VIEIRA, Carolina Nascimento; MOREIRA, Paula Adelaide M.S.; ANDRÉ, Sumaia Boaventura. Taipa de mão no contexto da precariedade habitacional, do saneamento ambiental e das políticas públicas. In: NEVES, Célia et al. Arquitetura e Construção com Terra no Brasil. Tupã, São Paulo: ANAP, 2022, 251 p.: il. – (PPGARQ ; v. especial). cap. 2.6, p. 158-169. ISBN 978-65-86753-59-2. E-book.
Eixos de análise abordados:
Saberes tradicionais e espaço arquitetônico
Tecnologia tradicional no território e na edificação: vigências e usos contemporãneos
Dados sobre o autor(es) e obra:
Carolina Nascimento Vieira possui graduação em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal da Bahia – UFBA (1999), especialização em Arquitectura i Sostenibilitat (2007) pela Fundació Politècnica de Catalanya, mestrado em Arquitectura, Energia i Medi Ambient (2009) pela Universitat Politècnica de Catalunya, doutorado em Arquitetura e Urbanismo, linha de pesquisa Ciência e Tecnologia da Conservação e do Restauro, (2017) pela UFBA e pós-doutorado em Clima Urbano pelo Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais. Atualmente é Professora Adjunta (DE), do Núcleo de Tecnologia, Projeto e Planejamento da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal da Bahia e integrante dos grupos de pesquisa de Clima Urbano de Salvador e Arqpop.
Paula Adelaide Mattos Santos Moreira possui graduação em Arquitetura e Urbanismo e Licenciatura em Desenho e Plástica, ambas pela Universidade Federal da Bahia - UFBA (1998 e 2014, respectivamente), Especialização em Gestão Informatizada em Recursos Hídricos pela UFBA (2001), Mestrado em Geografia pela UFBA (2004) e Doutorado em Arquitetura e Urbanismo pela UFBA (2017). Atua profissionalmente como servidora pública, no cargo de Analista de Reforma e Desenvolvimento Agrário no Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária - INCRA. Participa do grupo de pesquisa GeografAR - A Geografia dos Assentamentos na Área Rural (PósGeo UFBA) e do Grupo de Pesquisa Arqpop (PPGAU UFBA). Faz parte, como colaboradora, do corpo docente da Residência Au+E/ UFBA - Assistência Técnica e Direito à Cidade.
Sumaia Boaventura André Possui graduação em Medicina pela Universidade Federal da Bahia - UFBA (1977), Mestrado em Saúde Comunitária (1982), e Doutorado em Medicina e Saúde (2011), ambos pela UFBA. É Professora Titular do Departamento de Medicina Preventiva e Social, da Faculdade de Medicina da Bahia/Universidade Federal da Bahia. Tem experiência na área de Saúde Coletiva, com ênfase em Politicas de Saúde, atuando principalmente nos seguintes temas: Educação médica, Educação e comunicação em saúde, Planejamento em saúde e Modelos assistenciais, Acidentes.
O texto discorre sobre a técnica construtiva da taipa de mão no Brasil em três distintos segmentos: o pro-cesso histórico, sobre o qual o texto esclarece que a sua origem no Brasil foi proveniente de Portugal através da técnica, com bom acabamento, denominada Tabique e, de países africanos, através da taipa de mão, em versão mais efêmera e rústica, sem maiores acabamentos ou elementos que garantam sua durabilidade ou salubridade, apesar de a terra ser magistralmente utilizada em edificações nesse continente. Desse modo, no período colonial brasileiro, a depender da cultura construtiva local, esta era realizada com primor ou rústica, sendo associada, então, à moradia de pessoas sem recursos. No século XIX, esse aspecto segregador foi ampliado graças ao contexto histórico de valorização da forma de vida européia e desvalorização da cul-tura local, passando a ser mais utilizada nas zonas menos valorizadas das cidades. Entende-se, desse modo, que, as origens do preconceito em relação à taipa de mão remetem à própria participação desta no processo de formação social do país. Atualmente, as edificações resultantes de seu emprego se materializam no ter-ritório nacional em diversos contextos, mas sobretudo, no contexto rural. Seu uso ocorre aí de forma auto-gerida promovendo grande adaptação a diferentes cenários. Esse tipo de moradia é indicativo também de resistência camponesa relacionada à sua permanência no campo, frente ao aspecto da concentração fundi-ária e à consequente inviabilidade de acesso à terra, realidade predominante no Nordeste brasileiro. Esse tema é então discutido no texto, que trata da predominância dessa tipologia em Acampamentos de Traba-lhadores Rurais e da conveniência de sua efemeridade ao ser atribuída à moradia de posseiros de fazendas, justamente para dificultar a aplicação do direito de posse definitiva da terra por usucapião. O segundo seg-mento abordado pelo texto é de grande relevância no combate à precarização da taipa de mão: a questão da doença de Chagas em seu aspecto ambiental. O enfoque segregador da taipa de mão, socialmente for-mado, está associado à visão de que esta técnica de construção é determinante na propagação da doença de Chagas. Entretanto, o texto deixa claro que esta moléstia, na verdade, é um reflexo da forma equivocada com que a população humana explora e ocupa o ambiente, destruindo ecossistemas e determinando a mi-gração de triatomíneos silvestres infectados para as habitações ou o seu peridomicílio. A configuração de vetores domésticos apenas ocorre onde existem condições favoráveis, tais como frestas em paredes de qualquer material, inclusive em bloco cerâmico e em zonas urbanas. As autoras apontam que as ações de melhorias habitacionais podem não ser uma solução decisiva, visto que o controle dirigido ao vetor não é definitivo. O terceiro segmento abordado no texto transcorre sobre políticas públicas brasileiras de habita-ção rural, as quais desprezam qualquer técnica construtiva que não esteja inserida no ciclo de consumo de materiais industrializados. O texto expõe as formas atuais de políticas públicas de habitação rural e se de-bruça sobre as duas mais representativas, PNHR (Programa Nacional de Habitação Rural) e MHCDCh (Me-lhorias Habitacionais para o Controle da Doença de Chagas) - Funasa, ambas ligadas ao Programa Nacional de Desenvolvimento (PAC), constatando que estas servem-se da precarização da taipa de mão e utilizam mecanismos de atrelamento ao uso de materiais construtivos convencionais, impulsionando interesses do mercado da construção civil. Esses programas também não atendem à toda a demanda habitacional vi-gente, além de oferecer programas arquitetônicos muitas vezes inadequados e limitados à adaptação das famílias rurais à sua realidade. Neste sentido, é possível visualizar que o aprimoramento e o conhecimento popular da técnica, pode tornar a taipa de mão um instrumento eficaz para viabilizar moradias de boa qua-lidade a baixo custo e de forma autônoma, trazendo a independência de sujeitos na promoção de uma melhoria de vida, além do uso de materiais menos poluentes e mais acessíveis.
