Maria Elisa Ladeira
Biblioteca da Faculdade de Arquitetura da UFBA
LADEIRA, Maria Elisa. “Uma Aldeia Timbira”. In: NOVAES, Sylvia Caiuby (Org.). Habitações indígenas. São Paulo: Nobel; Edusp, 1983, p. 11-32.
Maria Elisa Ladeira é graduada em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo(1973), Desde 1974, dedica-se à pesquisa entre os grupos Timbira do Maranhão e Goiás. Em 1982 defendeu dissertação de mestrado em Antropologia Social na Universidade de São Paulo, possui doutorado em Lingüística pela Universidade de São Paulo(2001). Desde 1975, trabalha na área de educação indígena. É assessora do Centro de Trabalho Indigenista e trabalha na coordenação do Projeto Kraho, vinculado a esta entidade. Atua na Universidade de São Paulo.
Informações obtidas na obra e em:
Não se aplica.
A aldeia é elemento fundamental da identidade dos grupos Timbira. De formato circular, está intimamente ligada à sua organização social e seu espaço é determinado pelo modo como as pessoas se movimentam e se relacionam. As categorias espaciais permitem analisar as posições, os deslocamentos e perceber como estes orientam as relações sociais e como essa sociedade se articula. Localizados no cerrado do Maranhão e de Goiás, os Timbira geralmente constroem suas aldeias em lugares planos, em solo não pedregoso e perto da água, onde pode haver roçado. Quando o solo se esgota, a aldeia é reconstruída, próxima a alguma mata ciliar. Isso começou a mudar quando a FUNAI, ao construir escolas, enfermarias etc., obrigou as aldeias a se fixarem num mesmo lugar. As casas Timbira geralmente possuem planta retangular, com um dos lados maiores formando a sua frente e telhado de quatro águas, feito com folhas de babaçu ou inajá. Este mesmo material, com as folhas aplicadas em posição horizontal, constitui as paredes e toda a amarração é feita com cipó. A casa é fechada nos quatro lados, com a porta sempre no lado maior e voltada para o pátio. Na parede do fundo uma porta paralela à principal dá acesso ao “quintal”. Em algumas aldeias, as casas têm coberturas de duas águas, em folhas de piaçava, e porta ao lado do esteio da cumeeira. Atualmente, os Timbira erguem suas edificações em taipa ou até mesmo em adobe. Algumas possuem paredes internas, mas, geralmente, não têm divisões. Um “puxadinho” coberto de palha atrás dessas casas também serve de cozinha, sendo aí onde se passa a maior parte do tempo. No interior, encontram-se jiraus forrados com esteiras de embira ou buriti ou mesmo com cobertas nas noites frias. O jirau não serve somente para dormir, é também banco, mesa ou prateleira. Compõem ainda o interior, cabaças, potes de barro, bancos e toras de buriti para sentar. O círculo das aldeais é formado pelas casas que formam também o pátio denominado de centro da aldeia – local masculino onde se resolvem os conflitos e problemas. Cada casa tem o seu caminho radial para o pátio, o que significa que todas têm o mesmo peso social e que estão relacionadas da mesma maneira com as decisões políticas e religiosas. No círculo externo às casas – a “periferia” – são executadas as tarefas de produção, sendo esta a zona feminina por excelência. Cada casa é uma unidade demarcada que abriga a família elementar e o grupo doméstico, com cada um possuindo seu local de dormir e comer. Sua equidistância em relação ao pátio, assinala sua igualdade nas relações de produção, sendo o gênero o único tipo de distinção. Há duas maneiras de se deslocar na aldeia: atravessando o centro ou percorrendo o seu perímetro. As relações sociais são divididas em parentes e não parentes, e uma família levanta sua casa apenas quando se torna uma unidade produtiva independente. O termo em português que designa o segmento residencial é “rua” ou lugar onde se pode circular livremente. As aldeias Timbira não manifestam nenhuma hierarquia espacial e o seu “concentrismo” revela uma estrutura social em que os homens (pátio) e mulheres (periferia) se complementam e formam a aldeia.
Estudante bolsista: Amanda Bomfim Pereira
Marcia Sant’Anna
Referência bibliográfica recomendada:
LEMOS, Celina Borges. “Timbira (Goiás, Mato Grosso)”. In: OLIVER, Paul (edit). Encyclopedia of Vernacular Architecture of the World. Cambridge - UK: Cambridge University Press, 1997, p. 1.635-1.636.