MOUTINHO, Mário. A Arquitectura Popular Portuguesa. Lisboa: Editorial Estampa, Ltda, 3ª edição. 1995.
Eixos de análise abordados:
Saberes tradicionais e espaço arquitetônico
Tecnologia tradicional no território e na edificação: vigências e usos contemporãneos
Dados sobre o autor(es) e obra:
Mario Caneva de Magalhães Moutinho concluiu Antropologia Cultural na Université de Paris VII, em 1983 e leciona na Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Publicou 33 artigos em revistas especializadas e 9 trabalhos em atas de eventos, possui 6 capítulos de livros e 12 livros publicados. Atua na área de Ciências Sociais e os termos mais frequentes na contextualização da sua produção científica, tecnológica e artístico-cultural são: Museologia, Urbanismo, Museu, Ecomuseu, MINOM, Estado Novo, Estudo Regionais Portugueses e Museulogia. A primeira edição da obra em exame é de 1979, Lisboa: Editorial Estampa.
A população, factores de distribuição e crescimento
Formas de povoamento
Actividades da população
A Arquitetura popular portuguesa
Região Norte
Região Centro- Litoral
Região do Alentejo
Região do Argarve
Cores dominantes
Localização das povoações citadas
Legendes des Ilustrations
Resumo :
Baseando-se na Introdução bastante vasta, de autoria de Jorge de Arroteia, que descreve as diferentes regiões de Portugal do ponto de vista geográfico, geológico e demográfico e as interferências dessas características nos fatores de distribuição, de crescimento e do modo de vida da população, o autor aborda a arquitetura popular portuguesa segundo quatro regiões arquitetônicas: Região Norte, abrangendo o litoral e o interior; Região Sul, abrangendo a região centro-litoral, a região do Alentejo e a do Algarve. O autor registra que estas regiões apresentam coerência ao nível das formas de povoamento, dos tipos de edificações ligadas à produção e das cores dominantes utilizadas nas construções. Esclarece também que as análises foram feitas principalmente a partir das habitações, sem, contudo, desprezar outros tipos de construção. Partindo dessas premissas, foram analisados e registrados os seguintes aspectos de cada região: tipos de povoamento, arruamentos, tipos de habitação, arquitetura de produção, arquitetura religiosa e as cores dominantes. Em geral, em todas as regiões levantadas, as habitações apresentam planta retangular ou quadrada, com um ou dois pavimentos e cobertura em duas ou quatro águas. A diferença entre elas encontra-se na distribuição do espaço interno, no número de pavimentos, nos materiais de construção e na relação da habitação com o espaço de produção ou de guarda de produtos como milho, feno etc. Foram identificados dois tipos de povoamentos: o disperso e o aglomerado. O primeiro está relacionado a construções de exploração agrícola familiar e o aglomerado é composto por pequenos grupos de habitações. Na região norte, o povoamento aglomerado é composto por habitações agarradas nos flancos das serras ou no alto dos morros e se apresentam de forma circular, em oposição aos de forma linear, frequentes nas regiões Centro-Litoral e do Alentejo. Na região do Alentejo o povoamento é do tipo aglomerado e geralmente formado por dois alinhamentos de casas separadas por um espaço denominado de terreiro. Existem dois tipos de habitação: monte alentejano e a casa povoado. Na casa monte alentejano o piso é em terra batida, lajes ou ladrilho e as paredes em taipa e tijolos, sendo algumas vezes reforçadas por contrafortes. As coberturas são de telhas, onde aparecem várias chaminés. A casa de povoado possui paredes de taipa e tijolos, rebocadas e caiadas de branco. Os tijolos são utilizados para a construção das abóbadas e chaminés. O telhado, de uma ou duas águas tem telhas assentadas em canas. Na região do Algarve, parte da população se dedica à horticultura, constituindo um povoamento disperso, marcado pela presença da casa rural. Contudo, também se registra o povoamento concentrado exemplificado pelas diversas aldeias dos pescadores. Apesar de diferentes, a casa de pescador e a casa rural do Algarve possuem um elemento em comum: a açoteia, ou terraço, que é acessível através de uma escadalocalizada no interior da habitação ou no pátio. A cobertura às vezes pode apresentar uma solução mista que congrega a açoteia e um telhado de meia água com pouca inclinação. Além de tratar das habitações, a obra também faz a descrição de alguns espaços de produzir, abordando principalmente as suas distribuições espaciais em relação às moradias e a algumas edificações religiosas. O livro é bastante ilustrado com mapas das regiões, fotos ilustrativas dos diferentes tipos de habitação e dos espaços de produção. Contém ainda plantas esquemáticas relacionadas as distribuições espaciais.
