NASCIMENTO, Iris Salles. O espaço do terreiro e o espaço da cidade: cultura negra e estruturação do espaço urbano. 1989. 132 p. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal da Bahia, Faculdade de Arquitetura, 1989.
Eixos de análise abordados:
Tecnologia tradicional no território e na edificação: vigências e usos contemporãneos
Sumário obra:
Apresentação
Introdução
Metodologia
PRIMEIRA PARTE: O CONTEXTO
1. O Conceito de Candomblé
2. Os Nagôs e o Século XIX
3. O Negro e a Sociedade Brasileira no Século XIX
4. Espacialização dos primeiros templos.
5. Avaliação crítica da literatura existente.
Notas da primeira parte
SEGUNDA PARTE: O OBJETO
1. Produção e consumo do espaço
2. Do lúdico ao político
3. Espaço do terreiro no espaço da cidade
4. A cidade e o terreiro – Reflexos do crescimento urbano sobre o espaço do terreiro
5. Estruturação do espaço do terreiro e do templo
6. Relações entre a configuração, o uso e o significado do espaço
7. Caracterização do espaço do terreiro ontem e hoje.
8. Graus de privacidade dos espaços sagrados
9. Conclusões
Notas da segunda parte
Bibliografia.
Resumo :
A dissertação enfatiza o estudo do espaço religioso afro-baiano quanto aos aspectos arquitetônicos e de sua integração no espaço urbano da cidade de Salvador durante os séculos XIX e XX. A autora defende a necessidade da documentação arquitetônica dos terreiros, assim como ocorreu com outros espaços da cidade, com vistas a se fomentar o interesse científico pelo tema, além da produção de um acervo que garanta a preservação desses espaços. O trabalho está dividido em duas partes. A primeira aborda os aspectos socioculturais dos negros baianos que seriam determinantes do seu modo de se apropriar do espaço. Mostra ainda a distribuição, principalmente central, dos primeiros terreiros na cidade. A segunda parte, mais pertinente para o tema da arquitetura popular, trata da estruturação do espaço religioso, enfatizando o terreiro de candomblé e suas características arquitetônicas. O estudo se baseia no modelo de terreiro Jêje-nagô devido à importância dos povos de língua ioruba para a cidade. Foram estudados quatro terreiros, dois do século XIX e dois do século XX, analisando-se o início da implantação e a consolidação dos terreiros de candomblé na cidade de Salvador. A autora analisa a visão de espaço do negro e do branco e a escolha das áreas para implantação dos terreiros, bem como sua distribuição no espaço urbano, o que seria determinado pelo comportamento e pela cultura dos negros, assim como pelo ambiente e pela forma. Após analisar a estruturação do espaço do terreiro como um processo determinado pelas necessidades das atividades ali praticadas e pelas simbologias religiosas, a autora discorre sobre a relação entre a configuração, o uso e o significado dos seus espaços internos. A configuração do conjunto arquitetônico é analisada quanto ao sítio físico, à implantação e à morfologia em um capítulo bem detalhado. A autora conclui que os terreiros alcançaram identidade própria, uma vez que transmitem uma linguagem espacial com símbolos religiosos que refletem a cultura do povo de santo e, assim, são facilmente reconhecidos pela sua semelhança arquitetônica. Apresenta ilustrações, fotos e plantas das edificações.
Estudante voluntária: Sarah Diana Frota de Albuquerque
Data da revisão:
sexta-feira, 11 Julho, 2014 - 10:00
Responsável pela Revisão:
Marcia Sant’Anna
ISBN ou ISSN:
052156422 0
Autor(es):
Hamilton Botelho Malhano
Onde encontrar:
Biblioteca da Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
Referência bibliográfica:
MALHANO, Hamilton Botelho. “Judjá-Juruna (Mato Grosso)”. In: OLIVER, Paul (edit). Encyclopedia of Vernacular Architecture of the World. Cambridge - UK: Cambridge University Press, 1997, p. 1.627-1.628.
Eixos de análise abordados:
Saberes tradicionais e espaço arquitetônico
Território e etnicidade
Dados sobre o autor(es) e obra:
Hamilton Botelho Malhano é arquiteto, etnólogo e museólogo, Mestre em História da Arte-Antropologia pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro e Doutor em História Social pelo Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da mesma Universidade. Foi Diretor Adjunto do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (1994-1998) e conselheiro do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN, como representante do Museu Nacional da UFRJ. Integra o quadro docente da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFRJ desde 1997. Atuou como colaborador e ilustrador em várias publicações etnológicas e possui obras publicadas sobre artesanato e arquitetura vernacula.
