Cultura e Saber do Povo: Uma Perspectiva Antropológica
Enviado por amanda em sex, 25/07/2014 - 11:41
ISBN ou ISSN:
0102-8782
Autor(es):
Maria Laura Cavalcanti
Onde encontrar:
Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro; Biblioteca Noronha Santos, IPHAN, Palácio Gustavo Capanema, Rio de Janeiro; Biblioteca Aloísio Magalhães, IPHAN, Brasília.
Acervo Profa. Marcia Sant’Anna.
Referência bibliográfica:
CAVALCANTI, Maria Laura. “Cultura e Saber do Povo: Uma Perspectiva Antropológica”. In: Revista Tempo Brasileiro, out.-dez. – n. 147 – 2001 – Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro Ed., p 69-78.
Eixos de análise abordados:
Conceitos e métodos
Dados sobre o autor(es) e obra:
Maria Laura Viveiros de Castro Cavalcanti é Antropóloga, professora do Departamento de Antropologia Cultural e do Programa de Pós Graduação em Sociologia e Antropologia no Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Graduada em História, pela Pontifícia Universidade Católica (1976), é mestre (1982) e doutora (1993) em antropologia pelo Museu Nacional/UFRJ. Como bolsista Fulbright, realizou Pós-doutoramento na Universidade de Columbia, Nova Iorque (1998/1999). Suas principais áreas de pesquisa são teoria antropológica, ritual e simbolismo, antropologia brasileira, cultura popular e estudos de folclore.
O artigo traz informações importantes do ponto de vista conceitual e metodológico sobre o universo da chamada “cultura popular”. Explicita uma perspectiva conceitual contemporânea para a abordagem desse universo, onde se destacam as seguintes idéias: 1) as noções de folclore e cultura popular fundamentam historicamente o sistema de classificação cultural vigente e, assim, sua definição nunca é indiscutível e seu conteúdo varia muito, sendo essa variação um indicador importante; 2) o discurso sobre o folclore e a cultura popular se inaugura quando se reconhece a distância entre modos de vida e saberes da elite e do “povo” – diferença que começa a ser valorizada no Romantismo do final do século XVIII em oposição ao ideal iluminista da razão universal e tomando a cultura popular como a “totalidade integrada da vida com o mundo” que teria sido rompida no mundo moderno; 3) na vida social, contudo, aspectos “modernos” e “tradicionais” encontram-se imbricados, superpostos e integrados em um só processo social e cultural; 4) a cultura popular interpreta as noções de tradicional e moderno dentro do seu universo de relações, estabelecendo distinções internas (mutáveis) que buscam controlar e refletir as mudanças sociais que estão em curso; 5) nas ciências humanas o modelo interpretativo elite x cultura popular está superado: a cultura é interpretada não por meio de fatos, mas de significados permanentemente atribuídos pelos homens e que atravessam as fronteiras entre as camadas sociais; 6) a cultura e o saber do povo, portanto, são heterogêneos e se relacionam com distintas formas de ser; são históricos e complexos e integram várias dimensões: oralidade e escrita, trabalho e lazer, comunitarismo e individualismo, cidade e campo, sagrado e profano, circuitos de troca monetarizados e/ou profissionalizantes, constituindo arenas onde se enfrentam distintos interesses e têm lugar distintos conflitos; 7) uma nova perspectiva conceitual para tratamento do campo não se concentra na demarcação das fronteiras e oposições entre erudito e popular, mas nas múltiplas maneiras por meio das quais diferentes níveis e aspectos culturais interagem na construção de um processo cultural; 8) a abordagem analítica contemporânea implica o reconhecimento de que os fatos da cultura são sempre “processos sociais totais” que envolvem e imbricam diferentes aspectos da realidade (econômicos, sociais, políticos, jurídicos, morais, artísticos, religiosos, etc.) e articulam em seu interior valores e interlocutores diferenciados, o que requer uma postura de suspensão de juízos de valor prévios e a consideração dos processos culturais populares a partir de seus próprios termos.