2178-1729
Alain Briatte Mantchev e Akemi Hijioka
https://www.passeidireto.com/arquivo /60366758/anais-terra-brasil-2018
MANTCHEV, Alain Briatte; HIJIOKA, Akemi. Arquitetura tradicional de terra no Vale do Ribeira – entre a cultura quilombola e a colonização japonesa. In: Anais do VII Congresso de Arquitetura e Construção com Terra no Brasil, 7, 2018, Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Terra Brasil/UFRJ, 2018, p. 283 – 291.
Akemi Hijioka é formada em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Braz Cubas (1992), é mestre em Urbanismo pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (2007) e possui doutorado pela Universidade São Paulo de São Carlos (2016). Atua em projetos de pesquisa com ênfase em construção sustentável, utilização de material local, resgates da cultura construtiva tradicional e melhorias das técnicas construtivas com madeira e terra.
Informações disponíveis: http://lattes.cnpq.br/6483931563378439
Alain Briatte Mantchev é arquiteto e urbanista formado pelo Módulo Centro Universitário (2004), é especialista em Arquitetura de Terra pela Escola Nacional Superior de Arquitetura de Grenoble na França (2010). Atua nas comunidades tradicionais caiçaras e quilombolas nas regiões do Litoral Norte de São Paulo e do Vale do Ribeira no desenvolvimento de projetos de arquitetura e investigação da cultura construtiva em terra.
Informações disponíveis: http://lattes.cnpq.br/7498473213237561
Não se aplica.
O artigo em estudo realiza comparações entre casas de taipa de mão pertencentes aos quilombos e as de imigrantes japoneses na região do Vale do Ribeira. Essa região se desenvolve ao longo do rio Ribeira do Iguape e foi importante para o Brasil desde o período das primeiras ocupações portuguesas no século XVI. O período da mineração causou uma valorização desse território pela presença do ouro e promoveu a interiorização da população, principalmente de imigrantes africanos, europeus, e, posteriormente, japoneses. Com relação à arquitetura, um aspecto que a influenciou foi a paisagem local. Na região denominada de baixo Ribeira, com terras planas e inundáveis, predominaram as casas de taipa, em alvenaria de pedra e o uso da cal, oriunda dos sambaquis encontrados na região. Já nas regiões do médio e do alto Ribeira, a primeira mais próxima do rio e a segunda da Serra do Mar, as construções em taipa de mão foram predominantes. Os aspectos técnicos da taipa de mão utilizados nessa região foram, por muito tempo, os de origem africana, porém, com a chegada dos imigrantes japoneses, no início do século XX, começa-se a utilizar a técnica milenar japonesa denominada tsuchikabe com adaptação para a região dos trópicos. Segundo os autores, as casas dos quilombos dessa região foram construídas em taipa de mão até 1990. Atualmente, são construídas com blocos cerâmicos, porém com extensões feitas em taipa de mão, como a cozinha. Segundo os autores, os quilombos foram fundados por trabalhadores escravizados fugitivos e funcionavam como vilas de resistência. As suas habitações precisavam ser erguidas rapidamente, em média três semanas, desde a retirada da madeira até o barramento, feito em esquema de mutirão, gerando uma construção com durabilidade de 30 a 40 anos. Além disso, havia uma relação dos quilombolas com a natureza na escolha da madeira para as construções, como o fato de as árvores matrizes serem preservadas, de darem preferência à utilização de troncos caídos na floresta e de terem uma preocupação com a recuperação da natureza. Em contrapartida, têm-se as casas definitivas dos imigrantes japoneses, também construídas em taipa de mão e madeira. Elas se diferenciam dos quilombos pela presença das telhas irimoya, a medida do tatami ser utilizada na modulação do piso, as peças de madeiras para a construção serem separadas com antecedência e enumeradas, facilitando a montagem. A cobertura da casa ocorria em apenas um dia e, nessa técnica japonesa, o barro das paredes era alisado, diferentemente do aspecto rudimentar da técnica africana. Outro aspecto que influenciava a execução era a diferença de espessura das paredes. Nas casas dos quilombos com 12 até 15 cm, enquanto nas dos imigrantes tinham espessura de 7 a 9 cm. Uma semelhança na construção dessas tipologias arquitetônicas era o trabalho em conjunto para a execução da casa. Segundo os autores, atualmente, em relação ao uso da taipa de mão nessa região, alguns quilombos mais distantes ainda fazem uso da técnica, porém, nas casas dos imigrantes japoneses não se utiliza mais, pois, apesar de construções antigas comprovarem sua durabilidade, as casas de taipa deram lugar às de materiais industrializados, pois, assim como nos quilombos, isso significa para os moradores ascensão social, por serem semelhantes às da cidade. Os autores concluem que apesar desse abandono do uso da taipa, a arquitetura desenvolvida por esses povos, mesmo com as diferenças culturais, estava intrinsicamente relacionada com a natureza, com o material e com os saberes da técnica transmitidos na prática.
Melissa Torres de Amorim
Márcia Sant’Anna