OLIVER, Paul. “Technology transfer: A vernacular view”. In: OLIVER, P. Built to meet needs: cultural issues in vernacular architecture. Oxford: Architectural Press, 2006, pp. 163-182.
Eixos de análise abordados:
Conceitos e métodos
Tecnologia tradicional no território e na edificação: vigências e usos contemporãneos
Dados sobre o autor(es) e obra:
Paul Hereford Oliver nasceu em Nottingham, Inglaterra, em 1927. É historiador da arquitetura e escreve também sobre blues e outras formas de música afro-americana. Foi pesquisador do Oxford Institute for Sustainable Development da Oxford Brooks University, de 1978 a 1988, e Associated Head of the School of Architecture. É conhecido internacionalmente pelos seus estudos sobre arquitetura vernacular, em especial, como editor da Encyclopedia of Vernacular Architecture of the World (1997) e pelo World Atlas of Vernacular Architecture (2005). A enciclopédia reúne pesquisas e estudos sobre arquitetura vernacular em todas as regiões do mundo, sendo a principal referência sobre o tema com esta abrangência até o momento. O texto em exame é datado de 1982 e está publicado na coletânea em referência na parte que trata da transmissão das técnicas construtivas tradicionais.
Resumo :
Oliver comenta aqui a transferência de tecnologia para os países em desenvolvimento e questões relacionadas à inovação e à difusão tecnológica. Questiona a necessidade de transferência tecnológica do “ocidente” para esses países e a falta de consideração com as culturas afetadas, ressaltando o quanto a transferência é tributária de relações de poder e dominação. Os principais fenômenos de difusão tecnológica decorreriam de conquistas, colonização e imigração. A circulação de especialistas que difundem detalhes construtivos, ornamentos e formas e a inveja e a admiração por outras culturas também levam à adoção de processos e produtos. Mas a maior parte da transferência tecnológica ou da introdução de inovações se deu historicamente por meio de trocas culturais, contatos e nomadismo. Para o estudo da arquitetura vernacular Oliver considera mais importante, contudo, discutir a difusão tecnológica e a disseminação e assimilação cultural. Ressalta que todas as culturas são híbridas e que a disseminação cultural ou tecnológica é um fenômeno espacial. Mas observa que, por razões culturais ou religiosas, algumas inovações não são incorporadas independentemente do avanço que possam significar. Assim, seria fundamental entender também os processos de assimilação/rejeição de inovações. Para tanto, Oliver menciona a distinção feita pelos antropólogos entre difusão intracultural ou “primária” e difusão intercultural ou entre culturas. Esta última, freqüentemente, carrega uma maior carga de mudança ou transformação e ocorrendo historicamente por meio das rotas, dos vales e pela passagem adiante de objetos, e também de modo territorialmente descontínuo. Já a resistência à inovação pode vir da tradição, mas, em geral, decorre da falha em se adequar aos padrões de utilidade e de comportamento do grupo receptor. Consciência da necessidade, utilidade evidente e melhorada, viabilidade econômica e compatibilidade cultural seriam então os fatores que influenciam a aceitação de inovações, além do desejo de status. Na arquitetura vernacular nenhuma inovação “ocidental” foi mais difundida ou aceita do que a folha metálica galvanizada e corrugada. Mesmo sendo climaticamente desconfortável, é barata, fácil de fixar, mais eficiente do que a palha, protege bem da chuva e vem em tamanhos que se adaptam bem ao tamanho dos cômodos. Juntamente com as latas e tambores de óleo alisadas, são bastante usadas no mundo dos pobres. Oliver não recomenda sua estética, mas acha que esse tipo de reciclagem pode ser melhor do que comprar materiais e equipamentos caros. A difusão intracultural, por sua vez, freqüentemente se irradia a partir de um centro de poder, caindo de intensidade na periferia ou limites externos de uma cultura. Pode também ocorrer entre culturas contíguas onde a língua não é uma barreira e onde circunstâncias sociais e ambientais são compatíveis. Mas as inovações ocorrem mais por intrusão ou intervenção do que por difusão. Podem ter impactos positivos se respeitam as culturas nas quais são introduzidas, suas necessidades, costumes, economia. Oliver ressalta o caráter “ecológico” da maior parte da arquitetura vernacular, mas admite a introdução de novas tecnologias quando recursos esgotados e não renováveis possam ser substituídos por outros e num processo acompanhado por treinamento e transmissão do seu uso na construção, garantindo-se sua sustentabilidade futura.
OLIVER, Paul. “Vernacular know-how”. In: OLIVER, P. Built to meet needs: cultural issues in vernacular architecture. Oxford: Architectural Press, 2006, pp. 109-127.
Eixos de análise abordados:
Conceitos e métodos
Tecnologia tradicional no território e na edificação: vigências e usos contemporãneos
Construção autogerida em meio urbano: espaços e técnicas
Dados sobre o autor(es) e obra:
Paul Hereford Oliver nasceu em Nottingham, Inglaterra, em 1927. É historiador da arquitetura e escreve também sobre blues e outras formas de música afro-americana. Foi pesquisador do Oxford Institute for Sustainable Development da Oxford Brooks University, de 1978 a 1988, e Associated Head of the School of Architecture. É conhecido internacionalmente pelos seus estudos sobre arquitetura vernacular, em especial, como editor da Encyclopedia of Vernacular Architecture of the World (1997) e pelo World Atlas of Vernacular Architecture (2005). A enciclopédia reúne pesquisas e estudos sobre arquitetura vernacular em todas as regiões do mundo, sendo a principal referência sobre o tema com esta abrangência até o momento. O texto em exame é datado de 1982 e está publicado na coletânea em referência na parte que trata da transmissão das técnicas construtivas tradicionais.
