Não consta. Número da ficha de catálogo da Biblioteca do Congresso: 69-14550
Autor(es):
Amos Rapoport
Onde encontrar:
Acervo dos Profs. Rodrigo Baeta Espinha e Marcia Sant’Anna.
Referência bibliográfica:
RAPOPORT, Amos. House, form and culture. New Jersey: Prentice-Hall Inc., 1969.
Eixos de análise abordados:
Conceitos e métodos
Saberes tradicionais e espaço arquitetônico
Dados sobre o autor(es) e obra:
Amos Rapoport nasceu em 1929, em Varsóvia, Polônia. Ensinou na Universidade de Wisconsin, Milwaukee, até sua aposentadoria como Distinguished Professor da Escola de Arquitetura e Palnejamento Urbano. Ensinou também na Universidade de Melbourne; na Universidade de Sydney; Universidade da Califórnia, em Berkeley, e na UCL – University College London. Rapoport tornou-se mundialmente conhecido a partir do seu livro House, Form and Culture, de 1969 (ver ficha sobre esta obra), obra em que defende as raízes culturais da forma arquitetônica. Seu trabalho focalizou principalmente o papel das variáveis culturais e os estudos interculturais. Foi autor, editor e coeditor de vários livros e de mais de 200 artigos. A obra em exame foi publicada pela primeira vez em 1982.
Capítulo 2 – Teorias alternativas da forma da casa
Capítulo 3 – Fatores socioculturais e forma da casa
Capítulo 4 – Clima como fator de mudança
Capítulo 5 – Construção, materiais e tecnologia como fatores de mudança
Capítulo 6 – Um olhar sobre o presente.
Referências selecionadas
Índice
Resumo :
A obra trata das relações entre a forma da habitação e a cultura das sociedades humanas. A tese de Rapoport é que os fatores socioculturais mais do que os climáticos, tecnológicos e construtivos são responsáveis pela forma que a casa adquire no âmbito de sociedades primitivas e vernaculares. Ancorado em sólida pesquisa bibliográfica e fartamente ilustrado é um dos estudos mais importantes e influentes sobre o tema, que ainda orienta conceitual e metodologicamente pesquisas contemporâneas neste campo. O livro propõe um esquema conceitual para a análise dos vários tipos e formas de casas e das forças que os afetam. O autor ressalta a importância desse tipo de estudo já que nos campos da arquitetura, da geografia cultural, da história, do planejamento urbano, da antropologia e da etnografia o tópico da moradia e do assentamento humano é tratado de modo secundário. As principais questões conceituais são tratadas no primeiro capítulo. O autor distingue dois tipos de arquitetura produzidos pelas sociedades em causa: a primitiva e a vernacular, esta última englobando uma vertente “pré-industrial” e uma “moderna”. A primitiva se refere à arquitetura das sociedades “tecnológica e economicamente pouco desenvolvidas”, mas correspondendo ao “uso da inteligência, da habilidade e dos recursos desses povos em toda sua extensão”. São sociedades sem grande grau de especialização e orientadas pela tradição, onde impera a relação próxima entre forma e cultura e a longa persistência dessas formas. O conhecimento necessário à construção de moradias nesse contexto é comum a todos os membros do grupo. As edificações vernaculares pré-industriais se distinguiriam das primitivas pela existência da figura do “construtor”. Neste contexto, a “forma aceita”, ou modelo, permanece e o processo de construção é baseado em ajustes ou variações, havendo, portanto, mais variabilidade individual. As sociedades que produzem esta arquitetura seriam “voltadas para a tradição” e as mudanças ocorreriam no marco de uma herança comum e de uma hierarquia de valores que se reflete nos tipos construídos. Rapoport questiona a existência do vernacular “moderno” já que surgiria em contextos de “perda” da tradição como instrumento regulador. Reconhece, contudo, a existência de um “idioma moderno folk”, baseado no “tipo”, encontrado nos motéis, lanchonetes, drive-ins e conjuntos habitacionais. Estas seriam formas projetadas “para” o gosto popular e não “pelo” povo, mas também demonstrariam valores compartilhados. Nesta tentativa de classificação e de delimitação do campo, Rapoport não leva em conta a transformação paulatina mesmo da mais humilde habitação em mercadoria no contexto capitalista e o impacto disso na perda das tradições construtivas, exceto, de passagem, quando trata do “vernacular moderno”. O estudo se concentra na habitação, pois o autor entende que a casa mostra mais claramente os vínculos entre forma e padrões de vida. Considera, entretanto, que outras tipologias também indicam essa relação como edifícios religiosos, moinhos, oficinas e outros ligados à “arqueologia industrial”. Construções provisórias, temporárias ou portáteis, como cabanas e tendas, podem também ser incluídas neste rol. Rapoport não pretende construir uma teoria geral e de validade universal, mas identificar e selecionar as características da casa que seriam mais universais, examinando-as em diferentes contextos para entender o que afeta sua forma individualmente e em conjunto. A partir de um exame minucioso dos mais distintos
