OLIVER, Paul. “Problems of definition and praxis”. In: OLIVER, P. Built to meet needs: cultural issues in vernacular architecture. Oxford: Architectural Press, 2006, pp 27-43.
Eixos de análise abordados:
Conceitos e métodos
Dados sobre o autor(es) e obra:
Paul Hereford Oliver nasceu em Nottingham, Inglaterra, em 1927. É historiador da arquitetura e escreve também sobre blues e outras formas de música afro-americana. Foi pesquisador do Oxford Institute for Sustainable Development da Oxford Brooks University, de 1978 a 1988, e Associated Head of the School of Architecture. É conhecido internacionalmente pelos seus estudos sobre arquitetura vernacular, em especial, como editor da Encyclopedia of Vernacular Architecture of the World (1997) e pelo World Atlas of Vernacular Architecture (2005). A enciclopédia reúne pesquisas e estudos sobre arquitetura vernacular em todas as regiões do mundo, sendo a principal referência sobre o tema com esta abrangência até o momento. O texto em exame é datado de 1999 e está publicado nesta coletânea, na parte dedicada à definição do campo da arquitetura vernacular e às suas questões conceituais.
Resumo :
O artigo trata do processo de elaboração da Enciclopédia da Arquitetura Vernacular do Mundo (projeto coordenado pelo autor e concluído em 1997) e dos vários problemas de definição e de prática que suscitou. Um dos principais relacionou-se ao próprio termo “arquitetura vernacular”, que necessitava de uma definição mais acabada já que compunha o título da obra. Oliver observa que a raiz latina de vernacular é verna, que quer dizer “escravo”, e que essa conotação permanece na Itália, mesmo que o termo vernaculus signifique “nativo”. Assim, os colaboradores italianos da Enciclopédia tendiam a focalizar os abrigos mais simples e pobres e a não considerar as fazendas toscanas. Mas o problema da definição atingiu também EUA, Austrália e Canadá porque nesses países o termo vernacular é usado com um sentido amplo e inclui a arquitetura projetada para fins comerciais ou habitacionais da classe média, como supermercados, postos de gasolina e cadeias de fast food. Na Inglaterra, essa mesma arquitetura é chamada de “popular”. Já no oeste americano, o termo vernacular designa uma arquitetura projetada por arquitetos que responde a uma tradição e usa materiais locais. Assim, o autor conclui que a expressão “arquitetura vernacular” pode ter significados diversos conforme o contexto cultural ou a língua que se fala. Para os propósitos da Enciclopédia foi então estabelecida a definição seguinte, com a justificativa de que poderia ser aplicada às tradições construtivas de todos os continentes e a comunidades de diferentes tamanhos e contextos ambientais: “Arquitetura vernacular compreende as habitações e outras construções dos povos. Relacionadas aos seus contextos ambientais e recursos disponíveis, são costumeiramente construídas por seu dono ou pela comunidade utilizando tecnologias tradicionais. Todas as formas de arquitetura vernacular são construídas para atender a necessidades específicas, acomodar valores, economias e modos de vida das culturas que as produzem”. As “entradas” da Enciclopédia foram estabelecidas, assim, a partir das culturas que produzem tradições construtivas identificáveis numa região e não a partir de limites político-administrativos. Essa decisão implicou redesenhar o mapa cultural do mundo, relacionando-se culturas individuais a grupos culturais que compartilham certas características, ocupam territórios com ambientes e topografias comparáveis e possuem traços arquitetônicos semelhantes. No caso do Brasil, por exemplo, o território do país foi dividido na Enciclopédia nas regiões Amazônia, Nordeste e Sul, numa visão simplificada e incompleta. O Brasil central, por sua vez, foi agregado à região definida como Argentina. O autor reconhece, entretanto, a simplificação embutida nessa classificação, mas afirma que esta obra pôs em relevo a questão dos limites temporais e da vigência da arquitetura vernacular. A obra inclui as tradições construtivas que sobrevivem em uso até o século XX, independentemente de quando foram construídas, além das tradições construtivas vigentes. O limite temporal é então definido em função da permanência do uso e da vigência da tradição. A característica fundamental de interdisciplinaridade do estudo da arquitetura vernacular é reafirmada, assim como a necessidade de se compartilhar conhecimentos e métodos. Considerando a vastidão desse universo, o autor informa neste artigo que os objetivos da enciclopédia são variados, sendo a formação de estudantes de arquitetura um dos principais já que a obra reúne grande parte do conhecimento produzido até agora sobre o tema.
