Não se aplica.
Igor Arnóbio Pinheiro de Carvalho
Acervo GP ARQPOP.
CARVALHO, Igor Arnóbio Pinheiro de. Habitação na comunidade indígena Darôra: Mudanças no processo construtivo, formas de morar e uso dos recursos naturais. 2020. 197 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Manejo e Conservação de Bacia Hidrográfica, Programa de Pós-Graduação em Recursos Naturais, Universidade Federal de Roraima, Boa Vista, 2020.
Arquiteto e Urbanista pela Universidade Estadual do Maranhão, atualmente ministra aulas do curso de Arquitetura e Urbanismo na Universidade Federal de Roraima, onde leciona disciplinas nas áreas de Desenho à Mão Livre, Computação Gráfica, Projetos Arquitetônicos e Urbanístico. É mestre em Recursos Naturais, com área de concentração em Manejo e Conservação de Bacias Hidrográficas e possui especializações nos seguintes campos acadêmicos: comunidades indígenas, tecnologias sociais, técnicas construtivas tradicionais, sustentabilidade, auto-construção, energias alternativas e saneamento ambiental.
Fonte: https://www.escavador.com/sobre/1782477/igor-arnobio-pinheiro-de-carvalho
1. Introdução
2. Objetivos
3. Materiais e Métodos
4. Resultados e Discussão
5. Considerações Finais
6. Referência
O autor estuda os motivos das transformações no processo construtivo, mediante a adoção de materiais industrializados, e no uso dos recursos naturais na comunidade indígena Darôra. Esta é composta pelas etnias Macuxi e Wapixana e está situada na região do Rio Branco, na Terra Indígena São Marcos. Além disso, o autor busca compreender como acontece a relação entre sociedade e natureza dentro desta comunidade através da correlação entre a habitação tradicional e a habitação que utiliza técnicas construtivas e materiais diversos daqueles tradicionalmente utilizados por esta comunidade, estudando também a questão de conforto térmico nessas edificações de acordo com sua tipologia. O espaço geográfico é definido a partir de um conjunto de sucessivas relações entre o homem e a natureza e, dessa forma, o autor explicita as transformações espaciais impostas pelo uso de novas técnicas e materiais construtivos, além das ocorridas no espaço geográfico devido à introdução neste território de equipamentos de infraestrutura como unidade de saúde, escolas, água encanada e energia elétrica, e em decorrência da restrição de mobilidade sofrida por esses grupos com o processo de demarcação de Terras Indígenas. O autor correlaciona arquitetura e etnia, indicando tanto o intercâmbio de conhecimentos entre as etnias que compõem os Darôra, quanto com outras culturas indígenas, portugueses e afrodescendentes. São bastante tênues as fronteiras étnicas, isso é perceptível também na cultura construtiva, embora a área seja tradicionalmente de ocupação Macuxi. As habitações antigas de origem Macuxi tinham plantas baixas circulares, com um único cômodo onde se desenvolviam todas as atividades domésticas e a cobertura era cônica que se estendia até o solo, funcionando também como vedação. As mais recentes e ainda visíveis nesta comunidade, apresentam forma retangular, com um único cômodo e cobertura em quatro águas. A utilização de cômodos externos, como varanda e cozinha, é uma possível influência das habitações tradicionais Macuxi. As casas mais recentes apresentam ainda uma pequena estrutura anexa onde funciona o banheiro. Com relação aos materiais de construção, as casas tradicionais eram em palha, normalmente de buritizeiro. As mais recentes, de planta baixa retangular, apresentam alvenarias de pau-a-pique preenchidas com barro retirado de local próximo à construção, e cobertura em quatro águas, feita com palha de buriti e madeira. Os materiais de construção – barro, madeira e demais vegetais – ainda podem ser retirados de igarapés próximos ao local da construção, e a edificação é normalmente construída pela família dos donos da casa ou com a ajuda da comunidade, apesar das novas relações de trabalho remunerado existentes na comunidade. O autor explica que as alvenarias indígenas tradicionais eram em pau-a-pique, mas questiona o lapso temporal desta