CURTIS, Júlio Nicolau Barros de. Vivências com a arquitetura tradicional do Brasil: registros de uma experiência técnica e didática. Porto Alegre: Ed. Ritter dos Reis, 2003. 496 p.
Eixos de análise abordados:
Conceitos e métodos
Saberes tradicionais e espaço arquitetônico
Tecnologia tradicional no território e na edificação: vigências e usos contemporãneos
Dados sobre o autor(es) e obra:
Arquiteto formado pela Universidade do Brasil, atual Universidade Federal do Rio de Janeiro. A partir de 1958 transferiu-se para Porto Alegre onde passou a lecionar a disciplina Arquitetura Brasileira, no curso de Arquitetura da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Nesta universidade promoveu a criação do Gabinete de Estudos e Documentação da Arquitetura Brasileira, onde desenvolveu um grande numero de pesquisas e artigos sobre o patrimônio cultural brasileiro, em especial o patrimônio do Rio Grade do Sul. Entre outras atividades, registra-se o trabalho desenvolvido no IPHAN, onde ocupou o cargo de Diretor Regional e representante Regional da Fundação Nacional Pró-Memória. Publicou diversos artigos no Brasil e no exterior, participando com um verbete na “Encyclopedia of Vernacular Achitecture of the World”, publicado pela Oxford Brookes University em 1997. Devido à sua produção acadêmica e trabalhos em prol da identificação e reconhecimento da arquitetura brasileira recebeu diversos prêmios e títulos destacando a medalha Rodrigo de Mello Franco de Andrade e Cidadão Emérito de Porto Alegre, pela Câmara Municipal dessa cidade, em 1999, entre outros.
Sumário obra:
0. Preâmbulo
1. História
2. Crítica
3. IPHAN
4. Preservação
5. Ensino
6. Epílogo
Resumo :
A publicação fundamenta-se na reprodução de artigos e palestras, em sua maioria, já publicados em jornais e revistas e que estão associados aos diferentes papéis assumidos pelo autor frente ao patrimônio arquitetônico brasileiro, incluindo o de observador, viajante, arquiteto, professor e funcionário público. O autor, aliás, ressalta que a publicação não pretende ser um tratado de história da arquitetura brasileira e, desse modo, justifica a ausência de certas lacunas no estudo desenvolvido, como a incipiência da documentação gráfica e o caráter assistemático da disposição dos textos, que são desvinculados de uma cronologia determinada ou de uma hierarquia de temas. Os textos que compõem a publicação encontram-se organizados em cinco capítulos intitulados História, Crítica, IPHAN, Preservação e Ensino. Cada um deles possui sumários próprios e também sentidos específicos atribuídos pelo próprio autor e que justificam sua escolha como pontos estruturantes da publicação: a História é tomada como instrumento capital do aprendizado, a Crítica, como exercício de busca da verdade, o IPHAN, como guardião do patrimônio nacional, a Preservação, como convergência final, e o Ensino, como multiplicador do conhecimento. No capítulo intitulado História, o autor reúne textos que versam sobre temas vinculados à história da arquitetura brasileira, porém, como dito, sem apegar-se à ordem cronológica dentro da qual estes temas são comumente discutidos. As abordagens transitam entre questões gerais, já amplamente discutidas no meio acadêmico, mas que o autor consegue promover avanços em sua compreensão, como a influência do Neoclassicismo e a arquitetura do ferro, além de outras, de cunho particular, que evidenciam uma preocupação latente com o tratamento individualizado dos casos, como o provam os textos As torres-sineiras da Igreja de São Pedro dos Clérigos de Mariana e O provável modelo da Casa de Câmara e Cadeia de Mariana. No capítulo intitulado Crítica, constam textos que evidenciam, com mais exatidão, as preocupações do autor. Trata-se de um conjunto de escritos sobre fatos e questões que caracterizam a evolução da arquitetura brasileira e, sobretudo, seu estado atual, e que são marcados pelo posicionamento crítico e pelo interesse na atualização dos temas, aspectos claramente percebidos em textos como ‘Arquiteto Curtis nega haver defendido demolição da igreja’ e ‘Porto Alegre, não te querem personalizada!’. No capítulo intitulado IPHAN, localizam-se textos que tratam da questão do patrimônio no âmbito nacional e assuntoscorrelatos e, em especial, de questões específicas relacionadas às investidas do IPHAN para a preservação do patrimônio histórico e artístico brasileiro. Por meio de textos como O Poder Público e a empresa privada na campanha preservacionista e A SPHAN e o Rio Grande do Sul, o autor destaca a importância da continuidade das reflexões sobre o universo patrimonial brasileiro, os caminhos tomados pelas iniciativas preservacionistas e seus resultados, ao mesmo tempo em que reafirma a complexidade da atuação do IPHAN enquanto “guardião do nosso patrimônio”. No capítulo denominado Preservação, estão reunidos textos centrados no pensamento e na prática preservacionista, ou seja, que problematizam não apenas os conceitos e teorias que conduzem as iniciativas com vistas à preservação de bens imóveis e quele acentuado senso crítico registrado no capítulo II. No último capítulo, intitulado Ensino, estão dispostos textos que versam basicamente sobre reflexões e propostas sobre/para o ensino de disciplinas associadas ao campo da arquitetura, sobretudo, da Arquitetura Brasileira, disciplina que o autor assumiu por exatos 33 anos na Faculdade de Arquitetura da UFRGS. Com efeito, a reunião dos diversos textos que compõem a publicação consegue proporcionar um panorama ímpar sobre os assuntos que envolvem a cultura arquitetônica nacional e regional, a didática e os conteúdos relacionados com o ensino da arquitetura brasileira e os meandros enfrentados para assegurar um futuro ao nosso patrimônio. Esse panorama, fundado nas “vivências” do autor, além de reforçar a riqueza e a diversidade do patrimônio cultural brasileiro, aponta caminhos fundamentais para o seu reconhecimento, valorização, difusão e preservação. Embora o trabalho não tenha como foco principal as questões relacionadas à arquitetura popular, vários dos seus textos têm interface com o tema.