OLIVER, Paul. “Earth as a building material today”. In: OLIVER, P.Built to meet needs: cultural issues in vernacular architecture. Oxford: Architectural Press, 2006, pp. 129-142.
Eixos de análise abordados:
Tecnologia tradicional no território e na edificação: vigências e usos contemporãneos
Dados sobre o autor(es) e obra:
Paul Hereford Oliver nasceu em Nottingham, Inglaterra, em 1927. É historiador da arquitetura e escreve também sobre blues e outras formas de música afro-americana. Foi pesquisador do Oxford Institute for Sustainable Development da Oxford Brooks University, de 1978 a 1988, e Associated Head of the School of Architecture. É conhecido internacionalmente pelos seus estudos sobre arquitetura vernacular, em especial, como editor da Encyclopedia of Vernacular Architecture of the World (1997) e pelo World Atlas of Vernacular Architecture (2005). A enciclopédia reúne pesquisas e estudos sobre arquitetura vernacular em todas as regiões do mundo, sendo a principal referência sobre o tema com esta abrangência até o momento. O texto em exame é datado de 1982 e está publicado na coletânea em referência na parte que trata da transmissão das técnicas construtivas tradicionais.
Resumo :
Neste texto Oliver defende a importância da construção em terra para os países pobres e ressalta a apropriação estética e ornamental que vem sendo feita dessa arquitetura em contraste com as avaliações de sua fragilidade em face de desastres naturais, especialmente terremotos. Observa que embora a arquitetura de terra seja ainda o principal método construtivo no mundo todo, apesar da presença das técnicas ocidentais de construção, entende que seu abandono e as políticas que a destroem decorrem do baixo status que lhe é conferido e também da exposição de suas fragilidades em contextos de desastres naturais. Seus méritos, contudo, seriam muitos: não tem custo e sua matéria-prima se encontra, em teoria, no sítio da construção; não requer técnicas sofisticadas e equipamentos especiais e emprega mão de obra de modo intenso com treinamento relativamente modesto. Assim, é acessível aos pobres, seu suprimento é vasto e produz um material reciclável. A terra trabalha bem à compressão, mas tem pouca possibilidade de vencer vãos e constituir coberturas. Mas em sociedades que dominam essa técnica, soluções foram encontradas para a construção de domos com adobe, como nos bazares do Irã. Oliver menciona também as técnicas para conferir mais reforço, resistência e flexibilidade, como as que combinam armações de madeira ou de caniço com o barro e as que lhe adicionam esterco, assim como os elementos que conferem durabilidade a essa arquitetura em zonas tropicais como os grandes beirais. O adobe seria o método de construção mais comum, tendo suas raízes na cultura árabe. A terra socada, misturada com pedregulhos e compactada com o uso de uma fôrma de madeira também é citada como outro método muito utilizado e que aparece em países tão distantes como França, Marrocos, Índia, China e Inglaterra, neste último, numa variedade denominada “cob walling”. As propriedades térmicas das construções em terra são ressaltadas, assim como sua adequação aos climas quentes. Sua diversidade de tipos e métodos faz com que sejam as construções mais comuns no mundo todo, estimando-se a existência de milhões. Embora sejam construções arriscadas em áreas sujeitas a terremotos e inundações, Oliver considera possível desenvolver formas de tornar a construção em terra mais segura. Para ele, o principal entrave ao uso mais extensivo dessas construções estaria na mente burocrática dos governantes e na associação dessas técnicas com o subdesenvolvimento. Muitas vezes prefere-se a importação de cimento, aço e outros materiais “modernos”, por questões de imagem e daí a importância de mudar a imagem negativa da casa de terra como forma de assegurar sua continuidade no futuro. Oliver fornece vários exemplos de uso contemporâneo da arquitetura de terra, ressaltando as experiências com adobe realizadas nos EUA e a obra de Hassan Fathy, arquiteto egípcio, que nos anos de 1940 e 50 foi responsável pelo projeto de Nova Gourna – estrutura desenhada para abrigar 900 famílias que usou a construção em terra, promoveu o treinamento de artesãos e o desenvolvimento de habilidades locais.