informação, sugerindo que se refere a um gradeado de madeira similar à estrutura de pau a pique, mas com estrutura diversa da atual, que chegou ao território brasileiro apenas após a colonização. O autor discute arquitetura tendo em vista um conjunto de soluções estruturais adequadas ao clima e geografia local e, dessa forma, questiona o declínio da utilização de materiais e técnicas vernaculares. Essas técnicas são importantes no sentido de manutenção da cultura, sendo este um fator de extrema importância para a comunidade Darôra. Por outro lado, o autor demonstra que as técnicas tradicionais podem ser adaptadas à forma moderna de autoconstrução, proporcionando uma arquitetura mais adequada ao clima e às necessidades da comunidade, sem perder a essência da cultura indígena. Como exemplo, o autor cita habitações recentes que mesclam materiais e técnicas tradicionais com outros industrializados, como as casas de alvenaria cerâmica e telhados em palha, e de pau a pique com telhados cerâmicos ou cimentícios. Há ainda a utilização de estruturas mistas, como a de uma casa feita com uma alvenaria com estrutura similar à de pau a pique, porém com vedação em tapume e em telhas cimentícias e cobertura em palha, o que demanda menos custos financeiros na construção. Além disso, as formas de habitar refletem também a relação entre mobilidade e território, indicando que estruturas definitivas, como o caso das construções em tijolos cerâmicos, indicam sedentarização no território. Devido ao custo da obra com materiais industrializados e às novas relações de trabalho remuneradas, faltam acabamentos e loucas sanitárias nas casas mais recentes. De fato, a utilização de materiais construtivos manufaturados localmente, como adobe e pau a pique, possibilita custos de construção menores. Além disso, a utilização de blocos cerâmicos implica a utilização de argamassa de assentamento, o que também aumenta os custos da obra. As esquadrias são, em sua maioria, manufaturadas pela comunidade, assim como os blocos cerâmicos. Sobre as técnicas construtivas tradicionais da comunidade Darôra, cabe considerar que as técnicas do adobe e pau a pique, mesmo não sendo tradicionalmente indígenas, foram incorporadas pela comunidade como tradicionais. Dessa forma, a preocupação da comunidade com a manutenção da sua cultura revela-se na tentativa de transmitir a tradição construtiva às gerações mais novas, mediante o ensino das técnicas de adobe, pau a pique e os conhecimentos sobre a palha. O autor aponta os possíveis motivos pelos quais a comunidade tem deixado de utilizar materiais e técnicas tradicionais em favor dos industrializadas. Dentre os motivos apontados nesta pesquisa, estão as questões de salubridade, por ser recorrente o alojamento de animais nas frestas das construções em barro e palha, conforme ensinado pela cultura colonizadora e, atualmente, por órgãos indigenistas. Ou seja, neste sentido os órgãos indigenistas contribuem para a negação da cultura indígena tradicional, associando-a à pobreza e a condições precárias de moradia. Esta ideia é, porém, contraditória, pois animais se abrigam em frestas independentemente do material de construção. Além disso, a segurança também seria um fator que preocupa a comunidade e conduziria à utilização de materiais diversos, que não o barro e a madeira. Outro motivo seria a praticidade, pois a maioria dos materiais vegetais utilizados na construção precisam ser coletados em épocas específicas e trabalhados antes de serem utilizados, enquanto tijolos e telhas já se encontram prontos para utilização. Além disso, um fator determinante é a preocupação da comunidade com a escassez dos materiais naturais, como espécies vegetais para utilização em estruturas e cipós, e a necessidade de preservação dos recursos ainda existentes. Assim, apesar da crescente preocupação em manter as tradições construtivas, a comunidade Darôra acaba adotando materiais industrializados ou estruturas mistas, mesclando a tradição e novos materiais devido à escassez de alguns dos materiais tradicionais.
Edmara Paiva Santana
Márcia Sant'Anna