Resumo :
O texto aborda o tema das técnicas construtivas e nele Oliver explicita outra definição: “arquitetura vernacular – ou abrigo – engloba todo o campo da construção tribal, folclórica, camponesa, popular e dos setores urbanos informais” (p. 109). Situa a tecnologia vernacular no vasto território cognitivo que inclui a totalidade do conhecimento necessário tanto para a construção e como para o assentamento humano. Inclui os conhecimentos sobre os recursos naturais e materiais, sobre como utilizá-los, cultivá-los ou repô-los, a confecção e a seleção de ferramentas para o trabalho, o que implicaria a produção de métodos, técnicas e o aprendizado de habilidades específicas e especializadas. Embora possa conter processos enriquecedores de especialização, a tecnologia vernacular não é vista pelo autor como uma forma de superar dificuldades, mas como modo de lidar com as dificuldades e limitações com as quais o artesão trabalha. Seriam características dessa construção: o baixo uso de técnicas de conversão de energia e o uso de energia muscular ou muscular assistida. Ressalta que os equipamentos mecânicos usados na construção de palácios e catedrais não foram utilizados na construção doméstica e a que a tração animal, o vento e a água, tradicionalmente utilizados para o transporte de materiais pesados e como fonte de energia para moer grãos, jamais foram usados para objetivos de construção. Atribui esse fato às necessidades mais urgentes de sobrevivência. Observa que a tecnologia vernacular resulta de um processo longo de tentativa e erro, de adaptação aos materiais disponíveis e às condições do ambiente, que sempre chega a uma solução que funciona, ainda que não seja sofisticada ou perfeita. Portanto, tem méritos e falhas. Falhas como a facilidade de apodrecimento e de proliferação de insetos, dentre outras, explicariam, por exemplo, a substituição de coberturas de palha por telhas metálicas corrugadas na arquitetura vernacular, material que já seria característico do “vernacular moderno” na África e na América Latina. Contudo, identifica o uso do concreto armado na construção vernacular como “perigoso”, pois o construtor não dominaria seus princípios construtivos e não poderia se apoiar na tradição de longa duração das técnicas tradicionais. No meio urbano, o vernacular adquiriria um novo know how: ao invés de tirar os materiais de construção da terra e da natureza, retira-o da própria cidade. Para Oliver a arquitetura das barriadas e favelas é um “vernacular emergente” que corresponde à construção de um novo know how adequado ao modo de vida e às condições urbanas. A tecnologia vernacular não seria, portanto, um fenômeno único e deve ser abordada sem preconceitos, segundo a cultura que a produz e utiliza e segundo sua eficiência. Mais do que preservar algo que está desaparecendo, o valor do estudo da arquitetura vernacular estaria na possibilidade de contribuir para a solução do déficit habitacional no mundo, o qual seria impossível resolver apenas com meios “modernos”. Assim, estudar os méritos e as falhas da construção vernacular seria importante para que se possa ampliar o uso dessa tecnologia e realizar de modo consistente e não destrutivo a transferência de know how.
PATRÍCIO, Marísia. No Norte de Goiás, Exemplos de uma Arquitetura que Precisa ser Preservada. In: Projeto – revista brasileira de arquitetura, planejamento, desenho industrial e construção, n.47, 1983. São Paulo: Projeto Editores Associados Ltda, p.30-34.ssociados Ltda, 1983, n.47.
Eixos de análise abordados:
Conceitos e métodos
Saberes tradicionais e espaço arquitetônico
Tecnologia tradicional no território e na edificação: vigências e usos contemporãneos
Resumo :
Artigo com muitas fotos e ilustrações, faz referência a Paul Oliver em Cobijo y Sociedad e a Hassan Fathy, iniciando com uma discussão sobre o conceito de arquitetura vernacular. Defende que nesta arquitetura aparecem soluções adequadas aos fins, congruência que pode ser induzida pela pobreza que eliminar o supérfluo e onde aparece muito da tradição, do lugar e da região. Por sua eficiência, conforto, economia e mesmo beleza, é uma arquitetura de boa qualidade que mereceria tomar-se como exemplo. A autora enfatiza ainda a propriedade no uso de materiais, a coerência entre técnica construtiva e material utilizado e a perfeita adaptação ao clima local, constituindo-se em valioso acervo tecnológico e patrimônio cultural. A arquitetura estudada dar-se-ia à margem do mercado de consumo mais amplo, com material extraído diretamente da natureza. Portanto, fora do ciclo da produção, distribuição e consumo industrial e, no máximo, ligada à produção e ao comércio local, como a produção artesanal de telhas, tijolos e ladrilhos cerâmicos. Ou seja, uma produção “de subsistência”, ainda sem especialização, onde o proprietário é o arquiteto e o construtor. A arquitetura vernacular estudada neste artigo é a do norte de Goiás, numa fronteira agrícola em expansão onde o homem do campo se vê “expulso” para cidade, na qual, devido à mudança de materiais e à legislação, passa de construtor eficiente a mão-de-obra desqualificada. As casas estudadas possuem planta retangular, com combinações e extensões, e telhado de duas águas. Possuem estrutura em madeira boa que no telhado é formada de peças roliças não aparelhadas, ou taquara, e coberturas em palha de piaçava ou buriti, substituída, às vezes, por telhas de barro. As paredes são de folhas de babaçu – superpostas e amarradas -, eventualmente substituídas por taipa de sopapo, algumas vezes, nriquecida com pedaços de pedra e de tijolo. Em tais casas, a cozinha é o espaço principal, centro de convivência e lugar das refeições, onde se costura e passa a roupa e de onde a mãe controla casa e as crianças. Na área externa próxima, fica o lugar de preparar a farinha de mandioca e secar a carne, além de uma eventual pia e do poço que fornece a água para lavar louça e roupa e tomar banho. No quintal, há plantação de milho, mandioca e cana e árvores de frutas como manga, caju e banana, além da criação de animais e, em geral, galinhas.
Acervo dos Professores Luiz Antônio Fernandes Cardoso e Marcia Sant’Anna.
