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Simpósio sobre Arquitetura Popular no V ENANPARQ 2018
Simpósio sobre Arquitetura Popular no V ENANPARQ 2018
Igatu / Chapada Diamantina-Ba, 2016.
Espigueiros. Portugal, 2017.
Espigueiros. Portugal, 2017.

habitação indígena

ISBN ou ISSN: 

Não se aplica.

Autor(es): 

Catherine Jacqueline Suzanne Gallois

Onde encontrar: 

Versão em PDF cedida ao grupo ARQPOP pela autora.
 

Referência bibliográfica: 

GALLOIS, Catherine Jacqueline Suzanne. Sentidos e formas do habitar indígena: Entre a mobilidade e sedentarização: Estudo de caso entre os Wajãpi do Amapá. 2004. 187 f. Tese (Doutorado) - Curso de Planejamento Urbano e Regional, Pós Graduação, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2004.
 

Eixos de análise abordados: 
Saberes tradicionais e espaço arquitetônico
Tecnologia tradicional no território e na edificação: vigências e usos contemporãneos
Território e etnicidade
Dados sobre o autor(es) e obra: 

Catherine J. S. Gallois é graduada arquiteta e urbanista pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (FAU-USP, 2001), onde também realizou curso de mestrado em Planejamento Urbano e Regional (IPPUR, 2004). Também tem aperfeiçoamento em caracterização e conservação da pedra ( ICCROM, 2009 e UFMG/IPHAN, 2014). É doutora em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal Fluminense (2019). Foi docente do curso de graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Estácio de Sá e atualmente atua na superintendência do IPHAN no Rio de Janeiro elaborando pareceres e orientações técnicas para obras de conservação e restauro de bens tombados pelo IPHAN, entre outras competências.
 
Fonte: http://lattes.cnpq.br/0158695745997720
 

Sumário obra: 

INTRODUÇÃO
Capítulo 1: Fronteiras e Terras Indígenas
Capítulo 2: Wajãpi Rena e Jisyrysyry: O espaço-tempo de uma família Wajãpi
Capítulo 3: Ocupação na Terra Indígena Wajãpi: os espaços-tempos dos grupos locais e das “aldeias centrais”
Conclusão
Bibliografia
Lista de Siglas
Apêndice
 
 

Resumo : 