VIEIRA, Carolina Nascimento. Legitimação da precariedade da Taipa de Mão no Brasil por Políticas Públicas de Habitação Rural, entre outros. In: SIACOT, 2018, La Antigua Guatemala. Memorias del 18° SIACOT, 2018. Tema 3 - ARQUITECTURA CONTEMPORÁNEA, Pág. 446 -458.
Eixos de análise abordados:
Saberes tradicionais e espaço arquitetônico
Tecnologia tradicional no território e na edificação: vigências e usos contemporãneos
Dados sobre o autor(es) e obra:
Carolina Nascimento Vieira possui graduação em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal da Bahia – UFBA (1999), especialização em Arquitectura i Sostenibilitat (2007) pela Fundació Politècnica de Catalanya, mestrado em Arquitectura, Energia i Medi Ambient (2009) pela Universitat Politècnica de Catalunya, doutorado em Arquitetura e Urbanismo, linha de pesquisa Ciência e Tecnologia da Conservação e do Restauro, (2017) pela UFBA e pós-doutorado em Clima Urbano pelo Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais. Atualmente é Professora Adjunta (DE), do Núcleo de Tecnologia, Projeto e Planejamento da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal da Bahia e integrante dos grupos de pesquisa de Clima Urbano de Salvador e Arqpop.
Este artigo tem como objetivo resgatar brevemente a origem da taipa de mão no Brasil e sua participação na constituição social do país, demonstrando a formação do preconceito que aflora sobre a mesma. O entendimento da taipa de mão como habitus precário é legitimado até os dias atuais por políticas públicas de habitação de interesse social rural. Esta explanação pretende relacionar a sua precarização à redução do seu uso. Por se tratar de pesquisa que aborda questões de comportamento social, usou-se como base o conceito de habitus fundamentado em autores como Bourdieu e Jessé de Souza. Segundo o texto, essa forma de construir que utiliza a terra foi introduzida no Brasil por Portugal, através de técnica com bom acabamento, denominada Tabique, e por países africanos, através da taipa de mão em versão mais rústica. Atualmente, na zona rural do Nordeste brasileiro, região de maior influência africana, moradias em taipa de mão sem os devidos cuidados técnicos são amplamente utilizadas, acarretando edificações precárias e na consequente redução de seu uso ao longo dos anos, perpetuando o preconceito estabelecido desde a formação social do país, entre o período colonial e o século XIX. No período colonial, a taipa de mão permeava os mais distintos ambientes e classes sociais em diferentes configurações, pois ocorre, na visão de mundo do português, no cruzamento com elementos culturais dos agentes sociais dominados, fazendo surgir uma terceira cultura repleta de influências de povos então considerados inferiores e de seus habitus precarius. No início do século XIX, com a vinda da família real, o estilo de vida europeu passa a receber extrema valorização e esses costumes, alheios à realidade local, se tornam o habitus primário. Este é o momento em que expressivamente é dada a distância social em meio físico, tanto topográfico quanto construtivo, da taipa de mão rústica, que se consolida como habitus precário. O artigo demonstra, então, as relações existentes entre a queda dos números de domicílios construídos com paredes em taipa de mão não revestida nos últimos anos no Brasil e a legitimação, por políticas públicas de habitação rural de interesse social, do preconceito que paira sobre essa técnica construtiva tradicional. Para tanto, através de pesquisa bibliográfica, foram identi-ficados os agentes existentes no cenário social rural brasileiro, especialmente no Nordeste, visando compre-ender a representatividade da taipa de mão rústica no mesmo. Além disso, através do acesso a páginas eletrônicas do Governo Federal ou de instituições específicas, foram investigados o conceito de déficit habi-tacional utilizado nacionalmente e seus números, frente ao objeto de estudo, assim como foram pesquisa-das as diretrizes de dois programas habitacionais de ação no cenário em questão. Os dados dos Censos Demográficos sobre domicílios construídos com paredes em taipa de mão não revestida foram levantados entre 1991 e 2010. Chega-se à conclusão que a inexpressividade de ações informativas governamentais que valorizem técnicas construtivas locais e a atuação de programas habitacionais no meio rural, terminam por fortalecer nos indivíduos uma rejeição à sua tradição construtiva e o desejo de adquirir moradia feita com materiais convencionais. Este fato está relacionado, dentre outras causas, ao desconhecimento do potencial da taipa de mão, ocorrendo uma valorização dos materiais industrializados do mercado da construção civil, os quais são de difícil acesso físico e financeiro para grande parte desta população, que termina por viver em moradias feitas em materiais naturais locais e, conforme tradição construtiva popular, porém de forma inadequada por falta de informação e assistência técnica.