Referência bibliográfica:
VALENTINI, Jussara. A arquitetura do imigrante polonês na região de Curitiba. Curitiba: Instituto Histórico, Geográfico e Etnográfico Paranaense, 1982.
Eixos de análise abordados:
Saberes tradicionais e espaço arquitetônico
Tecnologia tradicional no território e na edificação: vigências e usos contemporãneos
Território e etnicidade
Dados sobre o autor(es) e obra:
Jussara Valentini é arquiteta formada pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), em 1977, e Especialista em Conservação e Restauro pela Universidade Federal da Bahia (IV CECRE), 1982. Foi chefe da Curadoria do Patrimônio Histórico e Artístico da Coordenadoria do Patrimônio Cultural , na Secretaria da Cultura e do Esporte do Paraná e professora de Arquitetura Brasileira na faculdade de Arquitetura e Urbanismo na Universidade Federal do Paraná. Atualmente encontra-se aposentada dessas atividades, mas desenvolvendo trabalhos relacionados à preservação do patrimônio cultural na AquiBrasil Arquitetura e Restauração.
Sumário obra:
Apresentação
Prefácio
Contexto do trabalho
Introdução
I – Imigração no Paraná
II – Imigração Polonesa na região de Curitiba
III – A Arquitetura
PROGRAMA E PARTIDO – SITEMA CONSTRUTIVO
Estrutura de vedação
Cobertura
Escada, piso e forro
Portas e janelas
Pintura
Práticas propiciatórias
Referências
Resumo :
O trabalho de Jussara Valentini se insere em um projeto da Casa Romário Martins, do final dos anos de 1970, que visava consolidar um vasto referencial de pesquisas sobre a história de Curitiba, onde se reconhecia como prioritária a contribuição cultural dos imigrantes. O livro, assim como os outros dois então planejados (dedicados à arquitetura dos imigrantes Italianos e alemães), trata apenas da arquitetura residencial, visto ser esta a que melhor registra as características da vida dos “acolhidos pelo Novo Mundo”. Buscando assegurar uma visão mais global do seu objeto de estudo – as habitações do imigrante polonês –, o trabalho adotou como universo de pesquisa as antigas colônias nas quais os poloneses se instalaram no Paraná, constatando-se aí a existência de inúmeros exemplares arquitetônicos do final do século XIX que ainda guardavam suas características originais. Os exemplares selecionados para o estudo datam do período compreendido entre 1870 e 1880, época em que se iniciou a imigração de poloneses para a região de Curitiba. Não são feitas considerações teórico-conceituais acerca da eventual significação popular ou vernacular desta arquitetura. Contudo, deixa-se claro que, mesmo considerando que alguns exemplares se encontrem incorporados ao perímetro urbano da cidade de Curitiba, são habitações originalmente de caráter rural, relacionadas ao campo de atividades que viria a ser explorado pelo imigrante polonês: a agricultura. A análise dos diversos aspectos relacionados a essa arquitetura (programa, técnicas, elementos construtivos, etc.) tem os seus textos enriquecidos pela farta utilização de ilustrações, que compreendem peças gráficas (plantas baixas, cortes e detalhes construtivos) e fotográficas.
Disponível em PDF na internet, conforme endereço constante na referência bibliográfica.
Referência bibliográfica:
SILVEIRA, Aline Vargas da. Os "casarões de Ibatiba": um patrimônio vernáculo a ser preservado. Programa de Pós-Graduação e Arte - Centro de Artes. Universidade Federal do Espírito Santo.
Eixos de análise abordados:
Saberes tradicionais e espaço arquitetônico
Tecnologia tradicional no território e na edificação: vigências e usos contemporãneos
Território e etnicidade
Dados sobre o autor(es) e obra:
Aline Vargas da Silveira é arquiteta e urbanista graduada pela Universidade Federal do Espírito Santo (2009). Possui Mestrado em Artes pela Universidade Federal do Espírito Santo (2012). Atualmente, é professora do Instituto Federal do Espírito Santo, atuando nos cursos Técnico em Edificações e Arquitetura e Urbanismo. O artigo em exame foi produzido a partir de dissertação de mestrado elaborada pela autora no Programa de Pós-Graduação em Arte/Centro de Artes, Universidade Federal do Espírito Santo, em 2012.
O propósito desta obra de Aline da Silveira é o estudo da arquitetura rural do município de Ibatiba, localizado no sul do estado do Espírito Santo, na região do Caparaó. O objeto de análise são os casarões do fim do século XIX e meados do século XX que foram construídos à medida que a lavoura cafeeira ia se desenvolvendo, passando, assim, a fazer parte da paisagem rural da região. Este objeto está ligado diretamente à cultura regional e ao modo de vida da época, sendo isso de extrema importância para a compreensão do tipo de arquitetura que representam. Os casarões são produtos de uma tradição construtiva que remonta a muitas gerações, desde o período colonial, principalmente no que diz respeito aos materiais utilizados e encontrados no local. Nesse contexto, a autora analisa possíveis alterações que ocorreram ao longo do tempo e revela que as técnicas construtivas dominantes eram artesanais, com uso de estrutura de madeira e vedações de pau-a-pique e/ou tijolo cerâmico. O conjunto arquitetônico da fazenda era formado pela casa, terreiro, tulhas e paióis, moinhos, monjolos, engenhos de cana-de-açúcar e abrigo de animais. Porém, boa parte desses componentes não existe mais, havendo apenas vestígios de sua localização. Alguns podem ser identificados por meio de relatos de moradores. A autora acredita que a valorização e a preservação desses exemplares históricos é de extrema importância para o resgate das memórias do lugar, e que pode ser uma boa maneira de promover o desenvolvimento da região.
OLIVEIRA, Ernesto Veiga de; GALHANO, Fernando; PEREIRA, Benjamim. Construções Primitivas em Portugal. 2ed. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1988.
