RAMALHETE, Ana Filipa e SILVA, Francisco Manuel Valadares e. Construções Rurais em Espaço Urbano ou as Memórias da Ruralidade. In: Actas do 1º Colóquio Internacional de Arquitectura Popular. Arcos de Valdevez: Casa das Artes de Arcos de Valdevez – Município de Arcos de Valdevez, 2013.
Eixos de análise abordados:
Construção autogerida em meio urbano: espaços e técnicas
Território e etnicidade
Dados sobre o autor(es) e obra:
Ana Filipa Ramalhete é Licenciada em Antropologia, pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. É Mestre em Ordenamento do Território e Planeamento Ambiental e Doutora em Engenharia do Ambiente, ramo de Ordenamento do Território, pela Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa. É ainda pós-graduada em "Architecture du territoire, formes sociales et morphologie des établissements humains", no CRAAL, Universidade de Genebra. É docente do Departamento de Arquitectura da Universidade Autónoma de Lisboa, desde 2002, e diretora e pesquisadora do Centro de Estudos de Arquitectura, Cidade e Território da Universidade Autónoma de Lisboa (2009) e diretora da revista estudoprevio.net. É colaboradora da organização não-governamental de ambiente GEOTA – Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente, desde 1996, e membro da Direção da APCV – Associação Portuguesa de Corredores Verdes.
Francisco Manuel Valadares e Silva tem licenciatura em História pela Universidade Lusíada, e é mestre em Estudos do Património pela Universidade Aberta em 2008. Foi membro do Grupo Coordenador do Centro de Arqueologia de Almada em sucessivas gestões, entre 1992 e 2009. Responsável por vários Inventários de Patrimônio e investigador do projeto Fronteiras Urbanas, FCT, de 2010 a 2013.
O texto analisado foi apresentado no colóquio que consta da referência bibliográfica.
Sumário obra:
Não se aplica.
Resumo :
Os autores defendem a permeabilidade entre o rural e o urbano, a casa rural e a casa urbana, com a existência de casas rurais em meios urbanos. A cidade é vista como um ente dinâmico, ressaltando-se a origem rural de muitas vilas e cidades e a progressiva urbanização. Atualmente, aparecem novas modalidades de ocupação da zona rural que não são agrárias, a revalorização dos espaços rurais – o movimento de saída na cidade – e a tendência de reintegração dos espaços rurais (hortas, p.ex.) no meio urbano. Os casos estudados - Alcochete, Almada e Pragal – localizam-se na Península de Setúbal. As hipóteses são que neles se pode identificar lugares urbanos de gênese rural; que a origem do meio urbano está em edifícios onde funções rurais e urbanas coexistiam, e onde, depois, os aspectos rurais desaparecem, permanecendo cristalizados em edifícios que determinam a forma do espaço urbano. Propõe-se, ainda, que o crescimento urbano aumenta essa distância, diluindo, ocultando, a anterior relação. Os edifícios que permitem estabelecer essa conexão são as quintas, os solares urbanos, as estruturas de processamento e as casas rústicas. As quintas são unidades de produção agrícola, que supõem a existência de um espaço agrícola – pomares, hortas, terrenos de seara. A edificação concentra habitação, processamento e armazenamento, na maioria dos casos, distribuídos em torno de um pátio central, ao qual se acede por um portal – um dos elementos-chave de identificação da quinta. Os solares urbanos são conjuntos edificados com um ou mais elementos, com funções habitacionais, de armazenamento ou processamento de produtos agrícolas, com espaços de jardim, pomares, pequenas hortas. Esses edifícios têm às vezes elementos decorativos e estruturais de perfil urbano, como janelas de sacada, varandins e platibandas. Os solares partem de quintas anteriores, ao redor das quais se desenvolve a malha urbana. As estruturas de processamento são elementos como lagares, adegas e moinhos que situam-se junto ao núcleo edificado. Os moinhos, por sua vez, isolados e em local mais propício ao uso da energia eólica ou hídrica. As casas rústicas apresentam tipologias variadas, de acordo com localização, matéria-prima, etc. São distintas das habitações urbanas porque possuem, em geral, um único piso térreo. Quando existe um segundo piso, este é ocupado pela habitação e o térreo é reservado a animais ou armazenamento e processamento. Possui, ademais, beiral simples para remate das fachadas e vãos de pequenas dimensões, sem elementos decorativos, em contraposição às casas urbanas com revestimentos azulejares, janelas de sacadas com varandins, fachadas rematadas por cornijas e platibandas. Ao longo do tempo, muitas foram transformadas, com acréscimos e adaptações, como a troca dos beirais por platibandas. Contrariamente à ideia de que o centro histórico possui uma coerência histórica, a presença de construções rurais em espaço urbano, corresponde à memória de uma ruralidade hoje inexistente e confirma a hipótese inicial dos autores de que há uma maior complexidade e dinamismo do meio urbano, com sucessivas camadas de intervenção e sucessivas épocas da história urbana.