O verbete informa que as aldeias do grupo tupi denominado no Brasil de Judjá-Juruna (ou Yudjá-Juruna) ficam perto do rio Manissauá-Missu, no baixo curso do rio Xingu, na parte nordeste do Parque Nacional do Xingu. Nelas, uma construção de caráter coletivo situa-se de modo proeminente: é a casa de farinha, alimento cuja cocção no formo é atividade masculina. Esta construção abriga também um fogo comum onde as mulheres preparam uma bebida fermentada a base de mandioca. Os adultos se reúnem aí no nascer ou no por do sol em dias festivos, exceto as meninas jovens que não podem ainda participar das comidas coletivas até seu casamento ou nascimento do primeiro filho. Os genros constroem suas casas próximas às dos sogros, formando pequenos grupos de residências familiares. Os Judjá-Juruna não têm um padrão formal de habitação. Constroem casas retangulares, quadradas, elípticas ou circulares. Podem ter divisões internas, mas a maior parte dos espaços íntimos é demarcada por jiraus e redes. Um espaço matrimonial novo é demarcado num canto segregado da casa para que o casal jovem possa ser monitorado pelos mais velhos. O fogo familiar para cozinhar fica no centro das habitações. Casas elípticas com paredes e coberturas independentes se tornaram comuns no médio e baixo Xingu, o que resultou da diminuição do número de vigas que formam as coberturas das construções do alto Xingu. Entre os Judjá-Juruna, a cobertura das casas forma pequenos beirais sobre as paredes, o que produz uma cobertura cônica e não em abóbada como no alto Xingu. As escoras periféricas podem estar ou não revestidas com palha. Assim, as casas do baixo e médio Xingu não possuem os detalhes arquitetônicos das construções da região do alto. Esta forma, contudo, é aceita pelo grupo Judjá-Juruna como transitória. O verbete é ilustrado com um corte esquemático da habitação.
ANDRADE, Lúcia M. M. de. "Os Juruna no Médio Xingu". In: SANTOS, Leinad Ayer O.; ANDRADE, Lúcia M. M. de. (Orgs.). As hidrelétricas do Xingu e os povos indígenas. São Paulo: CPI-SP, 1988. P. 147-52.
FRANCHETTO, Bruna. Laudo antropológico : a ocupação indígena da região dos formadores e do alto curso do Rio Xingu. Rio de Janeiro : s.ed., 1987, p. 159.
Disponível em PDF na internet, conforme endereço constante na referência bibliográfica.
Referência bibliográfica:
SILVEIRA, Aline Vargas da. Os "casarões de Ibatiba": um patrimônio vernáculo a ser preservado. Programa de Pós-Graduação e Arte - Centro de Artes. Universidade Federal do Espírito Santo.
Eixos de análise abordados:
Saberes tradicionais e espaço arquitetônico
Tecnologia tradicional no território e na edificação: vigências e usos contemporãneos
Território e etnicidade
Dados sobre o autor(es) e obra:
Aline Vargas da Silveira é arquiteta e urbanista graduada pela Universidade Federal do Espírito Santo (2009). Possui Mestrado em Artes pela Universidade Federal do Espírito Santo (2012). Atualmente, é professora do Instituto Federal do Espírito Santo, atuando nos cursos Técnico em Edificações e Arquitetura e Urbanismo. O artigo em exame foi produzido a partir de dissertação de mestrado elaborada pela autora no Programa de Pós-Graduação em Arte/Centro de Artes, Universidade Federal do Espírito Santo, em 2012.
O propósito desta obra de Aline da Silveira é o estudo da arquitetura rural do município de Ibatiba, localizado no sul do estado do Espírito Santo, na região do Caparaó. O objeto de análise são os casarões do fim do século XIX e meados do século XX que foram construídos à medida que a lavoura cafeeira ia se desenvolvendo, passando, assim, a fazer parte da paisagem rural da região. Este objeto está ligado diretamente à cultura regional e ao modo de vida da época, sendo isso de extrema importância para a compreensão do tipo de arquitetura que representam. Os casarões são produtos de uma tradição construtiva que remonta a muitas gerações, desde o período colonial, principalmente no que diz respeito aos materiais utilizados e encontrados no local. Nesse contexto, a autora analisa possíveis alterações que ocorreram ao longo do tempo e revela que as técnicas construtivas dominantes eram artesanais, com uso de estrutura de madeira e vedações de pau-a-pique e/ou tijolo cerâmico. O conjunto arquitetônico da fazenda era formado pela casa, terreiro, tulhas e paióis, moinhos, monjolos, engenhos de cana-de-açúcar e abrigo de animais. Porém, boa parte desses componentes não existe mais, havendo apenas vestígios de sua localização. Alguns podem ser identificados por meio de relatos de moradores. A autora acredita que a valorização e a preservação desses exemplares históricos é de extrema importância para o resgate das memórias do lugar, e que pode ser uma boa maneira de promover o desenvolvimento da região.
SÁ, Cristina. Formas e Símbolos em Aldeias Indígenas Brasileiras. In: Projeto – revista brasileira de arquitetura, planejamento, desenho industrial e construção, n° 57, novembro 1983. São Paulo: Projeto Editores Associados Ltda., p.51-56.