REZENDE, Marco Antônio Penildo; LOPES, Wilza Gomes Reis. Arquitetura e construção vernácula com terra no Brasil In: NEVES, Célia et al. Arquitetura e Construção com Terra no Brasil. Tupã, São Paulo: ANAP, 2022, 251 p.: il. – (PPGARQ ; v. especial). cap. 1.2, p. 27-35. ISBN 978-65-86753-59-2. E-book.
Eixos de análise abordados:
Saberes tradicionais e espaço arquitetônico
Tecnologia tradicional no território e na edificação: vigências e usos contemporãneos
Dados sobre o autor(es) e obra:
Marco Antônio Penido Rezende - Graduação em Arquitetura e Urbanismo (UFMG, 1987), Mestre em
Arquitetura e Urbanismo (UFMG, 1998), Doutor em Construção Civil (Politécnica/USP, 2003). Pós-doutorado
Programa Preservação Histórica, Universidade de Oregon, EUA (2010). Pesquisas, atividades de ensino,
extensão e publicações nas áreas de: arquitetura vernácula, técnicas construtivas vernáculas e antigas,
arquitetura de terra, técnicas retrospectivas, história das técnicas construtivas, sustentabilidade,
conservação e patologia das construções, restauração e revitalização arquitetônica e urbana, inovação
tecnológica na produção de arquitetura, interfaces tecnologia x arquitetura, história das técnicas.
Wilma Gomes Reis Lopes- Possui graduação em Arquitetura pela Universidade Federal de Pernambuco
(1978), Especialização em Urbanismo (1985) na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Mestrado
em Arquitetura, pela Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo - EESC/USP (1998) e
Doutorado em Engenharia Agrícola pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP, 2002), na área de
concentração Construções Rurais e Ambiência, com ênfase em materiais alternativos de construção. É
professora Titular do Curso de Arquitetura e Urbanismo, ligada ao Departamento de Construção Civil e
Arquitetura, Centro de Tecnologia, da Universidade Federal do Piauí (DCCA/CT/UFPI).
Para introduzir o tema de Arquitetura Vernácula no Brasil, os autores enfatizam a grande diversidade natural
e cultural que existe no território brasileiro, e a articulam com as várias soluções construtivas que refletem
os materiais disponíveis em cada local. Em seguida, são citados diversos autores que discorrem sobre o que
seria a arquitetura vernácula, assim como o que ela representa para além da materialidade. Chega-se à
conclusão de que existe uma relação intrínseca entre essa arquitetura e as construções oriundas do saber
popular, em que são utilizados materiais locais e há uma adaptação à paisagem do entorno. Ela interage
com o ambiente em que se encontra inserida, respeitando o clima, os materiais, tradições e identidade
arquitetônica do local, valorizando, dessa forma, a identidade cultural. Assim, a arquitetura vernácula pode
se configurar num caminho para a sustentabilidade das construções e das relações sociais e culturais. Os
autores ressaltam a riqueza da arquitetura vernácula brasileira, ao mesmo tempo em que lamentam a sua
desvalorização enquanto campo de estudos e a falta de conhecimentos específicos sobre o tema, que
acabam por generalizar ou fornecer informações insuficientes sobre esse universo multidisciplinar. Em
seguida, apresenta-se a arquitetura vernácula com terra, produzida no Brasil, considerando-se a
continuidade e as mudanças encontradas no seu uso. Aqui são mostradas quais técnicas construtivas e tipos de moradias são mais encontrados em cada região do país e porquê - quais foram as influências externas que levaram a esses desenvolvimentos. Nas regiões Nordeste, Centro-Oeste e em parte da Norte percebe-se a influência africana, com o uso de plantas quadradas ou retangulares, telhados com duas águas, coberturas vegetais e vedação de pau a pique e adobe. Na região Sul, as técnicas de construção com terra sempre estiveram associadas à influência europeia. A região Sudeste guarda um rico patrimônio de edificações construídas com adobe, pau-a-pique e taipa de pilão. As técnicas construtivas com terra, chegadas ao Brasil com os colonizadores portugueses e os africanos trazidos como escravos, foram basicamente a taipa de pilão, o adobe e a taipa de mão ou pau a pique, que predominaram no país. A partir disso, se conclui que a construção com terra, adotada desde o início da colonização em todo o território brasileiro, permaneceu e se desenvolveu quando e onde sua utilização foi confirmada pela experiência do solo e do clima e onde se dava a melhor adaptação ao meio. Os autores também descrevem como, a partir das mudanças sociais e econômicas, a introdução da produção do tijolo cerâmico levou ao crescente desuso das técnicas com terra nas construções, apesar de o adobe e o pau a pique continuarem presentes em várias regiões do país. No final do texto, são compreendidas as permanências e mudanças na construção vernácula no Brasil, com ênfase na taipa-de-mão e no adobe- cada um com suas particularidades. A difusão da taipa de mão no país devido à facilidade de sua execução, da transmissão do “saber fazer” e do aproveitamento de materiais disponíveis no local foi muito grande. Em relação ao adobe, foram observadas algumas particularidades, como, por exemplo, a maneira de executar a alvenaria através de diferentes tipos de assentamento ou o uso de estrutura em madeira e fechamento em adobe. A dimensão do adobe também é variável. Para concluir, os autores exaltam a importância do estudo e da preservação da arquitetura vernácula de terra, não somente como patrimônio construído, mas também a sua importância social e cultural. Além de possibilitar uma melhor qualidade de vida e o empoderamento das populações locais. fornece a mão de obra e conhecimento para a restauração das construções históricas de terra.