contextos, conclui que nem o clima, nem os materiais disponíveis, a tecnologia utilizada, o sítio físico, as necessidades de defesa ou a economia determinariam a forma da habitação. Esses aspectos seriam apenas “fatores de mudança”. A hipótese central de Rapoport é que a forma da casa, seu agenciamento interior, sua orientação e implantação, isolada ou em conjunto, não resultam desses fatores ou de nenhum outro fator isolado. Seriam, na realidade, consequência de toda uma gama de fatores sociais e culturais tomados no seu sentido mais amplo, já que a habitação é um fenômeno complexo que não permitiria uma única explicação. Entre esses fatores, destaca o modo como algumas “necessidades básicas” relativas ao conforto, ao preparo e consumo de alimentos, ao estar, ao sentar e ao mobiliário são definidas pelo grupo. Além desses, a estrutura da família, a posição da mulher, a noção de privacidade e o contato social. Nos capítulos 4 e 5, Rapoport avalia o clima, os materiais de construção, as técnicas construtivas e a tecnologia como fatores de mudança da forma da habitação. No primeiro caso, temperatura, umidade, vento, chuva, radiação e luz seriam variáveis passíveis de implicar respostas construtivas específicas, ressaltando-se que esta especificidade seria diretamente proporcional à “radicalidade” das condições climáticas. Observa, contudo, que condições climáticas iguais podem, a depender de condicionantes socioculturais, suscitar formas arquitetônicas distintas. A questão técnica e construtiva é abordada no capítulo 5 a partir de problemas universais como fechamento de espaços, proteção contra intempéries e ventos e à portabilidade, de como os povos os solucionam e as conseqüências dessas soluções na forma da casa. Observa-se que o processo de construção, a especialização e a cooperação tornam a forma mais complexa, e que materiais idênticos podem produzir formas distintas. Ressalta-se também que a escolha do material decorre da importância atribuída ao edifício, da moda, da tradição, de injunções religiosas, do prestígio e de valores atribuídos. Após o exame dos fatores de mudança, Rapoport conclui que a decisão sobre a forma da casa seria de fato tomada em bases socioculturais relacionadas ao modo de vida, aos valores compartilhados pelo grupo e à busca do “ambiente ideal” de cada cultura. Os temas da “arquitetura popular”, como arquitetura “feita para o povo” e do “vernacular moderno” são retomados no capítulo final, quando o autor registra o seu olhar sobre o presente. Aqui sua principal preocupação é avaliar se a abordagem conceitual que desenvolve para a arquitetura primitiva e vernacular se aplicaria ao contexto contemporâneo, o que responde positivamente já que nele permaneceriam as relações entre forma e cultura, inclusive nos assentamentos populares dos países em desenvolvimento. Para Rapoport, o principal problema contemporâneo seria um excesso de escolha e a articulação da habitação ao status, à moda e ao prestígio. O peso da mercantilização da construção, da moradia e do solo não faz parte de suas considerações.
Há tradução em espanhol: RAPOPORT, Amos. Vivienda y Cultura. Barcelona: Editorial Gustavo Gili, S.A., 1972.
ISBN ou ISSN:
13: 978-0-7506-6657-2 ou 10: 0-7506-6657-9
Autor(es):
Paul Hereford Oliver
Onde encontrar:
Disponível em pdf na Internet, em inglês.
Referência bibliográfica:
OLIVER, Paul. Built to meet needs: cultural issues in vernacular architecture. Oxford: Architectural Press, 2006. 475 pp.
Eixos de análise abordados:
Conceitos e métodos
Saberes tradicionais e espaço arquitetônico
Tecnologia tradicional no território e na edificação: vigências e usos contemporãneos
Construção autogerida em meio urbano: espaços e técnicas
Território e etnicidade
Dados sobre o autor(es) e obra:
Paul Hereford Oliver nasceu em Nottingham, Inglaterra, em 1927. É historiador da arquitetura e escreve também sobre blues e outras formas de música afro-americana. Foi pesquisador do Oxford Institute for Sustainable Development da Oxford Brooks University e de 1978-1988 e Associated Head of the School of Architecture. É conhecido internacionalmente pelos seus estudos sobre arquitetura vernacular, em especial, como coordenador da Encyclopedia of Vernacular Architecture of the World (1997) e pelo World Atlas of Vernacular Architecture (2005). O livro Built to Meet Needs é uma coletânea, editada pela primeira vez em 2006, que reúne textos, artigos e conferências do autor, elaborados entre os anos de 1980 e 2002.