Eixos de análise abordados:
Saberes tradicionais e espaço arquitetônico
Tecnologia tradicional no território e na edificação: vigências e usos contemporãneos
Dados sobre o autor(es) e obra:
Ernesto Veiga de Oliveira (1910-1990), etnólogo português, foi um dos fundadores do Centro de Estudos de Etnologia e um dos responsáveis pela renovação da Etnografia em Portugal, com extensa produção sobre arquitetura popular. Fernando Galhano (1904-1995) foi um dos fundadores do Museu de Etnologia de Lisboa, versátil desenhista e também autor, sozinho e em parceria, de trabalhos sobre arquitetura popular, sistemas de transporte, tecnologia têxtil, sistemas de moagem e pesca, entre outros. Benjamim Pereira (1928), integrante do Centro de Estudos de Etnologia, foi também dos fundadores do Museu de Etnologia, com trabalhos na mesma área que os demais autores da obra. A primeira edição da obra em exame é de 1969, pelo Centro de Estudos de Etnologia do Instituto de Alta Cultura de Portugal.
Sumário obra:
I PARTE – Construções Primitivas e Elementares
Cap. 1 – Abrigos
I – Abrigos Naturais
II – Abrigos Artificiais
Cap. 2 – Construções de Planta Circular
A – Construções de Planta Circular com Cobertura Cônica de Materiais Vegetais
B – Construções de Planta Circular (ou Quadrada) Inteiramente em Pedra
(Falsa Cúpula)
Cap. 3 – Construções de Planta Quadrangular
A – Construções de Planta Quadrangular Inteiramente em Materiais Vegetais
B – Construções de Planta Quadrangular com Paredes de Pedra e Cobertura
em Materiais Vegetais
Cap. 4 – Barcos de Avieiros
II PARTE – Sistemas Primitivos de Construção
Cap. 5 – Coberturas. Elementos Acessórios da Construção. Diversos.
1) Coberturas
2) Elementos Acessórios da Construção
3) Diversos
Resumé
Índice Geográfico
Índice Analítico
Índice de Desenhos Índice de Figuras
Errata
Resumo :
Obra com abundância de fotos e desenhos, como plantas, cortes e detalhes. O enfoque técnico-construtivo dita a tônica da tipologia e da classificação dos exemplares. A abordagem enfatiza aspectos funcionais, das atividades humanas e condições geoclimáticas, descurando dos aspectos simbólicos. Trata do estudo das formas mais simples e elementares de construção, relacionadas a atividades de caráter arcaico, como abrigos móveis de pastoreio e casas de pescadores, condenadas a desaparecer com o advento dos materiais industriais e a facilidade nos transportes. Os autores dedicam-se primeiro aos abrigos mais elementares. Os “naturais” – como cavernas, grutas e lapas – e os “semi-naturais”, que são melhorias dos anteriores e remanescentes da cultura neolítica nas zonas calcárias do Centro e Sul de Portugal, com casos no Norte, de menores dimensões, onde o granito se decompõe. A maior diversidade aparece nos abrigos “artificiais”. Nos de pedra, registra-se aqueles em “muros e socalcos”, os “simples” e os “malhões”, de pedras secas encasteladas e sem cobertura, no Alentejo, Sintra e Serra da Estrela. Nos abrigos inteiramente de materiais vegetais, distingue-se os “fixos” dos “móveis”. Nos fixos, destacam-se as cabanas, com elemento único formando cobertura e parede, cônicas e de planta quadrangular; as barracas para cultivo do melão nos campos do Tejo e no Alentejo, feitas de tábuas, canas, palhas e ramagens; os abrigos feitos de canas, nas vinhas entre Torres Vedra e o mar, e os de pranchas de cortiça, nas regiões de sobreiros. Nos móveis, descreve-se as “esteiras” e “choços” de pastores no Leste – guarda-ventos e abrigos feitos de palha com elaborada armação de varas -; os abrigos sobre carros (mais raros, ligados ainda ao pastoreio, e distribuídos por todo o país) e casos especiais, como as cabanas de palha de milho no litoral do Porto a Leiria. Depois, o livro trata de construções mais elaboradas, classificadas de acordo com aspectos construtivos e formais. Aborda-se, inicialmente, as de planta circular com cobertura cônica em materiais vegetais, dividindo-as em “inteiriças”, nas que distinguem parede e cobertura do mesmo material e nas de parede de pedra e cobertura vegetal. Nestas surge uma diversidade maior de vestígios, levando a hipóteses sobre a altura das paredes, sobre o material da cobertura - telhas romanas, palha, giesta ou “faxina” recoberta de barro – e sobre sua origem como uma passagem para a pedra de antigas cabanas inteiramente vegetais. As cabanas circulares com cobertura cônica em materiais vegetais apresentam raros exemplares íntegros em regiões arcaizantes ou segregadas. Aquelas com cobertura e parede únicas aparecem na Beira Alta e Alentejo. As do tipo cilíndrico-cônico, com cobertura e parede distintas, surgem apenas como anexos rurais nos currais para gado miúdo (“curveiros”), no Alentejo e nos espigueiros (canastros de varas) no Minho. Das construções de planta circular com paredes cilíndricas de pedra e cobertura cônica de materiais vegetais, há exemplares no Algarve, Alentejo e Beira Alta, como o caso excepcional das barracas de planta arredondada para guarda de barcos e aprestos da apanha de sargaço em Fão e Pedrinhas. Um caso à parte são as construções de planta circular ou quadrada em pedra com fechamento em falsa cúpula, constituída por fiadas horizontais de pedra em diâmetros sucessivamente menores e fechadas por lajes chatas. Em Portugal, são de xisto – no sul, Algarve, Alentejo e Beira Baixa – ou de granito, no norte. Construções sempre de pequenas dimensões, são abrigos temporários, palheiros, pocilgas, queijeiras, moinhos e fornos. Com exemplos pré-históricos e recentes, são alvo de estudo por região em seus aspectos sociológicos e em comparação com análogos europeus. Quanto às construções em planta quadrangular, faz-se classificação similar: cobertura e paredes unitários em matéria vegetal; cobertura e paredes distintas do mesmo material; paredes em pedra e cobertura vegetal. Do primeiro caso, os exemplares são pouco freqüentes. Com cobertura e paredes distintos, são notáveis os palheiros no litoral