CARVALHO, Ronaldo Marques de; MIRANDA, Cybelle Salvador; SOUZA, José Antonio da Silva; MACÊDO, Alcebíades Negrão; BESSA, Brena Tavares. A preservação do “saber fazer”. A taipa-de-mão do “Canto do Sabiá”. In: Vitruvius, Arquitextos, maio de 2015.
Eixos de análise abordados:
Saberes tradicionais e espaço arquitetônico
Conceitos e métodos
Tecnologia tradicional no território e na edificação: vigências e usos contemporãneos
Dados sobre o autor(es) e obra:
Ronaldo Nonato Ferreira Marques de Carvalho é graduado em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal do Pará (1973) e Mestre em Arquitetura pelo PROARQ/Universidade Federal do Rio de Janeiro (2006). Doutor em Engenharia de Recursos Naturais pelo Programa de Pós-graduação em Engenharia de Recursos Naturais da Amazônia PRODERNA/UFPA (2014). Pós-doutorado em história da Arte pela Universidade de Lisboa.
Cybelle Salvador Miranda, possui graduação em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal do Pará (1997), Mestrado em Planejamento do Desenvolvimento pelo Núcleo de Altos Estudos Amazônicos da Universidade Federal do Pará (2000), Doutorado em Ciências Sociais (Antropologia) pela Universidade Federal do Pará (2006). Pós-doutorado em História da Arte pela Universidade de Lisboa. Atualmente é professor adjunto IV da Universidade Federal do Pará.
José Antonio da Silva Souza possui graduação em Engenharia Química - Departamento de Engenharia Química (1978) e mestrado em Engenharia de Materiais e Metalurgia PUC-RJ (1980). Doutor em Engenharia pela UFPA (PRODERNA - UFPA). Atualmente é professor Associado da Universidade Federal do Pará, experiência na área de Engenharia Química, com ênfase em Processos Inorgânicos, em Engenharia de Materiais e Metalurgia.
Alcebíades Negrão Macêdo possui graduação em Engenharia Civil pela Universidade Federal do Pará - UFPA (1994), mestrado em Engenharia de Estruturas pela Escola de Engenharia de São Carlos Universidade de São Paulo - EESC/USP (1996) e doutorado em Engenharia de Estruturas pela Escola de Engenharia de São Carlos Universidade de São Paulo - EESC/USP (2000). Atualmente é professor Associado nível 3 da Faculdade de Engenharia Civil do Instituto de Tecnologia da Universidade Federal do Pará FEC/ITEC/UFPA.
Brena Tavares Bessa possui graduação em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal do Pará (UFPA). Atualmente, é colaboradora do Laboratório de Conservação, Restauração e Reabilitação (LACORE), onde desempenha funções em projetos e pesquisas relacionadas à área de restauração e reabilitação de edificações, aliada ao estudo da tecnologia dos materiais, e mestranda do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Pará (UFPA).
