RAPOPORT, Amos. Origens Culturais da Arquitetura. In: SNYDER, James C. e CATANESE, Anthony. Introdução à Arquitetura. Rio de Janeiro: Ed. Campus Ltda., 1984.
Eixos de análise abordados:
Conceitos e métodos
Dados sobre o autor(es) e obra:
Amos Rapoport nasceu em 1929, em Varsóvia, Polônia. Ensinou na Universidade de Wisconsin, Milwaukee, até sua aposentadoria como Distinguished Professor da Escola de Arquitetura e Palnejamento Urbano. Ensinou também na Universidade de Melbourne; na Universidade de Sydney; Universidade da Califórnia, em Berkeley, e na UCL – University College London. Rapoport tornou-se mundialmente conhecido a partir do seu livro House, Form and Culture, de 1969 (ver ficha sobre esta obra), obra em que defende as raízes culturais da forma arquitetônica. Seu trabalho focalizou principalmente o papel das variáveis culturais e os estudos interculturais. Foi autor, editor e coeditor de vários livros e de mais de 200 artigos. Em 1982, escreveu The Meaning of the Built Environment: A Nonverbal communication Approach, texto que é a base do artigo em exame nesta ficha.
Rapoport defende neste artigo a ideia de que o fenômeno da arquitetura parte da necessidade estrutural da mente humana de ordenar o caos através de esquemas simbólicos que, variando entre os povos, sempre se apresentam. Lembra que a demarcação de territorialidades é atributo geral dos seres vivos e, quanto ao homem, assinala a importância e a constância da diferenciação dos espaços na percepção dos espaços naturais e na constituição de domínios distintos que são demarcados e submetidos a ritos próprios de transição de um lugar para outro. Tais esquemas simbólicos precisam ser materializados no espaço, manifestando as diferenças locacionais e comunicando-as aos membros de uma comunidade. A arquitetura seria, portanto, parte de um sistema mais amplo de comunicação não-verbal que lança mão de elementos móveis, semi-fixos e fixos, alguns sutis e quase imperceptíveis,com alto grau de redundância. Pauta-se por uma “imagem mental” que, por sua vez, se configura em uma imagem “ideal” e, assim, o espaço seria antes pensado do que construído. A arquitetura teria como princípio a manifestação e o reforço de uma ordem simbólica, não sendo um mero abrigo. Caso contrário, a variedade de tipos construídos seria menor, assim como ocorreriam somente soluções similares no mesmo clima e não ocorreria a manutenção de tipos semelhantes em climas diferentes. Para Rapoport, o meio ambiente construído é constituído não apenas com elementos fixos, mas também com outros, menos permanentes, como parte da mesma tarefa de demarcação dos espaços e de exteriorização de esquemas simbólicos. Ao estruturar espaço, tempo, significado e comunicação, tais esquemas indicam como as pessoas devem agir e o que se deve esperar delas. Ou seja, constituem uma comunicação não-verbal dentro da própria cultura. As culturas seriam unitárias nesses esquemas simbólicos gerais que abrangeriam da menor construção às mais importantes, da casa individual ao povoado e à paisagem. Porém, nas “sociedades tradicionais” haveria maior congruência de tais esquemas, em razão da noção de sagrado. Toda construção é nesses contextos consagrada em alguma medida, impregnada de esquemas cósmicos e corporais, e orientada pela mencionada “imagem ideal”. No entanto, mesmo o sagrado possui sua hierarquia, distinguindo os edifícios em graus de importância por meio de sinais – tamanho, cor, material, elementos específicos – e de sua maior proximidade com essa imagem ideal. Rapoport defende neste texto a necessidade de uma teoria geral para o ambiente construído, agrupando um farto material de análise que inclui o passado remoto e o que está fora da tradição ocidental, considerando-o através do tempo e das culturas. Seu objetivo é encontrar as constâncias humanas por trás da diversidade e, assim, critica a arquitetura ocidental pelo seu imperativo de mudança. Embora o resultado das sociedades tradicionais possa ser admirado, afirma que não pode ser repetido a partir de suas formas e sim por meio do seu processo geral: como ação de várias pessoas e esquemas simbólicos e de meio ambiente compartilhados e manifestos fisicamente. Somente de processos grupais e de padrões comungados é que poderiam surgir a unidade e complexidade admiradas em tais assentamentos.