central, com paredes de tabuado e cobertura de palha, estorno ou junco. No litoral algarvio encontram-se cabanas de junco, estorno ou palha, ligadas à atividade pesqueira, com descrição e história minuciosa dos tipos de cada área, relações socioeconômicas e hipóteses sobre a origem. Exemplares do mesmo tipo encontram-se no Alto Alentejo, Ribatejo e Estremadura, como anexos de unidades agrícolas para recolha de carros e alfaias, currais e depósitos.Das construções em planta quadrangular, com parede de pedra e cobertura vegetal, há descrição minuciosa de exemplares no distrito do Viseu, Médio Tâmega e Baixo Douro. Destaca-se as “malhadas” alentejadas e beiroas, grandes currais unitários para cabras e porcos; as “barracas de sargaço”, abrigos de barcos e utensílios, feitos a partir do depósito do sargaço colhido para adubo, do Douro ao Minho; e os “barcos de avieiros”, da pesca sazonal no Tejo, abrigos de toldos, à beira d´água, ou como extensões dos barcos. Depois desse elenco tipológico, o livro aborda os sistemas primitivos de construção. Primeiro, as coberturas, destacando-se o emprego do material vegetal, em franco desaparecimento e substituição pela telha. Descreve-se a estrutura habitual e as formas da cumeeira, da proteção contra o vento e a abertura para fumaça. Das coberturas em pedra, além da falsa cúpula, registra-se o xisto em escamas de pedra, com pouca inclinação e sobre armações de madeira, como nos espigueiros. E o uso do granito, em placas de grandes dimensões – no Alto Minho, em especial - sem subestrutura, em fornos e espigueiros. Menciona-se ainda o uso da terra como cobertura, na ilha de Porto Santo. Em seguida, são estudados os “elementos acessórios”: esteiras vegetais, pedra (para colunas, pilares, lajes verticais e cachorros), tabiques, taipas, adobes e pastas. Os tabiques são paredes de madeira e materiais leves revestidas de argamassa, usadas em divisórias e, em alguns casos, como paredes externas. As taipas são paredes de terra grossa, amassada e calcada em moldes que depois são retirados, empregadas no Sul como paredes e muros. Os adobes são paralelepípedos de barro amassado, misturado com areia ou palha cortada, feitos em moldes de madeira e secos ao sol, mais comuns na zona litoral do centro, a partir do Aveiro, e no Sul. E a “pasta” compõe-se de grandes placas de granito cujas juntas são argamassadas.
OLENDER, Mônica Cristina Henriques Leite. A técnica do pau-a-pique: subsídios para a sua conservação. Salvador: Dissertação de Mestrado em Arquitetura e Urbanismo, Programa de Pós-Graduação da UFBA. Salavador, 2006.
Eixos de análise abordados:
Conceitos e métodos
Saberes tradicionais e espaço arquitetônico
Tecnologia tradicional no território e na edificação: vigências e usos contemporãneos
Dados sobre o autor(es) e obra:
Mônica Cristina Olender possui graduação em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal de Juiz de Fora (1999), especialização (2003) e mestrado (2006) em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal da Bahia. Atualmente é Professora Assistente da Universidade Federal de Juiz de Fora. Entre 2006 e 2011, coordenou o Curso de Especialização em Gestão do Patrimônio Cultural, no Instituto Metodista Granbery - JF/MG, e, entre 2008 e 2011 atuou como professora titular do Curso de Arquitetura e Urbanismo do Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora. Tem vasta experiência em preservação do patrimônio ferroviário, tendo participado de vários projetos dessa natureza Tem experiência também na área de Arquitetura e Urbanismo, com ênfase em elaboração de projetos de conservação e restauração de bens imóveis. Integra, desde 2012, o Comitê Brasileiro do Conselho Internacional de Monumentos e Sítios - ICOMOS.
2. A terra como matéria prima para a construção (15)
3. A terra e a madeira: aspectos gerais (28)
4. O sistema construtivo do pau-a-pique (46)
5. Intervenção em edifícios com valor cultural construídos com pau-a-pique (68)
6. Conclusão (92)
7. Bibliografia (95)
8. Apêndice (104)
9. Anexo (108)
Resumo :
O objeto da dissertação é a técnica construtiva do pau-a-pique, também conhecida como taipa de mão, e a conservação e restauração de edifícios assim construídos. O pau-a-pique é apresentado como uma das técnicas construtivas mais antigas do Brasil, ainda em vigência e fartamente utilizada inclusive em edifícios e sítios reconhecidos pela UNESCO como patrimônio da humanidade. Em virtude do desconhecimento sobre esta técnica e das matérias primas utilizadas, de manutenção inadequada e de desastres naturais, muitas construções desse tipo são perdidas a cada ano. A autora ressalta o grande preconceito que ainda existe com relação ao seu emprego, e afirma que, ao contrário do que muitos pensam, o pau-a-pique pode ser altamente resistente e seguro se executado e mantido de maneira correta. Mônica Olender ressalta também a importância cultural dos edifícios brasileiros construídos em terra crua e, num breve histórico, informa sobre a utilização da técnica no Brasil e sobre sua importância para a história da arquitetura brasileira. Com relação à técnica propriamente dita, a autora apresenta as diversas formas como pode ser encontrada, incluindo os materiais que a constituem. Com isso, contribui para o aperfeiçoamento das intervenções de conservação e restauro realizadas nesses edifícios históricos. O objetivo de Olender é mostrar o quanto essa técnica é eficiente e eficaz e que se trabalhada de maneira correta e se for bem conservada, pode permanecer em perfeito estado por longos anos como demonstram os exemplos expostos na dissertação. Os dados foram obtidos através de entrevistas com profissionais especializados na utilização da terra crua para a construção e em pesquisas de laboratório e de campo. A dissertação contém boa documentação fotográfica dos edifícios construídos, parcial ou totalmente, com essa técnica nos estados do Rio de Janeiro e Minas Gerais.