No Estado do Pará, especificamente, na sua capital Belém, podem ser observadas diversas edificações que se utilizaram da técnica construtiva denominada taipa de mão. Para melhor contextualização, desta técnica vernacular que é tão fundamental, cita-se um exemplo de edificação construída aos seus moldes e que serve como estudo de caso para este trabalho, a residência, Canto do Sabiá. Esta propriedade foi adquirida em 1933 pelo alemão Carl Fetcher, a fim de servir como casa de veraneio para a sua família. A propriedade já possuía uma construção residencial com características coloniais e foi modificada segundo os interesses do dono. Fetcher veio para o Brasil trabalhar na empresa Berringer & Cia e, como ele, muitos estrangeiros se assentaram na região, em decorrência ao ápice da produção de borracha na Amazônia. Esses estrangeiros foram responsáveis por grandes transformações tecnológicas na região, que ainda era configurada por um cenário bastante colonial. A residência “Canto do Sabiá”, situada à Rua Nossa Senhora do Ó, no bairro da Vila, na Ilha de Mosqueiro, possui volumetria requintada, características de um chalé urbano, próprio do estilo eclético do século XX, e grande semelhança com edifícios que podem ser encontrados em regiões da Alemanha na Europa. Um traço marcante da arquitetura alemã apresentado no edifício, são as marcações em argamassa na sua fachada, semelhantes aos tramos usados no sistema enxaimel (sistema construtivo alemão), que foram incorporados à residência, em virtude da origem da família. Porém, é necessário entender que a técnica utilizada no “Canto do Sabiá” foi a taipa de mão proveniente de Portugal. O sistema enxaimel é apenas evocado pelos relevos em massa na fachada do edifício, empregado apenas como um recurso estético e identitário. A taipa é, genericamente, uma técnica construtiva vernacular, que se utiliza de terra molhada ou umedecida, sem que este material seja passado por nenhum processo de melhoramento de sua composição, ou seja, usado em sua forma natural. Existe mais de um tipo de taipa sendo que, a taipa de pilão e a taipa de mão, empregada no edifício em estudo, são as formas mais utilizadas no Brasil. A taipa de mão, ou também denominada no Estado do Pará como tabique, possui um sistema de amarração feito com cipó, no qual se cria um painel transfurado que é finalizado a partir do preenchimento desse com o barro. A taipa de mão está presente em muitas regiões do Brasil, e a divulgação do “saber fazer” esta técnica é um modo de preservá-la, já que se apresenta como patrimônio imaterial brasileiro e mundial. A casa de taipa tem valor histórico, principalmente para a história da técnica construtiva, e, mais uma vez, conservar essas tradições culturais populares é indispensável, perpetuando as suas práticas e também as suas transformações. Sendo assim, o estudo das técnicas tradicionais contribui para garantir a sua continuidade e o seu, aperfeiçoamento.
Graciela Maria Viñuales, Célia M. M. Neves, L. Silvia Rios
Onde encontrar:
Acervo da pesquisadora Sílvia Pimenta d’Affonsêca
Referência bibliográfica:
VIÑUALES, Graciela Maria (coordenadora), NEVES, Célia M. Martins, RIOS, L. Silvia. Arquitecturas de Tierra em Iberoamérica. Buenos Aires: Impresiones Sudamérica, 1994.
Eixos de análise abordados:
Saberes tradicionais e espaço arquitetônico
Tecnologia tradicional no território e na edificação: vigências e usos contemporãneos
Dados sobre o autor(es) e obra:
Os autores fazem parte de um grupo de pesquisa da rede HABITERRA do programa CYTED – Programa de Ciência y Tecnlogia para el Desarollo. Graciela Viñueles é arquiteta, de nacionalidade argentina, e coordena o Centro de Pesquisa “Barro na Argentina”.
Célia Neves é brasileira, engenheira civil e trabalhou no CEPED- BA (Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Bahia).
Luis Silvio Ríos é arquiteto e trabalha Centro de Tecnologia Apropiada, no Paraguai.
Sumário obra:
Apresentação (Alberto Calla Garcia, arq)
Mapa Rede Habiterra
Técnicas Construtivas
Centros Operativos
Bibliografia
Glossário
Resumo :
O livro é resultado de um levantamento sobre técnicas construtivas em terra, elaborado por grupo pesquisadores do Habiterra do CYTED – Programa de Ciência Y Tecnologia para el Desarrollo, tendo com rede temática a Sistematatización del uso de la Tierra en Viviendas de Interes. O grupo é formado por representantes da Argentina, Brasil, El Salvador e Paraguai. A área de abrangência do estudo foi o próprio limite do CYTED, ou seja a América Ibérica, tendo como limite temporal desde a antiguidade até os dias atuais. A obra se divide em quatro partes. A primeira, composta por textos que explicam as diferentes técnicas construtivas, vem acompanhada por fichas esquemáticas que descrevem essas técnicas e suas possíveis variações. O primeiro dos quatro textos que intercalam as fichas, de autoria de Luis Silvio Dias, trata das construções em terra com paredes monolíticas, exemplificando as diversas variações da técnica construtiva conhecida no Brasil como taipa de pilão, assim como as diferentes nomenclaturas e materiais utilizados nas diversas regiões estudadas. Também traz informações sobre as soluções adotadas para minimizar os problemas de umidade e sismos. O segundo texto, de Mario Flores, trata das variações da arquitetura de terra que faz uso de uma trama de madeira como estrutura de fixação do barro, denominada de taipa de mão, taipa de sopapo ou pau a pique, no Brasil; quincha na Argentina e bahareque nos demais países. As variações desta técnica, vão desde o material da trama (madeira rústica, serrada, bambu) até ao enchimento com terra, com ou sem cal, utilizando fibras, palha etc. O terceiro texto, de Célia Neves, apresenta um breve histórico sobre o uso das alvenarias de terra desde a antiguidade até os nossos dias. Em seguida relata as inovações tecnológicas realizadas nessa técnica, cujos objetivos geralmente visam a identificação de solos apropriados, a estabilização, a impermeabilização e a dosagem dos materiais, além do estabelecimento de parâmetros para ensaios e para o desenvolvimento de métodos de controle, de fabricação e/ou execução. Neves analisou e catalogou 19 tipos de sistemas construtivos em alvenaria de terra. O quarto texto, de autoria de Graciela Viñuales, trata de sistemas construtivos menos conhecidos, como “mampuesto cortado”, que consiste em cortar a terra, geralmente em forma de paralelepípedo, e utilizá-la diretamente para a construção. A terra pode ser de pasto ou de certa profundidade que nunca foi removida. É também exposta uma variação da técnica do pau-a-pique, no que toca ao material usado, ao modo de se fazer a trama e a maneira como a terra de enchimento é utilizada. Por fim, as vantagens e desvantagens do uso dessas técnicas são apresentadas. Todos os textos são acompanhados de fichas, compondo um catalogo de técnicas construtivas, onde são apresentados um croqui com o modelo da construção, a técnica construtiva, o sistema estrutural, a proporção dos materiais básicos, as ferramentas necessárias, se é ou não permitido ampliações, aberturas e instalações embutidas, se tem tratamento contra agentes agressivos e controle de qualidade, entre outras informações. Na segunda parte do livro consta a lista dos centros de pesquisa sobre o tema, trazendo informações gerais tais como: endereço, responsável, objetivo do centro e abrangência geográfica. A terceira parte apresenta uma vasta bibliografia sobre o tema, tendo como abrangência os países envolvidos no CYTED, e, finalmente, a quarta parte corresponde a um glossário de termos técnicos utilizados nas diferentes regiões abrangidas pela pesquisa.