Sumário obra:
Acknowledgements vii
List of illustrations xi
Introduction xxi
Part I: Defining the field
1 - Why study vernacular architecture? (1978) - 3
2 - The importance of the study of vernacular architecture (1993) - 17
3 - Problems of definition and praxis (1999) - 27
Part II: Cultures and contexts
4 - Learning from Asante (2000) - 47
5 - Cultural traits and environmental contexts: Problems of cultural specificity and cross-cultural comparability (1999) - 55
6 - Huizhou and Herefordshire: A comparative study (2001) - 69
7- Tout confort: Culture and comfort (1986) - 87
Part III: Tradition and transmission
8 - Vernacular know-how (1982) - 109
9- Earth as a building material today (1983) - 129
10 - Handed down architecture: Tradition and transmission (1989) - 143
11- Technology transfer: A vernacular view (2003) - 163
Part IV: Cultures, disasters and dwellings
12 - The cultural context of shelter provision (1978) - 185
13 - Earthen housing and cultures in seismic areas (1984) - 197
14 - Factors affecting the acceptability of resettlement housing (1984) - 223
15 - Rebirth of a Rajput village (1992) - 247
Part V: Conservation and continuity
16 - Conserving the vernacular in developing countries (1986) - 267
17 - Re-presenting and representing the vernacular: The open-air museum (2001) - 287
18 - Perfect and plain: Shaker approaches to design (1990) - 315
Part VI: Suburbs and self-builders
19 - Individualizing Dunroamin (1992) - 333
20 - Round the houses (1983) - 349
21 - Kaluderica: High-grade housing in an illegal settlement (1989) - 365
Part VII: Meeting the challenge of the twenty-first century
22 - Tradition by itself (2000) - 383
23 - Ethics and vernacular architecture (2000) - 395
24 - Necessity and sustainability: The impending crisis (2002) - 411
Conferences and publications - 427
Index - 431
Resumo :
Nesta obra o autor ressalta a grande variedade existente de formas construídas no campo da arquitetura vernacular, em decorrência da diversidade dos ambientes, economias, tecnologias, capacidades herdadas, estruturas familiares e sociais, sistemas simbólicos e de crenças das várias sociedades humanas. Essa variedade expressa também as diferentes demandas e valores inerentes a cada cultura. Este livro é uma reunião de artigos, conferências e estudos feitos por Oliver a partir dos anos de 1980, os quais organiza por temas. A obra, contudo, não é uma tentativa de classificar e descrever em detalhe as formas da arquitetura vernacular em todo o mundo como foi feito na Encyclopidia of Vernacular Architecture of the World, também coordenada pelo autor, ou no seu livro Dwellings: The Vernacular House World-Wide, ambos ainda não editados no Brasil. Alguns capítulos deste livro, contudo, são dedicados a certas idéias introduzidas nesses outros livros e que aqui são mais desenvolvidas. O autor declara na Introdução que o principal objetivo dessa publicação é considerar os fatores culturais que sustentam a arquitetura vernacular. O livro está organizado de acordo com os seguintes temas: 1) “Definindo o campo”, onde estão reunidos textos que tratam de questões conceituais como a definição e aplicação do termo “arquitetura vernacular”; 2) “Culturas e contextos”, onde se relacionam traços culturais e aspectos ambientais com as tradições construtivas; 3) “Tradição e transmissão” onde são trabalhadas questões relacionadas à transmissão e à continuidade das tradições construtivas; 4) “Culturas, desastres e moradias” que comenta as atitudes governamentais e da população sobre a questão da moradia diante e em conseqüência de desastres naturais; 5) “Conservação e continuidade”, que aborda as questões culturais relacionadas à continuidade e à conservação da arquitetura vernacular; 6) “Subúrbios e autoconstrutores” que trata das expressões da arquitetura vernacular constituídas pelas manifestações de individualidade que estão presentes na arquitetura dos subúrbios e nas experiências de autoconstrução; 7) “Enfrentando o desafio do século XXI” onde se identifica o lugar e o papel da arquitetura vernacular nas políticas de diminuição do déficit habitacional e se defende a participação das culturas afetadas por essas políticas. Cada uma dessas partes do livro é composta por textos elaborados em períodos distintos. Todos os textos dessa coletânea são fartamente ilustrados com desenhos e fotografias sobre arquitetura popular em todo o mundo, especialmente na África, Ásia e Europa, mas também na América Latina. Para efeito deste guia de fontes, 12 artigos considerados importantes para a abordagem de questões ligadas aos eixos de pesquisa aqui privilegiados foram fichados de modo independente.