RIBEIRO, Orlando. Açoteias de Olhão e Telhados de Tavira (Influências orientais na arquitetura urbana). In: RIBEIRO, Orlando. Geografia e Civilização – temas portugueses. 1ed. Lisboa: Livraria Letra Livre, 2013, p.79-215.
Eixos de análise abordados:
Saberes tradicionais e espaço arquitetônico
Tecnologia tradicional no território e na edificação: vigências e usos contemporãneos
Dados sobre o autor(es) e obra:
Importante geógrafo português, Orlando da Cunha Ribeiro (1911-1997) foi um dos responsáveis pela renovação da Geografia no país, e tem como obras principais Arrábida, esboço geográfico e Portugal, o Mediterrâneo e o Atlântico. Não há informação precisa sobre a data da primeira edição da obra em que se encontra o estudo em exame. Esta é uma edição fac-similar da sua 1ª edição publicada em 1961, em Lisboa, pelo Centro de Estudos Geográficos da Universidade de Lisboa/ Instituto de Alta Cultura.
Resumo :
Neste estudo, Ribeiro ressalta a cobertura como um dos elementos mais característicos da aparência das casas, descartando o determinismo climático estrito como causa de sua forma. A região do Algarve é estudada pelo autor como forma de ilustrar essa tese, pois, além de possuir zonas com características ambientais distintas, é a região em Portugal com maior variedade de telhados. Nela, destaca as “açoteias” sobrepostas (ou terraços) de Olhão e os telhados inclinados de quatro águas de Tavira como provas da absorção de trocas culturais, não necessariamente adequadas ao clima. No litoral oeste e na serra do Algarve, contudo, predominam telhados de uma só água. As construções acompanham terrenos em declive, mas com piso nivelado e sem pátio. Quando agrupadas, têm alturas desencontradas, encastrando-se umas às outras e criando uma variedade pitoresca. Barrotes fortes e compridos sustentam a cobertura. O Alentejo é escasso de árvores e, por isso, esses telhados de possível procedência berbere ocorrem mais na serra. A açoteia da casa rural é pavimentada com ladrilho, rodeada por platibanda baixa e usada, geralmente, para secar figo e alfarroba, podendo também servir para recolha de chuva para cisternas. O acesso se dá por escada interior e portinha, por escada exterior lançada sobre arco ou rampa ou por escada móvel de madeira encostada na platibanda. São comuns no Algarve e no Alentejo, mas como cobertura exclusiva surge somente no Olhão e na aldeia vizinha de Fuzeta com arranjo invulgar: um mirante também dotado de terraço, platibanda e acesso por escada exterior. Às vezes, acima deste, pode haver um “contra-mirante” com terraço ainda menor. Além da secagem de frutas, roupas e pescados, a açoteia serve também como depósito e, sobretudo, mirante para observação da saída e chegada de barcos. Ribeiro avalia que este arranjo proviria de influência moura ou oriental, já que seus pescadores, os mais hábeis do Algarve, que viviam em “palhotas” e navegavam pelo Marrocos e Mediterrâneo. No século XVIII, palhotas foram substituídas por casas de pedra, formando-se uma trama “mourisca” de ruas estreitas e irregulares, sem povoação muçulmana prévia, que indicaria transferência de usos, por imitação, sem influência do clima e reforçada por relações frequentes. Tavira, por sua vez, é originária do século XIII e seus telhados, feitos pelos artífices locais, são de açoteia; com platibanda; “telhados de esteira”, de duas águas, pouco inclinado e com revestimento interno de caniço; e o “telhado de tesouro” que, presente na maioria das casas, possui quatro águas muito inclinadas e telha de canudo, cobrindo apenas um cômodo. Ribeiro localiza as origens deste último nas possessões orientais do Império Português, pois existiriam em cidades portuguesas como Goa, Columbo, Dio e Malaca. O tipo, que teria absorvido dos hindus a forte inclinação, a quebra da baratelha e o uso de um telhado para cada corpo da construção, existe também em Luanda testemunhando a viagem entre Algarve e Oriente. A variedade de coberturas do Algarve se daria, assim, por sobreposição de influências pré-romanas, romanas, berberes e orientais somadas ao ajuste à geografia e economia locais. No entanto, algumas contradizem a “ecologia” como em Olhão – onde o clima não induz às açoteias – e Tavira que, em clima distinto, assimilou uma tipologia de áreas de monções.