Biblioteca da Universidade Federal do Espírito Santo
Referência bibliográfica:
KANAN, Isabel. “Argamassas e revestimentos tradicionais da arquitetura luso-brasileira em Santa Catarina – processos e características construtivas”. In: RIBEIRO, Nelson Pôrto (org). Subsídios para uma história da construção luso-brasileira. Rio de Janeiro: Pod Editora, 2013, p. 161-175.
Eixos de análise abordados:
Conceitos e métodos
Tecnologia tradicional no território e na edificação: vigências e usos contemporãneos
Dados sobre o autor(es) e obra:
Maria Isabel Kanan é arquiteta formada pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1976), com especialização pelo ICCROM e mestrado em conservação arquitetônica pelo Institute of Architectural Advanced Studies/University of York/ Inglaterra (1992), doutorado em ciência da conservação pela Bournemouth University, Inglaterra (1995). É arquiteta do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional desde 1984 e professora do Mestrado Profissional em Conservação e Restauração de Monumento e Núcleos Históricos da UFBA (MP-CECRE) desde 1996. Tem experiência na área de conservação e restauração arquitetônica, com ênfase na pesquisa das tecnologias de cal e terra e na capacitação de profissionais e equipes de obras. É membro do ICOMOS atuando no comitê de patrimônio arquitetônico de terra e moderadora do grupo de paisagem.
O artigo é uma revisão dos estudos realizados pela autora relativos às argamassas e rebocos de cal e terra. Embora de cunho mais abrangente, o estudo interessa ao campo da arquitetura popular porque, conforme assinala Kanan, a cal, a partir de várias matérias primas, foi talvez o mais comum dos aglomerantes utilizados na construção, abrangendo todas as tipologias. Neste estudo, a autora descreve mais detidamente a produção da cal de conchas, o tipo mais antigo utilizado no Brasil. Informa que esta cal, obtida a partir da queima de conchas diversas retiradas de sambaquis, era produzida em caieiras por meio de dois processos: em “medas” ou em fornos simples de alvenaria. As medas utilizadas em Santa Catarina correspondem a camadas circulares e alternadas de conchas e turfa dos manguezais, com aproximadamente 4 metros de altura, cuja superfície pode ser coberta com argila para melhor desempenho. A queima desse conjunto produz então a cal. A autora registra que, além desse tipo, em Santa Catarina, a cal de pedras de calcário foi também produzida com métodos tradicionais no final do século XIX por imigrantes italianos. As fábricas de cal hidráulica e cimento somente surgiram no Brasil entre o final do século XIX e o começo do XX, o que modificou a prática tradicional. Nesta revisão de estudos, a autora descreve o uso da cal como material de revestimento e acabamento em Santa Catarina, inclusive com a adição de pigmentos, compondo a técnica conhecida como argamassa pigmentada. Informa também sobre as técnicas, como a microscopia ótica e eletrônica, que permitem a identificação dos aglomerantes, agregados, aditivos e pigmentos que compõem as argamassas e os revestimentos feitos com cal. Explica ainda o método para a realização de análises estratigráficas dos revestimentos feitos com cal e as informações que esse tipo de análise pode produzir sobre o tipo de cal e seu processo de calcinação; sobre o processo de hidratação e produção de argamassas; sobre a microestrutura das argamassas e sobre seus possíveis componentes orgânicos. A autora conclui informando que os vestígios da produção de cal de conchas estão praticamente desaparecidos, sendo os revestimentos antigos a grande fonte de informação sobre este material e suas formas de produção e emprego. Lamenta, por fim, que esta documentação física esteja também em processo de desaparecimento devido à falta de sensibilidade de arquitetos e construtores que substituem indiscriminadamente esses revestimentos.
KANAN, Maria Isabel. An Analytical Study of Earth and Lime Based Building Materials in Blumenau region southern Brazil. PHD thesis, School of Conservaition Science, Bournemouth University, England, 1995.
MUELLER, U. “La Microtextura de Revoques de Cal Históricos Fabricados con Conchas Marinas, un caso práctico aplicado en el Edificio de Aduanas de Florianópolis, Brasil”. In: Cal: Técnicas Avanzadas para la Conservación y Casos de Estudio. Santiago: Consejo de Monumentos Nacionales, 2005, pp. 117-121.
ISBN ou ISSN:
978-85-7334-218-5
Autor(es):
Andrea Zerbetto
Onde encontrar:
Bibliotecas do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN
Referência bibliográfica:
MESTRES e Artífices de Pernambuco/coordenação de Andrea Zerbetto e Rodrigo Torres. Brasília-DF: Iphan, 2012.
Eixos de análise abordados:
Tecnologia tradicional no território e na edificação: vigências e usos contemporãneos
Dados sobre o autor(es) e obra:
Andrea Zerbetto é arquiteta e urbanista formada pela Escola de Arquitetura e Urbanismo da UFMG, em 1997. É também especialista em História da Cultura e da Arte pela Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Rodrigo Torres é arquiteto e urbanista graduado pela UFMG em 1999. Os organizadores dessa obra são sócios da ARO Arquitetos Associados, empresa que venceu a licitação lançada pela UNESCO, a partir de financiamento do Programa Monumenta do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), para a realização da pesquisa que resultou na publicação deste livro. Esta pesquisa, se insere, se insere no Programa Mestres e Artífices, desenvolvido pelo Departamento do Patrimônio Imaterial do IPHAN.