Considerando os eixos da pesquisa que orientam a seleção de obras para o Guia de Fontes sobre Arquitetura Popular foram fichados 13 textos, os quais comporão fichas específicas subordinadas e numeradas a partir desta.
ISBN ou ISSN:
85-7001-165-2
Autor(es):
Amos Rapoport
Onde encontrar:
Acervo do Prof. Daniel J. Mellado Paz.
Referência bibliográfica:
RAPOPORT, Amos. Origens Culturais da Arquitetura. In: SNYDER, James C. e CATANESE, Anthony. Introdução à Arquitetura. Rio de Janeiro: Ed. Campus Ltda., 1984.
Eixos de análise abordados:
Conceitos e métodos
Dados sobre o autor(es) e obra:
Amos Rapoport nasceu em 1929, em Varsóvia, Polônia. Ensinou na Universidade de Wisconsin, Milwaukee, até sua aposentadoria como Distinguished Professor da Escola de Arquitetura e Palnejamento Urbano. Ensinou também na Universidade de Melbourne; na Universidade de Sydney; Universidade da Califórnia, em Berkeley, e na UCL – University College London. Rapoport tornou-se mundialmente conhecido a partir do seu livro House, Form and Culture, de 1969 (ver ficha sobre esta obra), obra em que defende as raízes culturais da forma arquitetônica. Seu trabalho focalizou principalmente o papel das variáveis culturais e os estudos interculturais. Foi autor, editor e coeditor de vários livros e de mais de 200 artigos. Em 1982, escreveu The Meaning of the Built Environment: A Nonverbal communication Approach, texto que é a base do artigo em exame nesta ficha.
Rapoport defende neste artigo a ideia de que o fenômeno da arquitetura parte da necessidade estrutural da mente humana de ordenar o caos através de esquemas simbólicos que, variando entre os povos, sempre se apresentam. Lembra que a demarcação de territorialidades é atributo geral dos seres vivos e, quanto ao homem, assinala a importância e a constância da diferenciação dos espaços na percepção dos espaços naturais e na constituição de domínios distintos que são demarcados e submetidos a ritos próprios de transição de um lugar para outro. Tais esquemas simbólicos precisam ser materializados no espaço, manifestando as diferenças locacionais e comunicando-as aos membros de uma comunidade. A arquitetura seria, portanto, parte de um sistema mais amplo de comunicação não-verbal que lança mão de elementos móveis, semi-fixos e fixos, alguns sutis e quase imperceptíveis,com alto grau de redundância. Pauta-se por uma “imagem mental” que, por sua vez, se configura em uma imagem “ideal” e, assim, o espaço seria antes pensado do que construído. A arquitetura teria como princípio a manifestação e o reforço de uma ordem simbólica, não sendo um mero abrigo. Caso contrário, a variedade de tipos construídos seria menor, assim como ocorreriam somente soluções similares no mesmo clima e não ocorreria a manutenção de tipos semelhantes em climas diferentes. Para Rapoport, o meio ambiente construído é constituído não apenas com elementos fixos, mas também com outros, menos permanentes, como parte da mesma tarefa de demarcação dos espaços e de exteriorização de esquemas simbólicos. Ao estruturar espaço, tempo, significado e comunicação, tais esquemas indicam como as pessoas devem agir e o que se deve esperar delas. Ou seja, constituem uma comunicação não-verbal dentro da própria cultura. As culturas seriam unitárias nesses esquemas simbólicos gerais que abrangeriam da menor construção às mais importantes, da casa individual ao povoado e à paisagem. Porém, nas “sociedades tradicionais” haveria maior congruência de tais esquemas, em razão da noção de sagrado. Toda construção é nesses contextos consagrada em alguma medida, impregnada de esquemas cósmicos e corporais, e orientada pela mencionada “imagem ideal”. No entanto, mesmo o sagrado possui sua hierarquia, distinguindo os edifícios em graus de importância por meio de sinais – tamanho, cor, material, elementos específicos – e de sua maior proximidade com essa imagem ideal. Rapoport defende neste texto a necessidade de uma teoria geral para o ambiente construído, agrupando um farto material de análise que inclui o passado remoto e o que está fora da tradição ocidental, considerando-o através do tempo e das culturas. Seu objetivo é encontrar as constâncias humanas por trás da diversidade e, assim, critica a arquitetura ocidental pelo seu imperativo de mudança. Embora o resultado das sociedades tradicionais possa ser admirado, afirma que não pode ser repetido a partir de suas formas e sim por meio do seu processo geral: como ação de várias pessoas e esquemas simbólicos e de meio ambiente compartilhados e manifestos fisicamente. Somente de processos grupais e de padrões comungados é que poderiam surgir a unidade e complexidade admiradas em tais assentamentos.