RIBEIRO, Orlando. A Civilização do Barro no Sul de Portugal (Aspectos e Sugestões). In: RIBEIRO, Orlando. Geografia e Civilização – temas portugueses. 1ed. Lisboa: Livraria Letra Livre, 2013, p.47-78.
Eixos de análise abordados:
Saberes tradicionais e espaço arquitetônico
Tecnologia tradicional no território e na edificação: vigências e usos contemporãneos
Dados sobre o autor(es) e obra:
Importante geógrafo português, Orlando da Cunha Ribeiro (1911-1997) foi um dos responsáveis pela renovação da Geografia no país, e tem como obras principais Arrábida, esboço geográfico e Portugal, o Mediterrâneo e o Atlântico. Não há informação precisa sobre a data da primeira edição da obra em que se encontra o estudo em exame. Esta é uma edição fac-similar da sua 1ª edição publicada em 1961, em Lisboa, pelo Centro de Estudos Geográficos da Universidade de Lisboa/ Instituto de Alta Cultura.
Resumo :
Portugal, sem velhas civilizações para dar-lhe elementos essenciais, é, em larga medida, condicionado pela sua extensão no sentido dos meridianos. A precipitação maior ao norte do Tejo, no sopé da Cordilheira Central, proporciona aspectos que avivam o contraste com o sul: bosques de folha caduca e matagais de folha perene; prados e pastagens de charnecas ou de restolhos; a área de gado grosso e de gado miúdo; o boi como único animal e o muar e o burro como concorrentes. Ao norte, população densa e isolada pelo relevo, com arcaísmos pré-históricos. Ao sul, a difusão de elementos civilizatórios oriundos da bacia do Mediterrâneo. No primeiro, surgimento de rocha sã e destruição dos depósitos de argila; no outro, clima seco e aplanações que conservam a argila. Nesta última região, aparece uma “civilização do Barro”, presente no Alentejo, com prolongamentos no Ribatejo e sul da Beira e na região da Ria de Aveiro, nos arredores de Leiria. No Alentejo, a taipa é usual nas paredes das casas e nos muros que resguardam os “ferragiais” e as hortas, sendo constituída de mistura de barro e pedriça, batida a malho dentro do taipal – caixa de madeira sem fundo que corre lateralmente e sobe à medida que endurece a parede. As paredes são rebocadas e caiadas, dificultando o reconhecimento do material, denunciado apenas pela ausência de molduras nas portas e janelas. A taipa foi ainda empregada na expansão portuguesa na África e América, com provável predomínio de gente do Sul. No Brasil foi suplantada pelo " pau-a-pique” ou “taipa de sopapo”, trazida pelos escravos, técnica menos duradoura porém mais rápida e simples. Também se emprega o “adobe”, barro amassado junto com areia ou palha cortada, moldado em tijolo e seco ao sol, sobreposto em fiadas com juntas desencontradas. Ambas as técnicas precisam ser conservadas da umidade: no campo, os muros são cobertos de pedra, palha ou telhas; nas casas, rebocados e caiados, protegidos pelo beiral do telhado. Há uma correspondência com a disponibilidade do material, oriundo de película de alteração superficial dos xistos argilosos, de bancadas discordantes sobre maciço antigo ou de camadas das bacias sedimentares do Tejo ou do Sado. Quase sempre, se encontra perto a pedriça miúda - fragmentos de xisto, de quartzito ou de quartzo de filão. Seu emprego é diverso: em arcos, abobadilhas e abóbadas de berço ou de aresta, coberta por um telhado sobre desvão ou por terraço ladrilhado, e em frisos de cimalhas, ameias, chaminés, pombais, arcos rendilhados, fornos. O barro comparece também na cerâmica: a originalidade alentejana está no seu uso para vasilhame de líquidos – “talhas” ou “potes” -, enquanto no resto de Portugal se usam pipas e tonéis de madeira. Além disso, nas salgadeiras de barro para carne de porco e nas peças para azeitonas. O centro de difusão dessa civilização estaria nos planaltos castelhanos com grande abundância de argilas e margas terciárias, e sem pedras disponíveis. Tal civilização, espraiando-se em Portugal, suplanta a civilização megalítica alentejana, das maiores necrópoles dolmênicas, desdenhando o material que a natureza oferecia.