A obra corresponde à primeira publicação relacionada ao desenvolvimento do Projeto Mestres e Artífices, implantado pelo Departamento do Patrimônio Imaterial do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, em parceria com o Programa Monumenta e Unesco- Brasil. O objetivo desse projeto, de âmbito nacional, é o mapeamento, identificação e cadastramento dos mestres de ofícios ligados às técnicas construtivas tradicionais ainda em vigência no Brasil, bem como dos ofícios artísticos que integram construções realizadas com essas técnicas. A publicação em exame refere-se ao estado de Pernambuco, mas o foco principal da pesquisa ocorreu em Recife e em municípios de sua região metropolitana, notadamente Olinda e Igarassu, onde vivem os mestres e artífices mais experientes e conhecidos e onde se concentra o seu principal mercado de trabalho, o que é decorrência da concentração nesta área de edifícios antigos e obras de conservação e restauração. Essa concentração e essas atividades têm mantido em vigência essas técnicas e saberes em Pernambuco. Nesta publicação, as técnicas construtivas tradicionais são definidas como “processos e procedimento de utilização dos materiais de construção, transmitidos pelos costumes e práticas passados de geração em geração, de pai para filho”. Na Introdução resgata-se sua história e a dos materiais mais utilizados em Pernambuco a partir da colonização portuguesa, além da dos carpinas-marceneiros e ferreiros, que faziam parte da tripulação cativa das embarcações portuguesas, e dos mestres oleiros, alvanéis e canteiros que vieram com as primeiras levas de colonizadores. As técnicas desses mestres foram adaptadas ao solo argiloso, ao calcário e ao arenito e à grande abundância de madeiras da região. Com esses materiais e por meio dos sistemas construtivos da alvenaria de tijolos e de pedras, das estruturas e componentes de madeira e dos revestimentos e pinturas a base de cal desenvolveu-se uma arquitetura de base portuguesa que dominou os edifícios mais importantes e a arquitetura residencial. Nas edificações mais simples, o sistema utilizado era a taipa de mão, com estrutura e trama em madeira e telhados de palha. A cultura naval dos primeiros carpinas revelava-se nas tesouras das coberturas, em especial as denominadas de canga de burro, que lembram quilhas de barco invertidas. Foi no período colonial que se desenvolveu em Pernambuco a técnica da cantaria, bem como a arte dos marceneiros, dos entalhadores e dos pintores envolvidos na construção das grandes igrejas pernambucanas. A riqueza proporcionada pela produção do açúcar alimentou o desenvolvimento dessas técnicas que, afirma-se, não teriam sido produto de contatos com indígenas e africanos, mas sim oriundas da adaptação da tradição portuguesa. Observa-se que poucos mestres ainda sobrevivem, sendo a maioria dos profissionais em atividades, seus discípulos. Avalia-se, contudo, que essas técnicas estariam “adormecidas” em cidades do interior como Exu, Petrolina, Araripina, Salgueiro, Floresta e outras. Organizada a partir dos ofícios que lidam com determinado material, a obra registra a história de vida, as principais obras, o conhecimento, a técnica, o aprendizado e as formas de transmissão do conhecimento de 37 profissionais destacados, assim distribuídos: seis profissionais da pedra – os mestres canteiros ou cantéis –; sete pedreiros ou alvanéis – mestres das alvenarias e das argamassas de areia e da cal –; três mestres estucadores – pedreiros especializados que com formas, argamassas e gesso produzem e restauram ornamentos artísticos em baixo relevo –; seis profissionais do ferro – os mestres ferreiros ou forjadores –; sete profissionais da madeira – mestres carpinteiros, mestres marceneiros, mestres torneiros e mestres entalhadores –; dois mestres pintores de alvenarias; dois mestres restauradores, conservadores e confeccionadores de azulejos; e, por fim, sete mestres e uma mestra ligados à produção artesanal de telhas, lajotas e ladrilhos cerâmicos e hidráulicos na região rural de Bezerros, já fora da área foco da pesquisa. O estudo apresenta também oficiais e artesãos ligados aos ofícios tratados e a obra é fartamente ilustrada com fotografias dos mestres entrevistados, obras, peças e objetos, bem como de ferramentas e de alguns processos de trabalho. Embora a publicação tenha o mérito de identificar os principais mestres e artífices em atividade, cabem algumas ressalvas: as descrições das técnicas e dos modos de fazer são superficiais, informando-se mais sobre a história de vida dos entrevistados do que sobre os seus saberes. Além disso, foram incluídos alguns profissionais cujo aprendizado ou formação não se deu no âmbito do canteiro ou da transmissão oral ou informal, mas sim por meio de cursos, inclusive fora do Brasil, o que não permitiria inseri-los no universo da cultura tradicional e popular ligada à construção e, ainda, no próprio conceito de técnica construtiva tradicional expresso na Introdução da publicação.
BRITO, Raquel Soeiro de. Palheiros de Mira - formação e declínio de um aglomerado de pescadores.Lisboa: Instituto de Alta Cultura/ Centro de Estudos Geográficos da Universidade de Lisboa, 1960.
Eixos de análise abordados:
Saberes tradicionais e espaço arquitetônico
Tecnologia tradicional no território e na edificação: vigências e usos contemporãneos
Território e etnicidade
Dados sobre o autor(es) e obra:
Maria Raquel Viegas Soeiro de Brito (1925) é geógrafa portuguesa, professora extraordinária (1960-66) e catedrática (1966-77) no Instituto Superior de Ciências Sociais e Política Ultramarina e na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (desde 1977). É também professora titular da Universidade de Paris X (1980-81). Em 1967, ganhou o Prêmio Internacional Almirante Gago Coutinho pelo trabalho Goa e as Praças do Norte. Dirigiu a revista da Sociedade de Geografia de Lisboa, Geographica. Foi discípula de Orlando Ribeiro e membros da chamada “Escola de Geografia de Lisboa”. É autora de vasta bibliografia sobre Geografia Física e Humana. A obra em exame foi publicada pela primeira vez em 1960.