A tese tem como objeto de estudo as configurações socioespaciais associadas ao “habitar indígena” Wajãpi (grupo indígena que habita a região do Amapá) em condições de fronteiras – tanto políticas quanto culturais- e os sentidos e formas de habitar marcados pela mobilidade tradicional do modo de vida Wajãpi e a pela sedentarização provocada pelas políticas indigenistas implementadas no seu território indígena. Para compreender a organização territorial, é necessário compreender os modos de vida indígena, a começar pelo conceito de mobilidade vinculado à necessidade de buscar novos recursos quando o sítio ocupado se exaure. Esse tipo de organização territorial tradicional, denominada jisryrysyry, baseia-se em percursos realizados no interior de regiões sem contornos claramente definidos, onde cada grupo empreende suas trajetórias de forma autônoma. Nesse contexto, aldeias são sucessivamente abandonadas e refeitas em outros lugares, associadas a isto, a tradição da residência unixorilocal, em que cada novo casal mora na casa dos pais da esposa, depois no mesmo pátio, em seguida se afasta para outras aldeias e, por fim, cria novos assentamentos. Três elementos compõem a organização territorial Wajãpi: o pátio, jardim e lugar de convívio social; as roças, locais de cultivo; e as casas. Sobre casas, a autora deixa claro que suas estruturas, forma, e materiais se adaptam muito bem à mobilidade das famílias e à disponibilidade de matérias-primas, como cipós para amarrações de palha para cobertura. São abertas de todos os lados, e a proteção contra intempéries se dá através do prolongamento das coberturas em balanço, criando espaços semipúblicos de transição entre a área mais íntima e o pátio. Há três tipos de casa: a Casa Jura, de maior duração e tempo de permanência, com piso elevado, que nunca é usada como cozinha, tendo no máximo uma pequena área com algumas funções de cozinha; a casa yvy’o, térrea, que admite as mesmas configurações da Casa Jura porém sem elevação do piso; e a Casa Tapaina, habitação com caráter provisório, contendo apenas alguns piquetes e uma cobertura. Essas três estruturas podem ter funções diversas e possuem normalmente uma outra menor próxima, a casa de cozinha, sendo esta térrea. Construídas por seus próprios donos, as casas têm muitos aspectos construtivos em comum mas também particularidades, como as proporções das partes construtivas. Os telhados, por exemplo, são sempre em duas águas, mas em alguns casos uma das extremidades é arredondada, formando um semicírculo quando há matéria-prima para isso. A autora ressalta a importância da mobilidade para a recriação da floresta primitiva e de seus ecossistemas. O ciclo de vida de uma aldeia é determinado pelo ciclo agrícola de uma roça - em torno de 4 a 5 anos - e pela falta de determinadas espécies para caça e de matérias-primas necessárias à vida cotidiana, como lenha e a disponibilidade de materiais de construção. Ou seja, a disponibilidade de recursos e o esgotamento ambiental nas proximidades da aldeia são os critérios que definem a necessidade de mudança e abertura de novas roças em locais com bons solos e quantidade e qualidade de caça e materiais de construção. O processo de sedentarização dos Wajãpi começou com a construção da rodovia Perimetral Norte (BR-210), em 1970, que adentra seu território por 30kms. Essa história também é marcada pela intrusão de garimpeiros em 1973/74. Com o amplo programa de pacificações implementado pela FUNAI para a construção da rodovia, assim como para a proteção dos indígenas contra epidemias trazidas pelos garimpeiros, institui-se um processo de dependência e sedentarização crescente, associado a um processo de transformação de identidade e cosmovisão, que envolveu o processo de mudança do que significa território Wajãpi. Os locais de instalação de Postos Indígenas de Atração (PIA) da FUNAI, onde também foram instalados escolas e postos de saúde, foram denominados de ‘aldeias centrais’, e constituíram polos de atração de famílias indígenas em busca de proteção ou apoio. Nesse momento, outros fatores começaram a ser importantes na escolha dos locais das novas aldeia, como a proximidade à essas ‘aldeias centrais’, assim como às regiões de fronteira, que passaram a ser ocupadas para evitar a invasão da terra demarcada. Isso culminou em um modelo de sedentarização, que contrasta com a mobilidade da ocupação tradicional. Deve-se comentar, entretanto, que esse processo de sedentarização implicou graves impactos na cultura Wajãpi e na manutenção da floresta primitiva que, depois de muito tempo de utilização do mesmo solo, este se torna infértil e a floresta já não se recompõe nesse local. Houve também mudanças nas matérias-primas utilizadas na construção de casas nas aldeias centrais velhas, devido ao esgotamento dos materiais tradicionais na região, o que levou à substituição por outros menos resistentes, com menor eficiência e durabilidade, como as telhas brasilit, assim como a utilização de espécies vegetais antes proibidas. Além destes aspectos, os problemas da sedentarização se tornaram visíveis na quantidade de lixo produzida e alastramento de doenças nos grupos locais. Apesar disso, essa ainda é a tendência da maior parte dos Wajãpi, e poucas famílias estão engajadas no processo de mobilidade tradicional, assim como poucos grupos estão de fato fiscalizando os limites da terra indígena por estarem concentrados nas proximidades das aldeias centrais. Considerando as condições de fixação em aldeias centrais velhas (aldeias cuja ocupação se deu por mais tempo do que o ciclo tradicional de ocupação), ressalta-se que algumas famílias passaram a ocupar novas aldeias, onde há disponibilidade de recursos, ocupando também, alternadamente, a aldeia central velha, onde há acesso a políticas assistenciais. Desejam, portanto, estar próximas às políticas assistenciais, mas entendem também que esse processo de fixação desconstrói sua própria identidade. Essa consciência contribuiu para a construção de uma estratégia de concentração e descentralização da ocupação, assim como definição de locais estratégicos para implantação de aldeias centrais, que permite atender a todas as regiões do território indígena e às aldeias secundárias. Assim, famílias podem ter acesso mais rápido à infraestrutura das aldeias centrais e viver e manter suas roças em aldeias periféricas. Esse modelo, porém, nada tem a ver com a ocupação territorial tradicional Wajãpi. A autora comenta ainda as dificuldades enfrentadas nesse processo de planejamento coletivo da organização territorial, visto que os Wajãpi consideram também aspectos de identidade histórica de ocupação de cada grupo em determinado território e, uma ‘aldeia central’ e sua região não coincidem exatamente com a região de ocupação tradicional de um grupo local. Isso implica em uma nova noção de região baseada em fronteiras, diferente daquela definida pelos percursos, de quando praticavam sua territorialidade de forma autônoma. Além disso, a organização coletiva tornou-se necessária já que agora há um território definido para todos os grupos Wajãpi. Ou seja, a territorialidade já não se dá de forma autônoma.
 

