Biblioteca da Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
Referência bibliográfica:
YAMAKI. Humberto “Polish (Parana)”. In: OLIVER, Paul (edit). Encyclopedia of Vernacular Architecture of the World. Cambridge - UK: Cambridge University Press, 1997, p. 1696-1697.
Eixos de análise abordados:
Saberes tradicionais e espaço arquitetônico
Território e etnicidade
Dados sobre o autor(es) e obra:
Humberto Tetsuya Yamaki possui graduação em Arquitetura pela Universidade de São Paulo (1976), é Mestre (1981) e Doutor (1984) em Planejamento Ambiental pela Universidade de Osaka, Pós-Doutorado (1989) em Desenho Urbano pelo Joint Centre for Urban Design JCUD - Oxford Polytechnic. Professor Associado e Coordenador do Laboratório de Paisagem da Universidade Estadual de Londrina. Leciona na Pós Graduação em Geografia (Mestrado e Doutorado) e no Curso de Arquitetura e Urbanismo. Membro Titular do Conselho Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico do Paraná. Tem experiência na área de Arquitetura e Urbanismo e Geografia e atua nos seguintes temas: morfologia urbana, paisagem cultural e etnográfica e reabilitação da arquitetura imigrante. Bolsista PQ – CNPq.
O verbete informa que a imigração de poloneses para o Paraná teve início em 1870 como resultado de um processo interno de migração a partir do estado vizinho de Santa Catarina. O assentamento no Paraná começou oficialmente em 1875 em torno dos núcleos urbanos emergentes, aliado à produção e ao suprimento de legumes. Por isso, muitos distam entre 3 e 20 Km da capital, Curitiba. Inicialmente, a arquitetura dos imigrantes poloneses correspondeu a cabanas de troncos, evoluindo depois para casas de madeira. Ambas retiveram, contudo, as características de distribuição espacial e aspecto geral e influenciaram as edificações da região de Curitiba que são chamadas de “Casas Polonesas”. As cabanas de tronco, usadas mais tarde principalmente como depósitos, são consideradas as geradoras dessa arquitetura de imigração. Possuem um exterior bastante rústico e são feitas com mão de obra local, sendo o principal material troncos pesados de pinho araucária. Essas cabanas possuem empenas e telhado em duas águas coberto com telhas planas, conhecidas como “telhas alemãs”. São térreas, mas possuem sótãos, e a entrada principal fica usualmente no lado maior. Este tipo de construção demanda trabalho coletivo de retirada, corte e acabamento das madeiras, além de competências específicas para que uma estrutura sólida seja obtida. Os troncos são colocados horizontalmente, mas no triângulo das empenas, as peças são colocadas na vertical. As frestas entre os troncos são preenchidas com barro. A planta retangular é comumente dividida em dois cômodos, um vestíbulo e um quarto, ficando o sótão destinado ao dormitório das crianças. As cozinhas ficam geralmente em um anexo ou são acrescentadas depois ao bloco principal. Algumas casas foram ampliadas com a adição de varandas ao longo do lado maior. O verbete é ilustrado com fotografia de uma casa polonesa de madeira.
VALENTINI, Jussara. A Arquitetura do Imigrante Polonês na Região de Curitiba. Curitiba: Instituto Histórico Geográfico e Etnográfico do Paraná, 1982.
ISBN ou ISSN:
052156422 0
Autor(es):
Günter Weimer
Onde encontrar:
Biblioteca da Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
Referência bibliográfica:
WEIMER, Günter. “Westfalian”. In: OLIVER, Paul (edit). Encyclopedia of Vernacular Architecture of the World. Cambridge - UK: Cambridge University Press, 1997, p. 1691.
Eixos de análise abordados:
Saberes tradicionais e espaço arquitetônico
Território e etnicidade
Dados sobre o autor(es) e obra:
Günter Weimer possui graduação em Arquitetura pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1963), mestrado em História da Cultura pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (1981) e doutorado em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de São Paulo (1990). Atualmente é professor convidado do Programa de Pós-graduação em Urbanismo (PROPUR) da Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Tem experiência na área de Arquitetura e Urbanismo, com ênfase em Arquitetura e Urbanismo, atuando principalmente nos seguintes temas: arquitetura popular, história da arquitetura, imigração alemã, açorianos no Brasil e Rio Grande do Sul.