OLIVER, Paul. “Cultural traits and environmental contexts: problems of cultural specificity and cross-cultural comparability”. In: OLIVER, P. Built to Meet Needs: cultural issues in vernacular architecture. Oxford: Architectural Press, 2006, pp 55-67.
Eixos de análise abordados:
Conceitos e métodos
Saberes tradicionais e espaço arquitetônico
Dados sobre o autor(es) e obra:
Paul Hereford Oliver nasceu em Nottingham, Inglaterra, em 1927. É historiador da arquitetura e escreve também sobre blues e outras formas de música afro-americana. Foi pesquisador do Oxford Institute for Sustainable Development da Oxford Brooks University, de 1978 a 1988, e Associated Head of the School of Architecture. É conhecido internacionalmente pelos seus estudos sobre arquitetura vernacular, em especial, como editor da Encyclopedia of Vernacular Architecture of the World (1997) e pelo World Atlas of Vernacular Architecture (2005). A enciclopédia reúne pesquisas e estudos sobre arquitetura vernacular em todas as regiões do mundo, sendo a principal referência sobre o tema com esta abrangência até o momento. O texto em exame é datado de 1999 e está publicado na coletânea em referência, na parte dedicada às culturas humanas e seus contextos.
Resumo :
O artigo trata dos problemas conceituais decorrentes da adoção da Cultura como eixo condutor da análise e da organização de estudos sobre arquitetura vernacular, apresentando também o conteúdo geral da Encyclopedia of Vernacular Architecture of the World (1997) e os problemas conceituais enfrentados em sua organização. Na preparação da enciclopédia informa que foi preciso definir termos como “ambiente”, “lar”, “organização espacial” e “cultura” e criar seções e entradas específicas para eles. Após uma digressão sobre os vários autores que se debruçaram sobre o conceito de cultura a partir do século XIX, Oliver informa que, para os propósitos da enciclopédia, “cultura” foi definida como: “a totalidade dos valores, atividades e produtos, incluindo edificações, de uma sociedade que dão sentido e direção às vidas de seus membros. Cultura é aprendida e não transmitida geneticamente. Uma ‘cultura’ é uma sociedade cujos membros compartilham essa totalidade”. Os “traços ou características culturais”, por sua vez, foram definidos como os “aspectos da estrutura social e do comportamento e valores do grupo que podem ser definidos e comparados com os de outras culturas”. Já um “complexo de traços ou características” faria referência à interação de certo número de características. Na enciclopédia, os traços culturais considerados foram os relacionados ao uso e exploração do ambiente, à economia, à organização social e política, à noção de propriedade, à religião, à constituição de relações familiares, de gênero e de parentesco, dentre outros que impactariam a arquitetura e a organização do espaço. Oliver avalia que as mudanças culturais acontecem pela difusão de artefatos e de idéias, pela modificação da tradição ou pela exploração intermitente de inovações aceitas no âmbito das normas do grupo. Esses processos foram acelerados com a expansão imperialista e as tendências de globalização que emergem da revolução eletrônica e dos meios de comunicação. Informa que a enciclopédia também contém uma seção sobre o ambiente tal como condiciona ou é condicionado pela ocupação humana, além de outras sobre os recursos, a produção e os serviços relacionados à arquitetura vernacular, assim como à natureza do simbolismo das ornamentações presentes dentro e fora dos edifícios. Estudos de caso dão conta, nesta obra, das regras da organização espacial, dos rituais presentes na construção e do simbolismo das estruturas, além do existente na definição de espaços. Há ainda uma seção que explora a tipologia, o que inclui as questões de ergonomia, proporção, composição, uso e destinação das edificações, incluindo as utilitárias ou de destinação econômica, assim como o desenvolvimento tecnológico articulado à produção e transformação de grãos por meio do uso da água, do vento ou da tração animal. Por fim, a enciclopédia também considerou as estruturas temporárias ou transportáveis e levantou a questão das características que definem uma cultura e quais indicam suas fronteiras. Oliver conclui que os traços culturais seriam então importantes tanto para apontar semelhanças como diferenças, permitindo o estabelecimento de “áreas culturais”, já que as fronteiras nacionais são sabidamente pobres para a definição de culturas ou de suas áreas. O autor reconhece, contudo, que, na enciclopédia, as áreas e sub-áreas culturais acomodam culturas distintas que necessitariam mais pesquisa.