Data do Preeenchimento: 
terça-feira, 5 Janeiro, 2021 - 21:15
Pesquisador Responsável: 

Edmara Paiva Santana

Data da revisão: 
quinta-feira, 14 Janeiro, 2021 - 21:15
Responsável pela Revisão: 

Márcia Sant'Anna

ISBN ou ISSN: 

978-85-62943-15-7

Autor(es): 

Günter Weimer

Onde encontrar: 

Acervo da Professora Marielly Santana
 

Referência bibliográfica: 

WEIMER, Günter. Arquitetura indígena: sua evolução desde suas origens asiáticas. Porto Alegre: Edigal, 2018.
 

Eixos de análise abordados: 
Conceitos e métodos
Saberes tradicionais e espaço arquitetônico
Território e etnicidade
Dados sobre o autor(es) e obra: 

Gunter Weimer é arquiteto e urbanista graduado pela Universidade federal do Rio Grande do Sul (1963), possui mestrado em História da Cultura pela PUCRS (1981) e doutorado em Arquitetura e Urbanismo pela USP (1990). Atua como professor convidado do Programa de pós-graduação em Urbanismo da FAU-UFRGS e tem experiência nos temas da arquitetura popular, história da arquitetura, imigração alemã, açorianos no Brasil e Rio Grande do Sul. Possui uma vasta obra publicada, com mais de 40 livros escritos, organizados ou editados por ele.
Informações obtidas em: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4783309U4
 

Sumário obra: 

INTRODUÇÃO

  1. OS INDÍGENAS E A AMÉRICA
  2. A ORIGEM DA ARQUITETURA
  3. UM PROBLEMA E SUA SURPREENDENTE SOLUÇÃO
  4. A RÚSSIA ASIÁTICA
  5. OS INDÍGENAS NORTE E CENTRO-AMERICANOS
  6. OS INDÍGENAS SUL-AMERICANOS
  7. ESTRATÉGIAS DE SOBREVIVÊNCIA
  8. CONCLUSÕES

BIBLIOGRAFIA
CRÉDITOS
GLOSSÁRIO DE TERMOS INDÍGENAS UTILIZADOS NA ARQUITETURA DO BRASIL
 

Resumo : 