Segundo Weimer, 20% dos imigrantes alemães vieram da Vestifália, uma região de cultura saxônica e onde se encontrariam os melhores exemplos de arquitetura vernacular germânica. Nesta região, os assentamentos urbanos são lineares abrindo-se, a uma certa distância, em uma praça. A habitação consiste em um grande celeiro que abriga os instrumentos e ferramentas da fazenda, cujo portão está voltado para a rua do assentamento. Este celeiro tem vários andares, os quais são utilizados para armazenamento de grãos e feno. Ao longo do térreo, há vários currais onde os animais são abrigados. Nos fundos desse conjunto vinculado ao trabalho há uma área dividida em cozinha, sala de jantar e latrina que, por sua vez, é separada de um salão por uma grossa parede de alvenaria de pedra. Este cômodo é restrito à família e pode estar conjugado a dois quartos, um de cada lado. Segundo Weimer, a casa da região do Reno é semelhante, sendo um dos quartos para os pais e o outro para as filhas, já que os filhos dormiam no sótão quando não se tornou mais necessário estocar feno. No Brasil, o salão se reduziu para que os quartos fossem ampliados e tornou-se uma área de convívio social ou invés de exclusiva da família. Weimer avalia que esta transformação deveu-se à falta das estruturas típicas das vilas da Vestifália, como bares e locais de encontro. A cozinha dos imigrantes vestifalianos restringiu-se aqui às áreas de cocção e de jantar, ficando a latrina do lado de fora, no centro do terreiro. Com a melhoria das condições de vida, um lavatório e depois um chuveiro foram acrescentados à área de jantar/cozinha, fazendo com que o partido original fosse, de certa forma, retomado.
WEIMER, Günter. Arquitetura da Imigração Alemã. São Paulo, Porto Alegre: Nobel e UFRGS, 1983.
WEIMER, Günter. Arquitetura no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1985.
ISBN ou ISSN:
052156422 0
Autor(es):
Günter Weimer
Onde encontrar:
Biblioteca da Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
Referência bibliográfica:
WEIMER, Günter. “Pomeranian”. In: OLIVER, Paul (edit). Encyclopedia of Vernacular Architecture of the World. Cambridge - UK: Cambridge University Press, 1997, p. 1690-1691.
Eixos de análise abordados:
Saberes tradicionais e espaço arquitetônico
Território e etnicidade
Dados sobre o autor(es) e obra:
Günter Weimer é arquiteto, graduado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1963), mestre em História da Cultura pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (1981) e doutor em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de São Paulo (1990). Atualmente é professor convidado do Programa de Pós-graduação em Urbanismo (PROPUR) da Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Tem experiência na área de Arquitetura e Urbanismo, com ênfase em Arquitetura e Urbanismo, atuando principalmente nos seguintes temas: arquitetura popular, história da arquitetura, imigração alemã, açorianos no Brasil e Rio Grande do Sul.
Segundo Günter Weimer, um quinto dos imigrantes alemães veio da região da antiga Pomerânia para o Brasil. Suas vilas ancestrais, como observado no verbete “German (Brazil Sul)”, são circulares e com as casas voltadas para um terreiro ou praça central. As habitações tradicionais, construídas na Europa, consistem de uma varanda que leva a um vestíbulo, o qual, por sua vez, dá acesso à cozinha e à sala de estar. Sendo a cozinha a fonte de calor, o estábulo fica ligado a ela e pode ter várias divisões conforme os tipos de animais criados. Em cima desse espaço fica o depósito de feno. A cozinha é sempre dividida em duas zonas: uma para preparo da comida e outra para o abrigo de uma sólida mesa de refeições. No Brasil, este arranjo da cozinha foi mantido, mas com uma abertura no meio. Além disso, houve, inicialmente, a separação da cozinha do resto da casa, ficando esta última agenciada do seguinte modo: um corredor central que atravessa toda a edificação, tendo o cômodo correspondente à sala de estar ou ao quarto de dormir de um lado e, do outro, um quarto que servia, eventualmente, como escola, depósito ou simplesmente como outro cômodo. À medida que os fogões foram sendo incorporados à cozinha e que o fogo aberto foi abandonado, esta voltou a ser incorporada à casa, retendo-se assim, em grande parte, o partido tradicional europeu.
WEIMER, Günter. Arquitetura da Imigração Alemã. São Paulo, Porto Alegre: Nobel e UFRGS, 1983.
WEIMER, Günter. Arquitetura no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1985.
