O autor explica que, aplicado à arquitetura, o termo vernacular remete à “arquitetura como linguagem da forma”. Assim, essa arquitetura poderia ser definida como “a linguagem arquitetônica do povo, com seus dialetos étnicos, regionais e locais”. O autor distingue também neste artigo “arquitetura vernacular” de “arquitetura popular”. A primeira expressão designaria uma arquitetura do povo e “feita pelo povo”. A segunda seria entendida como arquitetura “feita para o povo”, como a que existente nos subúrbios, nas ruas de comércio local e da que é feita por instituições públicas. Entretanto, Oliver informa que, em alguns países, o termo vernacular é associado a uma arquitetura simples, de vida curta, feita com materiais locais e construída por grupos ou minorias étnicas. Considera essa concepção um equívoco conceitual decorrente da tentativa de classificar a arquitetura vernacular a partir de seu grau de permanência, da tecnologia e da forma, ao invés de considerar esses aspectos de acordo com os contextos culturais e ambientais e as exigências que colocam. Advoga que a expressão “arquitetura vernacular” seja utilizada como uma “ferramenta de definição” para se discutir as edificações das culturas que entram na órbita desses estudos e preocupações. Reconhece que esse é um campo que interessa principalmente a alguns profissionais, sendo um estudo que não obedece a currículo, método ou qualificação profissional. Considera essa uma fraqueza, mas, ao mesmo tempo, um ponto forte do campo: não teria os constrangimentos de uma disciplina, mas sua utilidade e praticidade incertas lhe colocariam problemas de método e de objetivo. Critica o “determinismo ambiental” como a principal explicação para a arquitetura vernacular, assim como o “determinismo climático”, e reconhece a importância dos estudos antropológicos que apontam traços culturais fundamentais para o entendimento da arquitetura de vários povos. Aponta a necessidade de uma abordagem interdiscipinar nesse campo, mas observa que os métodos e instrumentos utilizados têm mantido a especificidade de cada disciplina. Advoga que esses métodos distintos sejam articulados conforme a necessidade do objeto em foco. Advoga também a possibilidade de construção de métodos alternativos e defende a introdução de conteúdos antropológicos e sociológicos na educação dos arquitetos. Sobre as aplicações práticas do tipo estudo da arquitetura vernacular lista: a conservação in situ de exemplares; a criação de museus a céu aberto; criações contemporâneas com emprego de materiais locais e uso de técnicas tradicionais e produção de habitações de baixo custo. Aponta, por fim, as ameaças que pairam sobre essa arquitetura em conseqüência de sua destruição deliberada, de indiferença, do abandono devido a migrações, da ignorância do seu valor histórico e social e do baixo status atribuído à habitação que produz. Seu estudo seria importante para a manutenção da diversidade das soluções humanas no que diz respeito à moradia, e à acomodação de funções comunitárias, pelos seus impactos positivos em termos de conforto climático e sustentabilidade e, ainda, por questões ligadas à história e à identidade cultural dos povos, das quais a arquitetura é expressão.