Neste artigo, Oliver ressalta a importância da transmissão da tradição e também da sua mudança na produção da arquitetura vernacular, embora sejam raros os estudos sobre o tema. Para ele, contudo, não haveria “construção tradicional” ou um campo mais amplo da “arquitetura tradicional”: o que existiria seriam edificações que englobam ou comportam tradições, mas incluem também inovações e mudanças. Mudanças que podem ocorrer de modo súbito e brutal como nos casos de conquista militar, conversão religiosa, édito real ou introdução de nova tecnologia, ou, mais comumente, de modo lento e decorrente de processos de empréstimo e troca entre sociedades vizinhas, portanto, por difusão no espaço. No primeiro caso, apesar dos conflitos com as tradições existentes, as mudanças súbitas também tendem a se tornar, elas mesmas, tradições aceitas. Para o autor, entretanto, é mais importante entender como a tradição tem continuidade do que o que ela é. Avalia que sua transmissão é freqüentemente oral e que sempre envolve contato humano. Critica a idéia de que a transmissão de se dê apenas por meio da oralidade e informa que pouco se estudou sobre seus mecanismos, extensão e tipos. Cita então os estudos de Jan Vansina, historiador e antropólogo belga, que propõe uma tipologia do processo de transmissão oral baseada em critérios que incluem objetivo, significância, forma e maneira de transmissão. Além disso, divide esse tipo de transmissão em cinco categorias: Fórmulas, Poesia, Listas, Contos e Comentários, algumas com subcategorias e todas com um certo número de tipos. Embora o próprio Vansina considere sua categorização um esboço, Oliver acha que serve para demonstrar a diversidade de tipos de transmissão e que cada um tem sua utilidade e fornece um tipo específico de informação, embora não sejam os únicos meios de transmissão oral. De todo modo, considera-os pertinentes para o entendimento dos tipos de transmissão oral envolvidos na construção de edificações e no seu uso e, para demonstrar isso, cita alguns exemplos. Critica, por fim, a idéia de geração associada à transmissão, pois a geração que transmite difere muito de acordo com idade, gênero, papel e função e ressalta que, na transmissão, a ocasião também é significativa; algumas tradições são transmitidas em segredo, outras em circunstâncias formais ou rituais. Ressalta, por fim, que a transmissão de tradições não se dá somente por meio da oralidade, mas também por meio de mímicas, músicas, canções, gestos, pinturas, entalhes e modelos reduzidos. Algumas dessas formas teriam especial importância para a passagem de conhecimentos sobre construção, decoração, ocupação e uso. No seu estudo se deve levar em conta o ambiente, os recursos e a economia, além dos padrões de assentamento, a localização, a organização espacial, a estrutura social e o tipo de família, território e patrimônio.