ISBN ou ISSN:
052156422 0
Autor(es):
Günter Weimer
Onde encontrar:
Biblioteca da Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
Referência bibliográfica:
WEIMER, Günter. “German (Brzsil-S)”. In: OLIVER, Paul (edit). Encyclopedia of Vernacular Architecture of the World. Cambridge - UK: Cambridge University Press, 1997, p. 1689-1690.
Eixos de análise abordados:
Saberes tradicionais e espaço arquitetônico
Território e etnicidade
Dados sobre o autor(es) e obra:
Günter Weimer é arquiteto, graduado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1963), mestre em História da Cultura pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (1981) e doutor em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de São Paulo (1990). Atualmente é professor convidado do Programa de Pós-graduação em Urbanismo (PROPUR) da Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Tem experiência na área de Arquitetura e Urbanismo, com ênfase em Arquitetura e Urbanismo, atuando principalmente nos seguintes temas: arquitetura popular, história da arquitetura, imigração alemã, açorianos no Brasil e Rio Grande do Sul.
O autor assinala neste verbete que a imigração de alemães para o Brasil começa nas últimas décadas do século XIX, em consequência da revolução industrial, envolvendo principalmente pessoas das regiões da Vestifália e da Pomerânia. Parte desse contingente teria vindo também da área do Reno e se alojado nas costas montanhosas do Rio Grande do Sul. Devido ao isolamento, esses grupos mantiveram grande parte de suas tradições arquitetônicas e de assentamento. Na região do Reno, as casas eram edificadas para cumprir três funções, dispostas linearmente e sob um único telhado: habitação, estábulo e celeiro. Várias
atividades, entretanto, podiam ser realizadas do lado de fora de acordo com o clima. Na Vestifália, a forma das vilas é linear e na Pomerânia, circular. Como cada casa tinha um quintal e um pomar nos fundos, as vilas possuíam um cinturão verde. O restante da terra disponível para agricultura era de uso e propriedade comum, dividida entre os moradores conforme suas necessidades. Havia sempre uma floresta contígua, de onde se retirava madeira e lenha para o enfrentamento dos invernos rigorosos. Esses colonos foram assentados no Brasil em glebas geométricas e rigorosamente definidas, de propriedade individual, o que não permitiu reconstituir aqui essas vilas ancestrais. Mas o clima mais ameno permitiu que os animais ficassem abrigados do lado de fora e a casa unitária foi então dividida em várias unidades funcionais. A habitação propriamente dita foi dividida em “cozinha” e espaço de convívio diurno, além da “casa” para visitantes e convívio social nos fins de semana. O autor assinala que os padrões dessa subdivisão são curiosos: no caso dos imigrantes vindos da região do Reno, o arranjo das construções no espaço é bastante livre; no caso daqueles da Vestifália, as edificações são dispostas em torno de um grande terreiro que serve de passagem entre a estrada e as plantações; já os da Pomerânia, organizam suas construções em torno de um terreiro circular. Uma vez que as vilas não puderam ser reproduzidas aqui, seus padrões de arranjo espacial foram retomados na organização do espaço da propriedade familiar. Por exemplo, os colonos encompridaram e estreitaram o pomar de modo que ele envolvesse o conjunto edificado e as hortas foram plantadas entre ou ao lado das edificações. Assim, formou-se um anel de vegetação em torno das construções, ainda que irregular. A floresta ancestral também foi mantida, deixando-se sempre uma área de mata nas propriedades. As lavouras, contudo, incorporaram novas plantas como a cana de açúcar e o milho, o que promoveu modificações no sítio. No primeiro caso, a adição de nova construção para o processamento do açúcar e do melaço, colocada na periferia do conjunto, segundo o autor, por não ter origem europeia. O milho, por sua vez, foi estocado em uma construção especial ou no estábulo. Dessa forma, os imigrantes alemães teriam tentado preservar suas tradições de morar e de organizar o assentamento.
WEIMER, Günter. Arquitetura da Imigração Alemã. São Paulo, Porto Alegre: Nobel e UFRGS, 1983.
WEIMER, Günter. Arquitetura no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1985.
Autor(es):
Dinah Guimaraens e Lauro Cavalcanti
Onde encontrar:
Acervo Profa. Marcia Sant’Anna
Referência bibliográfica:
GUIMARAENS, Dinah & CAVALCANTI, Lauro. Arquitetura kitsch suburbana e rural. Rio de Janeiro: FUNARTE, 1979.