OLIVER, Paul. “Learning from Asante”. In: OLIVER, P. Built to meet needs: cultural issues in vernacular architecture. Oxford: Architectural Press, 2006, pp 47-54.
Eixos de análise abordados:
Conceitos e métodos
Saberes tradicionais e espaço arquitetônico
Dados sobre o autor(es) e obra:
Paul Hereford Oliver nasceu em Nottingham, Inglaterra, em 1927. É historiador da arquitetura e escreve também sobre blues e outras formas de música afro-americana. Foi pesquisador do Oxford Institute for Sustainable Development da Oxford Brooks University, de 1978 a 1988, e Associated Head of the School of Architecture. É conhecido internacionalmente pelos seus estudos sobre arquitetura vernacular, em especial, como editor da Encyclopedia of Vernacular Architecture of the World (1997) e pelo World Atlas of Vernacular Architecture (2005). A enciclopédia reúne pesquisas e estudos sobre arquitetura vernacular em todas as regiões do mundo, sendo a principal referência sobre o tema com esta abrangência até o momento. O texto em exame é datado de 2000 e está publicado na coletânea em referência, na parte dedicada às culturas humanas e seus contextos.
Resumo :
Neste artigo, Oliver utiliza sua pesquisa sobre o povo Ashanti, de Gana, na África, para demonstrar o erro de percepção do estudioso que consiste em tomar o ambiente cultivado por ambiente natural e a transmissão cultural por mero comportamento. Menciona sua surpresa ao verificar que o que pensou ser uma floresta primária tropical na região onde vivem os Ashanti era produto da ação desse povo, constituindo, na realidade, suas fazendas. A floresta original havia sido queimada e a área utilizada por gerações com plantações de árvores frutíferas e outras plantas tropicais foi dando ao espaço um aspecto de mata, onde o mato rasteiro também era mantido para proteger o solo e impedir que o sol o danificasse. Assim, o que lhe pareceu um fenômeno natural era, na verdade, produto do profundo conhecimento ecológico dos Ashanti sobre seu ambiente e sobre seu solo. Recorda Amos Rapoport em seu livro House, Form and Culture (1969), no qual, pioneiramente, apontou que a compreensão de padrões de comportamento é essencial para a compreensão da forma construída e que a forma, uma vez construída, afeta também o comportamento e o modo de vida. Cita também Human Aspects of Urban Form (1977), obra em que Rapoport busca entender a forma urbana ou o ambiente construído como produtos de “aspectos” humanos. A partir dessas referências e de sua perplexidade com o ambiente construído pelos Ashanti, é que Oliver decidiu realizar um estudo comparativo entre as aldeias desse povo, focalizando o que gerava as plantas das edificações e sua organização no espaço. Neste estudo percebeu que o mesmo equívoco que cometera com relação à percepção do ambiente poderia ser cometido com relação ao “comportamento” dos Ashanti: da mesma forma que na “floresta” tudo era cultivado, plantado e tratado, nada no “comportamento” das pessoas na aldeia ou no meio urbano era gratuito ou casual. De modo análogo, nada no espaço da aldeia era casual e deixava de ter relação com a autoridade ou com o culto aos ancestrais ou espíritos. Assim, conclui que estudar o ambiente edificado ou cultivado apenas em termos de “comportamento” e “meio ambiente” seria muito vago, pois essas noções são aplicadas a aparências externas e seriam apenas “sintomas” de produtos mais fundamentais da cultura e do contexto. Observa ainda que o “ambiente” sintetiza apenas aspectos físicos do espaço que envolve um fenômeno cultural que pode ter implicações muito mais profundas em termos de tempo, expressão cultural, condições e vínculo com outros ambientes já vivenciados pela cultura estudada. Assim, propõe substituir os termos “comportamento” e “ambiente” por “cultura” e “contexto” no estudo da arquitetura vernacular.
OLIVER, Paul. “Problems of definition and praxis”. In: OLIVER, P. Built to meet needs: cultural issues in vernacular architecture. Oxford: Architectural Press, 2006, pp 27-43.