Eixos de análise abordados:
Saberes tradicionais e espaço arquitetônico
Tecnologia tradicional no território e na edificação: vigências e usos contemporãneos
Território e etnicidade
Dados sobre o autor(es) e obra:
Cristina Cunha da Costa e Sá possui graduação em Arquitetura e Urbanismo (FAU-UFRJ, 1970), Graduação em Arqueologia (UNESA, 1979), Especialização em Arqueologia (Museu Nacional-UFRJ, 1980), Mestrado em Estruturas Ambientais Urbanas (FAU- USP, 1982), Doutorado em Arquitetura, na área de concentração em Estruturas Ambientais Urbanas (FAU - USP, 1988). Professora aposentada da UFJF- Universidade Federal de Juiz de Fora – MG é pesquisadora da área de História e Teoria da Arquitetura e Urbanismo, com trabalhos publicados que tratam principalmente das relações entre Espaço, Cultura e Sociedade, estudando seus processos de transformação a partir de levantamentos de campo em áreas indígenas, assentamentos de pescadores, favelas e áreas urbanas de baixa renda. Tem experiência em levantamentos de áreas de habitação vernácula, visando sua preservação e utilização enquanto patrimônio cultural e ambiental, assim como no treinamento de equipes para realização de levantamentos técnicos documentais e de campo.
Artigo que estuda a forma espacial como tradução simbólica da sociedade, com boas ilustrações dos esquemas correspondentes, por meio da comparação entre tribos ligadas ao tronco linguístico Macro-Jê e os Karajá e Bororo que falam línguas isoladas desse tronco. Da família linguística Jê são destacadas as tribos centrais dos Xavante e Xerente e, do norte, os Timbiras Ocidentais (Apinayé) e Timbira Orientais (Krahó, Rankokamegra-Canela, Apanyakra-Canela, Dikobye e Krikati). A aldeia tradicional Karajá se configura como uma fileira de casas voltadas para o rio, com circulação principal nesta área e um caminho secundário, perpendicular ao rio, rumo à casa dos homens. Santa Isabel do Morro, uma das poucas aldeias Karajás atuais, embora se pareça com um povoado comum – com duas fileiras de casas paralelas ao rio e uma rua central entre as fileiras – é, propriamente, uma duplicação da fileira Karajá, na medida em que todas as casas se orientam para o rio e não para a rua central. Nas aldeias Bororo as casas se dispõem em círculo, com a casa dos homens no centro e um pátio de dança ao lado. Os setores radiais do círculo são divididos em clãs, cada um com três subdivisões. Na aldeia Bororo de Meruri, a distribuição espacial dos clãs se mantém, ainda que num arranjo em linha reta constituído pelos missionários salesianos. Já as tribos Jês centrais se organizam em arcos. Na aldeia tradicional Xerente, os clãs se distribuem ao longo do arco, com aqueles que têm reciprocidade na vida cerimonial da tribo postos em oposição frontal, enquanto o centro do arco é ocupado por um pátio de reuniões. O arco na aldeia tradicional Xavante volta-se para o rio, desenvolvendo-se os rituais no seu eixo de simetria, com a casa dos meninos não-iniciados nas suas extremidades. A distribuição das casas se dá em função de alianças políticas. No centro da aldeia, o local de reunião dos homens maduros e, afastado deste, o de reunião dos jovens iniciados. As aldeias atuais de Aparecida e São Marcos apresentam traços do esquema tradicional. Apesar de Aparecida ser uma linha reta, com casas orientadas para o rio, e São Marcos um grande círculo, ambas seriam interpretadas como arcos de círculo, como ilustra o local de reunião dos homens no eixo de simetria e, em São Marcos, na interseção dos eixos formados pelas aberturas do círculo. Nas tribos Timbira, a aldeia se estrutura como um grande círculo de segmentos de residências, com caminhos partindo destas ao centro ou pátio de reuniões. Os Krahós e Canelas mantêm essa disposição. Embora tenha formato retangular, a aldeia Apinayé de São José é interpretada como o círculo tradicional e mesmo representada graficamente de tal maneira. A autora destaca que uma mesma forma geométrica costuma ser interpretada de distintas maneiras por cada tribo e que há diferença entre a disposição geométrica real das construções e a sua auto-imagem. Em todos os casos, essa representação da forma espacial se mostrou mais importante que a forma concreta, com implicações na maneira como a aldeia cresce.
OLIVEIRA, Ernesto Veiga de; GALHANO, Fernando; PEREIRA, Benjamim. Construções Primitivas em Portugal. 2ed. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1988.
Eixos de análise abordados:
Saberes tradicionais e espaço arquitetônico
Tecnologia tradicional no território e na edificação: vigências e usos contemporãneos
Dados sobre o autor(es) e obra:
Ernesto Veiga de Oliveira (1910-1990), etnólogo português, foi um dos fundadores do Centro de Estudos de Etnologia e um dos responsáveis pela renovação da Etnografia em Portugal, com extensa produção sobre arquitetura popular. Fernando Galhano (1904-1995) foi um dos fundadores do Museu de Etnologia de Lisboa, versátil desenhista e também autor, sozinho e em parceria, de trabalhos sobre arquitetura popular, sistemas de transporte, tecnologia têxtil, sistemas de moagem e pesca, entre outros. Benjamim Pereira (1928), integrante do Centro de Estudos de Etnologia, foi também dos fundadores do Museu de Etnologia, com trabalhos na mesma área que os demais autores da obra. A primeira edição da obra em exame é de 1969, pelo Centro de Estudos de Etnologia do Instituto de Alta Cultura de Portugal.
