O traço marcante no norte de Portugal seria a maestria no manuseio do granito, onde estão disponíveis também o quartzito e o xisto. O quartzito é muito duro, pesado e difícil de trabalhar. O xisto, por sua vez, é retirado em lascas e usado como cobertura e revestimento, mas sem aparecer em grandes blocos resistentes. O material preferencial é o granito, empregado nos cunhais e lintéis mesmo nas casas que utilizam xisto, e usado em blocos em construções travejadas sem argamassa e sem aparelho miúdo. As maiores pedras são empregadas nos lintéis das portas. No Minho, aparece como “paleta” (bloco retangular em fiadas desencontradas); “pasta” (pranchas utilizadas nos muros e vedações com juntas de reboco caiado); “esteios da vinha” (talhado de modo retilíneo). É usado ainda em muros de pedra solta nas “bouças”, onde crescem os pinheiros e carvalhos; nos “lameiros”, lugares de pastagem e corte de feno; nos taludes, chamados “canteiros” ou “arretos”; nas “poldras” e “pontões” para a travessia de regatos e ribeiros; nas calçadas de grandes lajes das ruas e largos e no calcetamento de paralelepípedos nas estradas principais; em utensílios, como nós, pedras de lagar e salgadeiras. O ápice da arte estaria no “espigueiro” ou “canastro” para armazenamento de milho, anexo inevitável da casa rural. O Norte e o Sul de Portugal contrastam entre si, respectivamente, como civilização do granito e civilização do barro. A arquitetura de pedra, dependendo da sua natureza, lança mão dos calcários no litoral e do granito no maciço antigo, mas sem subordinação extrema ao material. Apesar de utilizado pelos romanos, o granito já era encontrado em ocupações anteriores, os “castros” – povoações implantadas nos montes com muralhas de aparelho miúdo e irregular, casas redondas de aparelho regular helicoidal e choças redondas para abrigo do gado e resguardo de instrumentos agrícolas – mas com uso distinto daquele da civilização megalítica anterior ou mesmo contemporânea. Conclui-se o texto com o estudo de Carvela, aldeia com aspecto “megalítico” - casas construídas com blocos maiores que o usual, fornos com grandes pedras afeiçoadas, lameiros cercados por lajes com até dois metros de altura - e próxima de uma das mais importantes necrópoles neolíticas do país, cujos dolmens foram em parte destruídos pelos construtores da região. Indica-se pesquisa que confirme em região com aldeias similares, como a serra do Brunheiro, se há pedras atuais que possam ter sido esteios de dolmens e locais onde ainda se afeiçoem lajes da mesma forma. O autor acredita que o próprio ambiente montanhoso é fonte de arcaísmos aparentes, porém anota a persistência da técnica e a continuidade do gosto e aptidão para mover grandes lajes de granito. Em suma, a continuidade de uma civilização que remonta ao fim do Neolítico, quando o pastoreio e a agricultura fixaram populações no solo.