classificação cultural vigente e, assim, sua definição nunca é indiscutível e seu conteúdo varia muito, sendo essa variação um indicador importante; 2) o discurso sobre o folclore e a cultura popular se inaugura quando se reconhece a distância entre modos de vida e saberes da elite e do “povo” – diferença que começa a ser valorizada no Romantismo do final do século XVIII em oposição ao ideal iluminista da razão universal e tomando a cultura popular como a “totalidade integrada da vida com o mundo” que teria sido rompida no mundo moderno; 3) na vida social, contudo, aspectos “modernos” e “tradicionais” encontram-se imbricados, superpostos e integrados em um só processo social e cultural; 4) a cultura popular interpreta as noções de tradicional e moderno dentro do seu universo de relações, estabelecendo distinções internas (mutáveis) que buscam controlar e refletir as mudanças sociais que estão em curso; 5) nas ciências humanas o modelo interpretativo elite x cultura popular está superado: a cultura é interpretada não por meio de fatos, mas de significados permanentemente atribuídos pelos homens e que atravessam as fronteiras entre as camadas sociais; 6) a cultura e o saber do povo, portanto, são heterogêneos e se relacionam com distintas formas de ser; são históricos e complexos e integram várias dimensões: oralidade e escrita, trabalho e lazer, comunitarismo e individualismo, cidade e campo, sagrado e profano, circuitos de troca monetarizados e/ou profissionalizantes, constituindo arenas onde se enfrentam distintos interesses e têm lugar distintos conflitos; 7) uma nova perspectiva conceitual para tratamento do campo não se concentra na demarcação das fronteiras e oposições entre erudito e popular, mas nas múltiplas maneiras por meio das quais diferentes níveis e aspectos culturais interagem na construção de um processo cultural; 8) a abordagem analítica contemporânea implica o reconhecimento de que os fatos da cultura são sempre “processos sociais totais” que envolvem e imbricam diferentes aspectos da realidade (econômicos, sociais, políticos, jurídicos, morais, artísticos, religiosos, etc.) e articulam em seu interior valores e interlocutores diferenciados, o que requer uma postura de suspensão de juízos de valor prévios e a consideração dos processos culturais populares a partir de seus próprios termos.