ARQUITETURA DE TERRA: UMA VERSÃO BRASILEIRA. Exposição organizada por Giovanna Rosso del Brenna. Centro Cultural Francês – Rio de Janeiro. 6 a 29 de maio de 1982. Solar de Montignny, PUC- RJ.
Eixos de análise abordados:
Saberes tradicionais e espaço arquitetônico
Tecnologia tradicional no território e na edificação: vigências e usos contemporãneos
Dados sobre o autor(es) e obra:
Giovanna Rosso del Brenna é italiana e historiadora da Arte. É docente da Università Cattolica del Sacro Cuore, em Milão, desde 2001, e da Università degli Studi di Genova, desde 2000. Foi também Professora Adjunta da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ) entre 1978 e 1990.
A obra é o catálogo da exposição “Arquitetura de Terra” organizada por Giovanna Rosso Del Brenna, no Solar Grandjean de Montigny e Centro Cultural Francês do Rio de Janeiro, em maio de 1982. Apresenta pequenos textos baseados no livro de Silvio de Vasconcelos sobre sistemas construtivos tradicionais brasileiros, descrevendo as técnicas da taipa de pilão, do pau a pique e do adobe, seguidos de vários exemplos de edifícios construídos com estas técnicas, em diferentes estados do Brasil. O catálogo traz ainda exemplos de autoconstrução da década de 1970, com vínculos com as técnicas construtivas tradicionais e destaca um trabalho desenvolvido pela arquiteta Vera Maria Ferraz, que se encontra no Conselho do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Turístico do Estado de São Paulo - CONDEPHAAT, sobre construções recentes de taipa de pilão em Mogi das Cruzes, no qual a autora, tendo encontrado alguns mestres taipeiros, descreve a técnica através desses mestres e identificar essas edificações. A obra também apresenta os resumos e as respectivas bibliografias de algumas propostas e experimentações desenvolvidas com o uso de técnicas tradicionais, tais como: Memória descritiva do Anteprojeto para a Vila de Monlevade, Sabará - MG, 1936, de Lucio Costa; Taipa. Projeto da comunidade de Cajueiro Seco - PE, 1963, de Acácio Gil Borsoi e Casas de paredes de solo-cimento, de 1948, da Associação Brasileira de Cimento Portland. Por fim, como textos referenciais, traz um texto de Luis Saia, denominado Notas Sobre a Arquitetura Rural Paulista do Segundo Século, publicado na revista do Serviço de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, vol. 8, Rio de Janeiro, 1944, no qual o arquiteto paulista trata da técnica construtiva em terra nos séculos XVIII e XIX, fazendo um estudo comparativo entre os edifícios existentes deste período e considerando o tipo de solo utilizado. Outro texto de referência, tem como autor Carlos Lemos e discorre sobre as arquiteturas do litoral e do interior, mostrando as diferenças construtivas em função do clima e dos materiais disponíveis nas respectivas regiões. O mesmo texto também trata das mudanças no panorama da arquitetura após a revolução industrial. Por fim, o catálogo apresenta o resumo da experiência de Maria Pace Franco de uso da terra como material de construção no quadro da Reforma Agrária da Argélia.
Edna M. Pinto, Bianca de Abreu Negreiros, Cintia Vieira e Alain Henrique Souza
Onde encontrar:
Anais do I Congresso Internacional de História da Construção Luso-Brasileira, disponível na internet.
Referência bibliográfica:
PINTO, Edna M.; NEGREIROS, Bianca de Abreu ; VIEIRA, Cintia; SOUZA, Alain Henrique. Taipa em João Câmara/RN, solução para abalos sísmicos. In: 1º Congresso de História da Construção Luso-brasileira, Vitória, ES. 04 a 06 de setembro, Campus da Universidade Federal do Espírito Santo. 2013.
Eixos de análise abordados:
Tecnologia tradicional no território e na edificação: vigências e usos contemporãneos
Dados sobre o autor(es) e obra:
Edna M. Pinto é Doutora em Ciência e Engenharia de Materiais pela Universidade de São Paulo –USP (São Carlos) e Professor Adjunto III do Centro de Tecnologia, Departamento de Arquitetura da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Bianca de Abreu Negreiros é Mestre em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN.
Cintia Vieira é Estudante do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN.
Alain Henrique Souza é estudante do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN.
