Bibliotecas e Superintendências Estaduais do IPHAN
Referência bibliográfica:
KANAN, Maria Isabel. Manual de Conservação e Intervenção em Argamassas e Revestimentos à Base de Cal. Brasília, DF: IPHAN. Programa Monumenta, 2008.
Eixos de análise abordados:
Tecnologia tradicional no território e na edificação: vigências e usos contemporãneos
Dados sobre o autor(es) e obra:
Maria Isabel Kanan é arquiteta formada pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1976), com especialização pelo ICCROM e mestrado em Conservação Arquitetônica pelo Institute of Architectural Advanced Studies/University of York/ Inglaterra (1992), doutorado em Ciência da Conservação pela Bournemouth University, Inglaterra (1995). É arquiteta do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional desde 1984 e professora do Mestrado Profissional em Conservação e Restauração de Monumento e Núcleos Históricos da UFBA (MP-CECRE) desde 1996. Tem experiência na área de conservação e restauração arquitetônica, com ênfase na pesquisa das tecnologias de cal e terra e na capacitação de profissionais e equipes de obras. É membro do ICOMOS atuando no comitê de patrimônio arquitetônico de terra e moderadora do grupo de paisagem.
4. Acabamentos e pinturas – conservação de superfícies
5. Procedimentos para projetos e obras
6. Anexos
Glossário
Bibliografia
Resumo :
O livro corresponde a uma análise prática e científica do uso da cal e das argamassas a base de cal, com vistas à sua reutilização na reconstituição de argamassas em obras de conservação e restauração. Bem ilustrado, o livro contém fotos de edifícios onde argamassas e pintura à base de cal foram utilizadas, além de descrever ensaios para a caracterização destas argamassas, seu preparo e aplicação. Inicialmente, a autora apresenta um breve histórico do uso da cal como aglomerante, assim como sua composição e usos em argamassas antigas. Explica as vantagens do uso das argamassas de cal na conservação e reconstituição de revestimentos em função das suas propriedades e de como estas influenciam a proteção das estruturas antigas. Segundo Kanan, o conhecimento da composição das argamassas dos edifícios históricos é necessário durante uma intervenção de recomposição ou reintegração, devendo-se evitar danos à argamassa existente. Para esta caracterização são utilizados diversos ensaios, desde os mais simples e que podem ser feitos na obra, aos mais sofisticados e que necessitam de suporte laboratorial. A autora completa as informações descrevendo a condição ideal para se fazer uma argamassa utilizando como agregado a pasta de cal, obtida através da extinção da cal virgem, com maturação de pelo menos três semanas. Assim, a pasta de cal tende a ter uma granulometria mais fina e a sua imersão em água garante que todo o óxido de cálcio se hidrate e permaneça na forma hidratada, ou seja, não iniciando o seu processo de cura. Kanan alerta que, na impossibilidade de utilização da cal extinta, a cal hidratada em pó poderá ser utilizada, mas recomenda que se prepare a pasta imergindo o pó em água por pelo menos uma semana antes do preparo da argamassa. Ressalta, no entanto, que, no caso da utilização da cal em pó, a qualidade da argamassa será inferior. A autora ainda informa que a argamassa de cal, se bem protegida, poderá ser preparada, armazenada e usada durante toda a obra. O manual traz ainda a descrição de vários ensaios para caracterização de argamassas, incluindo a descrição das técnicas de aplicação com os respectivos cuidados que se deve ter na execução e utilização de argamassas na reintegração e capeamento de alvenarias, nos rebocos de acabamento, nos estuques e nas juntas, assim como descreve os diferentes tipos de argamassas de reconstituição, inclusive das que utilizam fibras, aditivos naturais e orgânicos. Para o acabamento, apresenta desde o preparo da superfície até o preparo das tintas com os diferentes tipos de aditivos e a técnica de aplicação. Por fim, a autora apresenta os procedimentos a serem seguidos em projetos e obras de restauro que utilizam a cal na argamassa ou no acabamento, além de uma lista de ensaios e procedimentos para a caracterização das argamassas e de seus materiais constituintes. Exemplifica o trabalho com obras de restauro executadas. O manual é bastante prático, bem detalhado e ilustrado.