Sumário obra:
I PARTE – Construções Primitivas e Elementares
Cap. 1 – Abrigos
I – Abrigos Naturais
II – Abrigos Artificiais
Cap. 2 – Construções de Planta Circular
A – Construções de Planta Circular com Cobertura Cônica de Materiais Vegetais
B – Construções de Planta Circular (ou Quadrada) Inteiramente em Pedra
(Falsa Cúpula)
Cap. 3 – Construções de Planta Quadrangular
A – Construções de Planta Quadrangular Inteiramente em Materiais Vegetais
B – Construções de Planta Quadrangular com Paredes de Pedra e Cobertura
em Materiais Vegetais
Cap. 4 – Barcos de Avieiros
II PARTE – Sistemas Primitivos de Construção
Cap. 5 – Coberturas. Elementos Acessórios da Construção. Diversos.
1) Coberturas
2) Elementos Acessórios da Construção
3) Diversos
Resumé
Índice Geográfico
Índice Analítico
Índice de Desenhos Índice de Figuras
Errata
Resumo :
Obra com abundância de fotos e desenhos, como plantas, cortes e detalhes. O enfoque técnico-construtivo dita a tônica da tipologia e da classificação dos exemplares. A abordagem enfatiza aspectos funcionais, das atividades humanas e condições geoclimáticas, descurando dos aspectos simbólicos. Trata do estudo das formas mais simples e elementares de construção, relacionadas a atividades de caráter arcaico, como abrigos móveis de pastoreio e casas de pescadores, condenadas a desaparecer com o advento dos materiais industriais e a facilidade nos transportes. Os autores dedicam-se primeiro aos abrigos mais elementares. Os “naturais” – como cavernas, grutas e lapas – e os “semi-naturais”, que são melhorias dos anteriores e remanescentes da cultura neolítica nas zonas calcárias do Centro e Sul de Portugal, com casos no Norte, de menores dimensões, onde o granito se decompõe. A maior diversidade aparece nos abrigos “artificiais”. Nos de pedra, registra-se aqueles em “muros e socalcos”, os “simples” e os “malhões”, de pedras secas encasteladas e sem cobertura, no Alentejo, Sintra e Serra da Estrela. Nos abrigos inteiramente de materiais vegetais, distingue-se os “fixos” dos “móveis”. Nos fixos, destacam-se as cabanas, com elemento único formando cobertura e parede, cônicas e de planta quadrangular; as barracas para cultivo do melão nos campos do Tejo e no Alentejo, feitas de tábuas, canas, palhas e ramagens; os abrigos feitos de canas, nas vinhas entre Torres Vedra e o mar, e os de pranchas de cortiça, nas regiões de sobreiros. Nos móveis, descreve-se as “esteiras” e “choços” de pastores no Leste – guarda-ventos e abrigos feitos de palha com elaborada armação de varas -; os abrigos sobre carros (mais raros, ligados ainda ao pastoreio, e distribuídos por todo o país) e casos especiais, como as cabanas de palha de milho no litoral do Porto a Leiria. Depois, o livro trata de construções mais elaboradas, classificadas de acordo com aspectos construtivos e formais. Aborda-se, inicialmente, as de planta circular com cobertura cônica em materiais vegetais, dividindo-as em “inteiriças”, nas que distinguem parede e cobertura do mesmo material e nas de parede de pedra e cobertura vegetal. Nestas surge uma diversidade maior de vestígios, levando a hipóteses sobre a altura das paredes, sobre o material da cobertura - telhas romanas, palha, giesta ou “faxina” recoberta de barro – e sobre sua origem como uma passagem para a pedra de antigas cabanas inteiramente vegetais. As cabanas circulares com cobertura cônica em materiais vegetais apresentam raros exemplares íntegros em regiões arcaizantes ou segregadas. Aquelas com cobertura e parede únicas aparecem na Beira Alta e Alentejo. As do tipo cilíndrico-cônico, com cobertura e parede distintas, surgem apenas como anexos rurais nos currais para gado miúdo (“curveiros”), no Alentejo e nos espigueiros (canastros de varas) no Minho. Das construções de planta circular com paredes cilíndricas de pedra e cobertura cônica de materiais vegetais, há exemplares no Algarve, Alentejo e Beira Alta, como o caso excepcional das barracas de planta arredondada para guarda de barcos e aprestos da apanha de sargaço em Fão e Pedrinhas. Um caso à parte são as construções de planta circular ou quadrada em pedra com fechamento em falsa cúpula, constituída por fiadas horizontais de pedra em diâmetros sucessivamente menores e fechadas por lajes chatas. Em Portugal, são de xisto – no sul, Algarve, Alentejo e Beira Baixa – ou de granito, no norte. Construções sempre de pequenas dimensões, são abrigos temporários, palheiros, pocilgas, queijeiras, moinhos e fornos. Com exemplos pré-históricos e recentes, são alvo de estudo por região em seus aspectos sociológicos e em comparação com análogos europeus. Quanto às construções em planta quadrangular, faz-se classificação similar: cobertura e paredes unitários em matéria vegetal; cobertura e paredes distintas do mesmo material; paredes em pedra e cobertura vegetal. Do primeiro caso, os exemplares são pouco freqüentes. Com cobertura e paredes distintos, são notáveis os palheiros no litoral central, com paredes de tabuado e cobertura de palha, estorno ou junco. No litoral algarvio encontram-se cabanas de junco, estorno ou palha, ligadas à atividade pesqueira, com descrição e história minuciosa dos tipos de cada área, relações