O artigo trata do processo de elaboração da Enciclopédia da Arquitetura Vernacular do Mundo (projeto coordenado pelo autor e concluído em 1997) e dos vários problemas de definição e de prática que suscitou. Um dos principais relacionou-se ao próprio termo “arquitetura vernacular”, que necessitava de uma definição mais acabada já que compunha o título da obra. Oliver observa que a raiz latina de vernacular é verna, que quer dizer “escravo”, e que essa conotação permanece na Itália, mesmo que o termo vernaculus signifique “nativo”. Assim, os colaboradores italianos da Enciclopédia tendiam a focalizar os abrigos mais simples e pobres e a não considerar as fazendas toscanas. Mas o problema da definição atingiu também EUA, Austrália e Canadá porque nesses países o termo vernacular é usado com um sentido amplo e inclui a arquitetura projetada para fins comerciais ou habitacionais da classe média, como supermercados, postos de gasolina e cadeias de fast food. Na Inglaterra, essa mesma arquitetura é chamada de “popular”. Já no oeste americano, o termo vernacular designa uma arquitetura projetada por arquitetos que responde a uma tradição e usa materiais locais. Assim, o autor conclui que a expressão “arquitetura vernacular” pode ter significados diversos conforme o contexto cultural ou a língua que se fala. Para os propósitos da Enciclopédia foi então estabelecida a definição seguinte, com a justificativa de que poderia ser aplicada às tradições construtivas de todos os continentes e a comunidades de diferentes tamanhos e contextos ambientais: “Arquitetura vernacular compreende as habitações e outras construções dos povos. Relacionadas aos seus contextos ambientais e recursos disponíveis, são costumeiramente construídas por seu dono ou pela comunidade utilizando tecnologias tradicionais. Todas as formas de arquitetura vernacular são construídas para atender a necessidades específicas, acomodar valores, economias e modos de vida das culturas que as produzem”. As “entradas” da Enciclopédia foram estabelecidas, assim, a partir das culturas que produzem tradições construtivas identificáveis numa região e não a partir de limites político-administrativos. Essa decisão implicou redesenhar o mapa cultural do mundo, relacionando-se culturas individuais a grupos culturais que compartilham certas características, ocupam territórios com ambientes e topografias comparáveis e possuem traços arquitetônicos semelhantes. No caso do Brasil, por exemplo, o território do país foi dividido na Enciclopédia nas regiões Amazônia, Nordeste e Sul, numa visão simplificada e incompleta. O Brasil central, por sua vez, foi agregado à região definida como Argentina. O autor reconhece, entretanto, a simplificação embutida nessa classificação, mas afirma que esta obra pôs em relevo a questão dos limites temporais e da vigência da arquitetura vernacular. A obra inclui as tradições construtivas que sobrevivem em uso até o século XX, independentemente de quando foram construídas, além das tradições construtivas vigentes. O limite temporal é então definido em função da permanência do uso e da vigência da tradição. A característica fundamental de interdisciplinaridade do estudo da arquitetura vernacular é reafirmada, assim como a necessidade de se compartilhar conhecimentos e métodos. Considerando a vastidão desse universo, o autor informa neste artigo que os objetivos da enciclopédia são variados, sendo a formação de estudantes de arquitetura um dos principais já que a obra reúne grande parte do conhecimento produzido até agora sobre o tema.