Eixos de análise abordados:
Conceitos e métodos
Construção autogerida em meio urbano: espaços e técnicas
Dados sobre o autor(es) e obra:
Dinah Tereza Papi de Guimaraens é Professora do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo e Professora Adjunta III do Departamento de Arquitetura da Escola de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal Fluminense-UFF. Graduada em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Santa Úrsula - USU (1978) fez extensão universitária em Semiótica Visual com o professor Umberto Eco (1979). Possui mestrado em Antropologia Social pelo Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social do Museu Nacional - UFRJ (1992), mestrado em História Antiga e Medieval pelo Instituto de Filosofia e Ciências Sociais - UFRJ (1992), doutorado em Antropologia Social do Museu Nacional - UFRJ (1998) e pós-doutorado em Antropologia pela University of New Mexico (1999). É pesquisadora avançada do PROARQ (Programa de Pós-Graduação de Estudos em Museus) da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo - FAU - UFRJ. Até março de 2009, foi professora da Faculdade de Comunicação Social da UNESA, integrando o Núcleo de Referência em Conservação e Restauração de Bens Culturais, o curso de Fotografia e sendo conteudista do curso virtual Estética e Arte Contemporânea da Universidade Estácio de Sá. Tem experiência em arquitetura e urbanismo; preservação e conservação de bens culturais nas áreas de cultura material e imaterial, artes visuais e objetos etnográficos; museologia e museografia; produção cultural; semiótica; antropologia cultural e estética; cultura indígena, afro-brasileira e popular, mídia digital e curadoria de artes plásticas. Além da obra objeto desta ficha, publicou, juntamente com Lauro Cavalcanti, Arquitetura de Motéis Cariocas: Espaço e Organização Social (1980, 2007), além de Museu de Artes e Origens: Mapa das Culturas Vivas Guaranis (2003).
Lauro Augusto de Paiva Cavalcanti é arquiteto, antropólogo e escritor. Escreveu vários livros sobre arquitetura, estética e sociedade e organizou diversas coletâneas sobre o assunto. É conselheiro da Casa Lucio Costa e da Fundação Oscar Niemeyer. Membro do conselho editorial do Iphan, é também diretor do Paço Imperial e professor da Escola Superior de Desenho Industrial (Esdi/Uerj). Possui graduação em Arquitetura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1979), mestrado em Antropologia Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1987) e doutorado em Antropologia Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1993). Atualmente é técnico em preservação cultural IV do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e professor adjunto da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Tem experiência na área de Arquitetura e Urbanismo, com ênfase em Teoria da Arquitetura, atuando principalmente nos seguintes temas: arquitetura moderna, arquitetura, artes plásticas e arte.
O livro trata do kitsch como um fenômeno cultural característico da transição de um código estético popular/vernacular/primitivo para outro mais oficial/tecnológico/erudito, decorrente da ascensão social de segmentos de média e baixa renda. Os autores também definem o fenômeno kitsch como a possibilidade de uma resposta antropofágica (no sentido oswaldiano do termo) das massas à cultura de elite, podendo, a partir dessa mescla e desse choque, surgir uma terceira realidade cultural. Nesta obra o kitsch é ainda tratado como produto de um processo semelhante ao que faz surgir vanguardas artísticas, sendo que estas colocariam mais ênfase no processo de criação e o kitsch, por sua vez, carregaria na reação emotiva. A relação com as vanguardas não se esgotaria, contudo, nessa semelhança etiológica, pois o kitsch seria também fornecedor de “estilemas” (elementos desencadeadores ou caracterizadores de linguagem ou expressão artística) para as vanguardas, já que ambos manteriam relação fundamental com a novidade. Os autores distinguem um kitsch passivo e um ativo. O passivo resultaria do consumo exacerbado de uma classe média em ascensão que colecionaria objetos industrializados que imitam os da elite, sem nenhuma intervenção ou personificação. Já o kitsch criativo resultaria do mencionado processo antropofágico de apropriação e reinterpretação de elementos da “cultura oficial”. Ao abordarem o kitsch como atitude criativa, que teria seu próprio código de estruturação do mundo e da sociedade, os autores assinalam que o fenômeno deve ser compreendido sempre em articulação com a estratificação social e com os processos culturais e econômicos próprios da sociedade pós Revolução Industrial. Assim, estaria ligado à elevação