Eixos de análise abordados:
Conceitos e métodos
Dados sobre o autor(es) e obra:
Paul Hereford Oliver nasceu em Nottingham, Inglaterra, em 1927. É historiador da arquitetura e escreve também sobre blues e outras formas de música afro-americana. Foi pesquisador do Oxford Institute for Sustainable Development da Oxford Brooks University, de 1978 a 1988, e Associated Head of the School of Architecture. É conhecido internacionalmente pelos seus estudos sobre arquitetura vernacular, em especial, como editor da Encyclopedia of Vernacular Architecture of the World (1997) e pelo World Atlas of Vernacular Architecture (2005). A enciclopédia reúne pesquisas e estudos sobre arquitetura vernacular em todas as regiões do mundo, sendo a principal referência sobre o tema com esta abrangência até o momento. O texto em exame é datado de 1999 e está publicado nesta coletânea, na parte dedicada à definição do campo da arquitetura vernacular e às suas questões conceituais.
Resumo :
O artigo trata do processo de elaboração da Enciclopédia da Arquitetura Vernacular do Mundo (projeto coordenado pelo autor e concluído em 1997) e dos vários problemas de definição e de prática que suscitou. Um dos principais relacionou-se ao próprio termo “arquitetura vernacular”, que necessitava de uma definição mais acabada já que compunha o título da obra. Oliver observa que a raiz latina de vernacular é verna, que quer dizer “escravo”, e que essa conotação permanece na Itália, mesmo que o termo vernaculus signifique “nativo”. Assim, os colaboradores italianos da Enciclopédia tendiam a focalizar os abrigos mais simples e pobres e a não considerar as fazendas toscanas. Mas o problema da definição atingiu também EUA, Austrália e Canadá porque nesses países o termo vernacular é usado com um sentido amplo e inclui a arquitetura projetada para fins comerciais ou habitacionais da classe média, como supermercados, postos de gasolina e cadeias de fast food. Na Inglaterra, essa mesma arquitetura é chamada de “popular”. Já no oeste americano, o termo vernacular designa uma arquitetura projetada por arquitetos que responde a uma tradição e usa materiais locais. Assim, o autor conclui que a expressão “arquitetura vernacular” pode ter significados diversos conforme o contexto cultural ou a língua que se fala. Para os propósitos da Enciclopédia foi então estabelecida a definição seguinte, com a justificativa de que poderia ser aplicada às tradições construtivas de todos os continentes e a comunidades de diferentes tamanhos e contextos ambientais: “Arquitetura vernacular compreende as habitações e outras construções dos povos. Relacionadas aos seus contextos ambientais e recursos disponíveis, são costumeiramente construídas por seu dono ou pela comunidade utilizando tecnologias tradicionais. Todas as formas de arquitetura vernacular são construídas para atender a necessidades específicas, acomodar valores, economias e modos de vida das culturas que as produzem”. As “entradas” da Enciclopédia foram estabelecidas, assim, a partir das culturas que produzem tradições construtivas identificáveis numa região e não a partir de limites político-administrativos. Essa decisão implicou redesenhar o mapa cultural do mundo, relacionando-se culturas individuais a grupos culturais que compartilham certas características, ocupam territórios com ambientes e topografias comparáveis e possuem traços arquitetônicos semelhantes. No caso do Brasil, por exemplo, o território do país foi dividido na Enciclopédia nas regiões Amazônia, Nordeste e Sul, numa visão simplificada e incompleta. O Brasil central, por sua vez, foi agregado à região definida como Argentina. O autor reconhece, entretanto, a simplificação embutida nessa classificação, mas afirma que esta obra pôs em relevo a questão dos limites temporais e da vigência da arquitetura vernacular. A obra inclui as tradições construtivas que sobrevivem em uso até o século XX, independentemente de quando foram construídas, além das tradições construtivas vigentes. O limite temporal é então definido em função da permanência do uso e da vigência da tradição. A característica fundamental de interdisciplinaridade do estudo da arquitetura vernacular é reafirmada, assim como a necessidade de se compartilhar conhecimentos e métodos. Considerando a vastidão desse universo, o autor informa neste artigo que os objetivos da enciclopédia são variados, sendo a formação de estudantes de arquitetura um dos principais já que a obra reúne grande parte do conhecimento produzido até agora sobre o tema.
Instituto do Patrimônio Artístico Cultural da Bahia - IPAC
Referência bibliográfica:
BERTUSSI, Paulo Iroquez; WEIMER, Gunter(org.). A arquitetura no Rio Grande do Sul. 2. ed. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1987.