VIII – O plano de urbanização: destino do aglomerado
IX – Remate
Bibliografia
A – Figuras
B – Estampas
C - Mapas
Resumo :
Obra que estuda etnograficamente um povoado de pescadores, o Palheiros de Mira, e vem acompanhada de boas e ilustrativas fotografias e mapas. Tanto no prefácio de Orlando Ribeiro como no início e conclusão do livro, o ponto de partida das preocupações são os “palheiros”, expressão arquitetônica singular e desenvolvida de modo autóctone em relação pedra, adobe ou taipa) e ameaçada pela gradativa extinção de construções similares no litoral português. São excepcionais diante das demais expressões populares pela qualidade do acabamento, pelo porte das construções, pela presença no povoado e pelo seu estado de preservação. Estão, no entanto, em risco pelas mudanças sociais e pela ação do planejamento urbano. O trecho do sul da barra do Aveiro ao cabo Mondego é um dos maiores desertos humanos de Portugal. Os aglomerados de pescadores ali são recentes, do começo do séc. XIX, com a expansão demográfica do interior. O que antes era pesca de temporada, do fim da Primavera a meados de Outono, tornou-se assentamento perene, com população flutuante pela sazonalidade da pesca. Entre 1860 e 1870, a população já estaria fixada em Palheiros de Miro. A procedência diversa de seus imigrantes entre 1835 e 1875 resultaria na ausência de laços comunitários mais consolidados. Apesar da atração de gente, a instabilidade de seus proventos acarretava emigração estacional e mesmo temporadas no Brasil. Palheiros de Mira se divide entre o mar e o campo, com o desenvolvimento paralelo da pesca e do cultivo. O cultivo local se dá nos quintais e nos prazos, terrenos divididos em lotes longilíneos, perpendiculares às estradas. A fertilização do solo arenoso se fazia com o moliço – lodo e ervas extraídos das lagoas –, sobras de caranguejos e peixes, estrume do gado e, mais recentemente, somando-se adubos químicos. A pesca ocorria no mar aberto, sazonalmente, e nas lagoas internas, constante ao longo do ano, por meio de chinchas e pimpoeiras. Em mar aberto, a principal é a xávega, pesca de arrasto que envolve toda a comunidade, de resultado desigual de um ano a outro a depender da proximidade dos cardumes. Outra alternativa é a pesca de bacalhau nos bancos da Terra Nova, com bom retorno financeiro mas acarretando a ausência dos homens. A pesca moderna de traineiras, saindo de portos vizinhos, tem o mesmo efeito. Ocupação principal do povoado, a pesca é realizada pelos homens; cabendo às mulheres o auxílio pontual, como os cuidados com as redes, e a agricultura. No entanto, no Inverno, os homens trabalham, nos arrozais do vale do Sado, executando serviços de enxada. A pesca se organizava em companhas, cada qual com armazéns para a guarda de redes; casas de fornalha para tingi-las e abegoarias para a guarda de gado. Essas construções situam-se após as dunas, defronte ao mar. O povoado situa-se entre o mar e a lagoa, atrás do cordão litorâneo dunar e ao sul de uma elevação, o medo grande, que o resguarda dos ventos litorâneos e do norte. As construções se caracterizavam pelo uso de uma gramínea, o estormo ou estorno, na cobertura, daí palheiros. Uma característica destas construções, entre Nazaré e Aveiro, é que, ao contrário dos similares praianos, estão suspensos sobre estacas, com areias e águas circulando por baixo. Esse espaço inferior se viu, ao longo do tempo, fechado com ripas horizontais, acrescido como depósito de utensílios e mantimentos. Outras transformações seguiram-se. A palha do telhado de duas águas foi substituída pela madeira, também em extinção, e depois trocada pela telha cerâmica portuguesa. As chaminés, antes de madeira e cobertas com folhas de zinco, passaram a ser de tijolo. Os fornos são de tijolos, assentes sobre a estrutura em madeira, onde se fazia antes o pão de milho, base da alimentação, depois substituído pelo pão comprado em padarias. A quase totalidade das casas no povoado era de madeira, com dimensões não encontradas no litoral e outros lugares, de até mesmo 3 andares. As divisões internas geralmente não chegavam ao teto, e a ampliação se dava ligando duas ou mais casas por portas ou passadiços suspensos sobre as vias. Uma das mudanças sócio-econômicas foi a procura do povoado para banhos de mar, explicando o número relativamente elevado de comércios e serviços, ativos no Verão, animando o pequeno vilarejo, com o aluguel de quartos e mesmo de casas por interior. Algo aos meios culturais vizinhos, com uso exclusivo de pinho e gramíneas do local (ao invés da da atividade agrícola modificou-se com a introdução do trator, levando à substituição do gado de trabalho pelo leiteiro. Mas, sobretudo, a competição industrial das traineiras diminuiu o retorno da atividade pesqueira local, e atraiu sua força de trabalho masculino. Em compensação, as famílias mais abastadas eram as que se envolviam na pesca das traineiras ou em Terra Nova, ou que possuem um comércio maior. Duas fabriquetas locais de tijolo de cimento forneciam a preço baixo o material de construção que vem substituindo as tradicionais casas de madeira, motivo de vergonha da população. Mas esta substituição foi reforçada pela atuação estatal. O Plano de Urbanização de 1948, realizado pelos Serviços de Urbanização, definiu a arquitetura dos palheiros como insalubre e a economia agrícola e extrativista como insuficiente. Seria necessário fomentar o turismo e substituir as moradias. O turismo deveria ter infraestrutura própria e segregar-se da pesca, evitando conflito e ocupando o espaço tradicional desta. Em 1953, a Câmara Municipal de Mira proibiu consertos das casas de madeira, acelerando o seu arruinamento. O plano previa na praia, onde estavam as dependências da pesca, barracas para banhos; próximos à praia, pensões, hotéis e repartições de turismo. Os pescadores foram relocados ao norte do “medo grande”, expostos aos ventos frios, em moradias inconclusas de alvenaria, demonstrando insensibilidade para com uma expressão arquitetônica de elevada qualidade, singularidade e expressão estética.