Neste artigo, Oliver faz uma revisão dos estudos já realizados sobre arquitetura vernacular e sobre sua importância para a formação de profissionais mais conscientes sobre o papel estratégico que essa arquitetura pode ter na solução do déficit habitacional mundial e também na produção de edificações e cidades mais sustentáveis. Assinala os estudos pioneiros de Victor Mindeleff (1891) e Lewis H. Morgan (1881) e observa que os antropólogos só começam a prestar atenção nas edificações dos povos que estudam nos anos de 1930, sendo um marco a obra de Grioule (1949) que revelou o simbolismo e os valores atribuídos às edificações dos Dogon de Mali. Durante a ocupação nazista, segundo Oliver, foram realizados os primeiros esforços para documentar a arquitetura rural da França, estudo só publicado nos anos de 1980. Este trabalho enfatizava a tipologia, aspecto da arquitetura vernacular que dominaria também os estudos americanos. Registra os trabalhos do País de Gales, mas ressalta que foi Building in England down to 1540, de Salzman, o trabalho que influenciou a abordagem arqueológica desses estudos que predomina na Grã Bretanha até hoje. Já na Ásia e na Europa, os estudos privilegiaram a arquitetura monumental, mas trabalhos como Habitation des Fali, de Lebeuf (1961), ressaltaram a riqueza das tradições vernaculares do Oriente Médio, do Sul e do Oeste da África e da Ásia. A exposição Arquitetura sem Arquitetos(1964), organizada por Rudofsky no Museu de Arte Moderna de Nova Iorque, por sua vez, fixou e influenciou uma imagem estética para a arquitetura vernacular. Uma abordagem nova e alternativa, entretanto, surgiria com Rapoport a partir da publicação de House, Form and Culture (1969) e outros trabalhos. Nas décadas seguintes, os estudos crescem com trabalhos sobre vários países, que se caracterizam por registros da casa e da vida doméstica como objetos em vias de desaparecimento e sem consideração sobre seu papel no futuro. Estudos internacionais e comparativos entre culturas demoraram a se desenvolver, sendo que o mais interessante como registro arquitetônico e dos processos construtivos surgiu entre 1949-50, intitulado L’Habitat au Cameroun (1952). Começa nessa época a consciência, em algumas escolas de arquitetura, de que o vernacular teria algo a ensinar aos estudantes. Este interesse e a falta de publicação mais abrangente sobre o tema foi o que teria animado Oliver a escrever o livro Dwellings: the House across the World (1984). Em 1988, foi convidado a compilar a primeira enciclopédia sobre o assunto destinada a ser uma ferramenta educacional de arquitetos, mas também de políticos, cientistas sociais, economistas ou quaisquer outros profissionais que sejam chamados a opinar e decidir sobre o ambiente construído. Oliver critica, por fim, o desprezo pela arquitetura vernacular e a mentalidade da produção de “habitação em massa”. Defende-a como a arquitetura sustentável por excelência e ressalta seu caráter fundamental de adaptação às necessidades humanas, o que a coloca como estratégica para a solução dos problemas do mundo no século XXI. Reconhece, contudo, que para que esse potencial seja aproveitado e realizado é preciso investir na formação dos arquitetos e na valorização dessas tradições.