Oliver comenta aqui a transferência de tecnologia para os países em desenvolvimento e questões relacionadas à inovação e à difusão tecnológica. Questiona a necessidade de transferência tecnológica do “ocidente” para esses países e a falta de consideração com as culturas afetadas, ressaltando o quanto a transferência é tributária de relações de poder e dominação. Os principais fenômenos de difusão tecnológica decorreriam de conquistas, colonização e imigração. A circulação de especialistas que difundem detalhes construtivos, ornamentos e formas e a inveja e a admiração por outras culturas também levam à adoção de processos e produtos. Mas a maior parte da transferência tecnológica ou da introdução de inovações se deu historicamente por meio de trocas culturais, contatos e nomadismo. Para o estudo da arquitetura vernacular Oliver considera mais importante, contudo, discutir a difusão tecnológica e a disseminação e assimilação cultural. Ressalta que todas as culturas são híbridas e que a disseminação cultural ou tecnológica é um fenômeno espacial. Mas observa que, por razões culturais ou religiosas, algumas inovações não são incorporadas independentemente do avanço que possam significar. Assim, seria fundamental entender também os processos de assimilação/rejeição de inovações. Para tanto, Oliver menciona a distinção feita pelos antropólogos entre difusão intracultural ou “primária” e difusão intercultural ou entre culturas. Esta última, freqüentemente, carrega uma maior carga de mudança ou transformação e ocorrendo historicamente por meio das rotas, dos vales e pela passagem adiante de objetos, e também de modo territorialmente descontínuo. Já a resistência à inovação pode vir da tradição, mas, em geral, decorre da falha em se adequar aos padrões de utilidade e de comportamento do grupo receptor. Consciência da necessidade, utilidade evidente e melhorada, viabilidade econômica e compatibilidade cultural seriam então os fatores que influenciam a aceitação de inovações, além do desejo de status. Na arquitetura vernacular nenhuma inovação “ocidental” foi mais difundida ou aceita do que a folha metálica galvanizada e corrugada. Mesmo sendo climaticamente desconfortável, é barata, fácil de fixar, mais eficiente do que a palha, protege bem da chuva e vem em tamanhos que se adaptam bem ao tamanho dos cômodos. Juntamente com as latas e tambores de óleo alisadas, são bastante usadas no mundo dos pobres. Oliver não recomenda sua estética, mas acha que esse tipo de reciclagem pode ser melhor do que comprar materiais e equipamentos caros. A difusão intracultural, por sua vez, freqüentemente se irradia a partir de um centro de poder, caindo de intensidade na periferia ou limites externos de uma cultura. Pode também ocorrer entre culturas contíguas onde a língua não é uma barreira e onde circunstâncias sociais e ambientais são compatíveis. Mas as inovações ocorrem mais por intrusão ou intervenção do que por difusão. Podem ter impactos positivos se respeitam as culturas nas quais são introduzidas, suas necessidades, costumes, economia. Oliver ressalta o caráter “ecológico” da maior parte da arquitetura vernacular, mas admite a introdução de novas tecnologias quando recursos esgotados e não renováveis possam ser substituídos por outros e num processo acompanhado por treinamento e transmissão do seu uso na construção, garantindo-se sua sustentabilidade futura.