O livro faz um balanço sobre os estudos de Antropologia Cultural realizados pela autora sobre a Arte Popular nordestina e que fundamentaram a Exposição Bahia, na V Bienal de São Paulo; a exposição Civilização do Nordeste, realizada em novembro de 1963, no Museu do Unhão, e a exposição Nordeste do Brasil, cuja presença na Galeria de Arte Moderna de Roma, em 1965, foi cancelada pelo governo brasileiro. Apresenta textos da própria autora de 1963 e 1980 e de outros autores sobre as referidas exposições: Jorge Amado (1959), Abelardo da Hora (1963), Lívio Xavier (1963), Paulo Gil Soares (1964), Glauber Rocha (1964), Bruno Zevi (1965), Celso Furtado (1967) e Flávio Motta (1970). Lina Bo Bardi entende que é necessário fazer um balanço da civilização brasileira “popular” para, ali, assentar as bases verdadeiras para um design nacional – e não “nacionalista”, o que ela distingue a partir de Antonio Gramsci –, diante da veloz investida dos gadgets do processo de industrialização que o Brasil vivia naquele momento, o que configuraria um processo de “desculturação”. Esse mesmo processo, que levara séculos em outros países e poucos anos no Brasil, havia dissolvido a estrutura coletivista das corporações de ofício. Na Europa, o artesão já seria um mero resquício do ofício medieval, mantido artificialmente por exigências turísticas e pelo apreço aos produtos manuais como de qualidade superior. No Brasil, a situação seria bastante diferente: nunca teria havido artesanato, entendido como corpo social e forma de agremiação responsável por toda a produção popular do passado, inclusive a da Antiguidade clássica. O retorno a esse artesanato seria não somente regressivo, mas falso, na medida em que esse passado nunca existiu no Brasil. Ao contrário, o que existiria era um pré-artesanato doméstico esparso. No entanto, ainda que carente de sedimentação histórica, essa era a base da civilização brasileira. Próxima que estava da necessidade, pronta a ser abandonada na primeira oportunidade de melhor remuneração, essa produção material escapava da alienação. Lina Bo Bardi entendia que não se devia recair no afã do primitivismo e, sobretudo, evitar o folklore, na medida em que este era a petrificação da produção popular, e sua orientação exógena para fins turísticos. O que estava em jogo não era conservar formas e materiais, e sim explorar as possibilidades criativas originais dessa produção que fazia do próprio lixo sua matéria-prima, dinamizando o que no folclórico seria estático. Assim, o estudo orientou-se não pela Arte, mas pela Antropologia Cultural, evitando registrar atividades que já haveriam sido tomadas pelo viés “folclorizante” – como a literatura de cordel e a cerâmica de Caruaru. Os objetos são então aqueles da vida cotidiana, como roupas feitas de sobras e ex-votos. Bo Bardi recusava, também, a pecha de kitsch, entendendo que este era um fenômeno diferente: uma produção burguesa que, ao fim, revelava apenas o medo da morte. A produção popular que examina passaria muito ao largo da cultura de massa moderna.