RAPOPORT, Amos. The Meaning of the Built Environment– a nonverbal communication approach. London/ New Delhi: Sage Publications. 1983.
Eixos de análise abordados:
Conceitos e métodos
Dados sobre o autor(es) e obra:
Amos Rapoport nasceu em 1929, em Varsóvia, Polônia. Ensinou na Universidade de Wisconsin, Milwaukee, até sua aposentadoria como Distinguished Professor da Escola de Arquitetura e Palnejamento Urbano. Ensinou também na Universidade de Melbourne; na Universidade de Sydney; Universidade da Califórnia, em Berkeley, e na UCL – University College London. Rapoport tornou-se mundialmente conhecido a partir do seu livro House, Form and Culture, de 1969 (ver ficha sobre esta obra), obra em que defende as raízes culturais da forma arquitetônica. Seu trabalho focalizou principalmente o papel das variáveis culturais e os estudos interculturais. Foi autor, editor e coeditor de vários livros e de mais de 200 artigos. A obra em exame foi publicada pela primeira vez em 1982.
3. Environmental Meaning: preliminary considerations for a nonverbal communication approach
4. Nonverbal Communication and Environmental Meaning
5. Small-Scale Examples of Applications
6. Urban Examples of Application
7. Environment Meaning, and Communication
Conclusion
Resumo :
Rapoport parte da literatura sobre os significados, buscando o seu sentido no ambiente construído, onde acredita que é uma função latente fundamental, em oposição às funções manifestas visíveis. Das três abordagens usuais para o estudo do sentido - a lingüística, em especial com a semiótica; o estudo dos símbolos e a comunicação não-verbal – esta última é a adotada. E, considerando os três níveis de estudo da relação entre signo, significado e interpretação - a sintática (relação entre os signos), a semântica (relação dos signos com os significados) e a pragmática (interpretação dos significados nos signos) – é este último, menos estudado, o que pretende cobrir. A comunicação não-verbal, esclarecendo a verbal, opera simultaneamente por vários meios - tom de voz, expressão facial, etc. Uma das lacunas no seu estudo estaria no ambiente construído. Rapoport, no entanto, refuta a possibilidade de abordar a comunicação não-verbal analogamente à verbal. Um efeito importante é que o ambiente auxilia a pessoa a comportar-se de modo aceitável à situação, o que é codificado para que possa ser compreendido por todos. A tese central de Rapoport é a da importância crescente do ambiente na comunicação não-verbal da sociedade moderna, dentre os vários elementos culturais em ação como roupas, estilos de cabelo e elementos similares. No entanto, quando estes perdem seu papel de indicadores, torna-se difícil tomá-los como base para situar pessoas em categorias e interpretar suas identidades. Por exemplo, a indumentária ainda é usada para interpretar tais situações, mas sem a mesma eficiência das culturas tradicionais. Assim, restaria ao ambiente construído tornar-se mais ostensivo e redundante. O meio ambiente – como os demais elementos culturais já citados – operaria mnemonicamente, tornando o comportamento mais fácil. Ele não apenas relembraria, mas também prescreveria, guiando as respostas e restringindo o leque de alternativas possíveis. O interesse de Rapoport é verificar como os ambientes comunicam a situação e as regras que devem ser seguidas para se ter um comportamento adequado. Mesclando as idéias de “ambiente de comportamento”, de Roger Barker, e “ambiente de papéis”, de Erving Goffman, entende que atuam como cenários, onde a coerência prevalece sobre aparência, modos e comportamento. Esta relação pode ser estreita em algumas culturas e mais relaxada em outras, mas a interpretação do ambiente construído deve ser fácil e feita da mesma maneira por todos os envolvidos e sua eficiência seria maior quando a constituição e o uso do ambiente se mantêm invariantes. Outro aporte importante citado é o de Edward Hall, que divide o espaço em três elementos por