OLIVER, Paul. “Earth as a building material today”. In: OLIVER, P.Built to meet needs: cultural issues in vernacular architecture. Oxford: Architectural Press, 2006, pp. 129-142.
Eixos de análise abordados:
Tecnologia tradicional no território e na edificação: vigências e usos contemporãneos
Dados sobre o autor(es) e obra:
Paul Hereford Oliver nasceu em Nottingham, Inglaterra, em 1927. É historiador da arquitetura e escreve também sobre blues e outras formas de música afro-americana. Foi pesquisador do Oxford Institute for Sustainable Development da Oxford Brooks University, de 1978 a 1988, e Associated Head of the School of Architecture. É conhecido internacionalmente pelos seus estudos sobre arquitetura vernacular, em especial, como editor da Encyclopedia of Vernacular Architecture of the World (1997) e pelo World Atlas of Vernacular Architecture (2005). A enciclopédia reúne pesquisas e estudos sobre arquitetura vernacular em todas as regiões do mundo, sendo a principal referência sobre o tema com esta abrangência até o momento. O texto em exame é datado de 1982 e está publicado na coletânea em referência na parte que trata da transmissão das técnicas construtivas tradicionais.
Resumo :
Neste texto Oliver defende a importância da construção em terra para os países pobres e ressalta a apropriação estética e ornamental que vem sendo feita dessa arquitetura em contraste com as avaliações de sua fragilidade em face de desastres naturais, especialmente terremotos. Observa que embora a arquitetura de terra seja ainda o principal método construtivo no mundo todo, apesar da presença das técnicas ocidentais de construção, entende que seu abandono e as políticas que a destroem decorrem do baixo status que lhe é conferido e também da exposição de suas fragilidades em contextos de desastres naturais. Seus méritos, contudo, seriam muitos: não tem custo e sua matéria-prima se encontra, em teoria, no sítio da construção; não requer técnicas sofisticadas e equipamentos especiais e emprega mão de obra de modo intenso com treinamento relativamente modesto. Assim, é acessível aos pobres, seu suprimento é vasto e produz um material reciclável. A terra trabalha bem à compressão, mas tem pouca possibilidade de vencer vãos e constituir coberturas. Mas em sociedades que dominam essa técnica, soluções foram encontradas para a construção de domos com adobe, como nos bazares do Irã. Oliver menciona também as técnicas para conferir mais reforço, resistência e flexibilidade, como as que combinam armações de madeira ou de caniço com o barro e as que lhe adicionam esterco, assim como os elementos que conferem durabilidade a essa arquitetura em zonas tropicais como os grandes beirais. O adobe seria o método de construção mais comum, tendo suas raízes na cultura árabe. A terra socada, misturada com pedregulhos e compactada com o uso de uma fôrma de madeira também é citada como outro método muito utilizado e que aparece em países tão distantes como França, Marrocos, Índia, China e Inglaterra, neste último, numa variedade denominada “cob walling”. As propriedades térmicas das construções em terra são ressaltadas, assim como sua adequação aos climas quentes. Sua diversidade de tipos e métodos faz com que sejam as construções mais comuns no mundo todo, estimando-se a existência de milhões. Embora sejam construções arriscadas em áreas sujeitas a terremotos e inundações, Oliver considera possível desenvolver formas de tornar a construção em terra mais segura. Para ele, o principal entrave ao uso mais extensivo dessas construções estaria na mente burocrática dos governantes e na associação dessas técnicas com o subdesenvolvimento. Muitas vezes prefere-se a importação de cimento, aço e outros materiais “modernos”, por questões de imagem e daí a importância de mudar a imagem negativa da casa de terra como forma de assegurar sua continuidade no futuro. Oliver fornece vários exemplos de uso contemporâneo da arquitetura de terra, ressaltando as experiências com adobe realizadas nos EUA e a obra de Hassan Fathy, arquiteto egípcio, que nos anos de 1940 e 50 foi responsável pelo projeto de Nova Gourna – estrutura desenhada para abrigar 900 famílias que usou a construção em terra, promoveu o treinamento de artesãos e o desenvolvimento de habilidades locais.