Eixos de análise abordados:
Saberes tradicionais e espaço arquitetônico
Tecnologia tradicional no território e na edificação: vigências e usos contemporãneos
Território e etnicidade
Dados sobre o autor(es) e obra:
Günter Weimer é arquiteto, graduado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1963), mestre em História da Cultura pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (1981) e doutor em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de São Paulo (1990). Atualmente é professor convidado do Programa de Pós-graduação em Urbanismo (PROPUR) da Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Tem experiência na área de Arquitetura e Urbanismo, com ênfase em Arquitetura e Urbanismo, atuando principalmente nos seguintes temas: arquitetura popular, história da arquitetura, imigração alemã, açorianos no Brasil e Rio Grande do Sul. A obra é uma coletânea de artigos de vários estudiosos gaúchos sobre a arquitetura produzida no Rio Grande do Sul, com foco em seus aspectos étnicos e vernaculares. A primeira edição é de 1983.
Não foram encontradas informações sobre Paulo Iroquez Bertussi.
Sumário obra:
Apresentação
A habitação subterrânea: Uma adaptação ecológica (Fernando La Salvia)
O espaço urbano a arquitetura e produzidos pelos Sete Povos das Missões (Júlio Nicolau Barros de Curtis)
Arquitetura luso brasileira (Francisco Riopardense de Macedo)
A arquitetura rural da imigração alemã (Gunter Wimer)
Elementos de arquitetura da imigração italiana (Paulo Iroquez Bertussi)
Estruturas sociais gaúchas e arquitetura (Gunter Weimer)
Arquitetura moderna (Nelson Souza)
Arquitetura espontânea no Rio Grande do Sul (Geraldo Mário Rohde)
Resumo :
O primeiro texto dessa coletânea, “A habitação subterrânea: Uma adaptação ecológica”, de Fernando La Salvia, discorre sobre as habitações subterrâneas e semi-subterrâneas produzidas na pré-história no Nordeste do planalto gaúcho, na região de colonização italiana. Analisa parâmetros como meio ambiente, histórico da ocupação humana, além de descrever os materiais utilizados, as técnicas construtivas e as tipologias, ilustrando com plantas e cortes. Júlio Nicolau Barros de Curtis analisa no segundo artigo desta obra, “O espaço urbano e arquitetura produzidos pelos Sete Povos das Missões”, o assentamento missioneiro e a produção arquitetônica no fim do século XVII e no decorrer do século XVIII, caracterizada pela utilização de materiais locais e pela escolha de regiões estratégicas para sobrevivência, com foco na análise das igrejas. O terceiro capítulo “Arquitetura luso brasileira”, de Francisco Riopardense de Macedo, aborda a produção arquitetônica desde o século XVIII e analisa as fortificações, quarteis, residências, igrejas, estâncias e charqueadas, apresentando plantas e ilustrações e descrevendo as tipologias, materiais e técnicas construtivas. O artigo “A arquitetura rural da imigração alemã”, de Günter Weimer, é um resumo da sua dissertação de mestrado. O autor faz, inicialmente, um breve histórico da vinda dos imigrantes alemães para o Brasil e tece considerações acerca da organização das cidades e condições climáticas. Analisa também as tipologias das aldeias gaúchas e dos seus edifícios e discorre sobre a evolução da arquitetura rural na Alemanha e seu partido arquitetônico; sobre a organização social da picada teuto-gaúcha e das propriedades rurais – fortemente influenciadas pelo contexto sócio econômico e geográfico. O autor ainda aborda os detalhes da arquitetura da casa do imigrante e das colônias isoladas, ilustrando essa abordagem com fotografias. Paulo Iroquez Bertussi é o autor do artigo “Elementos de arquitetura da imigração italiana” no qual resume um estudo mais amplo que abrange outros elementos culturais além da arquitetura. Aborda a arquitetura desenvolvida de 1875 a 1950, analisando o traçado estabelecido para as colônias, o modo de ocupação do lote rural, os materiais e técnicas construtivas como também a organização social dos assentamentos. Apresenta fotos e mapas ilustrativos. O sexto texto, “Estruturas sociais gaúchas e arquitetura”, de Günter Weimer, questiona a relação entre a luta de classes e materialização da obra arquitetônica, analisando o período imperial e o republicano até antes da II Guerra Mundial. Nelson Souza, em “Arquitetura moderna”, objetiva apontar alguns elementos teóricos para fundamentar a análise crítica da arquitetura moderna no Rio Grande do Sul. Por fim, o oitavo artigo, “Arquitetura espontânea no Rio Grande do Sul”, de Geraldo Mário Rohde, se dedica, inicialmente, a apresentar e comparar os conceitos de arquitetura erudita, espontânea e kitsch, analisando, em seguida, a distribuição histórica e geográfica da arquitetura “espontânea” – termo que utiliza para designar a arquitetura popular – no Rio Grande do Sul, ressaltando suas tipologias e defendendo a importância dessa arquitetura como patrimônio e base para a solução do problema de moradia no mundo. Apresenta fotos ilustrativas.