grau de estabilidade: “fixos”, “semifixos” e “informais” (que Rapoport prefere chamar de “não-fixos”). Os fixos são aqueles de lenta modificação, como a arquitetura. Os semifixos são modificados com maior freqüência, como móveis, cortinas, biombos, roupas, sinais, ícones e jardins, e são responsáveis pela distinção funcional e simbólica dos edifícios e espaços. Já os não-fixos se relacionam com os ocupantes do ambiente: suas relações espaciais em movimento (proxêmica), suas posturas e posições corporais (cinésica), gestos dos braços e mãos, expressões faciais, etc. Isto é, a comunicação não-verbal do corpo. Rapoport defende a aplicação dos métodos desenvolvidos para o inventário e compreensão dos elementos não-fixos nos semifixos. A seguir, observa que há três visões principais sobre o comportamento não-verbal: como um sistema culturalmente específico e arbitrário, similar à linguagem; como algo pan-cultural, específico à espécie como um todo e diferente da linguagem, e como uma síntese dos anteriores, em um gradiente. Esta última é a visão adotada, em especial, no modelo neuro-cultural, de Eibl-Eibesfeldt e Paul Ekman, onde se demonstra que existem elementos pan-culturais, universalmente reconhecidos na expressão facial, não-arbitrários e biologicamente baseados, como nas expressões de alegria, raiva, desgosto, etc. Estes elementos seriam intensificados, minorados, neutralizados ou mascarados por aspectos culturais variáveis, mas, de modo geral, não constituiriam um sistema análogo ao da linguagem - posição esta adotada por Rapoport. No estudo do comportamento não-verbal nos elementos não-fixos haveria três aspectos importantes: as “origens”, isto é, como se tornam parte do repertório de cada indivíduo; o “uso”, que é a circunstância de sua utilização claramente cultural, e a “codificação” ou regras que explicam como o comportamento transmite informação. O foco vai para este último, que, por sua vez, ocorreria de três modos: “intrínseco”, onde o ato é o próprio significado; “extrínseco”, onde o significado é a aparência do ato, e “arbitrário”, onde se entende que é uma convenção cultural, sem similaridade com o que representa. Pode-se também compreender tais mensagens segundo três tipos: “adaptadoras”, que são menos intencionais e mais intuitivos; “ilustradoras”, que aumentam ou contradizem o que está sendo dito, e “emblemáticas” – traduções verbais específicas com significado preciso, mas culturais e similares à linguagem. Por exemplo, as expressões faciais seriam mais adaptadoras, enquanto os gestos, mais culturais, seriam mais emblemáticos, segundo David Efron. No entanto, faltariam estudos interculturais dedicados ao ambiente construído, como os que subsidiaram as conclusões sobre esses outros aspectos da comunicação não-verbal. Essa situação se agravaria com o fato de que existe maior variedade nos significados do que nos aspectos perceptivos. Por exemplo, se as cores percebidas são poucas, os sentidos possíveis e dados são muitos. Rapoport conclui que movendo-se dos reinos dos elementos não-fixos aos semi-fixos, e destes aos fixos, a paleta aumenta, com a maior variedade dos recursos. A tendência seria tornar-se mais similar à estrutura de uma linguagem. Haveria aspectos que podem servir de pistas para o ambiente construído, como o tamanho, a centralidade e as cores. No geral, um ponto comum é sempre o da “diferença” como modo de distinguir e sinalizar algo por meio da diferença ostensiva em algum aspecto perceptivo, tal como altura, material, localização, etc. Os meios são variáveis, mas o raciocínio do contraste parece ser constante. No caso do status, hierarquia, prestígio e poder, mesmo entre animais, sempre há uma relação com a “atenção” dos demais. As regras de combinações do repertório parecem ser limitadas, e boa parte se baseia na noção de oposição, de contraste. Após a apresentação deste arcabouço teórico, Rapoport o aplica em pequenos espaços e na escala urbana.