A obra é voltada para a arquitetura bioclimática, com forte abordagem técnica. No entanto, em uma parte, se vale de exemplos e análises da arquitetura vernacular não-ocidental para demonstrar seus pontos, com fartura de fotos e imagens descritivas e analíticas. Aborda, em uma seção, as moradias troglodíticas dos povos berberes da Tunísia e, de um modo geral, da Bacia Mediterrânea. Apesar dessa forma de habitar responder a outras variáveis, como problemas de segurança, hábitos e mesmo limitações técnicas, apresenta-se com extrema eficiência térmica e adaptação ao meio, em especial os climas frios e de zonas semi-áridas. Observa-se que a massa natural de rochas não apenas protege contra ventos violentos, como garante, por sua inércia térmica, a estocagem de calor de uma estação a outra ou do verão ao inverno. Registram-se, ainda, as divisões funcionais internas de tais moradias e como estas se relacionam com seu desempenho térmico ao longo do ano. Outro exemplo é a arquitetura troglodítica dos Índios Pueblo, em Chaco Canyon e Mesa Verde, nos EUA. Apesar das suas funções mágicas, também possuem eficiente resposta ao meio, com proteção contra o vento e estocagem térmica, captando o sol matinal durante os invernos. A outra vertente arquitetônica explorada é a islâmica, na Tunísia e no Iêmen do Norte. Avalia-se que esta arquitetura possui vantagens bioclimáticas por uma série de fatores: a forma da moradia, a natureza das paredes, a organização interior, as aberturas e os sistemas de ventilação e umectação. A forma da moradia seria eficiente em termos bioclimáticos por apresentar o máximo de volume com o mínimo de superfície, como nas casas de meia-altura no tecido urbano labiríntico das casbahs que, ademais, protegem o assentamento dos ventos quentes continentais e abrem-se para os ventos frescos oceânicos. No que toca à natureza das paredes, a adequação bioclimática se daria pelo seu material, espessura e revestimento, como aquele à base de cal de propriedades reflexivas. Quanto à organização interior, o pátio central seria o espaço responsável pelo conforto, pois funciona como um poço de luz e, ao mesmo tempo, como regulador térmico por meio da vegetação existente, que produz efeitos de evapotranspiração, sombra, retenção de ar fresco e absorção do calor intenso das paredes internas. Ainda neste quesito, a “transparência interna” dos cômodos, que permite que as atividades se desloquem ao longo do dia e ao longo do ano para os lugares com performance mais adequada para a situação, seria, sobretudo, um aspecto importante a favorecer a adequação bioclimática. As aberturas, por sua vez, são também responsáveis por este bom desempenho por meio da atenção aos vários sistemas de controle e filtragem do sol e dos ventos fortes. Os sistemas de ventilação e umectação, complementares às aberturas, por fim, possuem dispositivos que permitem o fluxo horizontal e vertical de ar, e seu resfriamento do por meio da evaporação da água em jarros, tanques, fontes, vertedouros e silsabils (planos inclinados sobre a qual se verte água). O último exemplo trabalhado é o das casas de Queyras, nos Altos Alpes, constituídas por uma base de pedra e toras de madeira, que também permitem o uso distinto dos espaços nas estações e a captação de energia solar.