O texto apresenta um tipo de residência rural paulista, solução arquitetônica típica para fazendeiros mais abastados do séc. XVII, a partir de 12 exemplares estudados. O sítio escolhido para essas construções era à meia-altura da paisagem, buscando-se proteção do vento Sul, com a fachada principal a Norte ou Nordeste. O edifício assentava-se sobre um plano, e quando o terreno era inclinado, apelava-se a plataformas artificiais. A planta era um retângulo, esquema fechado que definia nesse tipo de construção sua característica arquitetônica, plástica e funcional. Havia sempre uma faixa fronteira formada pelo alpendre ladeado pela capela e quarto de hóspede. Esse elemento controlava o intercâmbio com o mundo, servindo de albergue para receber empregados e os demais recintos para visitas, resguardando-se a família e separando-a do trabalho. A função receptiva era denunciada pela maior riqueza e cuidado na capela e quarto de hóspedes, marcado pelos cabides e bancos fixos. A capela abria-se para o alpendre, recebendo ali o público enquanto a família assistia aos ofícios do interior da casa, separada por tabiques gradeados. O interior apresentava maior variedade, marcado pela vida austera, com escassos móveis. Seguia-se àquela faixa fronteira uma sala na parte central da planta com quartos de dormir perimetrais, mantendo-se as divisões das paredes presentes na faixa frontal. Ao fundo, havia também um alpendre ou pequenos compartimentos. Enquanto a sala era de telha vã, os quartos e cômodos perimetrais eram cobertos com forro, o que formava um sótão que era aproveitado como depósito. No quarto de hóspede e da capela os forros eram mais trabalhados. Não havia uma cozinha, sequer nos alpendres de serviço. Mantinha-se os costumes indígenas, dados os escravos nativos, muitos no serviço doméstico. O preparo dos alimentos se dava fora, em tripeças. Os alicerces da casa eram de taipa de pilão, com profundidade de 50 cm, e as paredes igualmente erguidas com essa técnica eram de 40 a 60 cm de espessura, com peças longitudinais internas de madeira para travar a construção. A longevidade dos vestígios testemunha a excelência do barro, ao qual, quando não era bom, juntava-se capim ou crina de animal. As paredes exteriores ganhavam revestimento com outro tipo de barro e os beirais do telhado eram amplos e contra a ação das chuvas. Os telhados de quatro águas não tinham tesouras, no máximo, travessas. Essas peças não eram lavradas e os maiores cuidados iam para as peças menores, geralmente de canela preta. Aproveitando-se das grossas paredes de taipa, armários embutidos eram providenciados nas salas e nos quartos. Se nas plataformas fronteiras das residências o piso era de pedra, no chão do alpendre, da sala, dos quartos e serviços, era de terra socada. Assoalho surgia apenas no quarto de hóspede e na capela, porém apodrecia rapidamente por ser assentado diretamente no solo. As paredes internas e externas ganhavam pintura branca, de cal ou tabatinga. Já as peças de madeira recebiam cores, enquanto a pintura decorativa estava reservada à capela, em especial aos forros. O autor ensaia ainda reflexões sobre o processo de ocupação do território e sobre o fim desse tipo arquitetônico com o ciclo do ouro nas Minas Gerais. Coteja ainda a sede de fazenda seiscentista do interior paulista com as fazendas do litoral, delineando suas características e ressaltando, assim, o contraste entre ambas.