Rapoport parte da literatura sobre os significados, buscando o seu sentido no ambiente construído, onde acredita que é uma função latente fundamental, em oposição às funções manifestas visíveis. Das três abordagens usuais para o estudo do sentido - a lingüística, em especial com a semiótica; o estudo dos símbolos e a comunicação não-verbal – esta última é a adotada. E, considerando os três níveis de estudo da relação entre signo, significado e interpretação - a sintática (relação entre os signos), a semântica (relação dos signos com os significados) e a pragmática (interpretação dos significados nos signos) – é este último, menos estudado, o que pretende cobrir. A comunicação não-verbal, esclarecendo a verbal, opera simultaneamente por vários meios - tom de voz, expressão facial, etc. Uma das lacunas no seu estudo estaria no ambiente construído. Rapoport, no entanto, refuta a possibilidade de abordar a comunicação não-verbal analogamente à verbal. Um efeito importante é que o ambiente auxilia a pessoa a comportar-se de modo aceitável à situação, o que é codificado para que possa ser compreendido por todos. A tese central de Rapoport é a da importância crescente do ambiente na comunicação não-verbal da sociedade moderna, dentre os vários elementos culturais em ação como roupas, estilos de cabelo e elementos similares. No entanto, quando estes perdem seu papel de indicadores, torna-se difícil tomá-los como base para situar pessoas em categorias e interpretar suas identidades. Por exemplo, a indumentária ainda é usada para interpretar tais situações, mas sem a mesma eficiência das culturas tradicionais. Assim, restaria ao ambiente construído tornar-se mais ostensivo e redundante. O meio ambiente – como os demais elementos culturais já citados – operaria mnemonicamente, tornando o comportamento mais fácil. Ele não apenas relembraria, mas também prescreveria, guiando as respostas e restringindo o leque de alternativas possíveis. O interesse de Rapoport é verificar como os ambientes comunicam a situação e as regras que devem ser seguidas para se ter um comportamento adequado. Mesclando as idéias de “ambiente de comportamento”, de Roger Barker, e “ambiente de papéis”, de Erving Goffman, entende que atuam como cenários, onde a coerência prevalece sobre aparência, modos e comportamento. Esta relação pode ser estreita em algumas culturas e mais relaxada em outras, mas a interpretação do ambiente construído deve ser fácil e feita da mesma maneira por todos os envolvidos e sua eficiência seria maior quando a constituição e o uso do ambiente se mantêm invariantes. Outro aporte importante citado é o de Edward Hall, que divide o espaço em três elementos por grau de estabilidade: “fixos”, “semifixos” e “informais” (que Rapoport prefere chamar de “não-fixos”). Os fixos são aqueles de lenta modificação, como a arquitetura. Os semifixos são modificados com maior freqüência, como móveis, cortinas, biombos, roupas, sinais, ícones e jardins, e são responsáveis pela distinção funcional e simbólica dos edifícios e espaços. Já os não-fixos se relacionam com os ocupantes do ambiente: suas relações espaciais em movimento (proxêmica), suas posturas e posições corporais (cinésica), gestos dos braços e mãos, expressões faciais, etc. Isto é, a comunicação não-verbal do corpo. Rapoport defende a aplicação dos métodos desenvolvidos para o inventário e compreensão dos elementos não-fixos nos semifixos. A seguir, observa que há três visões principais sobre o comportamento não-verbal: como um sistema culturalmente específico e arbitrário, similar à linguagem; como algo pan-cultural, específico à espécie como um todo e diferente da linguagem, e como uma síntese dos anteriores, em um gradiente. Esta última é a visão adotada, em especial, no modelo neuro-cultural, de Eibl-Eibesfeldt e Paul Ekman, onde se demonstra que existem elementos pan-culturais, universalmente reconhecidos na expressão facial, não-arbitrários e biologicamente baseados, como nas expressões de alegria, raiva, desgosto, etc. Estes elementos seriam intensificados, minorados, neutralizados ou mascarados por aspectos culturais variáveis, mas, de modo geral, não constituiriam um sistema análogo ao da linguagem - posição esta adotada por Rapoport. No estudo do comportamento não-verbal nos elementos não-fixos haveria três aspectos importantes: as “origens”, isto é, como se tornam parte do repertório de cada indivíduo; o “uso”, que é a circunstância de sua utilização claramente cultural, e a “codificação” ou regras que explicam como o comportamento transmite informação. O foco vai para este último, que, por sua vez, ocorreria de três modos: “intrínseco”, onde o ato é o próprio significado; “extrínseco”, onde o significado é a aparência do ato, e “arbitrário”, onde se entende que é uma convenção cultural, sem similaridade com o que representa. Pode-se também compreender tais mensagens segundo três tipos: “adaptadoras”, que são menos intencionais e mais intuitivos; “ilustradoras”, que aumentam ou contradizem o que está sendo dito, e “emblemáticas” – traduções verbais específicas com significado preciso, mas culturais e similares à linguagem. Por exemplo, as expressões faciais seriam mais adaptadoras, enquanto os gestos, mais culturais, seriam mais emblemáticos, segundo David Efron. No entanto, faltariam estudos interculturais dedicados ao ambiente construído, como os que subsidiaram as conclusões sobre esses outros aspectos da comunicação não-verbal. Essa situação se agravaria com o fato de que existe maior variedade nos significados do que nos aspectos perceptivos. Por exemplo, se as cores percebidas são poucas, os sentidos possíveis e dados são muitos. Rapoport conclui que movendo-se dos reinos dos elementos não-fixos aos semi-fixos, e destes aos fixos, a paleta aumenta, com a maior variedade dos recursos. A tendência seria tornar-se mais similar à estrutura de uma linguagem. Haveria aspectos que podem servir de pistas para o ambiente construído, como o tamanho, a centralidade e as cores. No geral, um ponto comum é sempre o da “diferença” como modo de distinguir e sinalizar algo por meio da diferença ostensiva em algum aspecto perceptivo, tal como altura, material, localização, etc. Os meios são variáveis, mas o raciocínio do contraste parece ser constante. No caso do status, hierarquia, prestígio e poder, mesmo entre animais, sempre há uma relação com a “atenção” dos demais. As regras de combinações do repertório parecem ser limitadas, e boa parte se baseia na noção de oposição, de contraste. Após a apresentação deste arcabouço teórico, Rapoport o aplica em pequenos espaços e na escala urbana.