Esta obra tem como objetivo investigar as possíveis origens da arquitetura indígena e suas evoluções até os dias atuais, desde o sudeste do continente asiático até o extremo sul do continente americano. Como metodologia, Weimer propõe a comparação entre diversas tipologias arquitetônicas, com o intuito de estabelecer graus de parentesco entre elas e verificar a existência de uma origem comum. Esta ficha focaliza os capítulos três e seis da obra, pois são os de maior interesse para o campo da arquitetura popular na América do Sul. No capítulo 3, Weimer defende a tese de que a arquitetura subterrânea dos buracos de bugre existentes no Brasil (habitações indígenas escavadas no solo pelo povo caingangue, no período pré-colombiano) são resultado da migração de uma tipologia arquitetônica desde o norte do Japão e extremo leste da Rússia até o sul do continente americano. As habitações denominadas de buracos de bugre eram compostas por um buraco cilíndrico maior e uma série de buracos menores próximos a ele. Os maiores apresentavam uma profundidade variável, entre um e dois metros, e um diâmetro entre 10 e 20 metros. Já os buracos menores apresentavam uma profundidade entre 30 centímetros e um metro e diâmetro em torno de três metros, além de apresentarem um formato semelhante a uma calota esférica. O autor considera que o uso da terra como material de construção, por sua capacidade de isolamento térmico e como solução para problemas impostos pelo meio, seria um indicativo de que essa tipologia seria originária de locais frios. Em sua pesquisa, Weimer encontrou tipologias adotadas pelo povo aino do Japão e Rússia muito semelhantes às utilizadas pelos caingangues. Propõe então que a migração deste povo asiático para o continente americano, em direção a latitudes cada vez mais baixas, provocou alterações significativas na sua arquitetura, como a gradativa diminuição da profundidade nas escavações e a diminuição ou supressão das camadas de terra que compunham a cobertura. No capítulo seis, Weimer analisa as tipologias arquitetônicas dos grandes grupos linguísticos existentes na América do Sul (aruaque, caribe, macro-jê, pano, quíchua, tucano e tupi-guarani) e de grupos menores, buscando relacioná-las com outras culturas (americanas ou asiáticas). O autor também descreve os contextos histórico, geográfico e linguístico de cada um dos grupos e o capítulo é ricamente ilustrado com desenhos seus. Descreveremos a seguir as tipologias dos grupos que habitam o Brasil. A tipologia mais recorrente entre os aruaques é a casa comunal, contudo, a amplitude da ocupação destes povos ocasionou uma grande variedade de partidos adotados, tanto pela diversidade dos ambientes onde se estabeleceram, quanto pela influência de culturas vizinhas. Os vapixarás, também aruaques, por exemplo, habitam aldeias organizadas por diversas casas de clãs dispostas em torno de um pátio circular. As habitações têm planta-baixa em formato elíptico com paredes contínuas totalmente fechadas (exceto por uma única abertura central), sustentando uma cobertura cônica. Os caribes, por sua vez, são o povo com o qual os conquistadores europeus estabeleceram seus primeiros contatos e a diversidade dos ambientes onde se instalaram proporcionou uma variedade de tipologias arquitetônicas, sendo as mais recorrentes: a cúpula apontada com um mastro central , a tenda cônica e a habitação de planta retangular, com telhado de duas águas. Segundo Weimer, as cúpulas e as tendas cônicas são uma herança dos indígenas norte-americanos. Essas construções poderiam ser abertas ou fechadas em sua base, com abertura possibilitada pela elevação da cobertura sobre pilares. No caso dos macuxis, subgrupo caribe, eram adotadas duas tipologias: uma tenda cônica elevada sobre uma parede contínua fechada exceto por uma única abertura, destinada ao pernoite, e uma edificação com cobertura de duas águas e planta retangular sem paredes, destinada às atividades diárias. Os macro-jês são um grupo que, em razão da vastidão da área que ocupam, podem ser divididos em setentrionais, centrais e meridionais e, antes da era cristã, chegaram a ocupar metade do território brasileiro. Weimer identifica três tipologias arquitetônicas básicas neste grupo: cúpulas, cones e prismas de base triangular deitados sobre um dos lados. Um dos exemplos analisados pelo autor é o dos xavantes, que viviam em aldeia com um número de casas entre 20 e 30, dispostas em uma forma de ferradura voltada para o rio. As habitações tinham forma de prisma de base triangular deitado sobre um dos lados, com um dos frontões fechado e o outro totalmente aberto. A cobertura de folhas de palmeira era de duas águas, que se apoiavam diretamente sobre o chão, com cumeeira sustentada por dois esteios. As casas xavantes eram implantadas em uma faixa “limpa” e a praça formada pela disposição das casas era coberta com vegetação rasteira. Os carajás, outro povo macro-jê, habitavam aldeias formadas por duas fileiras paralelas de casas, cujas portas permaneciam voltadas para o rio, independentemente das suas posições. Uma “rua” intermediava as duas fileiras e era coberta por vegetação rasteira. As moradias tradicionais dos carajás tinham forma de arco apontado e sua estrutura interna contemplava uma fileira de esteios centrais que sustentavam a cumeeira e esteios secundários para auxiliar no apoio das terças. A cobertura era feita com folhas de buriti e a habitação era fechada, exceto por duas portas localizadas em cada uma das laterais. As aldeias bororos são organizadas em formato circular, com as habitações dispostas ao redor de uma praça central sem vegetação, onde estava edificada uma cabana de dimensões maiores (a “casa dos homens”), destinada à reunião e à realização de cerimônias tribais. As habitações tinham forma de cone ou de prisma triangular deitado sobre um dos lados e a cobertura era feita com palha de palmeira. Os