Neste verbete o autor informa que os açorianos chegaram ao Brasil em 1792, como parte da política de consolidação do território português no sul do Brasil, para construir vilas nas proximidades do canal do Rio Grande, da boca do rio Jacuí até a atual cidade de Rio Pardo. Trouxeram métodos construtivos e planos para casas e moinhos de trigo. A casa do camponês açoriano é funcional e organizada em três áreas: à esquerda a cozinha, com a prancha do pão, o forno e o fogão; no centro, um cômodo denominado “casa do meio”, com um tablado onde as mulheres jovens sentam e costuram, e à direita o quarto de dormir. Um nicho é construído nas paredes grossas do cômodo do meio para guardar o material de costura das mulheres e, no lado oposto, é posta a cristaleira com os tesouros da família, retratos e lembranças. Transferido para a cidade, esse plano foi modificado. O cômodo do meio foi deslocado para trás e os da frente foram separados por um corredor lhe dá acesso. O cômodo da esquerda, ou cozinha, passou a abrigar o “nicho das agulhas” e o da direita deu lugar à sala de estar que era desnecessária no campo. Por fim, o quarto de dormir foi para cima, no sótão. Esse esquema geral se desenvolveu em habitações maiores como a que existe na Travessa Joaquim Lisboa, em Rio Pardo. São edifícios de grossas paredes de pedra, umbrais maciços e beirais curtos. Os cunhais e umbrais são de pedra lavrada e o resto da alvenaria é feita com pedras irregulares. As paredes internas são de taipa de mão, ou pau a pique, armadas com bambus, galhos e cipós. Nas casas urbanas de dois andares, a planta da casa camponesa original é reproduzida no piso superior, ficando o térreo para comércio ou alojamento de escravos. Os camponeses açorianos logo passaram a se dedicar à criação de gado, estabelecendo um negócio doméstico composto por: moinho, para a produção de farinha de mandioca; celeiro para estocagem de vegetais e grãos; “casa da carne seca”; alojamentos dos escravos; pomar; jardim e área da carruagem. O centro desse espaço produtivo é a casa de dois pisos onde, no térreo, fica também o depósito geral. No Rio Grande do Sul, a herança açoriana é reconhecida no forno oval, na trempe, na grelha, na arca, no banco de madeira com encosto, cujo assento é uma tampa, na cristaleira, nas danças e músicas. Nas áreas urbanas pode-se encontrar também a tipologia do “correr de casas”, que são construídas sob uma única cobertura e têm plantas simétricas que, segundo o autor, decorreriam da simplificação da casa camponesa açoriana. Conhecidas como casas de porta e janela, teriam agora planta de três cômodos organizada ao longo de um corredor lateral. Os moinhos de água e de vento açorianos foram muito usados e documentados no século XIX, sendo lembrados na toponímia de cidades do Rio Grande do Sul. O verbete é ilustrado com plantas e fotografia.