Não se aplica.
Márcia Vieira da Silva
https://tede.ufam.edu.br/handle/tede/3978?mode=full
Acesso em: 14 jan. 2021.
SILVA, Márcia Vieira da. Reterritorialização e Identidade do povo Omágua-Kabeba na aldeia Tururucari-Uka. 2012. 176 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Geografia, Instituto de Ciências Humanas e Letras - ICHL, Universidade Federal do Amazonas, Manaus, 2012.
Márcia Silva é indígena de etnia Omágua/Kambeba, e também conhecida como Márcia Wayna Kambeba (nome e etnia indígena). A autora é geógrafa pela Universidade do Estado do Amazonas e mestre pela Universidade Federal do Amazonas. Seu foco de pesquisa no campo da geografia é a territorialização e reterritorialização, assim como o processo de ressignificação da etnia Omágua/Kambeba que foi tida como extinta por quase todo o Século XX. Também é poeta, compositora, cantora e fotógrafa registrando a vivência, o território e a identidade não apenas do povo Omágua/Kambeba mas também de outros povos indígenas.
Fonte:https://www.recantodasletras.com.br/autores/marciakambeba
INTRODUÇÃO
Capítulo 1: Território e Identidade numa abordagem da Geografia Cultural
Capítulo 2: Povo Omágua/Kambeba: Do Território a Desterritorialização
Capítulo 3: Aldeia Tururucari-Uka: Reterritorialização e Identidade do povo Omágua/Kambeba
Considerações Finais
Referências
A tese tem como objeto de estudo o processo de reterritorialização e de reconstrução identitária do povo Omágua/Kambeba não apenas considerando-se o conceito clássico de território utilizado na Geografia, mas a partir do conflito político vivenciado pela aldeia Tururucari-Uka, localizada no município de Manacapuru (AM) e do estudo das relações entre território, cultura e identidade no sentido de resistência e reafirmação étnica desse povo. Considerando a relação íntima entre identidade étnica e o lugar de vivência, a autora aborda vários conceitos de território e identidade propostos por diversos teóricos tendo como base os processos históricos do povo Omágua/Kambeba. Historicamente habitando uma área de várzea, os Omágua/Kambeba fizeram vários deslocamentos ao longo do tempo na região do Alto e Médio Solimões sempre habitando as margens e ilhas dos rios, sujeitas a inundações anuais, sendo por isso conhecidos como o Povo das Águas. Os Omágua/Kambeba se destacam nos séculos XV e XVI principalmente como povo de grande influência e relevância nessa região, sendo considerados por vários viajantes nesse período como o povo de maior desenvolvimento social e cultural por seus rituais e costumes ou pelo grande desenvolvimento territorial. Dos séculos XV ao XVIII, a autora aponta um território organizado em Aparia Maior, cujo representante tinha autoridade do Rio Amazonas ao Rio Napo, e Aparia Menor, a região do Rio Napo (Equador). Houve um processo de migração desse povo no sentido Equador-Manaus, o que exigiu adaptabilidade a nichos ecológicos muito diversos daqueles das várzeas e ilhas do Alto Amazonas, principalmente para o grupo que se instalou em Manaus. O que ainda sobrevive do povo Omágua/Kambeba são cinco aldeias, o que já mostra a perda de expressão deste considerando-se a importância e representatividade que tiveram no passado e, no ano da pesquisa (2012), 11 famílias moravam na aldeia Tururucari-Uka, totalizando cerca de 40 pessoas. Com a quase extinção desse povo, muito do seu território foi perdido, restando apenas um pequeno fragmento do que outrora foi o povo Omágua/Kambebaa, e que ainda não é homologado, havendo ainda brigas por posse desse território. Sendo o foco do trabalho um estudo de territorialidade, a autora trata apenas de alguns aspectos no que se refere à organização espacial e à habitação desse grupo, sem detalhar essa organização ou suas técnicas construtivas. No que se refere à organização política da aldeia, a autora aponta a figura do Tuxuaua, ou Zana, representante e chefe da aldeia, guardião da memória do povo e responsável por ensinar os costumes às próximas gerações. A autora deixa claro ao longo da dissertação que tudo o que envolve essa etnia é carregado de simbolismos e significados, sejam relações sociais, culturais e espaciais ou modo de vida, isso envolve inclusive partilhas, como o almoço, que é sempre realizado na casa do Zana da aldeia, sendo esta a representação da centralidade política da aldeia, demonstrando o papel de importância do Zana sobre os demais indígenas da aldeia. Existe apenas um roçado na aldeia onde todos trabalham em conjunto e assim, a partilha e a reciprocidade são muito fortes tanto na produção de alimentos quanto no manejo dos recursos naturais, como a água. Sobre a aldeia, as casas são em madeira, utilizando-se em especial o cedro, com cobertura em palha de palmeiras. A escolha do local e a construção dependem da autorização do Zana. Uma casa tem espaço interior suficiente para abrigar toda a família e é orientada por um eixo perpendicular à margem do rio. No interior há lugar para fogo, redes e objetos utilizados na vida cotidiana. No que se refere a distribuição espacial das casas, a autora apresenta discordâncias que levam ao entendimento de que durante os séculos XVI, XVII e XVIII o ordenamento das casas acontecia de forma linear à margem do rio. Já no caso da aldeia Tururucari-Uka, esse ordenamento acontece de forma que de uma casa seja possível ver a outra, formando uma rede de comunicação visual em círculo. A primeira casa avistada ao chegar à aldeia é a do Tuxaua, guardião da memória do povo e representante da aldeia. Há uma casa de farinha, que no início da pesquisa (2010) era simples, construída em barro e com cobertura em palha, porém houve uma intervenção da empresa Petrobrás em 2011 que a reconstruiu utilizando materiais estranhos à construção indígena, ou seja, em alvenaria e cobertura em telhas tipo brasilit. No sentido da territorialidade, os Omágua/Kambeba possuem uma noção clara de controle populacional, controlando a quantidade de pessoas que podem morar na aldeia para que não se esgotem os recursos naturais ali disponíveis, utilizando também recursos para que o local da roça possa ser utilizado de forma não exaustiva que degrade a floresta. Frente ao processo de territorialização e reterritorialização do povo Omágua/Kambeba, que devido a massacres e escravização, foram quase extintos e perderam representatividade, muito de sua história e identidade étnica e territorial se perdeu.A atual geração vive um processo que a autora define como “etnogênese” ou “reetinização” através do qual tenta resgatar e reafirmar sua identidade étnica que se perdeu por diversos motivos, como preconceito e subalternidade dos indígenas com relação ao branco que por muitos séculos os escravizaram e negaram sua cultura. A autora destaca ainda a necessidade de valorização desse patrimônio identitário, como a língua natal e os grafismos, desenhos representativos na pele, cerâmicas, roupas e demais objetos, que vêm se desgastando ou pela inoperância dos agentes governamentais de preservação patrimonial ou pela não transmissão desses saberes às novas gerações da aldeia.
Edmara Paiva Santana
Márcia Sant'Anna