O artigo que comunica pesquisa realizada pelos autores foi apresentado no I Congresso de História da Construção Luso-brasileira, realizado em Vitória-ES, em 2013.
Informações prestadas pelos próprios autores.
Sumário obra:
Resumo/Abstract
Introdução
O Nascimento do Projeto Taipa
Descrição Construtiva
Considerações Finais
Referências Bibliográficas
Resumo :
Este artigo faz um registro histórico e uma descrição da técnica construtiva em taipa-de-mão empregada na década de 1980, no interior do estado do Rio Grande do Norte, visando a reconstrução de habitações parcialmente ou totalmente colapsadas pela ação de abalos sísmicos, de até 5.3 graus Richter, ocorridos na cidade de João Câmara. Na ocasião, o Ministério do Interior (MINTER) abriu uma comissão especial (Portaria nº 28/MINTER de 3/2/1987) que realizou um relatório de necessidades físicas e financeiras para a área, viabilizando um plano de reconstrução/recuperação das edificações baseado no emprego da taipa com painéis pré-fabricados. O “Projeto Taipa” proporcionou aos habitantes locais o acesso a financiamento governamental e o emprego de mão-de-obra do Batalhão de Engenharia do Exército. O estudo apresenta, por meio de levantamento bibliográfico, entrevistas e visitas in loco, uma breve descrição da tipologia empregada no projeto Taipa e as importantes contribuições que podem ser identificadas nessa experiência, dentre elas o emprego de painéis modulados na constituição do entramado de madeira das paredes e o uso de solo adequado à confecção da vedação, o que, ainda assim, não impediu o surgimento de patologias, conforme apontadas neste estudo, as quais foram fruto, principalmente, da ausência de manutenção.
Biblioteca da Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
Referência bibliográfica:
SILVA, Maria Angélica da. “Pontal da Barra (Brasil, NE)”. In: OLIVER, Paul (edit). Encyclopedia of Vernacular Architecture of the World. Cambridge - UK: Cambridge University Press, 1997, p. 1.632-1.633.
Eixos de análise abordados:
Tecnologia tradicional no território e na edificação: vigências e usos contemporãneos
Dados sobre o autor(es) e obra:
Maria Angélica da Silva é graduada em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal de Minas Gerais, possui Mestrado em História Social da Cultura pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e doutorado em História pela Universidade Federal Fluminense (1998), com bolsa sanduíche cursada na Architectural Association School (Londres). É professora associada da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Alagoas (UFAL) e, atualmente, é coordenadora do Programa de Pós Graduação desta Faculdade. Tem experiência nos temas da história da paisagem, do urbanismo e da arquitetura, iconografia, arquitetura moderna e contemporânea, patrimônio e design de produtos culturais. Coordena o Grupo de Pesquisa Estudos da Paisagem desde 1998.
Pontal da Barra é um distrito da cidade de Maceió, capital de Alagoas, que fica localizado numa faixa de terra entre o mar e a lagoa de Mundaú. Segundo a autora, a área seria habitada por uma população descendente de índios Caetés e brancos. A planta da vila é resultado dos caminhos estabelecidos pelos habitantes para alcançar a lagoa, já que a base da vida local é a pesca. As casas surgem ao longo desses caminhos assim como os coqueiros. A pesca é feita em canoas tradicionais e com o uso de redes, e a cata de mariscos é feita com as mãos e por meio de armadilhas. Inicialmente, as casas eram totalmente construídas em palha de coqueiro trançada sobre estrutura de madeira, mas há também casas com vedações em taipa de sopapo. Homens, mulheres e crianças tecem as redes na frente das casas e, como onde há rede há renda, no povoado também se tece o filé em cores muito vivas que, segundo a autora, remetem à paisagem. Devido ao desenvolvimento do turismo na região, o artesanato é uma fonte de renda e as mulheres exibem os filés que fabricam nas fachadas das casas. Devido à instalação de uma planta industrial de fabricação química de álcool clorídrico, a pesca teria diminuído bastante. O verbete não traz informações detalhadas sobre o espaço das casas, mas contém fotografia da localidade.
OLENDER, Mônica Cristina Henriques Leite. A técnica do pau-a-pique: subsídios para a sua conservação. Salvador: Dissertação de Mestrado em Arquitetura e Urbanismo, Programa de Pós-Graduação da UFBA. Salavador, 2006.
Eixos de análise abordados:
Conceitos e métodos
Saberes tradicionais e espaço arquitetônico
Tecnologia tradicional no território e na edificação: vigências e usos contemporãneos
Dados sobre o autor(es) e obra:
Mônica Cristina Olender possui graduação em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal de Juiz de Fora (1999), especialização (2003) e mestrado (2006) em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal da Bahia. Atualmente é Professora Assistente da Universidade Federal de Juiz de Fora. Entre 2006 e 2011, coordenou o Curso de Especialização em Gestão do Patrimônio Cultural, no Instituto Metodista Granbery - JF/MG, e, entre 2008 e 2011 atuou como professora titular do Curso de Arquitetura e Urbanismo do Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora. Tem vasta experiência em preservação do patrimônio ferroviário, tendo participado de vários projetos dessa natureza Tem experiência também na área de Arquitetura e Urbanismo, com ênfase em elaboração de projetos de conservação e restauração de bens imóveis. Integra, desde 2012, o Comitê Brasileiro do Conselho Internacional de Monumentos e Sítios - ICOMOS.
