O artigo trata dos problemas conceituais decorrentes da adoção da Cultura como eixo condutor da análise e da organização de estudos sobre arquitetura vernacular, apresentando também o conteúdo geral da Encyclopedia of Vernacular Architecture of the World (1997) e os problemas conceituais enfrentados em sua organização. Na preparação da enciclopédia informa que foi preciso definir termos como “ambiente”, “lar”, “organização espacial” e “cultura” e criar seções e entradas específicas para eles. Após uma digressão sobre os vários autores que se debruçaram sobre o conceito de cultura a partir do século XIX, Oliver informa que, para os propósitos da enciclopédia, “cultura” foi definida como: “a totalidade dos valores, atividades e produtos, incluindo edificações, de uma sociedade que dão sentido e direção às vidas de seus membros. Cultura é aprendida e não transmitida geneticamente. Uma ‘cultura’ é uma sociedade cujos membros compartilham essa totalidade”. Os “traços ou características culturais”, por sua vez, foram definidos como os “aspectos da estrutura social e do comportamento e valores do grupo que podem ser definidos e comparados com os de outras culturas”. Já um “complexo de traços ou características” faria referência à interação de certo número de características. Na enciclopédia, os traços culturais considerados foram os relacionados ao uso e exploração do ambiente, à economia, à organização social e política, à noção de propriedade, à religião, à constituição de relações familiares, de gênero e de parentesco, dentre outros que impactariam a arquitetura e a organização do espaço. Oliver avalia que as mudanças culturais acontecem pela difusão de artefatos e de idéias, pela modificação da tradição ou pela exploração intermitente de inovações aceitas no âmbito das normas do grupo. Esses processos foram acelerados com a expansão imperialista e as tendências de globalização que emergem da revolução eletrônica e dos meios de comunicação. Informa que a enciclopédia também contém uma seção sobre o ambiente tal como condiciona ou é condicionado pela ocupação humana, além de outras sobre os recursos, a produção e os serviços relacionados à arquitetura vernacular, assim como à natureza do simbolismo das ornamentações presentes dentro e fora dos edifícios. Estudos de caso dão conta, nesta obra, das regras da organização espacial, dos rituais presentes na construção e do simbolismo das estruturas, além do existente na definição de espaços. Há ainda uma seção que explora a tipologia, o que inclui as questões de ergonomia, proporção, composição, uso e destinação das edificações, incluindo as utilitárias ou de destinação econômica, assim como o desenvolvimento tecnológico articulado à produção e transformação de grãos por meio do uso da água, do vento ou da tração animal. Por fim, a enciclopédia também considerou as estruturas temporárias ou transportáveis e levantou a questão das características que definem uma cultura e quais indicam suas fronteiras. Oliver conclui que os traços culturais seriam então importantes tanto para apontar semelhanças como diferenças, permitindo o estabelecimento de “áreas culturais”, já que as fronteiras nacionais são sabidamente pobres para a definição de culturas ou de suas áreas. O autor reconhece, contudo, que, na enciclopédia, as áreas e sub-áreas culturais acomodam culturas distintas que necessitariam mais pesquisa.