Bernard Rudofsky segue com a tônica de seu livro anterior – Architecture without Architects –, agora com um princípio ordenador. Ainda assim, esta obra carece de consistência em vários aspectos. Inclui a arquitetura feita por profissionais para os deuses ou para o poder temporal com fins monumentais e considera também artefatos como as pipas gigantes do Japão. Inclui ainda obras feita por animais como cupinzeiros e formigueiros, colméias e vespeiros, covas de toupeiras, diques de castores e ninhos de pássaros. Por fim, inclui formações geológicas que evocam a arquitetura Mas esse ordenamento não é acidental, já que Rudofsky critica a separação da arquitetura em três áreas estanques: aquela feita por arquitetos, a “atrasada” da pré-história e povos primitivos, e feita por animais “estúpidos” mas engenhosos. Ele chega a incluir formações geológicas que evocam a arquitetura. No corpo do texto, apresenta digressões diversas e o recurso a figuras mitopoéticas e da literatura (a Arca de Noé, o Cavalo de Tróia, o Labirinto do Minotauro) sem precauções metodológicas, colecionando exemplos, reais e imaginários, dos temas que aborda. Um dos temas são as cavernas, abordadas por meio de exemplos diversos. Outro tema é a “arquitetura selvagem”, expressa na ideia e na prática de viver nas árvores, oportunidade em que discorre sobre os hábitos dos primatas e, a seguir, dos animais construtores. Conclui este tópico abordando obras feitas para animais, como o columbário ou pombal. Aborda também a arquitetura sem fins de abrigo ou sem propósito conhecido como terraços e platôs artificiais; a arquitetura megalítica e os edifícios com fins astronômicos. Em vários momentos, salienta o impulso de construir. Outros tópicos tratados são os da “arquitetura móvel”, dos sepulcros e depósitos de alimentos, das fortalezas. No tópico “labirintos”, aborda pedreiras e formações geológicas. Quanto à arquitetura vernacular, ressalta sua aparente simplicidade, mas complexidade real, arriscando hipóteses sobre sua antiguidade. Neste âmbito, aborda a arquitetura rural e sua crescente distância em relação à cidade. Elogia a vida comunal e registra sua extinção com o surgimento de museus a céu aberto para preservar seus exemplares. Ao mencionar os recursos bioclimáticos, acusa a perda do contato com os dons da natureza e destaca a arquitetura aberta ao clima benfazejo, bem como os recursos de captura do vento nas áreas abertas, em terraços e pátios, além das proteções contra o sol, como toldos e pérgolas. Na zona temperada, ressalta o uso do calor dos animais, da cozinha e as técnicas de calefação. Destaca ainda os vários tipos de janelas: basculantes, balcões, musharrabiehs e fachadas de vidro. Trata também do “invasor” que, em vez de gerar escombros imprestáveis como as demolições atuais, reutilizava lugares abandonados ou os usava como matéria-prima. Dá atenção especial à formação de tecidos urbanos a partir de anfiteatros, palácios e aquedutos. Finaliza falando da construção na pedagogia infantil, ressaltando o uso ocidental dos blocos de Friedrich Fröbel, que se fundariam numa premissa falsa – da espontaneidade da criança pela geometria e não pelas coisas heterogêneas – e estimulariam a construção monolítica e a demolição súbita. Contrasta isso com os povos africanos - Etiópia, Congo, Libéria, Uganda – onde a imitação em miniatura do ambiente construído se faz de outro modo e gera outros comportamentos.