socioeconômicas e hipóteses sobre a origem. Exemplares do mesmo tipo encontram-se no Alto Alentejo, Ribatejo e Estremadura, como anexos de unidades agrícolas para recolha de carros e alfaias, currais e depósitos.Das construções em planta quadrangular, com parede de pedra e cobertura vegetal, há descrição minuciosa de exemplares no distrito do Viseu, Médio Tâmega e Baixo Douro. Destaca-se as “malhadas” alentejadas e beiroas, grandes currais unitários para cabras e porcos; as “barracas de sargaço”, abrigos de barcos e utensílios, feitos a partir do depósito do sargaço colhido para adubo, do Douro ao Minho; e os “barcos de avieiros”, da pesca sazonal no Tejo, abrigos de toldos, à beira d´água, ou como extensões dos barcos. Depois desse elenco tipológico, o livro aborda os sistemas primitivos de construção. Primeiro, as coberturas, destacando-se o emprego do material vegetal, em franco desaparecimento e substituição pela telha. Descreve-se a estrutura habitual e as formas da cumeeira, da proteção contra o vento e a abertura para fumaça. Das coberturas em pedra, além da falsa cúpula, registra-se o xisto em escamas de pedra, com pouca inclinação e sobre armações de madeira, como nos espigueiros. E o uso do granito, em placas de grandes dimensões – no Alto Minho, em especial - sem subestrutura, em fornos e espigueiros. Menciona-se ainda o uso da terra como cobertura, na ilha de Porto Santo. Em seguida, são estudados os “elementos acessórios”: esteiras vegetais, pedra (para colunas, pilares, lajes verticais e cachorros), tabiques, taipas, adobes e pastas. Os tabiques são paredes de madeira e materiais leves revestidas de argamassa, usadas em divisórias e, em alguns casos, como paredes externas. As taipas são paredes de terra grossa, amassada e calcada em moldes que depois são retirados, empregadas no Sul como paredes e muros. Os adobes são paralelepípedos de barro amassado, misturado com areia ou palha cortada, feitos em moldes de madeira e secos ao sol, mais comuns na zona litoral do centro, a partir do Aveiro, e no Sul. E a “pasta” compõe-se de grandes placas de granito cujas juntas são argamassadas.
Biblioteca da Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
Referência bibliográfica:
MALHANO, Hamilton Botelho. “Bororo (Mato Grosso)”. In: OLIVER, Paul (edit). Encyclopedia of Vernacular Architecture of the World. Cambridge - UK: Cambridge University Press, 1997, p. 1.624-1.625.
Eixos de análise abordados:
Saberes tradicionais e espaço arquitetônico
Território e etnicidade
Dados sobre o autor(es) e obra:
Hamilton Botelho Malhano é arquiteto, etnólogo e museólogo, Mestre em História da Arte-Antropologia pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro e Doutor em História Social pelo Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da mesma Universidade. Foi Diretor Adjunto do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (1994-1998) e conselheiro do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN, como representante do Museu Nacional da UFRJ. Integra o quadro docente da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFRJ desde 1997. Atuou como colaborador e ilustrador em várias publicações etnológicas e possui obras publicadas sobre artesanato e arquitetura vernacular.
O verbete informa que os Bororo fazem parte do grupo linguístico Macro Gê e seus assentamentos se caracterizam por habitações em círculo formando uma grande praça central. A casa dos homens é construída no centro desse espaço em uma linha imaginária leste/oeste e que divide a aldeia em duas partes. Esta construção tem duas entradas localizadas no eixo norte/sul. As habitações das oito frações tribais, ou clãs, são arranjadas em pares de quatro em cada metade da aldeia. Cada clã é subdividido em sub-clãs ou famílias, e cada família em vários lares, rigorosamente localizados no espaço. Os Bororo perderam seu sistema construtivo tradicional e utilizam um de caráter “regional”. Sua habitação atual é um retângulo de 45 m², com fachadas fronteira e traseira na dimensão maior onde ficam localizadas as duas únicas entradas. A entrada voltada para o centro da aldeia é a social e a dos fundos a privativa. Tradicionalmente, não há divisões internas, mas atualmente já são observados alguns compartimentos. A estrutura da construção consiste em três linhas de pilares de madeira, sendo a do centro mais alta e onde repousa a cumeeira. A cobertura e paredes são de palha trançada. Os espaços internos são divididos por meio de jiraus e esteiras dos casais que habitam a casa. O centro da habitação é comunal, como o centro da aldeia, e lá é feito o fogo para cozinhar, aquecer e espantar insetos. Cada unidade social e o lugar onde sua casa é construída é parte da estrutura social e espacial. Para os Bororo, cada aldeia é o centro do território e do universo. O verbete é ilustrado com um diagrama da organização espacial dos Bororo.
VIERTLER, R. B. As aldeias Bororo, alguns aspectos de sua organização social. In: Revista do Museu Paulista, s. Etnologia, V 2, São Paulo, 1976.
ISBN ou ISSN:
13: 978-0-7506-6657-2 ou 10: 0-7506-6657-9
Autor(es):
Paul Hereford Oliver
Onde encontrar:
Disponível em pdf na Internet, em inglês.
