A obra faz parte da coleção Cadernos de Memória, fruto do Projeto de Mapeamento de Mestres e Artífices, patrocinado pelo IPHAN em parceria com o Programa Monumenta e Unesco. Tal projeto tem como objetivo o mapeamento dos mestres e oficiais que dominam as principais técnicas construtivas tradicionais utilizadas nas diferentes regiões do estado, o registro do saber fazer local e o resgate e valorização desse conhecimento assim como dos mestres e artífices identificados. Os trabalhos da pesquisa já foram realizados em três estados: Pernambuco, Santa Catarina e Minas Gerais, sendo este último, a obra em referência. O livro pode ser dividido em três partes: a primeira, composta por um artigo de Castriota, trata da importância de se preservar o saber fazer das técnicas tradicionais, definindo-o como patrimônio imaterial. A segunda parte explica as razões que levaram os pesquisadores a definir as áreas da pesquisa, fazendo também a caracterização de cada uma delas. Na última parte, o livro traz o depoimento dos profissionais, mestres e artífices que foram identificados e/ou localizados durante os trabalhos de campo. Este foi realizado em três áreas do estado de Minas Gerais, a saber: a região das Minas, a região do Vale do Jequitinhonha e a zona de São Thomé das Letras, escolhidas por constituírem, segundo os pesquisadores, áreas culturais, histórica e geograficamente homogêneas. A região das Minas é altamente povoada e com municípios tipicamente urbanos, cuja ocupação se deu por povos de diversas origens em função da mineração, tendo como centro geográfico a cidade de Belo Horizonte. Com o desenvolvimento dos povoados surgiram novas necessidades e com elas a de novos profissionais: ferreiros, carapinas, alvanéus, alfaiates, seleiros, entalhadores, que irão contribuir para dar nova feição àquela paisagem. Essa região sofreu um processo decadência econômica durante todo o século XIX, até que ressurge no século XX com a exploração do ferro e a criação da Escola de Minas, em Ouro Preto, o que impacta as atividades econômicas da região e promove a formação de novos profissionais, prejudicando a continuidade de determinados ofícios tradicionais. A região do Vale do Jequitinhonha é marcada pela presença dos rios Jequitinhonha e Araçuaí, que foram responsáveis pelo povoamento local através da exploração do garimpo de diamantes, de ouro e de outros metais preciosos. Os oficiais e mestres identificados nesta área e que contribuíram para formar a paisagem cultural da região, muitas vezes também se ocupam das atividades da agricultura e da pecuária, como grande parte dos seus moradores. Nesta área foram encontrados ofícios ligados à presença indígena, como a produção do forro em taquara, a cobertura em folhas de palmeiras e o uso da tabatinga, além da construção tradicional em arquitetura de terra que ainda faz parte do cotidiano dos seus habitantes. A região de São Tomé das Letras, situada no sul de Minas, também tem sua paisagem influenciada pelas formações naturais, desta vez com serras, formações rochosas e rios. Nesta região a principal atividade é da exploração da pedra, tanto de maneira rudimentar como sob forma industrial com utilização abusiva de explosivos, o que resulta em grande degradação ambiental. Contudo, nos últimos anos, com a intervenção do poder público e a incorporação de medidas de proteção, este processo passou a ser controlado. Nesta região, os oficiais na sua maioria são os “canteiros” ou “pedreiros” experts no uso da pedra. Ressalta-se que o traçado urbano resultante destes pequenos núcleos pesquisados, na sua maioria, integra-se com a geografia dos morros e córregos locais, criando uma paisagem construída de grande valor cultural, com claras evidências de serem frutos de uma sociedade detentora de saberes e ofícios tradicionais. O reconhecimento desses espaços como patrimônio cultural e a ação de órgãos oficiais de proteção do patrimônio, veio garantir, através das obras de conservação e restauração realizadas, a continuidade e valorização destes saberes e ofícios. Os pesquisadores observaram que diversos elementos foram incorporados ao saber-fazer dos artesãos, como alguns maquinários que os auxiliam no desenvolvimento dos trabalhos, visando a facilitar a execução dos seus ofícios. A sensibilidade e o conhecimento do material com que trabalha é ainda o ponto de partida para que o artesão se sinta ou se transforme em um mestre de verdade. Saber decifrar os sons da pedra, os ritmos dos golpes da forja, o cheiro da madeira, o reconhecimento da argila através do tato, são conhecimentos adquiridos com o exercício profissional e fazem o diferencial entre um auxiliar e um artesão. A última parte do livro trás depoimentos de vários artesãos, nos quais relatam como aprenderam seus ofícios e como continuaram passando seus conhecimentos para os filhos. A maioria desses artesãos exercem suas atividades em suas próprias oficinas e em obras de restauração, não só na cidade em que vivem como também por toda a região mineira. Outros artesãos, no entanto, aprenderam ou aprimoraram seus conhecimentos em cursos de formação, promovidos pelo IPHAN, pela Universidade de Ouro Preto ou pelo Programa Monumenta, em Veneza. A obra é fartamente ilustrada com fotografia dos entrevistados, suas oficinas e seus trabalhos. Traz ainda a relação nominal dos locais pesquisados, assim como de todos os mestres e artesãos identificados.