2. A terra como matéria prima para a construção (15)
3. A terra e a madeira: aspectos gerais (28)
4. O sistema construtivo do pau-a-pique (46)
5. Intervenção em edifícios com valor cultural construídos com pau-a-pique (68)
6. Conclusão (92)
7. Bibliografia (95)
8. Apêndice (104)
9. Anexo (108)
Resumo :
O objeto da dissertação é a técnica construtiva do pau-a-pique, também conhecida como taipa de mão, e a conservação e restauração de edifícios assim construídos. O pau-a-pique é apresentado como uma das técnicas construtivas mais antigas do Brasil, ainda em vigência e fartamente utilizada inclusive em edifícios e sítios reconhecidos pela UNESCO como patrimônio da humanidade. Em virtude do desconhecimento sobre esta técnica e das matérias primas utilizadas, de manutenção inadequada e de desastres naturais, muitas construções desse tipo são perdidas a cada ano. A autora ressalta o grande preconceito que ainda existe com relação ao seu emprego, e afirma que, ao contrário do que muitos pensam, o pau-a-pique pode ser altamente resistente e seguro se executado e mantido de maneira correta. Mônica Olender ressalta também a importância cultural dos edifícios brasileiros construídos em terra crua e, num breve histórico, informa sobre a utilização da técnica no Brasil e sobre sua importância para a história da arquitetura brasileira. Com relação à técnica propriamente dita, a autora apresenta as diversas formas como pode ser encontrada, incluindo os materiais que a constituem. Com isso, contribui para o aperfeiçoamento das intervenções de conservação e restauro realizadas nesses edifícios históricos. O objetivo de Olender é mostrar o quanto essa técnica é eficiente e eficaz e que se trabalhada de maneira correta e se for bem conservada, pode permanecer em perfeito estado por longos anos como demonstram os exemplos expostos na dissertação. Os dados foram obtidos através de entrevistas com profissionais especializados na utilização da terra crua para a construção e em pesquisas de laboratório e de campo. A dissertação contém boa documentação fotográfica dos edifícios construídos, parcial ou totalmente, com essa técnica nos estados do Rio de Janeiro e Minas Gerais.
WEIMER, Günter. Da Perenidade do Transitório. In: Projeto - revista brasileira de arquitetura, planejamento, desenho industrial e construção, n.75, maio 1985. São Paulo: Projeto Editores Associados Ltda, p.63-66.
Eixos de análise abordados:
Saberes tradicionais e espaço arquitetônico
Tecnologia tradicional no território e na edificação: vigências e usos contemporãneos
Dados sobre o autor(es) e obra:
Günter Weimer é arquiteto, graduado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1963), mestre em História da Cultura pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (1981) e doutor em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de São Paulo (1990). Atualmente é professor convidado do Programa de Pós-graduação em Urbanismo (PROPUR) da Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Tem experiência na área de Arquitetura e Urbanismo, com ênfase em Arquitetura e Urbanismo, atuando principalmente nos seguintes temas: arquitetura popular, história da arquitetura, imigração alemã, açorianos no Brasil e Rio Grande do Sul.
O artigo corresponde a reflexões do autor a partir de estadia de férias em vila de pescadores da Ilha de Itaparica, na Bahia. No texto, realiza um contraponto constante entre Itaparica e Salvador, que fica do outro lado da Baía de Todos os Santos, associando essas localidades, alternadamente, a diferentes tipos de permanência e transitoriedade. Se as construções modernas são feitas em aço e concreto, materiais que lhes confeririam perenidade, muitas são demolidas. Em contrapartida, muitos barracos de palha e barro revelam longevidade tipológica e construtiva. Weimer afirma que as moradias e o seu arranjo na vila visitada seriam similares às construções do litoral da Costa do Marfim, a partir da comparação de fotos de Itaparica com ilustrações da obra de Bardou e Arzoumanian, Arquiteturas de Adobe(Gustavo Gili, 1979). A vila se compõe de casas alinhadas em uma linha paralela ao mar, com uma rua principal, sem pavimentação, definida pelas casas dispostas irregularmente. A ligação da rua interna com o areal se dá por travessas estreitas ao longo da fileira de casas. Os espaços públicos são como “salas de estar” da vila, à maneira do espaço comunal das aldeias ancestrais. Tipologicamente, as casas são estreitas e longas, perpendiculares à praia, aproveitando, ao máximo, o vento marinho. Um corredor longitudinal se mantém sempre aberto, enquanto os demais cômodos, dispostos ao longo deste, são ventilados por cima já que as paredes não chegam até a cobertura, com exceção da central, e os cômodos não possuem forro. Este espaço superior serve de canal de ventilação. Construtivamente, as casas baianas são marcadas por cunhais roliços, fincados no chão, com esteios intermediários marcando portas e janelas, e paredes constituídas de uma trama ortogonal de galhos mais finos, suportando vedação em taipa de mão. O telhado de duas águas, cuja cumeeira é sustentada por uma parede central, tinha cobertura de folhas de palmeira, a qual foi substituída por telha canal e, mais recentemente, por telhas de fibrocimento. As casas são construídas coletivamente, em regime de adjutório (mutirão). Para Weimer, as construções estão perfeitamente adaptadas às condições climáticas e, por meio de adaptações paulatinas e localizadas às novas técnicas e condições, logram manter o fundamental, que é a vida comunitária aldeã.