Neste artigo Oliver faz uma distinção interessante entre conforto climático, no sentido físico, e o “conforto emocional” ou “psicológico” que traços culturais presentes no espaço arquitetônico, na decoração, no vestuário ou nos objetos promovem, mesmo quando não são adequados ao clima. Esta distinção seria visível especialmente na arquitetura de povos que migraram de uma região para outra. Oliver afirma ainda que definir a arquitetura vernacular a partir de sua adequação climática ou acreditar que é totalmente condicionada pelo clima é um equívoco. Em muitas culturas, a arquitetura seria mais um resultado de tradições de longa duração e de injunções culturais, do que de uma busca estrita por conforto climático. O que não quereria dizer, contudo, que a arquitetura resultante desse processo seja inadequada ao clima, pois seria também produto das condições ambientais e climáticas. Para ilustrar essa tese, o autor fornece uma série de exemplos onde tradições e injunções culturais determinaram mais o espaço do que o clima e mostra também exemplos notáveis de adequação. Cita a arquitetura Ashanti, de Gana, como um dos exemplos de “inadequação”, no sentido de que esta arquitetura não seria, em si, adequada ao clima, embora seja adequada ao modo de viver desse povo. Lembra que os Ashanti são originários da savana e especula que seu modo de construir pode ter vindo desse ambiente, permanecendo na zona tropical e úmida como sobrevivência cultural. As construções desse povo são feitas de barro local compactado, formando grossas paredes, cobertas com palha ou com telhas metálicas corrugadas. A planta do assentamento (compound) é retangular, agrupando unidades em torno de um pátio, com entrada num canto. Não há ventilação cruzada, janelas nas paredes ou expedientes de drenagem no pátio. As células têm somente uma porta, fechada com um pano. Os interiores são fechados e sem ar durante o dia, mas ninguém se incomoda porque todas as atividades até o cair da noite, inclusive cozinhar, são feitas no pátio ou em áreas laterais cobertas, como as que abrigam as tecelãs. Nas aldeias lineares, as atividades são realizadas no espaço vazio entre as fileiras de construções. Conclui que as casas são assim porque o povo Ashanti só fica em espaços cobertos quando chove ou à noite e o conforto proporcionado pela habitação, portanto, não seria tão importante. Conclui também que é a adequação cultural mais do que a climática que responde pela longevidade de certas tradições arquitetônicas e isso explicaria porque os imigrantes preferem reproduzir sua arquitetura natal na terra adotada ao invés de criar outra adequada ao novo clima. Há mesmo casos em que a inadequação climática da arquitetura tradicional é flagrante e decorrente de atavismo cultural, como a dos Ashanti. Oliver conclui que as demandas que colocamos aos edifícios no interesse de nossos conceitos de conforto são pesadamente condicionadas pela natureza de nossa cultura. Em última análise, não seria uma questão de condições de conforto, mas de condicionamento do conforto.