panos, tendo como um de seus exemplos a tribo dos marubos, habitavam uma “casa-aldeia” ou casa comunal, implantada em um terreno limpo e em torno da qual se desenvolviam todas as estruturas da aldeia. A habitação possuía o formato aproximado de um decágono irregular alongado e nela ocorriam as atividades domésticas, os cultos xamânicos, a guarda de alimentos e as demais atividades cerimoniais. Internamente, a casa-aldeia é composta por um espaço central retangular delimitado por oito esteios e destinado aos rituais da tribo, envolto por uma estrutura de 16 esteios menores que apoiam os caibros da cobertura, feita de folhas de jarina. Os “deambulatórios” longitudinais são destinados ao dormitório e a casa é quase toda fechada, exceto por duas portas localizadas em cada uma das extremidades destinadas aos distintos gêneros. A casa-aldeia ocupa o centro de um pátio oval, em cuja periferia estão dispostos diversos jiraus sobre palafitas (usados como depósitos e locais de trabalho), circundados por roças e, por fim, pela floresta. Os tucanos também habitavam, tradicionalmente, casas comunais, embora estas tenham sido substituídas por habitações unifamiliares durante sua catequese. A casa-aldeia tinha a forma (em planta-baixa) de um retângulo somado a um semicírculo em um de seus lados menores. A fachada principal (correspondente ao lado menor do retângulo) ficava voltada para o rio e tinha uma porta principal junto à qual ficava o espaço dos homens. Na extremidade oposta (a semicircular) havia outra porta junto à qual ficava o espaço das mulheres. Três pares de esteios centrais delimitavam um espaço retangular de uso comum (passagem, trabalho, rituais) e o dormitório das famílias ficava nas “naves laterais” sob a parte baixa do telhado. A cobertura, por sua vez, era de duas águas de inclinação acentuada e com beirais. Já entre os tupis-guaranis, a tipologia habitacional mais recorrente era a casa multifamiliar para um clã inteiro (maloca) de planta retangular, dividida internamente em quadrados ou retângulos de quatro a seis metros de lado (ocas) que abrigavam uma família nuclear. Uma fileira de esteios centrais sustentava a cumeeira e duas outras laterais sustentavam as terças sobre as quais se vergavam caibros. Estes, por sua vez, eram fincados no chão e amarrados na cumeeira com cipós. Mãos francesas apoiadas nas bases dos esteios ou vigas horizontais contraventavam as terças, e a cobertura era vedada com capim, junco ou folha de palmeira. As habitações adotavam um partido fechado, com aberturas mínimas no topo do teto (ventilação por exaustão) e, geralmente, duas portas pequenas e baixas. A dos homens voltada para a praça central, e a das mulheres, para os fundos da aldeia. Esta, em geral, era formada por uma praça quadrada com malocas ocupando cada um de seus lados em disposição ortogonal. A praça era um espaço preferencialmente masculino e local das cerimônias tribais. Weimer propõe analisar os grupos com menores números de indivíduos a partir das regiões culturais estabelecidas: a costa noroeste, os Andes setentrionais, a costa norte, o Planalto das Guianas, a Planície Amazônica, o Planalto Brasileiro, o Chaco, a Planície pampeana, os Andes meridionais e o extremo sul. Nesta ficha, analisaremos apenas as regiões que incluem povos brasileiros em seus exemplos. O Planalto das Guianas é ocupado por povos caribe, aruaque e isolados, com maior incidência dos ianomâmi. A tipologia habitacional soberana é a casa-aldeia com planta poligonal de múltiplos lados, de maneira a se assemelhar a um formato circular. Cada lado do polígono, no interior, corresponde ao espaço de uma família nuclear. A estrutura é composta por paredes externas de aproximadamente um metro e meio de altura que sustentam uma cobertura cônica aberta no centro, criando um pátio central aberto no interior da edificação. A Planície Amazônica é a maior região cultural e a que recebeu a menor influência dos conquistadores europeus. A cultura hegemônica é a tupi-guarani, seguida por aruaques e caribes. Um dos grupos exemplificados por Weimer é o dos vitotos, cuja habitação tradicional é uma casa comunitária de grandes dimensões e planta-baixa ortogonal. Em seu centro, um quadrado era delimitado por quatro esteios e neste espaço ocorriam as cerimônias e rituais. Sobre estes esteios centrais, se apoiava um telhado de duas águas, cujo frontão poderia ser levemente vazado ou totalmente devassado. Em torno desta área, estavam dispostos os espaços de moradia das famílias nucleares, cobertos por águas retangulares e triangulares. No Planalto Brasileiro, a cultura hegemônica era a macro-jê. Um dos povos representativos desta região, os tupari, habitavam casas de planta circular e cobertura abobadada, com um esteio central que se sobressaía no topo e sobre o qual se envergavam caibros que na outra extremidade eram fincados no chão. A aldeia tupari era composta por duas habitações desse tipo, de tamanhos distintos (já que este dependia do número de famílias nucleares abrigadas) em torno de uma praça. Junto a ela, ficava um depósito de mantimentos e um galinheiro. Sobre os povos isolados, Weimer apresenta desenhos de algumas tipologias, mas discorre pouco sobre elas e sobre as culturas destes povos, já que eles se distanciaram muito da sociedade neobrasileira. O autor questiona se as semelhanças entre tipologias de diferentes localidades e grupos étnicos seriam meras soluções a questões funcionais impostas pelo meio, ou se seriam resultado de uma tradição milenar que se conservou em meio à dispersão dos grupos em suas rotas migratórias pelo continente americano, hipótese da qual é adepto.

 
 

Data do Preeenchimento: 
terça-feira, 1 Outubro, 2019 - 15:00
Pesquisador Responsável: 

Natália Bessa

Data da revisão: 
segunda-feira, 21 Outubro, 2019 - 15:00
Responsável pela Revisão: 

Márcia Sant'Anna

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