Referência bibliográfica:
OLIVER, Paul. “Necessity and sustainability: The impending crisis”. In: OLIVER, P. Built to meet needs: cultural issues in vernacular architecture. Oxford: Architectural Press, 2006, pp. 411-425.
Eixos de análise abordados:
Conceitos e métodos
Tecnologia tradicional no território e na edificação: vigências e usos contemporãneos
Dados sobre o autor(es) e obra:
Paul Hereford Oliver nasceu em Nottingham, Inglaterra, em 1927. É historiador da arquitetura e escreve também sobre blues e outras formas de música afro-americana. Foi pesquisador do Oxford Institute for Sustainable Development da Oxford Brooks University, de 1978 a 1988, e Associated Head of the School of Architecture. É conhecido internacionalmente pelos seus estudos sobre arquitetura vernacular, em especial, como editor da Encyclopedia of Vernacular Architecture of the World (1997) e pelo World Atlas of Vernacular Architecture (2005). A enciclopédia reúne pesquisas e estudos sobre arquitetura vernacular em todas as regiões do mundo, sendo a principal referência sobre o tema com esta abrangência até o momento. O texto em exame é datado de 1982 e está publicado na coletânea em referência na parte que trata da transmissão das técnicas construtivas tradicionais.
Resumo :
Neste artigo, Oliver faz uma revisão dos estudos já realizados sobre arquitetura vernacular e sobre sua importância para a formação de profissionais mais conscientes sobre o papel estratégico que essa arquitetura pode ter na solução do déficit habitacional mundial e também na produção de edificações e cidades mais sustentáveis. Assinala os estudos pioneiros de Victor Mindeleff (1891) e Lewis H. Morgan (1881) e observa que os antropólogos só começam a prestar atenção nas edificações dos povos que estudam nos anos de 1930, sendo um marco a obra de Grioule (1949) que revelou o simbolismo e os valores atribuídos às edificações dos Dogon de Mali. Durante a ocupação nazista, segundo Oliver, foram realizados os primeiros esforços para documentar a arquitetura rural da França, estudo só publicado nos anos de 1980. Este trabalho enfatizava a tipologia, aspecto da arquitetura vernacular que dominaria também os estudos americanos. Registra os trabalhos do País de Gales, mas ressalta que foi Building in England down to 1540, de Salzman, o trabalho que influenciou a abordagem arqueológica desses estudos que predomina na Grã Bretanha até hoje. Já na Ásia e na Europa, os estudos privilegiaram a arquitetura monumental, mas trabalhos como Habitation des Fali, de Lebeuf (1961), ressaltaram a riqueza das tradições vernaculares do Oriente Médio, do Sul e do Oeste da África e da Ásia. A exposição Arquitetura sem Arquitetos(1964), organizada por Rudofsky no Museu de Arte Moderna de Nova Iorque, por sua vez, fixou e influenciou uma imagem estética para a arquitetura vernacular. Uma abordagem nova e alternativa, entretanto, surgiria com Rapoport a partir da publicação de House, Form and Culture (1969) e outros trabalhos. Nas décadas seguintes, os estudos crescem com trabalhos sobre vários países, que se caracterizam por registros da casa e da vida doméstica como objetos em vias de desaparecimento e sem consideração sobre seu papel no futuro. Estudos internacionais e comparativos entre culturas demoraram a se desenvolver, sendo que o mais interessante como registro arquitetônico e dos processos construtivos surgiu entre 1949-50, intitulado L’Habitat au Cameroun (1952). Começa nessa época a consciência, em algumas escolas de arquitetura, de que o vernacular teria algo a ensinar aos estudantes. Este interesse e a falta de publicação mais abrangente sobre o tema foi o que teria animado Oliver a escrever o livro Dwellings: the House across the World (1984). Em 1988, foi convidado a compilar a primeira enciclopédia sobre o assunto destinada a ser uma ferramenta educacional de arquitetos, mas também de políticos, cientistas sociais, economistas ou quaisquer outros profissionais que sejam chamados a opinar e decidir sobre o ambiente construído. Oliver critica, por fim, o desprezo pela arquitetura vernacular e a mentalidade da produção de “habitação em massa”. Defende-a como a arquitetura sustentável por excelência e ressalta seu caráter fundamental de adaptação às necessidades humanas, o que a coloca como estratégica para a solução dos problemas do mundo no século XXI. Reconhece, contudo, que para que esse potencial seja aproveitado e realizado é preciso investir na formação dos arquitetos e na valorização dessas tradições.
Biblioteca da Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
Referência bibliográfica:
MACEDO, Francisco Riopardense de. “Azorean: Immigrant (Brasil, S)” In: OLIVER, Paul (edit). Encyclopedia of Vernacular Architecture of the World. Cambridge - UK: Cambridge University Press, 1997, p. 1.683-1.684.
Eixos de análise abordados:
Conceitos e métodos
Saberes tradicionais e espaço arquitetônico
Território e etnicidade
Dados sobre o autor(es) e obra:
Francisco Riopardense de Macedo (1921-2007) foi um historiador, paisagista, poeta, urbanista, artista plástico, arquiteto e engenheiro gaúcho. Formado em Engenharia e Urbanismo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, lecionou História da Arte, História das Ciências e História dos Espaços Abertos nesta universidade. Trabalhou na Secretaria Estadual de Obras, foi diretor do Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul, membro da Sociedade de Engenharia do Rio Grande do Sul, membro do Instituto de Arquitetos do Brasil, membro do Instituto Riograndense de Artes Plásticas Francisco Lisboa e membro do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul. Suas principais pesquisas ocorreram no campo da arquitetura e artes plásticas.