OLIVER, Paul. “The importance of the study of vernacular architecture”. In: OLIVER, P. Built to meet needs: cultural issues in vernacular architecture. Oxford: Architectural Press, 2006, pp 17-26.
Eixos de análise abordados:
Conceitos e métodos
Dados sobre o autor(es) e obra:
Paul Hereford Oliver nasceu em Nottingham, Inglaterra, em 1927. É historiador da arquitetura e escreve também sobre blues e outras formas de música afro-americana. Foi pesquisador do Oxford Institute for Sustainable Development da Oxford Brooks University, de 1978 a 1988, e Associated Head of the School of Architecture. É conhecido internacionalmente pelos seus estudos sobre arquitetura vernacular, em especial, como editor da Encyclopedia of Vernacular Architecture of the World (1997) e pelo World Atlas of Vernacular Architecture (2005). A enciclopédia reúne pesquisas e estudos sobre arquitetura vernacular em todas as regiões do mundo, sendo a principal referência sobre o tema com esta abrangência até o momento. O texto em exame é datado de 1993 e está publicado nesta coletânea, na parte dedicada à definição do campo da arquitetura vernacular e às suas questões conceituais.
Resumo :
O autor explica que, aplicado à arquitetura, o termo vernacular remete à “arquitetura como linguagem da forma”. Assim, essa arquitetura poderia ser definida como “a linguagem arquitetônica do povo, com seus dialetos étnicos, regionais e locais”. O autor distingue também neste artigo “arquitetura vernacular” de “arquitetura popular”. A primeira expressão designaria uma arquitetura do povo e “feita pelo povo”. A segunda seria entendida como arquitetura “feita para o povo”, como a que existente nos subúrbios, nas ruas de comércio local e da que é feita por instituições públicas. Entretanto, Oliver informa que, em alguns países, o termo vernacular é associado a uma arquitetura simples, de vida curta, feita com materiais locais e construída por grupos ou minorias étnicas. Considera essa concepção um equívoco conceitual decorrente da tentativa de classificar a arquitetura vernacular a partir de seu grau de permanência, da tecnologia e da forma, ao invés de considerar esses aspectos de acordo com os contextos culturais e ambientais e as exigências que colocam. Advoga que a expressão “arquitetura vernacular” seja utilizada como uma “ferramenta de definição” para se discutir as edificações das culturas que entram na órbita desses estudos e preocupações. Reconhece que esse é um campo que interessa principalmente a alguns profissionais, sendo um estudo que não obedece a currículo, método ou qualificação profissional. Considera essa uma fraqueza, mas, ao mesmo tempo, um ponto forte do campo: não teria os constrangimentos de uma disciplina, mas sua utilidade e praticidade incertas lhe colocariam problemas de método e de objetivo. Critica o “determinismo ambiental” como a principal explicação para a arquitetura vernacular, assim como o “determinismo climático”, e reconhece a importância dos estudos antropológicos que apontam traços culturais fundamentais para o entendimento da arquitetura de vários povos. Aponta a necessidade de uma abordagem interdiscipinar nesse campo, mas observa que os métodos e instrumentos utilizados têm mantido a especificidade de cada disciplina. Advoga que esses métodos distintos sejam articulados conforme a necessidade do objeto em foco. Advoga também a possibilidade de construção de métodos alternativos e defende a introdução de conteúdos antropológicos e sociológicos na educação dos arquitetos. Sobre as aplicações práticas do tipo estudo da arquitetura vernacular lista: a conservação in situ de exemplares; a criação de museus a céu aberto; criações contemporâneas com emprego de materiais locais e uso de técnicas tradicionais e produção de habitações de baixo custo. Aponta, por fim, as ameaças que pairam sobre essa arquitetura em conseqüência de sua destruição deliberada, de indiferença, do abandono devido a migrações, da ignorância do seu valor histórico e social e do baixo status atribuído à habitação que produz. Seu estudo seria importante para a manutenção da diversidade das soluções humanas no que diz respeito à moradia, e à acomodação de funções comunitárias, pelos seus impactos positivos em termos de conforto climático e sustentabilidade e, ainda, por questões ligadas à história e à identidade cultural dos povos, das quais a arquitetura é expressão.