do consumo e também à crise da obra de arte como objeto único. A arquitetura kitsch é definida pelos autores também como uma arquitetura de transição entre uma arquitetura oficial e uma arquitetura de cunho popular. Dessa face popular, da autoconstrução e da espontaneidade, a arquitetura kitsch traria a inventividade na elaboração de espaços individualizados que transmitem a visão de mundo e a marca do seu criador. Manteria ainda o impulso e o instinto da concepção do abrigo próprio, inclusive como resposta às imposições tecnológicas, e a utilização de meios artesanais de produção mesmo numa realidade industrializada. Da arquitetura oficial, a arquitetura kitsch se apoderaria de elementos que adaptaria ao seu próprio repertório estético, como os da arquitetura moderna e os tecnologicamente sofisticados, “devolvendo-os” depois como outro produto estético que, eventualmente, pode revitalizar a arquitetura oficial por meio de sua potência de criação e de transgressão dos códigos da elite. A arquitetura kitsch, em decorrência do seu caráter de produto de afirmação social e de processo de personificação, exibe sempre um uso excessivo de materiais decorativos; a aplicação de processos construtivos sem o conhecimento de seus princípios; o uso variado e rico de materiais de construção; o uso excessivo da cor, empregada, geralmente, em tons berrantes e contrastantes; e grande diversidade em função do processo de personificação/individualização do espaço. O livro, que ilustrado com fotografias e croquis, se apoia em pesquisa realizada pelos autores na cidade do Rio de Janeiro e em alguns de seus subúrbios durante o ano de 1978.
Biblioteca da Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
Referência bibliográfica:
BITTENCOURT, Leonardo. “Santa Rita Island (Brazil)”. In: OLIVER, Paul (edit). Encyclopedia of Vernacular Architecture of the World. Cambridge - UK: Cambridge University Press, 1997, p. 1.633-1.634.
Eixos de análise abordados:
Saberes tradicionais e espaço arquitetônico
Tecnologia tradicional no território e na edificação: vigências e usos contemporãneos
Dados sobre o autor(es) e obra:
Leonardo Salazar Bittencourt possui graduação em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal de Pernambuco (1977) e doutorado em Environment and Energy Studies - Architectural Association Graduate School (1993). Atualmente é professor da Universidade Federal de Alagoas, atuando nos cursos de mestrado e doutorado em Arquitetura e Urbanismo. Tem experiência em consultoria, projetos e pesquisas na área de Arquitetura e Urbanismo, com ênfase em sustentabilidade Ambiental, atuando principalmente nos seguintes temas: conforto ambiental, sustentabilidade do espaço construído, arquitetura bioclimática, eficiência energética em edificações e projeto de arquitetura.
A Ilha de Santa Rita [Marechal Deodoro, Alagoas] fica na costa nordeste do Brasil e, segundo o autor, é habitada por descendentes de índios, negros e portugueses. As principais atividades do lugar são a pesca, a agricultura e o comércio de produtos agrícolas. Mais recentemente, surgiu também o turismo. O assentamento na ilha é formado de casas ao longo dos caminhos próximos aos cursos d’água, sem qualquer planejamento, formando ruas sinuosas. As casas são construídas entre as árvores, sem qualquer geometria pré-concebida. Há muitos espaços externos comunais para trabalho e lazer que funcionam como extensões das casas. O tamanho das casas varia conforme o tamanho das famílias e a sala de estar está sempre voltada para a rua, não importa a direção do sol. Há também dormitórios sem janelas, o que o autor atribui à tradição portuguesa das alcovas. Segundo ele, os habitantes dizem que é por razão de segurança ou para manter as moças jovens virgens. A cozinha fica no fundo e serve também de sala de jantar. As instalações sanitárias ficam do lado de fora, a cerca de 10 m da casa. A estrutura é de madeira com esteios fincados diretamente no solo e as paredes são de taipa de sopapo, eventualmente revestidas com argamassa e caiadas, especialmente nas fachadas principais. As divisões internas são em meias paredes, o que proporciona o cruzamento de ventilação e iluminação, a qual também é obtida pela abertura deixada na empena no telhado. O piso é de chão batido ou cimentado e as janelas são de folhas cegas de madeira. A construção dessas casas pode envolver também os vizinhos. As coberturas são em duas ou quatro águas (tacaniça) e compõem-se de estrutura de madeira coberta com camadas de palha de coqueiro seca. Este tipo de telhado dura cinco anos, mas a reposição é fácil devido à abundância de coqueiros. O verbete é ilustrado com fotografia de uma casa da ilha.