Neste verbete o autor informa que os açorianos chegaram ao Brasil em 1792, como parte da política de consolidação do território português no sul do Brasil, para construir vilas nas proximidades do canal do Rio Grande, da boca do rio Jacuí até a atual cidade de Rio Pardo. Trouxeram métodos construtivos e planos para casas e moinhos de trigo. A casa do camponês açoriano é funcional e organizada em três áreas: à esquerda a cozinha, com a prancha do pão, o forno e o fogão; no centro, um cômodo denominado “casa do meio”, com um tablado onde as mulheres jovens sentam e costuram, e à direita o quarto de dormir. Um nicho é construído nas paredes grossas do cômodo do meio para guardar o material de costura das mulheres e, no lado oposto, é posta a cristaleira com os tesouros da família, retratos e lembranças. Transferido para a cidade, esse plano foi modificado. O cômodo do meio foi deslocado para trás e os da frente foram separados por um corredor lhe dá acesso. O cômodo da esquerda, ou cozinha, passou a abrigar o “nicho das agulhas” e o da direita deu lugar à sala de estar que era desnecessária no campo. Por fim, o quarto de dormir foi para cima, no sótão. Esse esquema geral se desenvolveu em habitações maiores como a que existe na Travessa Joaquim Lisboa, em Rio Pardo. São edifícios de grossas paredes de pedra, umbrais maciços e beirais curtos. Os cunhais e umbrais são de pedra lavrada e o resto da alvenaria é feita com pedras irregulares. As paredes internas são de taipa de mão, ou pau a pique, armadas com bambus, galhos e cipós. Nas casas urbanas de dois andares, a planta da casa camponesa original é reproduzida no piso superior, ficando o térreo para comércio ou alojamento de escravos. Os camponeses açorianos logo passaram a se dedicar à criação de gado, estabelecendo um negócio doméstico composto por: moinho, para a produção de farinha de mandioca; celeiro para estocagem de vegetais e grãos; “casa da carne seca”; alojamentos dos escravos; pomar; jardim e área da carruagem. O centro desse espaço produtivo é a casa de dois pisos onde, no térreo, fica também o depósito geral. No Rio Grande do Sul, a herança açoriana é reconhecida no forno oval, na trempe, na grelha, na arca, no banco de madeira com encosto, cujo assento é uma tampa, na cristaleira, nas danças e músicas. Nas áreas urbanas pode-se encontrar também a tipologia do “correr de casas”, que são construídas sob uma única cobertura e têm plantas simétricas que, segundo o autor, decorreriam da simplificação da casa camponesa açoriana. Conhecidas como casas de porta e janela, teriam agora planta de três cômodos organizada ao longo de um corredor lateral. Os moinhos de água e de vento açorianos foram muito usados e documentados no século XIX, sendo lembrados na toponímia de cidades do Rio Grande do Sul. O verbete é ilustrado com plantas e fotografia.
REIS, Nestor Goulart. Quadro da Arquitetura no Brasil. São Paulo: Editora Perspectiva, 1978, 4ª Ed.
SAIA, Luís. “Notas sobre Arquitetura Rural do Segundo Século”. In: Revista do SPHAN, n. 08. Rio de Janeiro: MES, 1944.
ISBN ou ISSN:
13: 978-0-7506-6657-2 ou 10: 0-7506-6657-9
Autor(es):
Paul Hereford Oliver
Onde encontrar:
Disponível em pdf na Internet, em inglês.
Referência bibliográfica:
OLIVER, Paul. “Individualizing Dunroamin”. In: OLIVER, P. Built to meet needs: cultural issues in vernacular architecture. Oxford: Architectural Press, 2006, pp. 333-348.
Eixos de análise abordados:
Construção autogerida em meio urbano: espaços e técnicas
Dados sobre o autor(es) e obra:
Paul Hereford Oliver nasceu em Nottingham, Inglaterra, em 1927. É historiador da arquitetura e escreve também sobre blues e outras formas de música afro-americana. Foi pesquisador do Oxford Institute for Sustainable Development da Oxford Brooks University, de 1978 a 1988, e Associated Head of the School of Architecture. É conhecido internacionalmente pelos seus estudos sobre arquitetura vernacular, em especial, como editor da Encyclopedia of Vernacular Architecture of the World (1997) e pelo World Atlas of Vernacular Architecture (2005). A enciclopédia reúne pesquisas e estudos sobre arquitetura vernacular em todas as regiões do mundo, sendo a principal referência sobre o tema com esta abrangência até o momento. O texto em exame é datado de 1982 e está publicado na coletânea em referência na parte que trata da transmissão das técnicas construtivas tradicionais.
