O artigo, com fotos e croquis de perspectivas e plantas, parte do estudo da modernização das fachadas das casas de meia morada em duas pequenas cidades no agreste alagoano, Palmeira dos Índios e Quebrangulo. As casas de meia morada são uma tipologia da arquitetura popular do Nordeste, marcante ainda hoje nas cidades do interior desta região. Na tipologia colonial de urbanização com lotes uniformes, estreitos e compridos, chama-se meia morada aquelas edificações que, mais estreitas, possuem um número mínimo de portas e janelas com porta e corredor de acesso lateral. Muitas cidades do interior nordestino são simples arruamentos, compostos inteiramente com tais unidades geminadas. Nos anos 1950 e 60, Palmeira dos Índios e Quebrangulo receberam conjuntos habitacionais da DE/COHAB – AL, prédios públicos e residências em estilo modernista e cinemas, vistos como símbolos do progresso. As casas de meia morada, a partir de então, passaram por um processo de “modernização”, com mudanças apenas no sentido bidimensional das fachadas, geometrização dos elementos em argamassa e, no interior, preservando-se a planta original e seus usos. A fachada, ocultando por platibandas os telhados de duas águas (com cumeeira paralela à fachada frontal, em sua maioria, mas também com cumeeira perpendicular), opera como comunicação da modernidade. Os recursos se concentram na platibanda e na moldura das aberturas, por meio de mudanças de cor, revestimentos, material das esquadrias, entre outros. A autora encontra certas regras de composição. Inicialmente, a divisão da fachada em três partes: parte inferior, corpo e platibanda. Na platibanda concentram-se a maioria dos recursos plásticos, como azulejos, frisos horizontais e verticais, figuras geométricas, escalonamentos e recortes. Ali também se encontra o que popularmente se chama de “gigante”, elemento vertical central, de alvenaria ou argamassa, que ressalta a individualidade da moradia. No corpo da fachada, as aberturas e, em alguns casos, também os frisos, normalmente recebem apenas pintura. A parte inferior distingue-se, geralmente, pelo revestimento diferente – pedra, azulejo, cerâmica, chapisco - ou pela cor, como no gigante. A maior variação nos acabamentos ocorre na base ou na platibanda e, com isso, a “modernização” concorre para a personalização da residência. A planta é tradicional, com uma sala na entrada, dois ou três quartos em seqüência, a partir de um corredor estreito e, ao fundo a cozinha, o quintal e o banheiro, que fica do lado de fora, sendo depois incorporado ao bloco da casa. O quintal é um espaço fundamental, com o plantio de verduras, hortaliças, flores, espécies medicinais, milho e feijão; a criação de alguns animais para abate – galinhas e perus, e, para muitos, lugar de lembranças. Igualmente importante é a cozinha, onde destacam-se, ainda, utensílios tradicionais, como as panelas sempre postas à vista. A autora pesquisou casas cujos moradores são oriundos da zona rural, muitos idosos, e encontrou a vivência rural em algo preservada nas casas urbanas. Fundamental, ainda, são os hábitos comuns nordestinos do acúmulo de objetos afetivos nos outros cômodos, como retratos ao longo das paredes, e da presença símbolos religiosos, entre eles, altares domésticos com santos da casa, além dos presentes no quarto de dormir.