ISBN 978-9929-778-74-0
VIEIRA, Carolina Nascimento.
VIEIRA, Carolina Nascimento. Legitimação da precariedade da Taipa de Mão no Brasil por Políticas Públicas de Habitação Rural, entre outros. In: SIACOT, 2018, La Antigua Guatemala. Memorias del 18° SIACOT, 2018. Tema 3 - ARQUITECTURA CONTEMPORÁNEA, Pág. 446 -458.
Carolina Nascimento Vieira possui graduação em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal da Bahia – UFBA (1999), especialização em Arquitectura i Sostenibilitat (2007) pela Fundació Politècnica de Catalanya, mestrado em Arquitectura, Energia i Medi Ambient (2009) pela Universitat Politècnica de Catalunya, doutorado em Arquitetura e Urbanismo, linha de pesquisa Ciência e Tecnologia da Conservação e do Restauro, (2017) pela UFBA e pós-doutorado em Clima Urbano pelo Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais. Atualmente é Professora Adjunta (DE), do Núcleo de Tecnologia, Projeto e Planejamento da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal da Bahia e integrante dos grupos de pesquisa de Clima Urbano de Salvador e Arqpop.
Fonte:
http://lattes.cnpq.br/8404355076113726
Não se aplica
Este artigo tem como objetivo resgatar brevemente a origem da taipa de mão no Brasil e sua participação na constituição social do país, demonstrando a formação do preconceito que aflora sobre a mesma. O entendimento da taipa de mão como habitus precário é legitimado até os dias atuais por políticas públicas de habitação de interesse social rural. Esta explanação pretende relacionar a sua precarização à redução do seu uso. Por se tratar de pesquisa que aborda questões de comportamento social, usou-se como base o conceito de habitus fundamentado em autores como Bourdieu e Jessé de Souza. Segundo o texto, essa forma de construir que utiliza a terra foi introduzida no Brasil por Portugal, através de técnica com bom acabamento, denominada Tabique, e por países africanos, através da taipa de mão em versão mais rústica. Atualmente, na zona rural do Nordeste brasileiro, região de maior influência africana, moradias em taipa de mão sem os devidos cuidados técnicos são amplamente utilizadas, acarretando edificações precárias e na consequente redução de seu uso ao longo dos anos, perpetuando o preconceito estabelecido desde a formação social do país, entre o período colonial e o século XIX. No período colonial, a taipa de mão permeava os mais distintos ambientes e classes sociais em diferentes configurações, pois ocorre, na visão de mundo do português, no cruzamento com elementos culturais dos agentes sociais dominados, fazendo surgir uma terceira cultura repleta de influências de povos então considerados inferiores e de seus habitus precarius. No início do século XIX, com a vinda da família real, o estilo de vida europeu passa a receber extrema valorização e esses costumes, alheios à realidade local, se tornam o habitus primário. Este é o momento em que expressivamente é dada a distância social em meio físico, tanto topográfico quanto construtivo, da taipa de mão rústica, que se consolida como habitus precário. O artigo demonstra, então, as relações existentes entre a queda dos números de domicílios construídos com paredes em taipa de mão não revestida nos últimos anos no Brasil e a legitimação, por políticas públicas de habitação rural de interesse social, do preconceito que paira sobre essa técnica construtiva tradicional. Para tanto, através de pesquisa bibliográfica, foram identi-ficados os agentes existentes no cenário social rural brasileiro, especialmente no Nordeste, visando compre-ender a representatividade da taipa de mão rústica no mesmo. Além disso, através do acesso a páginas eletrônicas do Governo Federal ou de instituições específicas, foram investigados o conceito de déficit habi-tacional utilizado nacionalmente e seus números, frente ao objeto de estudo, assim como foram pesquisa-das as diretrizes de dois programas habitacionais de ação no cenário em questão. Os dados dos Censos Demográficos sobre domicílios construídos com paredes em taipa de mão não revestida foram levantados entre 1991 e 2010. Chega-se à conclusão que a inexpressividade de ações informativas governamentais que valorizem técnicas construtivas locais e a atuação de programas habitacionais no meio rural, terminam por fortalecer nos indivíduos uma rejeição à sua tradição construtiva e o desejo de adquirir moradia feita com materiais convencionais. Este fato está relacionado, dentre outras causas, ao desconhecimento do potencial da taipa de mão, ocorrendo uma valorização dos materiais industrializados do mercado da construção civil, os quais são de difícil acesso físico e financeiro para grande parte desta população, que termina por viver em moradias feitas em materiais naturais locais e, conforme tradição construtiva popular, porém de forma inadequada por falta de informação e assistência técnica.
Alessandra Anunciação
Márcia Sant’Anna