85-7001-165-2
Amos Rapoport
Acervo do Prof. Daniel J. Mellado Paz.
RAPOPORT, Amos. Origens Culturais da Arquitetura. In: SNYDER, James C. e CATANESE, Anthony. Introdução à Arquitetura. Rio de Janeiro: Ed. Campus Ltda., 1984.
Rapoport defende neste artigo a ideia de que o fenômeno da arquitetura parte da necessidade estrutural da mente humana de ordenar o caos através de esquemas simbólicos que, variando entre os povos, sempre se apresentam. Lembra que a demarcação de territorialidades é atributo geral dos seres vivos e, quanto ao homem, assinala a importância e a constância da diferenciação dos espaços na percepção dos espaços naturais e na constituição de domínios distintos que são demarcados e submetidos a ritos próprios de transição de um lugar para outro. Tais esquemas simbólicos precisam ser materializados no espaço, manifestando as diferenças locacionais e comunicando-as aos membros de uma comunidade. A arquitetura seria, portanto, parte de um sistema mais amplo de comunicação não-verbal que lança mão de elementos móveis, semi-fixos e fixos, alguns sutis e quase imperceptíveis,com alto grau de redundância. Pauta-se por uma “imagem mental” que, por sua vez, se configura em uma imagem “ideal” e, assim, o espaço seria antes pensado do que construído. A arquitetura teria como princípio a manifestação e o reforço de uma ordem simbólica, não sendo um mero abrigo. Caso contrário, a variedade de tipos construídos seria menor, assim como ocorreriam somente soluções similares no mesmo clima e não ocorreria a manutenção de tipos semelhantes em climas diferentes. Para Rapoport, o meio ambiente construído é constituído não apenas com elementos fixos, mas também com outros, menos permanentes, como parte da mesma tarefa de demarcação dos espaços e de exteriorização de esquemas simbólicos. Ao estruturar espaço, tempo, significado e comunicação, tais esquemas indicam como as pessoas devem agir e o que se deve esperar delas. Ou seja, constituem uma comunicação não-verbal dentro da própria cultura. As culturas seriam unitárias nesses esquemas simbólicos gerais que abrangeriam da menor construção às mais importantes, da casa individual ao povoado e à paisagem. Porém, nas “sociedades tradicionais” haveria maior congruência de tais esquemas, em razão da noção de sagrado. Toda construção é nesses contextos consagrada em alguma medida, impregnada de esquemas cósmicos e corporais, e orientada pela mencionada “imagem ideal”. No entanto, mesmo o sagrado possui sua hierarquia, distinguindo os edifícios em graus de importância por meio de sinais – tamanho, cor, material, elementos específicos – e de sua maior proximidade com essa imagem ideal. Rapoport defende neste texto a necessidade de uma teoria geral para o ambiente construído, agrupando um farto material de análise que inclui o passado remoto e o que está fora da tradição ocidental, considerando-o através do tempo e das culturas. Seu objetivo é encontrar as constâncias humanas por trás da diversidade e, assim, critica a arquitetura ocidental pelo seu imperativo de mudança. Embora o resultado das sociedades tradicionais possa ser admirado, afirma que não pode ser repetido a partir de suas formas e sim por meio do seu processo geral: como ação de várias pessoas e esquemas simbólicos e de meio ambiente compartilhados e manifestos fisicamente. Somente de processos grupais e de padrões comungados é que poderiam surgir a unidade e complexidade admiradas em tais assentamentos.
Daniel Juracy Mellado Paz
Marcia Sant’Anna.