Resumo :
O artigo trata dos subúrbios ingleses, de sua arquitetura e de como os habitantes adaptaram e personalizaram suas habitações. Oliver recorda que os subúrbios ingleses sempre foram alvo de desprezo, preconceito e desqualificação por parte da crítica de arquitetura e do público, embora tenham surgido de uma notável política de solução do déficit habitacional, de provisão de moradias higiênicas e de erradicação dos cortiços vitorianos, realizada entre as duas grandes guerras. Ressalta que os CIAM condenaram os subúrbios como um dos grandes males do século XX. Odiadas por arquitetos e urbanistas, as edificações suburbanas eram vistas como mal desenhadas e planejadas, vulgares e de gosto individualista. Segundo Oliver, parte dessa propaganda buscava abrir caminho para os blocos modernistas que, a partir dos anos 1950, foram construídos por todo o país. Registra como a autoconstrução foi inibida na Inglaterra e explica o sucesso das casas semi-geminadas dos subúrbios pela quantidade de opções e de detalhes estilísticos que era oferecida pelos incorporadores e pela possibilidade de modificação que ofereciam, ainda que cosmética. Observa que a personalização é fruto de um desejo individual de enraizamento no espaço novo, que começa, em geral, no terceiro ano quando as casas precisam ser pintadas. Outro meio de personalização é dar nome às casas que evocam a região de origem dos moradores; pavimentar jardins; fazer canteiros e povoar o exterior com figuras de gnomos e outras. Essas pequenas figuras funcionariam, segundo Oliver, como pequenos falos para marcar território. Os vitrais também seriam formas de personalização e o estudo do seu simbolismo revelaria muito das aspirações e desejos dos seus donos, assim como os interiores e os objetos de decoração. Oliver avalia que no centro dos ataques às casas suburbanas estava seu suposto individualismo, visto então como anti-social pelo pensamento modernista. Nos blocos modernistas, por exemplo, qualquer meio de individualização estava excluído no interior e no exterior. Apesar disso, os subúrbios floresceram e sobreviveram e mesmo os construídos nos anos 1920 jamais se tornaram locais de criminalidade, ao contrário dos conjuntos habitacionais do governo e dos blocos modernistas. Oliver reconhece que o desemprego e falta de equipamentos comunitários pesaram nesse desfecho, mas a humanização e a transformação de alguns desses blocos, teria, na sua opinião, melhorado o quadro. Acha, por fim, que o sucesso das casas suburbanas tem a ver com a disponibilidade de terreno, a configuração dos assentamentos, sua proximidade com meios de transporte e serviços públicos. Essa defesa tem o objetivo de chamar a atenção dos arquitetos para a importância da escolha e do design que facilita a personalização.
Biblioteca da Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
Referência bibliográfica:
LEMOS, Celina Borges. “Timbira (Goiás, Mato Grosso)”. In: OLIVER, Paul (edit). Encyclopedia of Vernacular Architecture of the World. Cambridge - UK: Cambridge University Press, 1997, p. 1.635-1.636.
Eixos de análise abordados:
Saberes tradicionais e espaço arquitetônico
Território e etnicidade
Dados sobre o autor(es) e obra:
Celina Borges Lemos possui graduação em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal de Minas Gerais, mestrado em Sociologia pela Universidade Federal de Minas Gerais e doutorado em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Campinas. É professora associada da Universidade Federal de Minas Gerais. Concluiu em 2008 o pós doutorado na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. Tem experiência na área de Antropologia Urbana, com ênfases em Fundamentos de Arquitetura e Urbanismo, Cultura Urbana, Conservação e Revitalização do Patrimônio. Tem realizado estudos voltados principalmente para os seguintes temas: arquitetura, artes, museologia, estilo, cultura, estética, centralidades, espaços públicos, serviços na contemporaneidade. Pesquisa atualmente a contribuição e o significado da Arquitetura Mineira entre os séculos XVIII e XXI, tendo por referencias principais as cidades históricas e Belo Horizonte.
A arquitetura tradicional dos Timbira, cujos grupos se localizam em Goiás e Mato Grosso, não difere muito daquelas de outras etnias indígenas. A habitação tem planta retangular e telhado com quatro inclinações, com duas portas nos lados maiores do retângulo, sendo a entrada principal voltada para o pátio central da aldeia. A casa tem estrutura de madeira, é coberta com palha e não há divisões internas. Alguns grupos Timbira também constroem outros tipos de habitação, influenciadas pela arquitetura vernacular rural, em adobe ou “barro”, cobertas com palha, sem divisões internas, mas com uma varanda na frente que é utilizada para cozinhar. Dentro há um jirau que serve de apoio, estante, mesa e outros usos, e o chão é coberto com esteiras. As habitações Timbiras são destinadas a famílias nucleares, que constituem a unidade social produtiva e de consumo, mas podem abrigar as famílias de filhas casadas. O assentamento ou aldeia Timbira é circular, com pátio central ligado às habitações por caminhos privativos. As casas formam o círculo mais externo e, atrás delas, há um outro caminho circular. O centro do círculo é um espaço público, político e simbólico, além de destinado a rituais e cerimônias. A expansão do assentamento somente é possível com a ampliação do círculo, pois representa a estrutura social desse povo e somente através da sua localização, seres humanos e objetos podem ser classificados. O controle da cosmologia também se dá por meio de um centro universal que está simbolizado pelo centro da aldeia. O verbete não contém fotos ou ilustrações.